domingo, 1 de outubro de 2023

FAZER AMOR COM MEU AMOR DE MANHÃZINHA

 

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Vou fazer amor com meu amor de manhãzinha, pra atiçar o sol e fazer balancê na neblina.

Vou fazer amor com meu amor de manhãzinha, de beijo em beijo, de besouro chateando beija-flor. Secar a dor, se molhar de suor, e o que de melhor, se é que tem, e é de nós, nem teus laços, vou é arrancar da pequena calça o cós, sapatear de fininho,
pra beijar teu ombro naquela batida do sino,
hino ao ninho, nesse gemido contínuo.

Vou fazer amor com meu amor na noitinha, derramar todo o tesão com nossa leveza, te chamar pra daneza, sem certeza de acordar na hora certa, hora precisa de acordar, despertar sem destino, só sonhar, lavanda que nasce entre os girassóis, luas e sóis, a sós, somos nós, amar, remar um caminho entre o mar, salgar a pele, mesmo que se adoce o café, derramado pelo vão dos lábios, assim, ajeitar, arrumar a face, escovar o cabelo, corpo nú feito lã fora do novelo.

Então se apela para a pele ouriçar o pelo e desligar o pudor, pra fazer amor a qualquer hora com meu amor.


Depois, lá pelo meio da tarde, a gente canta aquela música:
"To com saudades de você,
debaixo do meu cobertor..."

Marcio Rutes

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segunda-feira, 11 de setembro de 2023

DORINHA E UM CONTO DE NATAL - parte 3

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…continuação. 

 REVELAÇÕES



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 ―Seja menos dramático, gato! ―o homem pediu, sem alterar a calma.

―Menos dramático? Isso tudo foi culpa desse cão-sauro das cavernas. E dessa... dessa... dessa invasora de mundos mágicos! Vou comunicar a diretoria, os investidores e os patrocinadores de que o Natal vai ser cancelado e pronto!

―Cancelado? Como assim? ―Dorinha perguntou, um tanto assustada. ―E vocês do mundo mágico? Vão ficar sem Natal?

―Engana-se, menina arteira! ―o gato retrucou. ―O Papai Noel faz parte do mundo mágico sim, mas é o Natal do seu mundo, lá na Terra, que vai deixar de existir! Porque se o velho Noel não tiver ajuda lá na fábrica dele, não vai poder distribuir presentes no seu mundinho. E é tudo culpa sua!

Dorinha baixou a cabeça e entristeceu. Não conseguia entender como seus atos, que jamais tiveram a intenção de atrapalhar ninguém, puderam causar tantos transtornos. E agora, até o Natal corria o risco de não existir. Sem contar que aquele gato cheio de empáfia continuava em seu falatório, correndo por todos os cantos e fazendo com que todos achassem que ele próprio fora a vítima daquela situação trágica.

Luzia, a vendedora de fósforos, aproximou-se e abraçou a nova amiga, confortando-a. Jujubão, pressentindo que algo não ia bem, aninhou-se aos pés das meninas, mas foi Hans quem conseguiu pensar rapidamente em algo.

―Mocinha, até parece que você ainda não se deu conta dos poderes mágicos que possui! ―Hans falou mansamente, abaixando-se para enxugar as lágrimas da menina.

―Eu? Poderes mágicos? ―Dorinha falou, entre soluços. ―Tenho isso não, seu moço! Como disse o gato, sou apenas uma encrenqueira e que só causa problemas pra vocês!

―Você ainda não sabe quem sou eu, não é? ―Hans tornou a falar calmamente.

―Desculpa, mas não conheço o senhor. É alguém importante?

―Talvez eu seja sim, ou talvez não. Muitos não sabem quem eu sou, enquanto alguns outros conhecem um pouquinho das minhas criações.

―Criações? ―Dorinha e Luzia perguntaram juntas, arregalando um pouco os olhos.

―Sim, criações. Uma delas você conhece bem, a pequena vendedora de fósforos, que tão graciosamente você batizou de Luzia, e que está te abraçando agora. E talvez você também conheça a Polegarzinha, o Patinho Feio, o Soldadinho de Chumbo e a Pequena Sereia.

―Mas... mas... mas... então, o senhor é o Anderson? ―Dorinha arregalou ainda mais os olhos, agora nitidamente surpresa. ―Aquele que meu pai sempre fala que escreveu tanta coisa bonita?

―Mais ou menos. É quase isso! ―Hans abriu um grande sorriso ao reparar que Dorinha errara seu sobrenome. ―Hans Christian Andersen, aos seus serviços, senhorita.

Hans fez uma reverência em cumprimento, algo jamais visto por Dorinha, mas que encantou as duas meninas. Dorinha não sabia o que dizer, pois escutara tantas vezes seu pai falar do tal Andersen, e agora ele estava ali, diante dela. Já a vendedora de fósforos sentiu algo mágico fluir por todo seu corpo. Era como se encontrasse, pela primeira vez, seu próprio pai. E um sorriso largo aflorou na face cheia de lágrimas daquela menina.

―Por que estão chorando? Será que falei algo errado?

―É que não sabemos o que fazer, seu Hans! ―Dorinha balbuciou, enquanto Luzia apenas mantinha os olhos vidrados naquele homem. ―Esse gato estropiado não pára de falar, e tá me deixando maluquinha. Não quero ficar sem Natal. Nem quero ser a culpada pelo Papai Noel não poder fazer o trabalho dele!

―Mas, então, deseje que tudo se ajeite!

―Como assim, seu Hans? Não sei fazer isso! Não tenho esse poder!

―A força da imaginação de uma criança pode tudo, minha querida! ―Hans mantinha o tom de voz suave, e olhando sempre nos olhos das meninas. ―Fui muito pobre, e quem mais me incentivou foi meu pai, mas ele morreu cedo, quando eu tinha onze anos, que é mais ou menos a idade da nossa pequena vendedora de fósforos.

Luzia olhava e chorava, como se escutasse a própria história.

―Meu pai foi um simples sapateiro que adorava ler, e dele, me restaram em herança alguns pares de sapatos que foram gastando com o tempo, e um par de chinelos adultos. ―Hans continuou em sua narrativa, ainda falando mansamente. ―Minha mãe era lavadeira, e depois que meu pai morreu, ela quase não conseguia sustentar eu e meus irmãos. Certo dia, andando pela cidade, me roubaram um dos pés daquele par de chinelos, e para mim foi um duro golpe. Uma das poucas coisas que meu pai deixara. Quando cheguei em casa, estava muito frio, e minha mãe mandou-me acender o fogo. Foi então que, ao acender um fósforo, tenho certeza de que vi meu pai na chama que se fez.

―Que triste! ―Dorinha comentou, olhando fixamente para Hans.

Luzia já não sabia se escutava o que Hans falava ou se chorava, mas não se continha. E o homem, por sua vez, colocou-se de joelhos diante das duas. Ele baixou a cabeça, e quando ergueu-a novamente, deixou a mostra algumas lágrimas.

―E o que aconteceu, seu Hans? ―afoitas, as palavras saíram apressadas da boca de Dorinha.

―Aconteceu que... ―Hans fez uma pausa, tomou fôlego, e continuou. ―...aconteceu que, nessa hora, eu vi que por mais triste que eu pudesse me sentir naquele instante, meu pai estava lá, olhando por mim. E algum tempo depois, para nunca mais esquecer desse momento tão mágico, eu escrevi o conto da pequena vendedora de fósforos. Eu juro que não era para ser triste. Eu juro que não era essa a intenção. É um pedaço da minha vida. E sabe, minha querida, a vendedora de fósforos não tinha nome porque talvez fosse eu mesmo que estivesse ali. É um pedaço de mim mesmo que vive nessa menina que hoje você batizou tão belamente.

Luzia não conteve mais a emoção e deu um salto, abraçando–se ao pescoço de Hans. A emoção foi tanta, que não teve ser vivente naquele lugar que não se calou diante da cena. Até o gato, que naquela altura já falava até com as formigas para tentar justificar o não acontecimento do Natal, emudeceu.

O céu, rajado de nuvens cor de pêssego, escureceu, e um véu de estrelas foi surgindo e baixando para o mundo mágico. Pareciam pingentes, penduricalhos presos em varais encantados e que choviam alegria por todos os cantos.

Dorinha olhava para cima e sorria, enquanto Jujubão latia e saltava, como se tentasse abocanhar uma daquelas estrelas. Ao olhar novamente para Hans e Luzia, Dorinha tomou o maior susto. Ambos, abraçados, começavam a tornar-se uma só pessoa. Era como se estivessem revestidos por uma luz púrpura, que vertia de cada poro de seus corpos. Uma estrela, a maior de todas, aproximou-se e parou bem acima deles, iluminando tudo e pulsando como um sol que acabou de nascer. Aos poucos, a intensidade da luz diminuiu, até que tudo voltou ao normal. E diante de Dorinha, onde estavam Hans e Luzia, apareceu uma mulher alta e muito bela.

―O que aconteceu? Cadê o Hans?

A mulher mirou ternamente a menina. Seu olhar era um misto entre a curiosidade e carência da vendedora de fósforos e do ar polido, charmoso e educado de Hans. Assim, ela ficou por alguns instantes, até que se aproximou de Dorinha e beijou-lhe o rosto, apontando em seguida para cima, para onde uma luz dourada riscava o céu.

―Sempre que uma estrela desce, é porque uma alma está subindo para o céu¹.

―Eu não to entendendo. ―Dorinha olhava para aquela luz, mas pouco compreendia o que estava acontecendo. ―E quem é você? Cadê a Luzia? E o Hans?

―Hans está lá, cumprindo seu destino. Está subindo para o céu. ―A mulher falou ternamente, exatamente como Hans fazia, ao falar com Dorinha. ―E Luzia está aqui, diante de você. Sou eu, libertada pelo seu poder mágico, minha querida!

―Ah! Explica. Eu não to entendendo!

―Dorinha! É simples. Hans sempre se sentiu preso ao conto que ele próprio escreveu. Algo ficou pela metade. Quem sabe um bloqueio, ou medo de não ser entendido? Ele me criou para espantar esse medo. E ele jamais teve coragem de contar isso para alguém. Acabou preso aqui, e isso por conta dessa dívida que ele tinha com ele próprio. Ele precisava que alguém de coração puro entendesse esse desejo dele, de contar a todos o que ele próprio não conseguia. Então, foi preciso que alguém de bom coração, e apaixonada pela magia que existe em cada um, viesse aqui e fizesse isso por ele.

―Mas, e o que ele não conseguia contar a ninguém? E por que eu?

A Pequena Vendedora de Fósforos - image by Google
―Hans talvez tivesse medo de que o condenassem pela alma infantil que ele sempre teve. Ele jamais chorou, mesmo tendo vontade. Você foi a primeira a ver uma lágrima escorrer de seus olhos. Essa lágrima, a dele próprio, é que faltava ser contada. E por que você? Porque você foi escolhida pela vida para contar a todos o quanto é belo acreditar no impossível. Você foi a eleita para mostrar que tudo está ao alcance daqueles que não abandonam a si próprios. Você foi tocada pela estrela ao nascer. A mesma estrela que levou Hans para o céu que ele tanto acreditou e onde irá encontrar com o pai dele. Um dia, iremos para lá também. Mas temos nossas missões aqui. A minha é encantar as crianças e não deixar a magia dos sonhos morrer, e a sua...

―A minha? ―Dorinha arregalou ainda mais os olhos, fitando Luzia com muita empolgação. ―Diz, Luzia! Qual é minha missão?

―Minha querida! A sua missão é ser criança. Hans era exatamente como você. Ele foi uma eterna criança. E quando me criou, muitos achavam que ele estava ficando louco por acreditar em contos infantis. Ninguém sabia da necessidade que ele tinha em acreditar em tudo isso que está aqui, diante de você. Era o que mantinha ele em pé, a crença no mundo mágico. Aqui, Sacis e Fadas convivem com lobos e Pequenos Polegares. Sereias e Astronautas andam livremente por desertos se assim as pessoas quiserem. Tomates são do tamanho de melancias, enquanto estrelas cabem no seu bolso. E acredite, já não são muitas as crianças que andam por aqui, fazendo com que nós continuemos existindo.

Dorinha calou-se. Não entendia muito bem o que Luzia falava, mas talvez nem precisasse. Ela simplesmente acreditava na magia. Repentinamente, um grunhido de Jujubão chamou sua atenção, e ao olhar para o lado, viu uma infinidade de personagens de todos os contos que ela conhecia ali, sentados quietos e escutando o que Luzia falava. Cada um deles chorava silenciosamente, mas não deixavam que isso atrapalhasse o sorriso que carregavam em homenagem a Dorinha. E quem mais chorava e sorria era, justamente, o Gato de Cheshire.

―Sou somente um gato velho e quase desacreditado! ―comentou o gato, soluçando. ―E sou, realmente, o gato da Alice. Sou somente mais um que está aqui, precisando desse carinho que você sempre deu pra nós, menina!

―Não entendo mais nada! E o Natal? Eu não tinha estragado ele?

―Estragado? ―o gato perguntou, soltando uma risada um tanto cafajeste. ―Minha menina, que tolice! Essa foi minha melhor atuação! Pense em quantas pessoas nós tocamos com esse conto que encenamos agora? Quantas crianças, e adultos também, riram e se entristeceram com nossa atuação? Papai Noel é meu compadre, e já deve ter partido com os 3 porquinhos para distribuir os presentes.

―Mas... mas... mas...

Dorinha não conseguiu terminar o que começara a falar. Um brilho intenso tomou seu olhar, o que fez com que ela sentisse muito sono. Seu cachorro deitou a seus pés, e quando a menina se deu conta, estava em sua cama, com seu pai cantando alegremente na porta do quarto.

―Minha querida! É Natal! Você não vai abrir seus presentes que estão lá na árvore?

Ao levantar da cama, a menina causou certo espanto ao pai. Ela andava e, por onde pisava, deixava um rastro brilhante, que desaparecia rapidamente. Ela desceu aos pulos para o andar de baixo, e quando chegou onde estava a árvore de Natal, viu a mãe acendendo um fósforo, para completar a fileira de velas que rodeava o pequeno presépio que o pai montava a cada Natal. Da chama da vela, uma pequena estrela brotou e faiscou pelo ambiente, mas a mãe sequer deu atenção.

Jujubão latiu e pulou, como se tentasse pegar algo no ar, e o pai, que acabara de descer o último degrau da escada, pensou ter visto um vagalume, que acabou pousando justamente na estrela que estava no alto da árvore de Natal.

―Meu amor, os vagalumes ainda estão invadindo nossa casa!

Dorinha olhou para Jujubão e sorriu. Vagalume? Claro que sim. Seria um nome muito mais fácil para chamar aquele gato danado. Afinal, Cheshire era difícil demais para a menina pronunciar. Instantes depois, um par de olhos e um sorriso tomaram todo o ambiente, deixando tudo escuro. Sem entender nada, o pai e a mãe ficaram assustados quando viram alguns fósforos acesos descendo lentamente pelo ar.

Era um agradecimento, de Hans e Luzia, pela crença que aquelas pessoas insistiam em ter na magia que habita em cada um de nós.


Marcio Rutes

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nota:
¹ "Sempre que uma estrela desce, é porque uma alma está subindo para o céu.". ― frase extraída do conto original (A Pequena Vendedora de Fósforos), de Hans Christian Andersen.


Saiba mais:

Conto: A Pequena Vendedora de Fósforos – clique aqui 
Autor: Hans Christian Andersen – clique aqui

sábado, 2 de setembro de 2023

DORINHA E UM CONTO DE NATAL - parte 2

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...continuação

NASCE LUZIA


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―Duas indigentes e um cachorro. ―um policial comentava com outro, que pelo fardamento, parecia ser seu superior. ―Não suportaram o frio, senhor. Uma pena! Bem na noite de Natal! Vou mandar o rabecão recolhe-las.

―Cortaaaaaaaaaaaaaa! Pára tudo!

O grito, como em um passe de mágica, fez tudo ao redor ficar imóvel. Todas as pessoas que estavam naquele beco ficaram paralisadas, parecendo estátuas. Sequer o uivo do vento atreveu-se a ronronar naquele instante.

―Corta? Como assim? ―Dorinha acordou com o grito, e sem entender patavina, sentou-se na neve. ―Quem gritou isso? E por que eu to morrendo de calor, se estava tão frio quando eu morri? ―indignou-se. ―Ei! Não era para eu estar morta? Isto aqui é o céu?

Jujubão e a outra menina também acordaram com os gritos. Mas, ao que parecia, eram apenas eles que estavam conscientes naquele lugar esquisito. Dorinha colocou-se em pé e ajudou sua nova amiga a erguer-se também. E logo, a curiosidade tomou conta.

―Qual é o seu nome? ―Dorinha perguntou para a menina, enquanto fazia um carinho no cachorro.

―Que estranho! Faz tantos anos que eu nasci, e nunca perguntaram meu nome. Nem sei se tenho um!

Nitidamente, a menina entristeceu. A cabeça baixou, quase colando o queixo ao peito, e dos olhos correram algumas lágrimas. Dorinha, ao vê-la daquele jeito, correu para abraçá-la, mas acabou chorando também.

―Você quer um nome, é isso? ―Dorinha perguntou, entre soluços.

―É! ―a menina sorriu entre lágrimas.

―Não, ela não quer um nome! E eu quero terminar essa história! Vocês acham que isto aqui é o que, afinal? A casa da mãe Joana? ―uma voz sem rosto retumbou por todo o local.

―Quem é esse que tá falando? ―Dorinha espantou-se, olhando para os lados e procurando minuciosamente a fonte daquela voz.

Jujubão parecia farejar algo, e Dorinha notou que o cachorro desconfiava de alguma coisa. Atiçou o cachorro e fez com que ele procurasse. Aos poucos, e como a neve deixara de ser fria, o faro do cachorro voltou, e ele seguiu um rastro que o fazia espirrar constantemente, mas não pelo que antes era a neve, e sim por alergia. Sequer precisou ir muito longe. Ao sair do beco, todos levaram o maior susto.

Um par de olhos e um sorriso imenso apareceu diante deles, flutuando no ar. Todos estaquearam, e quem mais se assustou foi a menina dos fósforos. Dorinha não conteve o espanto, porém, sabia bem de quem se tratava. Já o cachorro não se conteve, e avançou ferozmente.

―O Gato da Alice! Só podia ser você, pra bagunçar tudo aqui, gato danado! ―Dorinha sentenciou, batendo o pezinho em sinal de reprovação. ―Eu já deveria estar acostumada com a bagunça que existe pelo mundo mágico. O que tá acontecendo, gato? Tá desempregado e fazendo algum bico na história da Vendedora de Fósforos?

Aquele sorriso materializou-se em forma de gato, mas continuou flutuando, temendo um ataque do cachorro. Os olhos agora mais pareciam bocas sorrindo e, calmamente, ele dirigiu a palavra para Dorinha.

―Mocinha. Pra início de conversa, vê se eu tenho cara de ser o gato de alguém! O Gato da Alice uma pinóia! Sou independente como todos os gatos, e só aceitei entrar naquela história porque ela precisava de um certo charme. O Lewis¹ sabia disso, tanto que me deu imediatamente um papel maior. Salvei a história, eu diria!

 ―Sempre achei que você era meio atrevido e convencido. Por isso prefiro o coelho da Alice! ―Dorinha continuou calma, mas no fundo já começava a irritar-se com o gato.― Mas, tudo bem! Não estranho mais nada por aqui! Agora, dá pra você parar com suas mutretas e descongelar esse povo?

―Tá! Eu topo! Mas lembre bem de uma coisa! Aqui, não sou um simples gato, muito menos o gato da Alice. Sou o Diretor Cheshire². Então, mocinha, mais respeito comigo, entendeu? ―o gato proferiu, com ares de pompa e nariz empinado. ―Ah! Já ia me esquecendo. Não sou eu que tumultuo tudo, não. Pelo que sei, a cada vez que você aparece por aqui, o departamento psiquiátrico dos personagens fica lotado. O Lobo Mau ainda tá por lá, e isso porque você resolveu dar o ar da graça na história da Chapeuzinho Vermelho e ferrar tudo.

―Pois é! ―Dorinha concordou, baixando o olhar. ―Foi sem querer!

Quando Dorinha levantou o olhar, espantou-se novamente. Viu o gato abrindo um sorriso imenso, e de repente todos estavam se movimentando novamente. Pareciam arrumar tudo, ajeitando as coisas como se aquele lugar não passasse de um cenário de filme.

―Vamos lá, vamos láaaa! Não temos tempo a perder! ―o gato de Cheshire ordenava, como se realmente dirigisse um filme. ―Logo o Hans³ aparece por aqui, e se ver a gente parado, sobra pro gostosão aqui.

―Por que arrumar tudo de novo, seu diretor? Vamos começar a história novamente? ―alguém perguntou, irritando o gato.

―Por que? Por queeeeeeeee? Eu digo o porquê! ―o gato ficou exaltado, e sem querer, desceu até o chão, ficando ao alcance do cachorro, que avançou rapidamente. ―É porque na história do Hans não tem duas meninas. Também não tem cachorro. E falando nisso, dá pra alguém passar maquiagem nesse devorador de gatos e trazer um osso pra ele? Antes que ele me engula!

―Jú! Comporte-se!

―Jú? ―o gato riu descaradamente. ―Que nome horrível para um cachorro horrível! Aliás, já que falamos em nomes, qual é o nome da menina dos fósforos, afinal? Dirijo essa história desde 1900, e nunca soube o nome dela.

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A menina dos fósforos, que estava um pouco mais atrás, corou. Aquilo, do nada, passou a ter uma importância imensa para ela. E era estranho o fato, também, de que somente alguém de fora, vinda de muito longe, é que importou-se com tal coisa.

―Eu não sei! Não tenho nome. Me desculpem!

―Ah! Pára, vai! Assim, estraga a maquiagem. ― o gato brincou, mas logo soltou um berro. ―Maquiaaaaaaaaaaaaaaaagem. Rápido. E tragam uma escova de dentes pra esse cachorro. O bafo dele é horrível e tá no meu cangote.

―Não se preocupe! Vamos achar um nome pra você. ―Dorinha olhou ternamente para a menina. ―Você tem luz própria, reluz. E na história, quando meu pai conta, ele sempre termina dizendo que você era uma luz que sempre ia para o céu. Uma luz que ia. Luzia.

A menina, ao escutar aquilo, sorriu e chorou ao mesmo tempo. Seus olhos brilharam, mas logo em seguida, fixaram-se em alguém que apareceu na entrada do beco. Todos silenciaram e também olharam. Era um homem franzino, de chapéu preto e capa, que em nada combinava com o calor que fazia entre aquela lama de água seca e neve quente.

―God eftermiddag! ―o homem falou, deixando Dorinha sem entender.

―Haaaans!?!? ―o gato pareceu ser aquele que mais ficou assustado com a presença daquele novo personagem, mas tentou manter a pose. ―Não esperava você por aqui!

―Perdoem-me! ―o homem desculpou-se, polidamente― Acabei por cumprimentá-las em dinamarquês. Sou Hans, e acho que a justiça deve ser feita aqui, minha cara Dorinha. Por uma falha minha, esta menina jamais teve um nome. E sabe? Gostei de Luzia!

Hans? Quem seria Hans? Dorinha e a menina dos fósforos, agora chamada de Luzia, maravilharam-se com a educação daquele homem. Ele parecia tão normal, mas havia algo nele que encantava. No entanto, enquanto olhavam para o homem, descuidaram-se de Jujubão, que se aproximou furtivamente do gato e, na primeira oportunidade, tascou-lhe uma enorme mordida no rabo.

―Miaaaaaaaaaaaauuuuuu!

O gato soltou um berro esganiçado e descambou em uma corrida sem rumo. Atrás dele, o cachorro derrubava o que aparecia pela frente, e por pouco não crava novamente os dentes no lombo do gato. Dorinha, apavorada, chamava pelo cachorro, mas de nada adiantava. E em poucos minutos, o que fora construído a mais de 160 anos acabou sendo levado ao chão. Não satisfeitos, cão e gato correram para onde os figurantes do conto estavam escondidos. Foi um pandemônio. Gritos e correria para todos os lados.

Algum tempo depois, o gato apareceu atrás daquele homem misterioso. A cena que se via era a de um campo de batalhas, com tudo destruído ou ruindo. O tal Hans parecia calmo, mas o gato tremia e desesperava.

―E agora? ―dizia ele, forçando o choro, como um verdadeiro ator canastrão. ―Este é um dos contos mais importantes do Natal! Estou arruinado! Atrasaremos tudo, e muitos figurantes daqui trabalham com o Papai Noel. Eles não poderão ir. O Natal atrasará! As filhas das renas não terão peru para comer na ceia, pois as renas ficarão desempregadas. E outras histórias sofrerão por falta de figurantes também. Que será de mim? Um gato desempregado, falido e estropiado, largado pelas sarjetas imundas dessa cidade poluída? Eca, tem uma pulga no meu rabo!

 ―Seja menos dramático, gato! ―o homem pediu, sem alterar a calma.

―Menos dramático? Isso tudo foi culpa desse cão-sauro das cavernas. E dessa... dessa... dessa invasora de mundos mágicos! Vou comunicar a diretoria, os investidores e os patrocinadores de que o Natal vai ser cancelado e pronto!


continua...

Marcio Rutes



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Notas:

¹ Lewis – referente a Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson (27/01/1832 – 14/01/1898), autor de Alice no País das Maravilhas (publicado pela primeira vez em 04/07/1865);

² Cheshire – referente ao Gato de Cheshire, nome do Gato que aparece no conto Alice no País das Maravilhas; Cheshire é um condado da Inglaterra. Cheshire é uma expressão inglesa para uma pessoa que vive sorrindo ou ri muito;

³Hans – referente a Hans Christian Andersen.

sábado, 26 de agosto de 2023

DORINHA E UM CONTO DE NATAL - parte 1

 

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Frio. Andar por aquelas ruas era um verdadeiro martírio, e Dorinha já se arrependera de não ter trazido luvas e cachecol. Jujubão, seu cachorro, também sentia os reflexos da neve. Mal conseguia manter as patas no chão.

Dorinha andava e olhava assustada para tudo. Jamais vira neve, pois onde nascera, o inverno mal baixava dos 10° C. Mas estava ali, e isso era o que importava para ela. Então, mãos a obra. Precisava procurar pela menina que vendia fósforos.

Um menino passou correndo por Dorinha, e para desviar-se dela, se chocou contra um amontoado de tábuas e deixou cair algo que carregava nas mãos. Apressou-se para levantar e tirar satisfações com a menina, mas desistiu assim que viu os dentes do cachorro que se mantinha vigilante ao lado dela. Jujubão rosnou bravamente, fazendo o menino intimidar-se e desaparecer pela rua lamacenta. E assim que viu o menino desaparecer pela penumbra da noite, o cachorro saiu farejando algo, até que parou e ficou olhando para Dorinha.

―O que você encontrou, Jú? ―a menina se aproximou, abaixando-se para juntar algo. ―É um pé de chinelo adulto. Lembro que o papai falou que a mocinha que vende fósforos usava os chinelos da mãe dela, e que um menino malvado roubou um deles. Será que é este? Vamos tentar a sorte. Vai lá, Jú. Cheira, fareja e vai no rastro.

O cachorro fez o que Dorinha ordenou, mas como o chão estava coberto pela neve e lama, pouco conseguiu. E assim eles andaram, andaram, até que cansaram. O frio aumentava, deixando a mostra alguns flocos de neve bailando pelo ar. Andaram mais um pouco e pensaram em parar, e foi o que fizeram assim que viram um estabelecimento comercial, parecido com um restaurante.

―Fique aqui, Jú! Não vão deixar você entrar! Vou lá dentro tentar comprar alguma coisa pra gente comer e já volto.

Dorinha entrou no estabelecimento e deixou o cachorro para fora, porém logo retornou. Esquecera ela que aquele não era o mundo real, mas sim o mundo mágico, e ali o dinheiro dela de nada valia. Mas quando chegou novamente onde deixara o cachorro, constatou que ele havia desaparecido.

Tudo parecia mais escuro. Nas fachadas das casas, algumas luzes de lampião clareavam a decoração de Natal, e através das janelas embaçadas, podia-se ver as famílias comemorando e fartando-se com alimentos da época. Parecia tão quente dentro das casas.

Dorinha olhou pela rua, e reparou vários indigentes largados pelos cantos. Alguns dormiam, enquanto outros esmolavam ou reviravam lixeiras. Triste aquela realidade, mesmo vinda do mundo mágico dos contos de fadas.

―Que dó! ―ela murmurou, enquanto procurava pelo cachorro. ―Nunca imaginei que pudesse existir tanta coisa ruim nos contos de fadas!

Repentinamente, o badalar do relógio da igreja marcou meia-noite. Dorinha, que lembrava claramente da história contada pelo pai, desesperou. A vendedora de fósforos deveria estar prestes a morrer, e de nada teria adiantado essa visita ao mundo mágico.

―Jú, cadê você? ­―Dorinha gritava, mas o ar frio castigava a tal ponto, que ela quase não conseguia falar direito.

Andou até onde conseguiu, e encostou-se na parede de um beco. Deixou o corpo escorregar, e quando estava quase sentando na lama, escutou um latido. Era Jujubão, e o latido vinha do fundo do beco. Dorinha levantou rapidamente e correu o quanto pode, mas ao chegar onde estavam seu cachorro e a menina, desanimou.

A vendedora de fósforos estava deitada, abraçada ao cachorro. Jujubão mal se mexia, mas não pelo frio, e sim para manter a menina colada ao seu pelo, tentando mantê-la aquecida. E quando viu Dorinha se aproximando, latiu novamente e lambeu freneticamente o rosto da vendedora de fósforos.

―O que foi, Jú? Por que você está lambendo ela? Ela está...

Dorinha parou de falar e observou. Algumas estrelas, muito pequenas, brotaram do rosto da menina. Era como se fosse um pó dourado, e começaram a flutuar. Um tom amarelado brilhante verteu por todo o corpo da vendedora de fósforos, e do nada, tudo pareceu aquecer.

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―O que está acontecendo, afinal? ―Dorinha perguntou, olhando para o cachorro, que latia de maneira persistente, quase em agonia.

Dorinha, instintivamente, deitou-se sobre a menina e tentou aquecê-la. Era a única coisa que poderia fazer naquele instante. E rezou, rezou muito. Quando abriu os olhos, viu ao chão alguns palitos de fósforo queimados, e ao lado, a caixa vazia. Talvez fosse tarde demais.

Jujubão parou de latir, mas continuou ao lado das meninas, aquecendo-as. Dorinha, sentindo a ação do frio, adormeceu, e também começou a brilhar, deixando brotar de sua face o mesmo pó dourado que nascia da vendedora de fósforos. E assim, a noite passou.

No dia seguinte, um alvoroço se fez naquele beco. Um amontoado de pessoas falava sem parar, e sequer a presença da polícia fez com que eles parassem.

―Duas indigentes e um cachorro! ―um policial comentava com outro, que pelo fardamento, parecia ser seu superior. ―Não suportaram o frio, senhor! Uma pena! Bem na noite de Natal! Vou mandar o rabecão recolhe-las.



continua...


Marcio Rutes

não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.

SEJA EDUCADO (A). SOLICITE AUTORIZAÇÃO.



Este conto é uma alusão ao original "A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFOROS" de Hans Christian Andersen. O conto original de Andersen foi publicado pela primeira vez em 1845, em dinamarquês, com o título Den Lille Pige med Svovlstikkerne, que significa "A menina com os palitos de fósforo".

Saiba mais: 


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

ANGÉLICA E ANGELINA - QUANDO OS ANJOS DIZEM AMÉM

 

Angélica - image by Google
Angélica teve uma infância pobre e restrita. Poucos brinquedos, roupas rasgadas, trabalho árduo e pesado para seus braços frágeis, mas com muito amor dado por seus pais. E assim ela cresceu, sempre esperançosa. Transformou-se em moça formosa, e mesmo com aquela infância sofrida, o mais belo sorriso sempre transbordou em seus lábios.

Nos cabelos de Angélica, uma flor fazia constante presença, branca e perfumada, e o amor não demorou para desabrochar em seu coração. Um jovem, também muito humilde, desposou-a, e juntos, construíram um lar e uma família.

O marido, rapaz honesto e muito trabalhador, preparou um roçado enorme na propriedade em que residiam, enquanto Angélica se ocupou da casa e do jardim, que de tão bem cuidado, era admirado por todos os moradores da pequena cidade.  O sonho do jovem rapaz era ver a esposa grávida, mas Angélica, por uma fatalidade do destino, não poderia gerar o filho tão desejado pelo marido.

Angélica entristeceu, e mesmo com todo o amor que ela tinha no coração, o jardim sentiu sua agonia. As plantas começaram a secar, uma a uma, e as poucas flores que ainda despontavam no alvorecer já não lhe davam mais alegria. Até que em uma manhã cinzenta, recoberta de garoa, ela foi até o meio do jardim e sentou entre algumas flores brancas e de perfume marcante. Seu coração estava apertado, e ali ela jurou que teria aquele filho que o marido tanto queria, nem que tal ato fosse a última coisa que ela fizesse. Neste momento, uma dor muito forte tomou sua cabeça, fazendo-a desmaiar instantaneamente. Quando acordou, já estava em sua cama, com o marido ao lado, olhando-a.

Os dias passaram e ela logo reparou algo estranho em seu corpo. Enjôos e uma vontade absurda de correr pelos campos a tomava a todo instante. Inexplicavelmente, ela estava feliz novamente, e não demorou para saber o motivo: estava esperando um filho, mais exatamente uma menina. Assim, Angélica retomou seu sorriso e a lida no jardim, e quando a filha nasceu, deram a ela o nome de Angelina.

No entanto, a felicidade do marido se transformou em tristeza rapidamente. Angélica, pouco tempo depois de trazer ao mundo a filha, adoeceu e morreu, deixando uma nuvem negra naquela casa. Angelina cresceu vendo o pai amargurado e piorando a cada dia. No jardim, nada mais se via além de ervas daninhas, e o roçado, provento da família, secou em pouco tempo.

Angelina, mesmo tendo todos os motivos para se amargurar, mostrava felicidade, e em todos os fins de tarde, corria para o antigo jardim que a mãe mantivera com tanto carinho. De lá, ela sempre voltava com um sorriso no rosto, e quando o pai perguntava a razão daquilo, ela dizia que estivera com a mãe. Ela era, ainda, muito criança, e o pai tentava se convencer de que aquilo era unicamente uma forma dela se defender da tristeza que a rodeava.

Em uma tarde ensolarada, o pai viu a filha correr para o antigo jardim, e não demorou muito para ouvir a risada da menina, como se brincasse e se divertisse com alguém. Ele, curioso, foi até o jardim para observar a filha, e quando chegou perto de onde ela estava, viu-a sentada ao chão, ao lado de um pequeno pé de flor branca e perfumada. Era o único arbusto florido que ainda restava naquilo que fora um jardim cheio de vida. O pai assustou-se ao ver que a menina parecia conversar com alguém, pois não havia mais ninguém além deles naquele lugar.

Preocupado com a filha, o pai foi até ela e sentou-se a seu lado, chamando-a e perguntando com quem ela falava. A menina, calmamente, apontou para a flor e disse que a mãe estava ali, sorrindo para ela.

―Minha filha, aqui não há ninguém além de nós dois! É apenas a sua vontade de ter sua mãe! Eu também morro de saudades dela!

―Papai. A mamãe pediu para você fechar os olhos.

―Filhinha! Ela não está aqui! Tente entender...

A menina olhou ternamente para o pai, deixando-o comovido. Ele, sem ter muito a fazer, fechou os olhos e sentiu uma sensação estranha. Um leve perfume invadiu seu corpo, e a imagem da esposa logo se fez diante dele. Ao abrir os olhos, ele se viu em um campo completamente florido e perfumado. Ao lado dele, a filha estava em pé, sorrindo, e atrás dela, também em pé, Angélica a amparava pelos ombros e esboçava o mais belo sorriso, exatamente como ela fazia em seus tempos de juventude. Junto a eles, vários insetos esquisitos, parecendo duendes com asas, se espalhavam por todos os lugares e cuidavam do jardim.

Tulipa - image by Google
O pai ficou sem entender e se pôs em pé, chegando bem próximo daquela que parecia ser Angélica. Quando estava para beijá-la, tudo sumiu repentinamente e somente a filha permaneceu diante dele. Ele balançou a cabeça e pensou ser tudo um sonho, mas assustou-se novamente ao ver que várias flores brancas apareciam junto aos seus pés. Em poucos instantes, todo aquele antigo jardim se transformou no mais belo e branco campo de flores. Um sorriso estalou em seus lábios, e por mais que chorasse, sabia agora que Angélica sempre esteve ali, e que jamais abandou a ele ou à filha.

Alguns meses depois, naquela propriedade que secara com a partida de Angélica, foi construído um grande campo de plantação de flores. Com o tempo, Angelina e o pai passaram a retirar seu sustento da colheita e venda das mais variadas espécies que brotam pela grande e fértil propriedade em que residem. No entanto,  é no pequeno jardim, onde Angélica cultivava suas tão adoradas flores brancas, que os dois passam a maior parte do tempo. Lá, uma flor branca e extremamente perfumada domina o ambiente. O nome desta flor? ANGÉLICA.


MarcioJR



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Um pedido de desculpas:

Além de alguns problemas de saúde, que me afastaram por algumas semanas dos blogs amigos, outra questão tem me afligido com relação a alguns blogs. Simplesmente, por problemas técnicos do blogger, não consigo comentar e, não raro, sequer consigo acessar esses blogs.
Já tentei mudar de navegador, e até de computador e tipo de conexão, e nada. Segundo o Blogger, o problema está nas configurações do painel de controle do meu próprio blog, mas as explicações deles param por aí, me deixando com um belo abacaxi nas mãos. E são, pelo menos, nove blogs a que não tenho acesso aos comentários.

Lamento, e me desculpo, por essa situação incômoda.

Marcio.