sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

SOMENTE PARA SEUS OLHOS

óleo sobre tela - obra de Fátima Kelbert (imagem do Google)

Era do alto daquele prédio que ele via as manhãs nascendo ou o dia se esvaindo. Estações do ano iam e vinham, ora com suas folhas amareladas sendo sopradas pelo vento, ora com novas folhas brotando dos galhos das árvores para, em tempos vindouros, tornarem a amarelar.

Assim o tempo passava, e ele ficava por lá, no alto daquele prédio. Mas não era louco, nem tanto desistira de viver uma vida comum, junto aos seus. Apenas gostava de observar a movimentação alucinada daquela alcateia humana, que em seus momentos mais calmos, eram capazes de se engolir uns aos outros.

No que se transformara aquele local tão tranquilo a que ele tanto se acostumara em seus bons tempos de criança? Onde estava o prazer de dizer “bom dia” a um conhecido qualquer e que sequer se sabia o nome? Perdera-se a educação, ou era o mundo que estava apressado em demasia? Ou seriam os frutos amargos de uma árvore chamada Progresso?

Carroças e coches viraram automóveis de luxo, e a comunicação já quase vinha embutida na orelha das pessoas. Elas, agora, pareciam falar sozinhas, e isso sim era estranho. Mas, tudo bem. Cada um com sua pressa ou sua loucura. E ele não estranharia se, em pouco tempo, as pessoas começassem a voar sem asas. Ah! Como seria bom. Ele próprio trataria de comprar algum aparelho para isso, só para chegar bem perto das nuvens mais altas e de lá fazer xixi mirando o mundo lá embaixo. Daria risada por saber que muitos iriam pensar que se trataria de chuva ácida.

―Como são bobos! ―comentou baixinho e soltando uma risada de canto de boca.

Voltou os olhos para uma tela branca, presa a um cavalete, a sua frente. Durante dias tentou captar algo para preencher de cor aquele pano já sujo pela fumaça. Sem se esperar, algumas gotas de chuva molharam a tela, e nesse instante ele reparou algo inusitado. A água da chuva reagiu com os resquícios de poeira e poluição que estavam na tela, formando um borrão estranho. “Uma mulher”, pensou ele.

―Uma linda e delicada mulher em minha tela! Vejam só!

Foi então que sentou em seu pequeno banco, dando vazão a tudo o que brotava de seus olhos e mãos. Quanto mais chovia, mais borrava e mais ele se entusiasmava. Aquela parecia ser, definitivamente, sua melhor obra. Sim, era agora uma mulher, e era tão bela que ele, em sua empolgação, esqueceu até da chuva. 

Curitiba antiga - 1952 - Av Luiz Xavier, Centro (imagem do Google)
Aquela foi sua obra-prima, nascida do cotidiano de muitos que, com seu progresso, propiciavam a fumaça que reagiu com a chuva e se fez tinta. De resto, seu talento deu conta. Foi uma obra sem precedentes, pintada em um único traço. Mas foi somente para seus olhos. O que ele não se deu conta, é que a chuva, mesmo ajudando a criar, logo depois tratou de lavar aquela tela.

O preço da criação, no entanto, foi mais alto do que parecia. A pneumonia, causada pela chuva fria, por muito pouco não o fez arcar com a morte. Com alguma sorte, muitos cuidados e também com os remédios da modernidade, conseguiu voltar ao alto daquele prédio tempos depois.

O banco, a murada de onde ele observava o cotidiano, e também a tela no cavalete. Tudo estava ali.

Sentou e, pacientemente, esperou novamente pela chuva. Ela destruíra sua melhor criação, mas também fora responsável pela breve existência dela. Por que, então, não tentar novamente?


Por via das dúvidas, deixou um guarda-chuva disposto ao seu lado. Aprendera a lição.





Marcio Rutes





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sábado, 17 de dezembro de 2022

VER E VIVER

image by Google

Da flor
O frescor,
Do amor
O calor,
Do beija-flor
O zumbido,
Do cupido
Seu lampejo caído.

Do frio
O orvalho,
Da noite
O bocejo,
Do mar
A onda a versejar,
Da chuva
A semente a brotar.

Da criança
O sorriso,
Da balança
O friozinho na barriga,
Do beijo
O gemido,
Do olhar
O riso contido.

E em cada manhã,
Uma palavra

Sempre em agradecimento.


Marcio Rutes


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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

POIS É, SEU PADRE...

―Mas, filha! Você tem certeza disso que está me falando? Seu marido “tchum” mesmo? Quero dizer... ele... é... bem, como eu posso dizer isso de modo não agressivo? 

―Ele dá ré no quibe, Padre! É isso mesmo! É um desavergonhado! 

Padre Zinho, já antigo por aquelas paragens de cidades pequenas, tentava entender o que aquela paroquiana explicava. Mas, além do relato daquela mulher ser muito confuso, o nervosismo que ela carregava piorava tudo. 

―Trinta e cinco anos, Padre Zinho. ­―ela relatava, lamentando-se e soluçando. ―E pra quê? Tanta dedicação minha, tanto zelo, os cuidados com a família... pra quê, Padre Zinho? 

­―Acalme-se, minha filha... ­―o Padre começava a ficar incomodado, ainda mais quando se deu conta de alguns barulhos logo atrás do confessionário. ―Tente relaxar e me contar direito sobre essa história toda. Não há mal que não se possa remediar...

 ―Que remediar, Padre? Remediar pra quê? Criei meus filhos como eu pude, mandei pra faculdade na cidade grande, e agora, vem o Juvenal com essa história! E o pior é que o nosso filho mais velho tá metido em tudo isso! ―ela engrossou o tom de voz, como se tivesse tomado uma decisão. ―Quero divórcio, e dos dois! Do meu marido e do meu filho! Não quero ficar mal falada por aí! 

O Padre tomou o maior susto ao escutar aquilo. Divórcio do marido ele até entendia, mas mãe divorciar de filho? “Desfilhar”? E quando o Padre baixou a cabeça para tentar raciocinar, escutou novo barulho, como se algo caísse no assoalho de madeira, e bem atrás do confessionário novamente.

 ―Filha, vamos do começo. Me conte tudo. 

―Bom, Padre Zinho, tudo começou num sábado logo cedo... 

“...o Juvenal havia dito que ia pescar com a turma. Até aí, tudo bem, mas descobri que o Lourenço também ia. E o senhor bem conhece o Lourenço. Aquele lá é chegado numa jogatina e, o que é pior, não pode ver rabo de saia...”. 

―Não precisa entrar em detalhes. Vamos deixar o irmão do prefeito de fora disso. ―o padre pediu, ainda incomodado com os barulhos que escutava. 

“...meu filho falou que também iria para a pescaria, e eu me senti mais despreocupada. Depois que eles saíram, esperei a venda da Augusta abrir e fui pra lá, pois fiquei sabendo que o filho da Maria Francisca, aquele que tá na capital, tinha virado viadinho, e eu queria mais detalhes...” 

―Pula essa parteeeeeeeeeeeeee... 

“...taáááá. O senhor anda muito estressado, Padre Zinho. E to notando isso desde aquele dia que viram o senhor lá pelos lados da Maloca dos Viúvos. Lembra? Foi quando o senhor pegou aquela diarréia...”. 

―Chegaaaaaa. A senhora veio aqui pra pedir conselhos e confessar, ou pra fofocar, alcovitar e difamar? Quer que eu lhe escomungue? Se não quer, é melhor segurar essa língua de lavadeira! ―o padre perdeu as estribeiras, mas conseguiu calar aquela mulher, ao menos por alguns instantes. ―Agora, continue! 

“...credo, que jeito de falar comigo, que sou uma mulher tão pudica! Bom, eu não fiquei muito tempo lá na Augusta, pois aquela franguinha da afilhada dela estava lá. Eita menina fofoqueira aquela, e o senhor sabe que eu detesto fofoca. Quando cheguei em casa, reparei que o carro do Juvenal estava parado na rua do lado, e não tinha ninguém dentro. Estranhei e fui pra casa. Entrei de fininho e vi o Zé da Rosca, aquele da padaria, e o Juvenal conversando na sala, enquanto meu filho tava no telefone, conversando com alguém...”. 

―E o que isso tem demais? 

“...foi o que eu escutei, Padre Zinho. Foi o que eu escutei que me deixou desarvorada. Meu filho falava assim no telefone: ‘pois é, meu pai tá precisando de um macho; a gente tá indo pescar, então, se você tiver alguns, a gente passa aí e pega; devolvemos depois da pescaria’...”. 

―Machos? Eu escutei bem? 

“...pois é, padre Zinho. E o desavergonhado do meu filho ainda falou que não era pra se preocupar, isso porque eles iam ‘cuidar’ muito bem dos machos, e que se desse, era pra mandar ‘aqueles machos pretos maiores’. Eu quase morri, Padre. Além do meu Juvenal ser baitola, ainda é chegado num negão! O que é que eu faço, Padre? Me diz?...” 

“...mas a coisa não pára por aí não! Tinha coisa pior! Ainda escutei o Zé da Rosca falar que era uma pena que o senhor não ia poder ir junto, porque quando o senhor tava estudando, tinha ‘feito uns cursos e sabia lidar com machos’. Quando escutei isso, não entendi mais nada. Muito me admira o senhor, Padre Zinho! Justo alguém que deveria cuidar do galinheiro, anda frangueando por aí? Tudo bem que um padre não possa comer o milho, mas também não deve usar o sabugo...”. 

―O quê? Você ficou maluca? ―o berro que o Padre soltou foi ouvido até fora da igreja. 

―É isso mesmo que o senhor escutou. Aliás, já telefonei pro meu irmão, que conhece o Bispo. Amanhã mesmo ele tá aqui, pra tirar isso a limpo com o senhor. Bem que eu desconfiei que isso aí que o senhor usa tava mais pra saia do que pra batina. 

O padre apenas abria e fechava a boca, sem saber o que dizer. Até que, num dado momento, escutou alguns bochichos e resolveu espiar por um vão logo atrás dele, o que permitia que ele tivesse alguma visão do pequeno cômodo que ficava logo atrás do confessionário. Lá, duas beatas saíam às pressas, falando muito e rindo sem parar.

 ―Meu Deus! Não faltava mais nada! ―o Padre suspirou, balançando negativamente a cabeça. ―As irmãs Cascadura escutaram tudo! Agora, a cidade inteira vai ficar sabendo dessa história maluca! Valha-me, Senhor! 

Algum tempo depois, em outra parte da cidadezinha, Juvenal e seu filho paravam o carro bem diante de uma pequena oficina. 

―Heitor! ―Juvenal chamou, enquanto descarregava algumas coisas do carro. ­―Eu trouxe os peixes que tinha te prometido. 

Heitor, o mecânico, apareceu logo em seguida, todo sujo de graxa. 

ferramenta "MACHO", para fazer rosca interna
―E minhas ferramentas? Conseguiu usar? Esses machos são difíceis de arranjar por aqui, principalmente esses pretos maiores. Comprei lá na capital. 

―Pois é, meu amigo! Quase que eu não consigo recolocar aquele parafuso. Agora, dá uma licencinha, que vou ali na igreja cumprimentar o Padre Zinho. Esse danado, além de Padre, também fez curso de torneiro mecânico. Quero que ele dê uma olhada na minha rosca.


Um pouco mais atrás, as irmãs Cascadura escutavam a conversa, mas a única parte que ouviram, ou que quiseram escutar, foi justamente a última. 

―Escutou isso, Gervásia? 

―Escutei sim, Leocádia! Então é verdade mesmo! Mas não entendi uma coisa.

 ―O que é que você não entendeu, Gervásia?

―É o Juvenal ou o Padre que tá com problema na rosca? 

―Pare com isso! Não devemos ficar fazendo juízo errado dos outros. Só vamos passar lá em casa, que quero colocar isso logo no meu Zap Zap. Babado de primeira!

―Reparou como esse povo anda pecador, Leocádia? Acho que aqui nessa cidade, só nós duas é que nos salvamos. Vamos embora, que não quero me contaminar com esses pecadores!

 

 imagens coletadas no Google

Marcio Rutes


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sábado, 3 de dezembro de 2022

RE-ENCONTRANDO AS ORIGENS


O quarto sufocava. Por mais que tentasse fechar os olhos, eles insistiam em permanecer abertos. O sono não vinha, e durante anos ela ficou assim, numa insônia torturante. Lá fora, a lua era convidativa, principalmente quando se juntava com a lufada de ar fresco da madrugada. O luar permitia ver o imenso gramado e as árvores, que mesmo com a penumbra batendo sob suas copas, não pareciam assustadoras como nos filmes de terror. Um pouco mais distante, a ponte e a saudade. O riacho fazia barulho, um barulho corrente e borbulhante. Ela encostou a cabeça na soleira da janela e, aos poucos, adormeceu.
 

Seu corpo transportou a saudade do peito para o gramado, e mesmo dormindo, se viu lá, solta na luz do luar. Descalça, sentiu nos pés a maciez rude da grama recém aparada. Seus pés, de pele fina, sentiram a necessidade de tocar mais vezes o chão, não pela tentativa de engrossar mais a pele, mas sim pela enorme energia contida em seu corpo e que precisava ser descarregada. Suas mãos eram alvas e, estranhamente, pequenas. Ela estava pequena. Ela estava criança, adolescente. Uma linda e tímida adolescente de uns 16 anos de idade. 

Silvos curtos chegaram aos seus ouvidos. Cigarras. No entanto, não eram cigarras da madrugada, e sim daquelas que se escuta durante o dia. Estranhou aquilo, mas pouco importava, pois não passava de um sonho, e ali, naquele devaneio, tudo poderia acontecer. As árvores balançaram, exatamente como ela via acontecer em sua infância, e ela foi até lá, até o lugar onde costumava passar várias horas de seu dia quando mais nova. 

Caminhou lentamente, deixando a grama e o orvalho umedecerem seus sentimentos. A saudade doía muito, a embargava, e ao se aproximar da figueira, sentiu um aperto enorme no coração. Estava ao lado da ponte, e um medo imenso estampou seus olhos. Não queria olhar para o outro lado da ponte, mas precisava, sabia disso. Sabia que suas origens estavam lá, esperando por ela, cobrando pelo esquecimento e pelo abandono. 

Sua natureza pobre nunca a assustou. Cresceu ali e pouco conhecia de outros lugares ou de outras culturas. Era órfã de sentimentos em sua caminhada pela vida, pois tudo o que conheceu e quis estava bem ali, do outro lado daquele riacho, que em outros tempos foi um belo e vívido ribeirão de ilusões. Levantou a cabeça e forçou os olhos. Alguém estava lá, chamando-a para o outro lado. 

Sua mente deu mil voltas. Sentimentos brotaram e a angustiaram. Seria ele? Estaria lá aquele que a fez sonhar e se apaixonar, para depois abandoná-la naquele lugar distante? Aquele mesmo que a entregou à sorte da saudade? Ela o amava, sempre amou, e o que restava agora era o sentimento de falta. Tantos anos esperando sua volta, sua mão, seu sorriso.

A surpresa foi maior do que aquela que ela imaginava. Não era ele, e sim, ela mesma, chamando-a. Sem pestanejar, ela pisou a ponte e caminhou. Estranha sensação. Depois que ele partiu, ela nunca mais cruzou a ponte. Talvez por medo, ou quem sabe uma negação do passado. Mas agora não. Ela caminhava sozinha, sem saber direito o que buscava. 

image by Google
Do outro lado, ela mesma a esperava. Mais adiante, ele repousava sob alguns arbustos, dormindo. Ela ficou parada, admirando-o. Ele estava jovem também. Mas, que loucura era aquela? Por que ele estava ali, dormindo ao relento? O sonho virara pesadelo? 


Remexeu as entranhas da memória e relembrou do dia em que ele se fora. Na noite anterior, teriam um encontro, mas ela se amedrontou diante da timidez e da falta de coragem em assumir seus sentimentos mais íntimos. Ela o amava e desejava, e ele a amava silenciosamente, respeitando-a em seus temores. Naquela noite, justamente naquela em que ela poderia fazê-lo ficar e mudar toda uma história, ela se acovardou e fugiu. Ele dormira ali, exatamente como fazia agora. 

No dia seguinte, ele partiu, juntamente com a família. Partiram para outra vida, para outra existência. Um acidente na rodovia os fez de vítimas, e ninguém sobreviveu. 

Quem sabe se ela suprimisse o medo e o tocasse, ele acordaria e desistiria de partir, mas era somente um sonho, um sonho do qual ela não queria acordar. Um sonho onde ela poderia tê-lo e protegê-lo, nem que somente diante dos olhos e sem tocá-lo. Mas ela o tinha perto.


Estranhamente, depois de vários anos, ela conseguia sonhar novamente. Buscou tanto isso, vê-lo mais um dia, mais um instante, um mero instante.
 

Estava decidida, ficaria ali, naquele mundo novo que se apresentou a ela. Um mundo onde, por mais que a saudade doesse, ela tinha algo que tanto buscava, seu primeiro, único e verdadeiro amor. 

Jamais acordou. Sua vida, agora, está na essência de um amor do qual ela fugiu. Seu semblante, para quem a olha deitada naquela cama, é sereno e terno. Mas, o que ninguém imagina, é que ela se recusa a despertar. Está lá, zelando pelo sono eterno de alguém que ama.



Marcio Rutes



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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A IMPORTÂNCIA DO AGORA E DO DEPOIS

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A semente de dente de leão pousou lenta nas mãos da menina. Para ela, aquilo era a liberdade, poder voar como uma semente. Nascer da terra, transformar-se numa singela flor, virar semente e explodir para o mundo. Isso era importante.

Sentada no alto da montanha, ela observava o vale. O que havia naquele lugar que a prendia tanto? Casas simples, pessoas andando lentamente, alguns animais aqui e outros ali, o clima que não era quente e nem frio. Enfim, puro marasmo. Assim, ela levava a vida, contando cada minuto que passava e sonhando com o minuto seguinte. Viver seria somente isso? Ver a vida passar através de um caleidoscópio em preto e branco e sem a mínima perspectiva de colorir?

Ela olhou para trás e viu a estrada. Se seguisse por ela, iria de encontro à cidade grande. Lá sim a coisa era diferente. Agitação, pessoas que não paravam um minuto sequer. Grandes lojas, aparelhos eletrônicos em cada canto mostrando a modernidade, e a modernidade mostrando mais aparelhos eletrônicos que sequer seriam aproveitados, pois o imediatismo não deixava as pessoas se adaptarem a algo. 

Na cidade grande as pessoas eram “elétricas”. Elas se tatuavam, compravam cachorro-quente quando queriam, iam ao cinema, tinham TV à cabo, apareciam em outdoors, sonhavam sonhos diferentes de consumo a cada noite, saíam de madrugada... tinham a madrugada iluminada, com luzes fortes nos postes para andar o quanto quisessem. Melhor. Não precisavam andar, pois tinham motos, carros, patinetes e táxis. Lá, na cidade grande, não existiam vacas ou cabritos pelas ruas. 

Olhou novamente para o vale. De lá, veio o cheiro do doce de leite sendo preparado na única fabriqueta que empregava o povo do vilarejo. Possivelmente deveria ser algo em torno das quatro horas da tarde. Então, sua mãe estaria, neste exato momento, servindo o café da tarde. Pão de forma com geléia, café fresquinho, torresmo, bolo de fubá ou bolinhos de chuva. Chuva. Ela olhou para o alto e viu gotas de chuva encontrando seu rosto. Na cidade também chovia, e lá existiam lanchonetes e guarda-chuvas coloridos.

Na cidade grande existia tanta coisa diferente. Mas tudo tão artificial. 

Uma lufada de vento bateu em seus pensamentos, e quando ela se deu conta, a semente de dente de leão escapou de sua mão. Ela levantou e correu atrás da semente, mas já era tarde. Ela voou alto e foi, justamente, na direção do vale. Não havia liberdade, afinal. Não para a semente, que a única coisa que fazia era voar ao sabor do vento. Ou, quem sabe, a semente tivesse algum acordo com a natureza, e ficasse sempre por ali, num lugar onde ela pudesse se plantar ao chão e brotar livremente. Então, ela era livre? Ficava ali por que queria isso? Na cidade, existe asfalto, e ela não brota no asfalto. 

Outro dia terminou, e a menina não decidiu o grau de importância que aplicaria para seus minutos futuros. O que ela sabia, no entanto, é que naquele momento, sua semente estava plantada naquele vale, e isto era importante para ela. Correu atrás da semente, olhando-a ao longe, e sentiu-se livre, finalmente. Não entendia muito bem essa sensação momentânea, mas sequer deu atenção ao fato. Pensava, apenas, no pão com torresmo que encontraria na mesa do café. Não existia, por certo, pão com torresmo na cidade, isso ela sabia. Não aquele pão que sua mãe fazia.

Amanhã ela voltaria ao alto daquela montanha e pensaria na importância das coisas que poderia fazer nos outros “amanhãs”. Mas amanhã é amanhã, e esses minutos ainda estão no futuro. O importante é o “agora”, o presente, a vida real e imediata. O futuro deve ser programado com cautela e paciência, mas sem negligenciar o presente, pois se fizer tal coisa, possivelmente nem futuro a menina terá.

 

 

Marcio JR




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terça-feira, 27 de setembro de 2022

INCERTEZAS DO UNIVERSO NOSSO DE CADA MANHÃ

 série EMPÍRICA MENTE

reedição


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Já parou pra pensar que o seu tudo não te deixa entender que você não é nada?

Talvez, se você quisesse me escutar,
eu te diria das minhas poucas verdades
e das minhas muitas ansiedades.
Então, você relutaria,
e dificilmente casaria suas verdades com as minhas.
Entregaria a um deus qualquer do destino
todos os seus medos e dedos tortos,
aqueles mesmos,
cansados que estão em apontar caminhos a esmo,
ou grotões e abismos por onde você tem se escondido.

Somos tão grandes aqui, não somos?
Mas não passamos de egos submissos de nossas vontades de grandeza,
e cada um desses egos,
arrulha trincas barulhentas das correntes que nos prendem.
Quer saber?
Essas correntes nos desaprendem a tal ponto,
que não percebemos nosso real tamanho.
Enormes aqui,
átomos de poeira na amplitude verdadeira.

Não, não somos uma besteira da criação,
mas nem em sonho somos o umbigo do planetário de um jardim celeste.
Somos, sim, parte de uma cadeia em expansão,
engrenagens parindo ações e reações,
onde o ritmo rangente e irritantemente cadente dessa roda viva
não nos deixa tempo nem opções para desatenção ou lamentação.

Somos poeira a mercê de um vento solar.
Ventania que se volta, reverte-se a ponto de apagar o próprio sol.
Caminhamos para um apagar das luzes da nossa casa/universo.

Você tem medo do escuro?

Marcio Rutes


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terça-feira, 20 de setembro de 2022

ISCA DE BEIJA-FLOR

image by google

re-edição

Quando beija-flor não beija, belisca,
toda cor vira isca
presa na casca da goiabeira.
É fruto de beira,
de ladeira, da menina olhando do lado de lá,
lá daquela cadeira,
com aquela risada dada de bobeira.
Um tribal ornando o olhar
o folhear e o rodopiar,
o requebrar do sorriso,
o vento batendo no umbigo,
arrepiando qualquer sentimento sentido,
consentido com um piscar das mãos
no cruzar dos dedos, que das pernas imitou.

 


E lá vai beija-flor,
que não beija, belisca.
Atiça esse dançar malicioso
na cintura dela,
da pele alva,
nos pés de cinderela.
E lá vai a menina,
dependurada na janela,
irrequieta, sapeca,
bicando igual passarinho,
bebericando a manhã de mansinho,
mas louca pra voltar pro ninho.

 

 

Marcio Rutes

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

É SETEMBRO LÁ FORA



Olha lá fora.
Tem chuva no telhado,
Tem barulho de goteira batucando na lata,
E tem um sorriso que desponta pelo horizonte.
Olha lá fora.
Tem um setembro florido,
Tem flor no vestido,
E tem magia no fim de tarde.
Olha lá fora.
Tem gotas cristalinas,
De uma felicidade novinha,
E tem um sorriso louco para vestir teus lábios.
Olha lá fora,
mas olha sempre para dentro também.
Pois a primavera
sempre desponta quando menos se espera,
E em terra fértil,
Sempre brotam as mais belas flores.
Então, veste teu sorriso mais belo,

E vai curtir a chuva, sem medo de se molhar.


Marcio Rutes



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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

SOMENTE MAIS UM NATAL

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A correria era intensa. Pessoas amontoavam-se por todos os cantos, desesperadas e divergindo sobre o que quer que estivesse sendo discutido, olhado, comprado ou disputado. Anarquia. Caos. Véspera de Natal.

Era uma grande cidade, com todos os benefícios que ela trazia, mas também com todos os problemas e mazelas que qualquer metrópole possui. Todos poderiam ter quase tudo, desde que possuíssem formas e meios para comprar. Alguns ostentavam riquezas, posses que outros apenas sonhavam, enquanto um considerável número de pessoas invejava e desejava essas mesmas posses. As lojas estavam abarrotadas de clientes, e pela rua o que mais se via eram pacotes de presentes correndo de um lado para o outro, nas mãos dos apressados habitantes daquele lugar.

Num cantinho, um menino observava a tudo, acuado e temeroso. Seu nome? Cezar. Mas era o Tiquinho, apelido que ganhou nas ruas por ser mirrado, pequeno, um verdadeiro “tico” de gente. Tiquinho, como qualquer outro menino de rua, tinha sua história. E a dele era triste, por certo. Seus pais, que eram pessoas boas e bem de vida, sofreram um acidente há alguns anos, e morreram enquanto ele ainda era apenas um recém nascido. Órfão, sua tutela temporária foi dada a alguns parentes, mas o destino fez das suas, e esses tutores mostraram bem o que queriam: apenas seus bens. Ele, como único filho, era uma pequena mina de dinheiro fácil, e sem sequer conhecer a vida, na flor da idade terminou largado nas ruas e abandonado à própria sorte.

Aprendeu desde cedo a viver sozinho, a brigar para poder se alimentar e não morrer de frio nas madrugadas, ou a não ser vítima das violências urbanas. Roubava sim, mas para sustentar o corpo. Sequer sabia ler e escrever, e muito menos imaginava que possuía direitos como ser humano que era. Seus direitos, para ele, eram regidos pela lei, mas não a mesma lei que assiste a um cidadão comum. Tiquinho seguia a lei da sobrevivência. A lei das ruas.

Tiquinho tinha dois sonhos. Um deles, que acompanhava-o desde muito tempo, era o de ter um mundo amarelo. Sim, ele queria um mundo amarelo, da cor do sol nascente. O outro sonho? Saber se seus pais estavam realmente mortos. E se não estavam mortos, queria saber deles, se estavam bem e, ainda, se sentiam saudades dele. Não tinha ódio em seu coração, mas sentia-se só, abandonado. E uma das coisas que mais martirizava seu coração era justamente o fato de não entender essa condição de abandono que ele e tantos outros carregam.

Era engraçado reparar as pessoas falando desse “tal Natal”, ou do “tal Jesus Cristo”. Ele nem sabia dessas coisas, fosse Natal ou Jesus Cristo, e o único intento que o movia era o pensamento de que precisava se alimentar. Algumas latas de lixo, ao lado de um restaurante, eram seu alvo rotineiro, mas outros flagelados urbanos também miravam aquele “banquete”. Viu, então, que precisaria esperar, pois os outros eram maiores e mais fortes e ele, pequenino como era, possivelmente seria espancado e enxotado. Tratou de sentar e torcer para que algo restasse.

Via as pessoas passando ao seu lado, puxando crianças iguais a ele pelas mãos. Essas crianças pareciam estranhas, pois viviam sorrindo. Por que faziam isso? Será que elas tinham algo que ele não tinha? Porém, isso pouco importava. A tarde já chegava ao fim, e com isso, a fome apertava. Deitou em algumas folhas de papelão e fechou os olhos, esperando pela noite e pela chance de comer. E como fazia todas as noites, chorou.

Acordou assustado. Era tarde demais, já quase madrugada, e ele perdera a hora. Mas, quem sabe ainda existisse algo lá naqueles latões de lixo para comer? Correu e não viu mais ninguém, o que era um mau sinal. Nada. Tudo acabado.

Sentou-se ao meio-fio, triste e com fome, e sentiu uma amargura enorme. A noite passaria lentamente, ele sabia, e o estômago reclamaria em alto e bom som. Não sabia qual era a pior dor, se da fome ou da sensação de abandono. Uma dor mutila o corpo enquanto a outra dilacera a esperança. Afinou os ouvidos e escutou passos de alguém, o que fez com que ele se agitasse e pulasse rapidamente para se esconder. A rua ensina isso, a desconfiar de tudo.

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―Tiquinho. ―alguém chamou. ―Sei que está aí! Vamos, menino. Eu vi você revirando o lixo. Deve estar com fome. Aparece.

Era seu Tião, o vigia do restaurante. Todos respeitavam muito aquele homem. Era austero, por certo, mas não era alguém ruim. A profissão exigia que ele mantivesse a ordem, e nem sempre tal fato era bem recebido por todos. Quando Tiquinho olhou o que o vigia trazia nas mãos, quase desmaiou. Era um grande e suculento sanduíche.

―Menino. Sei que está em algum canto! Vou deixar este sanduíche aqui no chão. Era meu jantar. Não tenho muito, mas sei que você precisa mais do que eu!

Seu Tião deixou o sanduíche por ali mesmo e se afastou. Mas ficou olhando, escondido. Não demorou para que o menino passasse por ali como uma flecha. Pegou o sanduíche e correu o que pode, e nem era por medo do vigia, mas sim de que algum outro habitante das ruas tomasse dele.

O menino sequer olhou para trás e parou perto de um parque. Uma árvore serviu de camuflagem e ele sentou, completamente arfante. Ao abrir a boca para comer, viu algo estranho. Era um homem, barbudo e muito sujo, sentado logo adiante. Tiquinho pensou em correr, mas ao invés disso, foi até aquele homem.

―Menino. To com fome. Me dá esse sanduíche?

Tiquinho era arredio, esguio e desconfiado, e escondeu o sanduíche rapidamente. Mas reparou noutra coisa. O homem estendeu as mãos, formando uma concha, e implorou por comida. As mãos dele estavam feridas, como se sangrassem. O menino não pensou muito. Jogou a comida nas mãos daquele mendigo e correu com medo. Só parou quando chegou novamente perto das lixeiras do restaurante.

E agora? A fome era terrível, e dificilmente seu Tião lhe daria outro sanduíche. Não havia mais ninguém por ali, e mesmo que alguém passasse naquele lugar, sequer pararia para escutá-lo ou alimentá-lo. Foi então que em seu desespero, notou um grande latão de lixo mais para o fim do beco. Foi até lá e o escalou com alguma dificuldade, e a única coisa que passava em sua mente era o desejo de que algum resto de comida existisse no fundo daquela lixeira. O cheiro era insuportável, o que fez com que uma tontura forte o tomasse. Seus olhos fixaram-se em algo branco, e quando sua mão estava para alcançar aquilo, ele escorregou definitivamente para dentro e por ali ficou, aparentemente desmaiado.

Seu Tião saia para a ronda no mesmo instante em que o menino caia para dentro do latão, e viu o que aconteceu. Correu até lá e, rapidamente, tentou retirar o menino, mas desanimou. Tomou sua pulsação e não sentiu nada, sequer um batimento.

―Menino de Deus. Que aconteceu? Vou ligar pra ambulância.

Passava pouco da meia-noite, e Tiquinho estava ali, morto exatamente na madrugada de Natal.

Uma luz branca se fez, e do meio dela, Tiquinho apareceu. Ele, sem entender o que estava acontecendo, caminhou lentamente. Seus olhos curiosos corriam por todos os cantos, como se buscassem elementos conhecidos, mas quanto mais ele andava, mais ele se dava conta de que aquilo tudo não era normal. Um pouco mais adiante, uma porta chamou sua atenção. Tudo naquele lugar era branco, mas aquela porta não. Ela era amarela. Tiquinho foi até ela e, sem medo, abriu de forma abrupta. O que viu ao passar pela porta quase o fez cair de costas.

Um campo enorme, a perder de vista, apareceu diante de seus olhos. E o melhor. Ele era totalmente amarelo, coberto por flores. Mas não eram quaisquer flores. Eram girassóis. O menino esqueceu o medo e a desconfiança e correu para dentro daquele campo. Ainda estava sem entender, mas algo o deixava igual àquelas crianças que vira no dia anterior. Ele estava sorrindo. A fome? Estranho, ele não sentia fome.

Ah! Aquilo era fantástico.

Correu tanto, e sequer canseira ele tinha. Correu mais, e mais, até que parou e se ajoelhou. Um casal jovem, um pouco mais adiante, o esperava. E ele sabia, tinha certeza, eram seus pais. Correu novamente. Não. Ele não correu. Ele voou. Sim, voou. Ele conseguia voar. Não sabia como, mas conseguia.

Eram eles sim. Era o cheiro deles. Era a energia deles. E ele os abraçou. Chorou, mas chorou tanto, que sequer conseguia olhá-los... até que sentiu sono. Lutou para não dormir, não queria, pois o que tanto desejou estava ali, diante dele. Então, por que o sono?

―Filho. ―a mulher falou ternamente. ―Ainda não é o seu momento. Você deve voltar. Um dia estaremos juntos. Nós te amamos. Agora vai.

E Tiquinho adormeceu de vez.

Alguns homens conversavam enquanto seu Tião esbravejava.

―Como vocês são desumanos! Coitado do menino! Só porque é um mendigo, vocês pensam que podem atender desse jeito? Se fosse o filho de um rico, vocês teriam chegado antes, com toda certeza.

Seu Tião reclamava com os atendentes da ambulância, que sequer queriam verificar se o menino morrera ou não. Estava transtornado. Alguns minutos depois, ainda muito irritado, foi até onde o corpo do menino estava, abaixando-se para fazer uma oração por ele. Ao se ajoelhar, tomou o maior susto. Do nada, Tiquinho abriu os olhos.

­―Onde eles estão? Cadê meus pais? Cadê o campo amarelo?

Ninguém entendeu nada. Para todos, o menino havia morrido, mas ele estava ali, acordado e fazendo perguntas totalmente desencontradas.

Alguns minutos foram necessários para que Tiquinho fosse examinado, isso depois que seu Tião exigiu, com toda sua autoridade, que os para-médicos o atendessem. Depois, com tudo já resolvido, seu Tião olhou para o menino e viu nos olhos dele algo diferente. Havia uma luz, amarela e radiante, que parecia brotar dali.

―Menino, você me deixou muito triste. Pensei que você tinha morrido bem ali, e justo hoje, na noite de Natal!

Seu Tião era um homem muito honesto e trabalhador. Morava com sua esposa, já de meia idade assim como ele, e mais ninguém. Quis o destino que sua esposa fosse infértil, e seu maior sonho era ter um filho. No entanto, a justiça sempre negou seus pedidos de adoção. Mas aquilo ia acabar, pensou ele. “Em alguns momentos, temos que agir como manda nosso coração!”, ele pensou. Após isso rebater em sua cabeça, ele se abaixou diante do menino e falou calmamente.

―Quer ser meu filho? Quer ir morar lá em casa? ―seu Tião falava e deixava uma pequena lágrima escorrer, dando mais força àquelas palavras. ―Vamos? Depois ajeitamos a papelada e o que for necessário.

O que aconteceu depois fez seu Tião chorar ainda mais. Tiquinho quase pulou em seus braços, e o abraçou fortemente.

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Do outro lado da rua, um homem barbudo e todo maltrapilho estava parado, observando-os. Nas mãos, além de algumas feridas que sangravam, trazia também um sanduíche. Era somente um mendigo, claro, se não fosse o fato de que seus pés descalços não tocavam o chão. Eles flutuavam. Seu Tião olhou para aquele homem e pensou que era sua imaginação pregando alguma peça. Esfregou os olhos e balançou a cabeça, e quando olhou novamente para o outro lado da rua, não viu mais ninguém.

O tempo passou e Tiquinho, agora homem feito, já deu vários netos a seu Tião. Ele e a família vivem numa pequena chácara, onde plantam e colhem girassóis. Ganhou seu “mundo amarelo” e tem agora uma família. Seus pais? Ele sabe, tem certeza, de que um dia os re-encontrará. Se ele está feliz? Sim, por certo. Ele sabe que milagres acontecem sim, principalmente quando vamos além de apenas acreditar. Precisamos nos doar e fazer da bondade algo que comande nossos corações. Deus vive em cada um de nós, e Ele está só esperando uma chance para mostrar o quanto é possível realizar nossos sonhos. Por vezes sofremos, mas quando isto acontecer, que olhemos para o lado, pois sempre encontraremos pessoas sofrendo ainda mais.


Marcio Rutes


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