sexta-feira, 5 de novembro de 2010

UMA CRÔNICA FALANDO DO AMOR E DA SAUDADE

Fui desafiado. Certa pessoa me criticou (uma boa crítica, aliás), dizendo que minhas crônicas e artigos têm de tudo, estudos comportamentais, sarcasmo, humor, coisas místicas, “chás milagrosos”, puxões de orelha, veneno, o lado macabro da vida, entre outras “amenidades”, mas nunca teve como temática o amor e a saudade. Pois bem. Desafio aceito.

Mas, o que falar, quando tudo o que se pensa já está dito? Por vezes, mesmo não tendo o mínimo talento para a poesia, me arrisco pelos versos e falo do amor, mas aqui é diferente, principalmente quando eu mesmo já massacrei o uso da metáfora exagerada em crônicas. E falar de amor sem metáfora, é como fazer menção à natureza e não citar a cor verde. Puxa daqui, pensa de lá e, do nada, ouço o seguinte verso de uma canção:

“Meu amor!
Ah! Se eu pudesse te abraçar agora,
Poder parar o tempo nessa hora,
Prá nunca mais eu ver você partir!” **

Algumas pessoas são donas de um jeito único de falar as coisas, simples, e que, por menor que seja o número de palavras, conseguem expressar magistralmente o que querem transmitir. E o Luiz Ayrão foi muito feliz nos versos acima. O sentimento de amar vai muito além do simples “gostar” ou querer ter alguém perto de si. Ele nos entorpece de tal forma, que pensamos coisas que vão muito além da imaginação ou do poder humano.

Segundo os filósofos, o amor é uma emoção poderosa, um sentimento muito forte que se nutre por outra pessoa ou por algum objeto. Ainda segundo eles, “o amor não é apenas uma emoção: pode também ser um tipo de relação”. Que me desculpem os filósofos de cátedra, mas penso que o amor vai além do que eles dizem, e compartilho da opinião do filósofo popular, do poeta Luiz Ayrão: quero parar o tempo quando minha amada está por perto. Essa é a emoção poderosa que o amor me dá, a sensação (a vontade) de poder parar o tempo, e imortalizar aquele momento, o qual sempre será diferente e mais intenso do que qualquer outro que já vivi. Vive-se, então, para o momento, mas sempre esperando o próximo, onde a ansiedade toma conta em virtude da espera. E se juntar algo chamado “distância física” nisso tudo, por um motivo alheio à vontade do casal, a coisa vira saudade, e daí, "danou-se" tudo.

Saudade causa uma série de problemas. Assim como a paixão provoca aflição, a tal saudade acomete a pessoa com uma agonia que é de dar dó. Perde-se a fome, a imunidade do corpo fica baixa, os olhos vagueiam num horizonte imaginário, o sono desaparece, a joanete começa a latejar, as mãos tremem de frio, mesmo no calor. Enfim, corpo e mente entram em parafuso. Até que chega a hora do reencontro. E nessa hora, não tem idade. Pode ser adolescente, idoso, tímido, extrovertido... basta um beijo para uma comichão atacar todo o corpo, com arrepios subindo e descendo do pé ao pescoço. O casal fica bobo, e aquele momento, quando se está “matando” a saudade, parece que será o último antes do mundo acabar.

Amor. Defini-lo? Esqueça isso, pois o amor não se define, você tem que vivê-lo, sentí-lo em sua essência e intensidade. O amor deixa qualquer um meio abobado, fazendo loucuras que, em sã consciência, consideraria um absurdo. Ele desperta personalidades ocultas no ser humano. Faz pessoas ríspidas se transformarem em românticas, faz céticos crerem naquilo que não podem ver ou tocar, faz pessoas amarguradas acreditarem na felicidade novamente.

Amar não é “fazer amor”. Isso é transar, fazer sexo, praticar atividade sexual. Se alguém condicionar o ato de “amar” alguém à prática do sexo, esse alguém não está amando, só está querendo algo momentâneo. O ato e o sentimento de amar não é e nunca foi condicional. Ele é involuntário, nasce e cresce sem permissão ou convite. E é pleno. Amar vai muito além do querer, do ter e do poder. Ele envolve respeito, entrega, dedicação, resiliência, confiança, carinho e tantas outras coisas que, se for para falar aqui, escrevo um livro.

Posso ter falado de um jeito bem humorado sobre o amor e a saudade, mas ambos são algo que se deve enxergar com muita seriedade. Falar “eu te amo”, nos dias de hoje, passou a ser algo fútil, que se diz da boca para fora. Amar tem que ser considerado como uma união de almas, e não somente de corpos. Deve-se comungar de sentimentos e atos, de idéias e gestos. Deve ser algo vivido e renovado a cada instante. Falar do amor, qualquer um fala, amar, qualquer um pode amar também, mas respeitar a pessoa amada, se entregar a ela e, acima de tudo, se doar em sua totalidade, isso é outra história. Já a tal saudade... essa não escolhe vítima, e nem tem como fugir dela. Chega, se instala, maltrata e nem se importa se a pessoa quer sentí-la ou não. São coisas do coração, o dito amor e a saudade. E quando eles acometem alguém, não tem filósofo, médico, pesquisador, cientista ou professor que explique ou dê jeito.

Agora, com licença, pois preciso dar um jeito nessa minha joanete, que tá doendo uma enormidade.
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** Os versos citados são da música OS AMANTES, composta em 1977 por Sidney da Conceição, Lourenço e Augusto Cesar. Foi gravada originalmente por Luiz Ayrão.

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