quinta-feira, 4 de junho de 2015

VERDADES E MENTIRAS

série EMPÍRICA MENTE


imagem coletada no Google
Talvez você queira, um dia, mudar o mundo. Quem sabe você pretenda ser um líder religioso que orientará muitos para a paz. Você pode vir a ser um guru, um conselheiro, alguém admirado e procurado por muitos que buscam as verdades e mentiras que existem por aí.

Mas, como entender e mudar o mundo, se você não é capaz de se entender? Como saber o que é necessário para a paz, se você próprio vive em conflito? Como aconselhar alguém, se o que mais brota de tua mente é a dúvida?

A catarse, a exteriorização dos sentimentos… sim, são necessários, mas há que se saber até onde podemos “exteriorizar” e, sempre, o que devemos exteriorizar. Algumas miudezas devemos levar conosco, para uma jornada longa e que castigará os pés. Um caminho árduo, sinuoso e sombrio nasce conosco, embutido num lugar único e que leva a um destino que apenas uma única pessoa pode chegar, se chegar: seu próprio “eu”.

Fazemos nossas próprias verdades, e como muitos dizem por aí, uma mentira dita muitas vezes vira uma verdade. Você tem dito verdades para si mesmo, ou se enche de mentiras para tentar, assim, satisfazer o espírito com algo que lá adiante servirá como desculpa para sua covardia em encarar as realidades que tanto te assustam?

Nem toda verdade é uma verdade por inteiro, assim como nem toda mentira tem seu cunho irreal. Então, no que acreditar? O que contar para seu íntimo? Como mensurar toda essa informação que te chega sem se contaminar com toda essa imensa aura de fumaça pegajosa que recobre o que você deveria estar rejeitando?

Não existe uma verdade única. Não existe. Existem as verdades que você quer ouvir. Existem as verdades que saciam teu ego submisso ou submetedor. Existem as verdades que corrompem e assustam. Existem as verdades que denigrem ou que fabricam heróis e vilões. Existem as verdades do corpo. Existem as verdades da alma.

Existem, no entanto, algumas verdades que estão atrás de barreiras quase intransponíveis. São verdades que não dizem respeito apenas a você, mero pedaço de carne que um dia apodrecerá para sustentar aquilo que você hoje destrói. São verdades não corrompidas, guardadas numa ampulheta celeste própria para marcar o tempo que te resta antes mesmo dele começar a correr. São verdades que uma mente capciosa e um espírito fraco jamais entenderão. São verdades que não falam nada e que sequer podem ser descritas por palavras, pois elas não são tangíveis a olho nu ou visíveis para mãos feitas de carne. Distantes demais para a ciência descrevê-las, mas próximas em demasia para que o ser humano se perca dentro delas.

Do que elas falam? Como vou saber, companheiro, se sou um mero andarilho ainda, preso na corrente do tempo e do vento? Ainda estou capengando com minhas próprias conjurações, e das minhas pernas, sequer os joelhos desatolei.

Mude o mundo, mas primeiro, preocupe-se em arrumar tua casa. Nada pode ser começado do meio. Ou tua casa pouco importa para você? Uma maratona se começa no primeiro passo. Maldita é a mania que o tal humano carrega em tentar apressar tudo. Apresse o vento, e ele vira tempestade. E sabe o que é engraçado? Na tempestade, casas saem voando, mas o junco verga e volta. A natureza levou milhares de anos para aperfeiçoar o junco.

Somos inteligentes? Sim, é claro que somos. Mas, o que é a inteligência senão a capacidade de raciocínio somada à quantidade de conhecimento adquirido e a velocidade com que se processa tudo isso?

Conhecimento? De que? Verdadeiro, ou contado pelo homem?

Sim, somos inteligentes. Raciocinamos sobre aquilo que nos dão, e quem somos nós para contestar os livros que mandam ler? Somos inteligentes sobre aquilo que conhecemos, mas somos alienados diante da quantidade absurda de falsa informação alardeada todos os dias por todos os meios que fazem tudo isso chegar aos nossos ouvidos.

Beba Coca-Cola, compre Batom, eu quero minha Calói, gordura demais faz mal, café faz bem, seja vegetariano e viva uma vida saudável, o corpo precisa de carne, o homem descende do macaco, os continentes eram formados por um único bloco, meu deus é melhor que o teu, use camisinha, cuidado com o câncer de pele, aspirina é um bom analgésico mas faz mal pro estômago, alopatia irá te curar, a religião salvará o mundo, a religião acabará com o mundo, homem deve constituir família com uma mulher, dê a outra face, cure chulé com vinagre, somente a fé liberta, a ciência explicará, deus voltará, deus não existe, deus existe, você é aquilo que você come, você come aquilo que você é, o inferno te espera, a terra é o inferno... etc... etc... etc.............. etc.

O inferno está dentro de sua mente, não dentro de seu espírito. Se você pensa que aqui é o inferno, então viverá uma vida atribulada, onde quase nada dará certo. Seu espírito busca sempre o equilíbrio, onde o bem e o mal te darão a sabedoria suficiente para caminhar em paz. Equilíbrio entre um e outro, o negativo e o positivo. E você não precisa ser um doutor em nada para buscar esse equilíbrio, como também ninguém poderá fazer isso por você. No entanto, você precisa estar disposto a buscar isso dentro do lugar mais complexo que existe: você mesmo. Então o inferno começará a fazer sentindo, e você verá que ele é construído por você mesmo e para você mesmo. Céu e inferno, equilibrados, te fazem caminhar entre um e outro, mas quando você não se permite tal equilíbrio, poderá cair dentro da fogueira que você tanto insiste em apurar.

Ao tentar buscar o equilíbrio dentro de seu "eu", você não irá se perder, pelo menos não mais do que já está perdido. Você é um labirinto, mas não se preocupe com isso. Labirintos existem unicamente para te dar o tempo necessário para se preparar para aquilo que irá encontrar no fim do caminho. E se você não encontrar a porta derradeira do labirinto, é porque não se preparou o suficiente. A paciência não é um dom, mas um requisito necessário para não se perder ainda mais dentro de você mesmo. E ela, a paciência, deve ser aprendida e desenvolvida, exercitada a cada instante e com muito empenho. Muitos jamais conseguirão desenvolvê-la e, por consequência, nunca encontrarão o rumo certo dentro de seu labirinto íntimo.

E se a pessoa conseguir achar a saída, o que ela irá encontrar do lado de fora?

Nada, pois esta não é uma saída para fora. Jamais falei isso. Falei em “fim do caminho”, que na realidade é, somente, uma pequena parte de uma jornada sem fim. Você está entrando, e não saindo. Ao encontrar esse “fim do caminho”, você começará a entender que as verdades são desnecessárias, pois não existem mentiras, pelo menos não aquelas que se pensa existir quando falamos dos mistérios do universo. Somos energia, e a carne é apenas um mero frasco que acomoda nossa essência. Alimento para o corpo se acha em qualquer quintal, mas para o espírito, esse precisamos cultivar internamente, em nós mesmos.

imagem coletada no blog Mundo Bonsai
Então, se você entendeu o que escrevi acima, no fim do labirinto você poderá encontrar a si próprio, preso e perdido pelas verdades e mentiras humanas. Você se vê vítima de sua própria tirania. Uma coisa eu te garanto, companheiro. Quebrar as correntes que te prendem não será tarefa fácil. Ninguém gosta de desacreditar naquilo que levou uma vida inteira achando ser verdade. E nesse momento, ao olhar para trás, você verá que seu labirinto se modificou e ficou milhares de vezes mais complexo. Então, te cabe uma decisão: voltar e desistir, fingindo que aquilo tudo não passa de um sonho muito louco ou uma alucinação causada por algum cogumelo muito do besta, ou enfrentar as verdades e mentiras terrenas para, assim, começar a buscar aquilo que talvez você jamais alcance, que são justamente os mistérios que passarão a te guiar.

Difícil, não é?

Um dia você entenderá que pode voar. Não com asas, mas com aquilo que te foi dado, teu pensamento. Só lembre que até a mais robusta águia enfrenta problemas com o vento forte. Nessas horas, ela pousa e repousa, esperando pacientemente a ventania passar. Mesmo desprovida da capacidade de raciocinar, ela usa seus instintos. Estes, por sua vez, são suas verdades, as únicas que ela conhece. Para a águia, não existem mentiras.


Entendeu agora?


Marcio Rutes



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