sexta-feira, 5 de novembro de 2010

NO LIMIAR DA LOUCURA

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Era para ser uma crônica extrovertida. Também era para ser um texto simples de ser escrito. Mas, o que nasceu de uma divertida pesquisa, se transformou em algo sério e que, por algumas vezes enquanto a pesquisa ou a composição evoluíam, cogitei em deixar de lado. Pensei em falar das maluquices que os grandes gênios da humanidade aprontaram, mas esbarrei em assuntos como falta de ética, loucura, demência, depravação, insanidades as mais variadas, perversão e alguns outros infortúnios que a mente humana é capaz de conceber.
Já faz algum tempo, venho me divertindo com revistas e jornais antigos, e em muitos deles consigo dar boas gargalhadas com fatos históricos hilários e “malucos”, como a eleição de um hipopótamo, o Cacareco, para a Câmara Municipal de São Paulo, em 1958 (eleito vereador com a maior votação entre os candidatos). Segui, então, nas minhas peregrinações e pesquisas pelos papéis velhos e pela Web, até que cheguei aos artistas e alguns gênios da história, e foi então que, de fatos engraçados, a coisa descambou para violência, depravação, degradação do corpo e da mente e vários outros fatos que não me arrancaram mais risadas. Mas continuei, até que, em certo ponto, me deparei com um artigo, na revista Veja de número 2063 (04/06/08), que falava sobre a aprovação, por parte do STF, da pesquisa e do uso de células-tronco de embriões humanos nos laboratórios. A questão em si, e seguindo os propósitos de minha pesquisa, pairaram sobre as discussões sobre a ética da questão e até onde ela influenciou na cadência das descobertas científicas que tanto auxiliaram nosso mundo. Misturei as coisas, digo, loucura e ética? Pode ter certeza que sim.
É fato sabido (não que eu concorde) que muitas das descobertas, principalmente em relação ao corpo humano, deixariam de existir, caso a ética fosse seguida. O fim da idade média foi o berço do início de muitas pesquisas, onde a grande maioria, mesmo com aval e dinheiro vindo de fontes poderosas como o Vaticano ou vários Reis e Imperadores, era feita na surdina e completamente na ilegalidade. A humanização crescia e, com isso, o apelo popular já dava mostras de que não toleraria mais tantas afrontas. Com medo de revoltas populares, os poderosos não arriscavam por seus nomes justapostos a tais atos atrozes. O que se via, então, era um verdadeiro escárnio em relação ao respeito e à ética. Roubo de cadáveres era o assunto de menor importância, se comparado ao que era feito com os indigentes, quando capturados e legados às pesquisas. Eles tinham seus corpos abertos e mutilados para pesquisas, e sem nenhuma anestesia. Falar de escrúpulos, diante disso, passa a ser desnecessário.
A evolução das descobertas na medicina acelerou, mas o preço acabou sendo caro. Pressionado, o Papado passou a condenar tais atos e influenciou diretamente nos reinos católicos. As ações de crueldade e demência ditadas por tais pesquisas, aos poucos, diminuíram, isso frente à falta da cobertura financeira e estrutural que era dada justo por quem proibia tais estudos. Mas elas não pararam, e ficaram relegadas a pesquisadores mais “destemidos” que, mesmo diante das dificuldades encontradas, davam um jeito e se apropriavam de corpos mortos ou, simplesmente, compravam pessoas para tal fim, como escravos, pessoas aleijadas ou incapazes e que se tornavam imprestáveis para o serviço braçal. Não era incomum o sequestro de habitantes de vilarejos, ou a compra de degredados, ou ainda, o que era pior, o roubo de crianças sadias, as quais tinham um fim mórbido e trágico nas mãos desses dementes.
E a história é farta de “cientistas loucos” e seus exemplos. Johann Konrad Dippel, que viveu entre os séculos 17 e 18, roubava corpos nos cemitérios e tentava revivê-los. Qualquer semelhança com a história de Frankenstein não será mera coincidência. Sergei Brukhonenko (1890-1960) era uma das muitas mentes doentias que apareceram na União Soviética, dentro do Regime Stalinista. Ele decepava a cabeça de cachorros e os ligava numa máquina, fazendo-as receber impulsos elétricos. Em certa apresentação, ele manteve “viva” uma dessas cabeças por mais de três horas. Alguns pesquisadores defenderam que ele, com isso, impulsionou as pesquisas de órgãos artificiais. Outro soviético, Vladimir Demikhov (1916-1998), de posse de um laboratório experimental secreto e mantido por Stalin, implantou a metade de um cachorro pequeno no pescoço de um cão maior, criando, dessa forma, um animal com duas cabeças. Novamente, certo número de cientistas alegou a utilidade de tal barbárie, indicando um avanço grande no setor de transplantes de órgãos.
Nos Estados Unidos, Sidney Gottlieb (1918-1999) participou do desenvolvimento da “droga da verdade”. O projeto, de nome MK-Ultra, ministrava em seres humanos algumas drogas, que iam da maconha ao LSD, e tentava fazer com que a cobaia falasse ou concordasse com o que o inquisidor quisesse. Nas horas vagas, Gottlieb arquitetava planos para matar Fidel Castro. Já na guerra entre Japão e China, no transcorrer entre 1937 e 1945, Shiro Ishii (1892 -1959), microbiologista japonês, dissecava prisioneiros vivos sem o uso de anestesia. É acusado, também, de desenvolver drogas que provocavam infecções nesses mesmos prisioneiros, com a única intenção de levá-los à morte. Nunca foi condenado ou preso por tais atos.
Em 1803, Giovanni Aldinni (1762-1834), físico italiano, estudava o uso e o efeito da eletricidade na musculatura humana. Nesse ano, ele chocou uma platéia ao demonstrar seus experimentos no corpo de um prisioneiro morto por enforcamento. Devido aos choques elétricos, os músculos do “defunto” se contraíram, levando a platéia a cogitar a ressurreição do falecido. Exigiram, então, novo enforcamento. Também causou histeria em outras platéias ao eletrocutar a cabeça decepada de um cachorro. Com a contração muscular, a cabeça do animal mexeu mandíbula e olhos, o que colocou todos em polvorosa. Aldinni recebeu várias condecorações por seus experimentos.
Josef Mengele (1911-1979). Para muitos, a encarnação pura do mal. Conhecido como o “Anjo da Morte”, foi médico do campo de concentração nazista de Auschwitz e oficial da SS, tropa de elite de Hitler. Pelas mãos dele, passaram aqueles que iriam para a câmara de gás ou para se tornar experimento genético, o qual o médico em questão conduzia. Suas cobaias preferidas eram as crianças gêmeas, onde ele tentava mudar a cor dos olhos, amputava membros ou tentava criar, artificialmente, gêmeos siameses. Não usava anestesia e, após a morte da cobaia, ele as mandava para dissecação. Depois do fim da segunda guerra mundial, Mengele fugiu para a América do Sul, onde permaneceu até sua morte, em liberdade.
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Falar dessas atrocidades causa repúdio, e sequer sei como classificar tais pessoas. Muitos pesquisadores e cientistas abusam da falta de ética mas, na maioria das vezes, não  chegam a por em risco a integridade física de ninguém, seja uma cobaia humana ou animal. Tal ausência de ética, nesses casos, visa confrontos com questões religiosas ou, no  máximo, morais. Porém, outros já perdem completamente o bom senso, quebrando toda e qualquer regra de conduta do comportamento humano. Podem ser chamados de  loucos, dementes, perversos, psicopatas ou seja lá qual for o adjetivo que sirva para dar nome a essa insanidade que os toma. Em sua grande maioria, utilizam a ciência para  mascarar suas intenções, as quais nem sempre são alcançadas. Obviamente, muitos dos avanços passaram por esses atos de crueldade, mas, nem por isso, perdem seu grau  animalesco.
E não pense que são apenas os pesquisadores que são acometidos por essas insanidades. O mundo teve uma gama enorme de mandatários do poder que eram completamente  malucos. Seus comportamentos seriam rotulados, hoje, sob as tarjas de depravação, transtorno obsessivo compulsivo, demência, esquizofrenia, distúrbio bipolar, entre outros. Então, para encerrar a crônica, segue abaixo uma pequena lista desses “senhores do poder” e suas demências:
  • Nabonidus – Rei da Babilônia no Século 6 a. C.
Segundo trechos dos Pergaminhos do Mar Morto, ele achava ser um bode, e andava em quatro patas e comendo grama.
  • Frederico I (1657-1713) – Rei da Prússia.
Portador do transtorno obsessivo compulsivo. Para fazer o filho acostumar com a guerra, o acordava sempre às 6 horas da manhã e ao som de canhões sendo disparados. Isso começou quando o filho tinha apenas 6 anos de idade. Sua guarda imperial era “adorada” por ele, onde todos os componentes tinham mais de 1,80 m de altura. Na falta de soldados com essa qualificação, ele simplesmente mandava seus emissários comprar ou sequestrar soldados em outros países.
  • Vlad III (1431-1476) – Rei da Valáquia (Romênia).
Seu irmão foi cegado com ferro quente e enterrado vivo. Para se vingar, após assumir o poder, prendeu boa parte da nobreza de seu reino e os empalou. Depois, em 1462, na iminência de ver seu império invadido pelos Otomanos, mandou preparar uma surpresa para as tropas invasoras. Então, Mehmet II (comandante das tropas otomanas), ao se aproximar da Valáquia, se viu diante de 20.000 (vinte mil) soldados empalados. Ato seguinte, deu meia-volta e retornou, cabisbaixo.
  • Mustafá I (1592-1639) – Imperador Otomano
Seu irmão, para evitar uma eventual disputa pelo trono, o trancafiou numa cela completamente isolada, por 14 anos. Após a morte do irmão, Mustafá assumiu o poder, mas sua saúde mental já não andava das melhores. Foi preso novamente, até que, após algumas conspirações, foi solto e reassumiu o trono. Seis meses depois, completamente enlouquecido, voltou para o cárcere, desta vez até sua morte. Seu maior prazer era atirar a fortuna de sua família pela janela do castelo, unicamente para ver seus súditos se engalfinharem pelas jóias.
  • Nadir Shah (1688-1747) – Rei da Pérsia (Irã)
Como General, tomou o poder e, após sofrer uma tentativa de golpe, mandou cegar o próprio filho (de quem desconfiava) diante da nobreza local. Não satisfeito, ordenou a seus soldados que cegassem todos aqueles que tivessem visto a cena. Sua crueldade era tanta, que por onde andava, mandava torturar o povo, pois sempre desconfiava de prováveis conspirações. Após as torturas, decretava que todos os habitantes do lugar tivessem suas cabeças decepadas, as quais eram empilhadas em forma de pirâmides.
  • Ivan, O Terrível (1530-1584) – Imperador da Rússia
Pensando que sua esposa havia sido assassinada, passou a matar os membros da nobreza e os funcionários de confiança de um jeito nada comum. Seu tesoureiro, por exemplo, foi cozido vivo em um caldeirão. Espancou sua nora simplesmente por não gostar da roupa dela. Frente à isso, entrou em discussão com o próprio filho, e o atacou com um cetro de metal, matando-o instantaneamente.
  • Gian de Médici (1671-1737) – Rei de Florença, na Itália.
Além de homossexual, sofria de depressão. Chegou a ter mais de 400 pessoas em um “estábulo sexual”, local onde eram praticadas verdadeiras orgias. A grande maioria dessas pessoas eram garotos jovens.
  • Carlos VI, O Louco (1368-1422) – Rei da França
Seus antepassados no trono foram Clovis II – O Inútil, e Childerico III – O Idiota. Tinha crises de fúria e fortes dores de cabeça. Seu crânio foi perfurado, na intenção de aliviar a pressão, mas só piorou seu estado. Em 1405, parou de tomar banho e fazia todas suas necessidades fisiológicas na roupa. Se alguém se aproximava, ele gritava que seu corpo era de vidro e poderia quebrar.
  • Ibrahim, O Louco (1616-1648) – Imperador Otomano.
Levava uma vida de luxos extremos e adorava orgias. Desconfiado de que uma de suas 280 concubinas havia prevaricado, mandou que todas elas fossem postas em sacos cheios de pedra e atiradas ao mar.
(este trecho final, que fala sobre os Reis e Imperadores e suas loucuras, foi extraído da revista Mundo Estranho, da Editora Abril. O texto foi editado, sofrendo adaptações em seu conteúdo, para melhor integração ao texto).
Saiba mais:
Fontes
definições
TOC:
ética:
loucura:
demência:
depravação:
perversão:
transtorno bipolar:
esquizofrenia:

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