sábado, 6 de novembro de 2010

QUEM PAGA O PATO?

image by Google


Uma das coisas que mais me agrada é poder me informar, seja sobre o que for. Talvez seja um hábito adquirido pela profissão, pois a dinâmica que as tarefas voltadas para a web oferecem é fantástica para isso. Jornais escritos e televisionados também são uma grande fonte, e nada melhor do que acordar bem cedo numa sexta-feira, pegar meu café e... quase engasgar diante da TV. A matéria sobre o IDH brasileiro e nossa média de educação igual a do Zimbábue já desceu ardendo na garganta, mas ouvir as súplicas dos governadores eleitos do PSB clamando pela volta da CPMF, isso foi o cúmulo.

Mas, vamos por partes. Hoje é sábado, 6 de novembro, e o impostômetro está marcando a cifra de R$ 1.041.614.035.139,01 arrecadados (horário: 04h35min). Segundo os governadores eleitos do PSB, a saúde vai de mal a pior, e eles acham necessária a criação de uma nova contribuição para sanear os buracos existentes nesta área. Puxando pela memória, lembro já ter escutado isso, lá pelos idos de 1993 ou 1994, quando o Dr. Adib Domingos Jatene resolveu modificar o IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira) para formular um novo imposto para melhorar, justamente, a saúde. Então, por aproximadamente 13 anos, contribuímos “provisoriamente” para encher as burras do governo, enquanto a saúde só piorou. E agora? Será diferente?

A grande verdade é que isso só ganhou a devida atenção popular por alguém ter citado o famigerado termo CPMF. Já tramita pelo congresso a “emenda 29” e o projeto de criação da CSS (Contribuição Social da Saúde). Pela Emenda 29, União, Estados e Municípios serão obrigados a investir, respectivamente, 10%, 12% e 15% das arrecadações em saúde. Já quanto à CSS, ela nada mais é do que a cobrança de 0,1% sobre toda e qualquer movimentação financeira. Ou seja, re-estilização de imposto.

E a pérola do dia ficou por conta do governador eleito pelo Ceará, Cid Gomes: “É um sacrifíciozinho muito pequeno para cada brasileiro em nome de um grande número de brasileiros que precisa dos serviços de saúde e precisa que esses serviços sejam de qualidade”. Apenas transcrevi, sem corrigir os erros do governador. Sem comentários.

Já quanto ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), alguns estão comemorando a melhora que o Brasil conseguiu, galgando 4 posições no ranking mantido pela ONU. Ocupamos agora a posição de número 73 entre 169 países. Nada ruim, se considerarmos que passamos, com isso, a integrar aquele grupo de desenvolvimento um pouco mais apurado, mas, se olharmos um outro ranking, o de desigualdades regionais, o Brasil despencou 15 posições. Comemorar o que, neste caso? E os motivos para essa queda são sempre os mesmos, ou seja, desigualdade de renda (leia-se má distribuição de renda) e falta de acesso a saúde e saneamento básico.

No tocante a questão da educação, a coisa é calamitosa. Segundo a ONU, estamos empatados, em último lugar, com o Zimbábue, e duvido muito que o país africano em questão sequer sonhe em um dia ter uma arrecadação de impostos igual a do Brasil, mas, se isso acontecer, tenha a certeza de que eles melhorarão, e muito, o nível de instrução do povo. É deprimente ver uma pessoa adulta vir a público e dizer que pretende fazer uma faculdade, mas que o sonho dela é poder ler e compreender o que está lendo. Muitos não estão sequer interessados em se instruir, mas uma grande parcela quer e não pode. E não faço referência a quantidade de anos ou o custo para estudar, mas à qualidade do nosso ensino. Um grande número de vestibulandos, que estão prestes a ingressar numa faculdade, sequer consegue interpretar um texto simples. O pior é que alguns deles se formam e continuam, ainda, sem conseguir fazer isso.

A modernidade trouxe a facilidade para levar o conhecimento e a cultura até o povo, mas a falta de vontade dos homens públicos parece empurrar tudo para o ostracismo. Não se investe em infra-estrutura e qualificação dos profissionais, o dinheiro teima em não chegar até onde deve, algumas escolas estão literalmente caindo aos pedaços, os estudantes perdem o interesse, e por aí vai. Mas, até quando vamos suportar tudo isso? Só o que vemos mediante tal situação, é aumentar as diferenças regionais e de classe. Quem pode, se instruiu do jeito que dá, e quem não pode, se afunda cada vez mais, tendo que aproveitar o capenga ensino público e a boa vontade dos professores.

image by Google
Enquanto isso, tratemos de criar mais um imposto. Se ele vai para a saúde, eu não sei, mas que vai sair do bolso do povo, isso é certo. E no reino tupiniquim, 30 milhões de brasileiros resolveram se abster do poder do voto, preferindo viajar ou qualquer outra coisa. Será que eles irão reclamar do novo imposto?

Já passou da hora do povo acordar para tudo o que está acontecendo. Falou-se muito, antes das eleições, em voto consciente, e mais uma vez o povo demonstrou que não está muito afeito a trazer para si a responsabilidade. Então, lamento, mas ele mesmo (o povo) vai continuar “pagando o pato”.

E no impostômetro: R$ 1.041.641.327.150,99 (horário: 04h58min).


(crônica escrita em 06.NOV.2010)


Saiba mais:







Nenhum comentário:

Postar um comentário