sábado, 11 de junho de 2011

ENAMORADOS

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Eu estava ali, naquele corredor. Engraçado que ainda sentia o perfume dela, que há tanto tempo ela usa, mas que eu nunca quis que fosse outro. O toque de suas mãos ainda se fazia presente em minha pele quando, em minhas lembranças, ela passou por mim e me pediu, com aquele sorriso lindo, que a ajudasse com alguma coisa. Só não pergunte o que ela pediu, pois aquela voz me inebriou e hipnotizou. Eu sorri e disse que sim, ou nem sei, mas respondi e me perdi, pois o que eu mais queria naquele instante, era só um beijo.

Musica: Do That To Me One More Time - Captain & Tenille  //  by YouTube

Andei um pouco mais e olhei as paredes. Cada pedacinho daquela casa tinha algo dela, uma arrumação, um detalhe que foi trocado, modificado, que foi construído pela genialidade sempre guardiã que ela carrega. Na mesa, alguns restos da decoração do Natal, que possivelmente iria para alguma caixa no guarda-roupa, mas que ficou ali, talvez para me lembrar daquela comemoração que até pouco tempo, eu não soubera dar valor. As cadeiras, o tapete, os copos todos alinhados na bandeja, tudo ali era ela. Deus, como viver sem ela?

A escada que levava para o segundo andar estava diante de meus olhos. Tantas vezes ela pulou do segundo degrau diretamente para os meus braços, e isso em tão pouco tempo que convivemos. Sentia aquele cabelo negro e macio passar pelo meu rosto, enquanto ela encostava o peito dela ao meu, e esfregava em mim o pequeno nariz, como quem pedia carinho, mas não um carinho qualquer. Ela queria estripulias, e eu adorava. Saíamos girando, rodando, e se quebrássemos copos ou cristais, não havia nada demais. O que importava, era estarmos ali, naquela cumplicidade maravilhosa, naquele encontro promovido pelo destino e abençoado pelos anjos que passaram por nós no momento de nossa junção astral.

Olhei para trás e apaguei a luz. Viver do passado era bom, pois nele eu tive momentos únicos. Subi cada degrau acarpetado, procurando pisar exatamente onde ela pisava. Sim, eu sei até onde aqueles pequenos pés pisavam a escada. Ela deixava um pedaço do calcanhar para fora, e tantas vezes eu a corrigi, temendo por uma queda. E hoje, eu faço a mesma coisa. No andar de cima, mais lembranças, e em cada cômodo, uma peça de roupa dela para me lembrar da magia dos detalhes. O roupão de banho, o pijama, o gorro para o frio, as pantufas do Frajola. Olhei um por um, e senti o perfume deixado por ela naquelas roupas.

Enfim, o caminho do quarto. Abri lentamente a porta e sentei na cama. Durante anos, muitos, procurei por alguém como ela, que me completou em minha própria essência. E ela estava ali, dormindo serenamente em minha cama, minha esposa, alguém que sofreu muito durante vários anos, mas que estava ali, coberta pelos mesmos cobertores que eu. Sua face mostrava um leve sorriso, e de seu semblante, brotava uma paz profunda. Num leve suspiro, ela se virou para mim e resmungou algo, talvez motivada por algum sonho.

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Passei a mão em seu rosto e senti seu calor. Tão pura, e quem sabe fosse agora que eu devesse dizer “tão minha”, mas não direi isso, pois o que mais tentei ensinar para ela, é que ela pertence a ela própria, somente a ela e a mais ninguém. Ela anda ao meu lado. Nem atrás e nem adiante, sempre ao meu lado. Deitei ali e puxei o cobertor até nos cobrir quase por inteiro, pois sabia que outra manhã logo nasceria, e começaríamos mais um dia de felicidades. Ela logo se aninhou em meus braços, e meu corpo a acolheu exatamente como meu coração faz a cada momento, ela estando perto ou não.

Adormeci certo de que sonharia com ela, mas seria difícil ter um sonho mais belo do que essa realidade em que estou vivendo. A felicidade pode, claro, ser feita de momentos, mas nada melhor do que viver cada um deles de uma forma intensa e única, fazendo com que cada dia seja um eterno “dia dos namorados”.

Marcio JR