terça-feira, 9 de novembro de 2010

VIDA EM FAMÍLIA

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O convívio familiar é algo complexo. Deus não nos colocou na terra para vivermos feito ilha, isolados, mas bem que Ele poderia ter deixado um manual de “instruções rápidas”, para sanar eventuais danos ou incêndios que, teimosamente, aparecem de tempos em tempos. Há que se saber como comandar, ou melhor, como determinar a harmonia dentro de um lar nos dias de hoje. Aqui em casa, depois de uma leve discussão entre meus pais, acordei pela manhã e encontrei sobre a mesa uma belíssima torta de frango, que minha mãe fez após aquela rusga que manteve com meu pai, ontem à noite. Mas essa questão da torta, explico mais tarde.

Todo começo de relacionamento é maravilhoso, onde o mundo adquire mais cores, os pássaros cantam de forma mais bela, pequenos defeitos de personalidade são relevados e os planos são os mais variados possíveis e feitos em conjunto. Depois de alguns anos de casamento, o tubo de imagem da vida estraga e parece que tudo fica em preto e branco, nas árvores só aparecem arapongas, a personalidade já nem existem mais, e aqueles planos lá do começo, viraram planos de saúde, plano funeral, planos de divórcio e por aí vai. Deveria ser assim?

Não quero abordar o lado psicológico do relacionamento um casal, mas o cotidiano leva claramente a um desgaste no relacionamento. Tenho escutado muitas pessoas, de gerações anteriores a minha, dizendo que “ah, no meu tempo, os casais se respeitavam mais, e o casamento era levado de um jeito mais sério”. Até concordo com esta afirmação, mas também havia um machismo predominante, e a pobre da mulher não tinha voz ativa para nada. As mães criavam as filhas única e exclusivamente para atender ao marido e aos seus caprichos. Isso era uma vida em família? Já com o passar dos anos e a conquista de direitos por parte das mulheres, a situação ficou bem diferente, tanto que hoje é bem comum encontrá-las chefiando um grupo familiar ou, em muitos casos, mantendo sozinhas um lar.

Num grupo familiar comum, composto de pai, mãe e filhos, a ordem da vez é “primeiro eu, isso é meu, não me encha o saco”. Não digo que em todas as famílias impere este sistema, mas em várias, sequer um bom-dia é dado pela manhã, e quando se vê, já existe briga diante do banheiro para ver quem irá usar o chuveiro primeiro. Nas refeições, cada um pega seu prato e desaparece para algum canto da casa, e quando se tem algo sério para ser dito, sobre algum assunto íntimo do lar, isso é feito diante do computador, e o pior, algumas vezes com estranhos. A falta de diálogo é o que mais preenche uma casa, e sempre que perguntado o motivo, as palavras cansaço, falta de tempo, stresse e falta de assunto, vêm à baila.

As brigas também se tornaram mais constantes, e em muitas vezes, são motivadas pelos filhos e sua rebelde juventude. Neste ponto, a família ao modo antigo era perfeita, onde os filhos respeitavam muito mais a hierarquia familiar. Além deste fator, ainda existem os gastos excessivos e desnecessários por parte dos cônjuges ou dos rebentos, a falta de respeito pelo espaço alheio, as “saídas” com os amigos, o futebol, a novela, a fofoca, a traição, a falta de Deus, enfim, motivos que dariam para encher todo um universo mas que, se pararmos para pensar, acabamos voltando num ponto básico: falta de diálogo e respeito mútuo.

Os conselhos vindos de fora da família também são muito complicados. Antes de conversar entre si e tentar esclarecer o que não está bem, o casal adquiriu o péssimo hábito de se aconselhar com amigos ou parentes que, na maioria das vezes, sequer sabe o que está acontecendo dentro daquela família ou, ainda pior, não nutre um sentimento muito bom quanto àquele que está sendo “condenado” no momento. O resultado disso, na maioria das vezes, é a separação do casal, pois os conselhos que aparecem são sempre dados sem um embasamento factual, ficando unicamente no lado emotivo da situação, o que acaba sendo tendencioso.

Algumas pessoas são perigosas na hora de dar conselhos. Conheço uma senhora que, ao saber das rusgas que um casal de vizinhos promovia constantemente e, claro, pendendo para o lado da vizinha, orientou a ela que, ao ocorrer tal fato, atacasse o marido com unhas e dentes. A vizinha levou aquilo tão a sério, que uma semana depois o vizinho apareceu com a barriga mordida e vários arranhões pelo rosto. Quase se separaram. Em outra oportunidade, esta mesma senhora se viu diante de um casal que vivia brigando por motivos de bebedeira do marido, e deu o seguinte conselho para a esposa: “se ele beber e ficar muito chato, quebre o que você achar pela frente”. Ao fim de tudo, e de vários pontos na cabeça do infeliz (ela quebrou uma garrafa e a cabeça do marido em conjunto) a moça acabou parando numa delegacia.

Nem todos estão preparados para um convívio familiar, e quando a família se forma, é necessário um cuidado redobrado no trato aos filhos, pois será em pai e mãe que a criança se espelhará e irá retirar os elementos necessários para compor seu caráter e, lá na frente, formar sua própria família. E quanto a dar conselhos, honestamente, se você não é frequentador(a) assíduo(a) daquele lar ou tem alguma diferença que impeça um bom convívio com um dos cônjuges, não dê “pitaco” nas brigas deste casal. Não julgue dizendo “homem nenhum presta,  mulher é assim mesmo”, pois isto pode ser uma das maiores irresponsabilidades vindas de alguém. Taxar ou condenar uma pessoa, sem antes ouvir o que ela tem a dizer, é um ato de covardia, e você poderá promover a dissolução de uma família. Portanto, pense muito bem antes de sair por aí querendo bancar o(a) conselheiro(a) sentimental.

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Quanto aquela torta de frango lá do começo, bem... a discussão foi leve, mas os ânimos continuavam exaltados, e meu pai detesta torta de frango, além de ser alérgico ao dito animal. Pelo visto, mais encrencas pela frente.

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