segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

DORINHA E UM CONTO DE NATAL - parte 3 - REVELAÇÕES

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…continuação. 

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 ―Seja menos dramático, gato! ―o homem pediu, sem alterar a calma.

―Menos dramático? Isso tudo foi culpa desse cão-sauro das cavernas. E dessa... dessa... dessa invasora de mundos mágicos! Vou comunicar a diretoria, os investidores e os patrocinadores de que o Natal vai ser cancelado e pronto!

―Cancelado? Como assim? ―Dorinha perguntou, um tanto assustada. ―E vocês do mundo mágico? Vão ficar sem Natal?

―Engana-se, menina arteira! ―o gato retrucou. ―O Papai Noel faz parte do mundo mágico sim, mas é o Natal do seu mundo, lá na Terra, que vai deixar de existir! Porque se o velho Noel não tiver ajuda lá na fábrica dele, não vai poder distribuir presentes no seu mundinho. E é tudo culpa sua!

Dorinha baixou a cabeça e entristeceu. Não conseguia entender como seus atos, que jamais tiveram a intenção de atrapalhar ninguém, puderam causar tantos transtornos. E agora, até o Natal corria o risco de não existir. Aquele gato cheio de empáfia continuava em seu falatório, correndo por todos os cantos e fazendo com que todos achassem que ele próprio fora a vítima daquela situação trágica.

Luzia, a vendedora de fósforos, aproximou-se e abraçou a nova amiga, confortando-a. Jujubão, pressentindo que algo não ia bem, aninhou-se aos pés das meninas, mas foi Hans quem conseguiu pensar rapidamente em algo.

―Mocinha, até parece que você ainda não se deu conta dos poderes mágicos que possui! ―Hans falou mansamente, abaixando-se para enxugar as lágrimas da menina.

―Eu? Poderes mágicos? ―Dorinha falou, entre soluços. ―Tenho isso não, seu moço! Como disse o gato, sou apenas uma encrenqueira e que só causa problemas pra vocês!

―Você ainda não sabe quem sou eu, não é? ―Hans tornou a falar calmamente.

―Desculpa, mas não conheço o senhor. É alguém importante?

―Talvez eu seja sim, ou talvez não. Muitos não sabem quem eu sou, enquanto alguns outros conhecem um pouquinho das minhas criações.

―Criações? ―Dorinha e Luzia perguntaram juntas, arregalando um pouco os olhos.

―Sim, criações. Uma delas você conhece bem, a pequena vendedora de fósforos, que tão graciosamente você batizou de Luzia, e que está te abraçando agora. E talvez você também conheça a Polegarzinha, o Patinho Feio, o Soldadinho de Chumbo e a Pequena Sereia.

―Mas... mas... mas... então, o senhor é o Anderson? ―Dorinha arregalou ainda mais os olhos, agora nitidamente surpresa. ―Aquele que meu pai sempre fala que escreveu tanta coisa bonita?

―Mais ou menos. É quase isso! ―Hans abriu um grande sorriso ao reparar que Dorinha errara seu sobrenome. ―Hans Christian Andersen, aos seus serviços, senhorita.

Hans fez uma reverência em cumprimento, algo jamais visto por Dorinha, mas que encantou as duas meninas. Dorinha não sabia o que dizer, pois escutara tantas vezes seu pai falar do tal Andersen, e agora ele estava ali, diante dela. Já a vendedora de fósforos sentiu algo mágico fluir por todo seu corpo. Era como se encontrasse, pela primeira vez, seu próprio pai. E um sorriso largo aflorou na face cheia de lágrimas daquela menina.

―Por que estão chorando? Será que falei algo errado?

―É que não sabemos o que fazer, seu Hans! ―Dorinha balbuciou, enquanto Luzia apenas mantinha os olhos vidrados naquele homem. ―Esse gato estropiado não pára de falar, e tá me deixando maluquinha. Não quero ficar sem Natal. Nem quero ser a culpada pelo Papai Noel não poder fazer o trabalho dele!

―Mas, então, deseje que tudo se ajeite.

―Como assim, seu Hans? Não sei fazer isso! Não tenho esse poder!

―A força da imaginação de uma criança pode tudo, minha querida! ―Hans mantinha o tom de voz suave, e olhando sempre nos olhos das meninas. ―Fui muito pobre, e quem mais me incentivou foi meu pai, mas ele morreu cedo, quando eu tinha onze anos, que é mais ou menos a idade da nossa pequena vendedora de fósforos.

Luzia olhava e chorava, como se escutasse a própria história.

―Meu pai foi um simples sapateiro que adorava ler, e dele, me restaram em herança alguns pares de sapatos que foram gastando com o tempo, e um par de chinelos adultos. ―Hans continuou em sua narrativa, ainda falando mansamente. ―Minha mãe era lavadeira, e depois que meu pai morreu, ela quase não conseguia sustentar eu e meus irmãos. Certo dia, andando pela cidade, me roubaram um dos pés daquele par de chinelos, e para mim foi um duro golpe. Uma das poucas coisas que meu pai deixara. Quando cheguei em casa, estava muito frio, e minha mãe mandou-me acender o fogo. Foi então que, ao acender um fósforo, tenho certeza de que vi meu pai na chama que se fez.

―Que triste! ―Dorinha comentou, olhando fixamente para Hans.

Luzia já não sabia se escutava o que Hans falava ou se chorava, mas não se continha. E o homem, por sua vez, colocou-se de joelhos diante das duas. Ele baixou a cabeça, e quando ergueu-a novamente, deixou a mostra algumas lágrimas.

―E o que aconteceu, seu Hans? ―afoitas, as palavras saíram apressadas da boca de Dorinha.

―Aconteceu que... ―Hans fez uma pausa, tomou fôlego, e continuou. ―...aconteceu que, nessa hora, eu vi que por mais triste que eu pudesse me sentir naquele instante, meu pai estava lá, olhando por mim. E algum tempo depois, para nunca mais esquecer desse momento tão mágico, eu escrevi o conto da pequena vendedora de fósforos. Eu juro que não era para ser triste. Eu juro que não era essa a intenção. É um pedaço da minha vida. E sabe, minha querida, a vendedora de fósforos não tinha nome porque talvez fosse eu mesmo que estivesse ali. É um pedaço de mim mesmo que vive nessa menina que hoje você batizou tão belamente.

Luzia não conteve mais a emoção e deu um salto, abraçando–se ao pescoço de Hans. A emoção foi tanta, que não teve ser vivente naquele lugar que não se calou diante da cena. Até o gato, que naquela altura já falava até com as formigas para tentar justificar o não acontecimento do Natal, emudeceu.

O céu, rajado de nuvens cor de pêssego, escureceu, e um véu de estrelas foi surgindo e baixando para o mundo mágico. Pareciam pingentes, penduricalhos presos em varais encantados e que choviam alegria por todos os cantos.

Dorinha olhava para cima e sorria, enquanto Jujubão latia e saltava, como se tentasse abocanhar uma daquelas estrelas. Ao olhar novamente para Hans e Luzia, Dorinha tomou o maior susto. Ambos, abraçados, começavam a tornar-se uma só pessoa. Era como se estivessem revestidos por uma luz púrpura, que vertia de cada poro de seus corpos. Uma estrela, a maior de todas, aproximou-se e parou bem acima deles, iluminando tudo e pulsando como um sol que acabou de nascer. Aos poucos, a intensidade da luz diminuiu, até que tudo voltou ao normal. E diante de Dorinha, onde estavam Hans e Luzia, apareceu uma mulher alta e muito bela.

―O que aconteceu? Cadê o Hans?

A mulher mirou ternamente a menina. Seu olhar era um misto entre a curiosidade e carência da vendedora de fósforos e do ar polido, charmoso e educado de Hans. Assim, ela ficou por alguns instantes, até que se aproximou de Dorinha e beijou-lhe o rosto, apontando em seguida para cima, para onde uma luz dourada riscava o céu.

―Sempre que uma estrela desce, é porque uma alma está subindo para o céu¹.

―Eu não to entendendo. ―Dorinha olhava para aquela luz, mas pouco compreendia o que estava acontecendo. ―E quem é você? Cadê a Luzia? E o Hans?

―Hans está lá, cumprindo seu destino. Está subindo para o céu. ―A mulher falou ternamente, exatamente como Hans fazia, ao falar com Dorinha. ―E Luzia está aqui, diante de você. Sou eu, libertada pelo seu poder mágico, minha querida!

―Ah! Explica. Eu não to entendendo!

―Dorinha! É simples. Hans sempre se sentiu preso ao conto que ele próprio escreveu. Algo ficou pela metade. Quem sabe um bloqueio, ou medo de não ser entendido? Ele me criou para espantar esse medo. E ele jamais teve coragem de contar isso pra alguém. Acabou preso aqui, e isso por conta dessa dívida que ele tinha com ele próprio. Ele precisava que alguém de coração puro entendesse esse desejo dele, de contar a todos o que ele próprio não conseguia. Então, foi preciso que alguém de bom coração, e apaixonada pela magia que existe em cada um, viesse aqui e fizesse isso por ele.

―Mas, e o que ele não conseguia contar a ninguém? E por que eu?

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―Hans talvez tivesse medo de que o condenassem pela alma infantil que ele sempre teve. Ele jamais chorou, mesmo tendo vontade. Você foi a primeira a ver uma lágrima escorrer de seus olhos. Essa lágrima, a dele próprio, é que faltava ser contada. E por que você? Porque você foi escolhida pela vida para contar a todos o quanto é belo acreditar no impossível. Você foi a eleita para mostrar que tudo está ao alcance daqueles que não abandonam a si próprios. Você foi tocada pela estrela ao nascer. A mesma estrela que levou Hans para o céu que ele tanto acreditou e onde irá encontrar com o pai dele. Um dia, iremos para lá também. Mas temos nossas missões aqui. A minha é encantar as crianças e não deixar o sonho da magia morrer, e a sua...

―A minha? ―Dorinha arregalou ainda mais os olhos, fitando Luzia com muita empolgação. ―Diz, Luzia! Qual é minha missão?

―Minha querida! A sua missão é ser criança. Hans era exatamente como você. Ele foi uma eterna criança. E quando me criou, muitos achavam que ele estava ficando louco por acreditar em contos infantis. Ninguém sabia da necessidade que ele tinha em acreditar em tudo isso que está aqui, diante de você. Era o que mantinha ele em pé, a crença no mundo mágico. Aqui, Sacis e Fadas convivem com lobos e Pequenos Polegares. Sereias e Astronautas andam livremente por desertos se assim as pessoas quiserem. Tomates são do tamanho de melancias, enquanto estrelas cabem no seu bolso. E acredite, já não são muitas as crianças que andam por aqui, fazendo com que nós continuemos existindo.

Dorinha calou-se. Não entendia muito bem o que Luzia falava, mas talvez nem precisasse. Ela simplesmente acreditava na magia. Repentinamente, um grunhido de Jujubão chamou sua atenção, e ao olhar para o lado, viu uma infinidade de personagens de todos os contos que ela conhecia ali, sentados quietos e escutando o que Luzia falava. Cada um deles chorava silenciosamente, mas não deixavam que isso atrapalhasse o sorriso que carregavam em homenagem a Dorinha. E quem mais chorava e sorria era, justamente, o Gato de Cheshire.

―Sou somente um gato velho e quase desacreditado. ―comentou o gato, soluçando. ―E sou, realmente, o gato da Alice. Sou somente mais um que está aqui, precisando desse carinho que você sempre deu pra nós, menina.

―Não entendo mais nada! E o Natal? Eu não tinha estragado ele?

―Estragado? ―o gato perguntou, soltando uma risada um tanto cafajeste. ―Minha menina, que tolice! Essa foi minha melhor atuação! Pense em quantas pessoas nós tocamos com esse conto que encenamos agora? Samaras, Andrés e tantos outros riram e se entristeceram com nossa atuação! Papai Noel é meu compadre, e já deve ter partido com os 3 porquinhos para distribuir os presentes.

―Mas... mas... mas...

Dorinha não conseguiu terminar o que começara a falar. Um brilho intenso tomou seu olhar, o que fez com que ela sentisse muito sono. Seu cachorro deitou a seus pés, e quando a menina se deu conta, estava em sua cama, com seu pai cantando alegremente na porta do quarto.

―Minha querida! É Natal! Você não vai abrir seus presentes que estão lá na árvore?

Ao levantar da cama, a menina causou certo espanto no pai. Ela andava e, por onde pisava, deixava um rastro brilhante, que desaparecia rapidamente. Ela desceu aos pulos para o andar de baixo, e quando chegou onde estava a árvore de Natal, viu a mãe acendendo um fósforo, para completar a fileira de velas que rodeava o pequeno presépio que o pai montava a cada Natal. Da chama da vela, uma pequena estrela brotou e faiscou pelo ambiente, mas a mãe sequer deu atenção.

Jujubão latiu e pulou, como se tentasse pegar algo no ar, e o pai, que acabara de descer o último degrau da escada, pensou ter visto um vagalume, que acabou pousando justamente na estrela que estava no alto da árvore de Natal.

―Minha querida, os vagalumes ainda estão invadindo nossa casa.

Dorinha olhou para Jujubão e sorriu. Vagalume? Claro que sim. Seria um nome muito mais fácil para chamar aquele gato danado. Afinal, Cheshire era difícil demais para a menina pronunciar. Instantes depois, um par de olhos e um sorriso tomaram todo o ambiente, deixando tudo escuro. Sem entender nada, o pai e a mãe ficaram assustados quando viram alguns fósforos acesos descendo lentamente pelo ar.

Era um agradecimento, de Hans e Luzia, pela crença que aquelas pessoas insistiam em ter na magia que habita em cada um de nós.


Marcio Rutes

não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.
SEJA EDUCADO (A). SOLICITE AUTORIZAÇÃO.





nota:
¹ "Sempre que uma estrela desce, é porque uma alma está subindo para o céu.". ― frase extraída do conto original (A Pequena Vendedora de Fósforos), de Hans Christian Andersen.


Saiba mais:

Conto: A Pequena Vendedora de Fósforosclique aqui 
Autor: Hans Christian Andersenclique aqui

domingo, 15 de dezembro de 2013

DORINHA E UM CONTO DE NATAL - parte 2 - NASCE LUZIA

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...continuação.

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―Duas indigentes e um cachorro. ―um policial comentava com outro, que pelo fardamento, parecia ser seu superior. ―Não suportaram o frio, senhor. Uma pena. Bem na noite de Natal. Vou mandar o rabecão recolhe-las.

―Cortaaaaaaaaaaaaaa. Pára tudo.

O grito, num passe de mágica, fez tudo ao redor ficar imóvel. Todas as pessoas que estavam naquele beco ficaram paralisadas, parecendo estátuas. Sequer o uivo do vento atreveu-se a ronronar naquele instante.

―Corta? Como assim? ―Dorinha acordou com o grito, e sem entender patavina, sentou-se na neve. ―Quem gritou isso? E por que eu to morrendo de calor, se estava tão frio quando eu morri? ―indignou-se. ―Ei! Não era para eu ter morrido? Isso aqui é o céu?

Jujubão e a outra menina também acordaram com os gritos. Mas, ao que parecia, eram apenas eles que estavam conscientes naquele lugar esquisito. Dorinha colocou-se em pé e ajudou sua nova amiga a erguer-se também. E logo, a curiosidade tomou conta.

―Qual é o seu nome? ―Dorinha perguntou para a menina, enquanto fazia um carinho no cachorro.

―Que estranho! Faz tantos anos que eu nasci, e nunca perguntaram meu nome. Nem sei se tenho nome!

Nitidamente, a menina entristeceu. A cabeça baixou, quase colando o queixo ao peito, e dos olhos correram algumas lágrimas. Dorinha, ao vê-la daquele jeito, correu para abraçá-la, mas acabou chorando também.

―Você quer um nome, é isso? ―Dorinha perguntou, entre soluços.

―É! ―a menina sorriu entre lágrimas.

―Não, ela não quer um nome! E eu quero terminar essa história! Vocês acham que isto aqui é o que, afinal? A casa da mãe Joana? ―uma voz sem rosto retumbou por todo o local.

―Quem é esse que tá falando? ―Dorinha espantou-se, olhando para os lados e procurando minuciosamente a fonte daquela voz.

Jujubão parecia farejar algo, e Dorinha notou que o cachorro desconfiava de alguma coisa. Atiçou o cachorro e fez com que ele procurasse. Aos poucos, e como a neve deixara de ser fria, o faro do cachorro voltou, e ele seguiu um rastro que o fazia espirrar constantemente, mas não pelo que antes era a neve, e sim por alergia. Sequer precisou ir muito longe. Ao sair do beco, todos levaram o maior susto.

Um par de olhos e um sorriso imenso apareceu diante deles, flutuando no ar. Todos estaquearam, e quem mais se assustou foi a menina dos fósforos. Dorinha não conteve o espanto, porém, sabia bem de quem se tratava. Já o cachorro não se conteve, e avançou ferozmente.

―O Gato da Alice! Só podia ser você, pra bagunçar tudo aqui, gato danado! ―Dorinha sentenciou, batendo o pezinho em sinal de reprovação. ―Eu já deveria estar acostumada com a bagunça que existe pelo mundo mágico. O que tá acontecendo, gato? Tá desempregado também? Fazendo algum bico?

Aquele sorriso materializou-se em forma de gato, mas continuou flutuando, temendo um ataque do cachorro. Os olhos agora mais pareciam bocas sorrindo, e calmamente, ele dirigiu a palavra para Dorinha.

―Mocinha. Pra início de conversa, vê se eu tenho cara de ser o gato de alguém! O Gato da Alice uma pinóia! Sou independente como todos os gatos, e só aceitei entrar naquela história porque ela precisava de um certo charme. O Lewis¹ sabia disso, tanto que me deu imediatamente um papel maior. Salvei a história, eu diria!

 ―Sempre achei que você era meio atrevido e convencido. Por isso preferia o coelho da Alice. ―Dorinha continuou calma, mas no fundo já começava a irritar-se com o gato.― Mas, tudo bem. Não estranho mais nada por aqui! Agora, dá pra você parar com suas mutretas e descongelar esse povo?

―Tá. Eu topo. Mas lembre bem de uma coisa! Aqui, não sou um simples gato, muito menos o gato da Alice. Sou o Diretor Cheshire². Então, mocinha, mais respeito comigo, entendeu? ―o gato proferiu, com ares de pompa e nariz empinado. ―Ah! Já ia me esquecendo. Não sou eu que tumultuo tudo, não. Pelo que sei, a cada vez que você aparece por aqui, o departamento psiquiátrico dos personagens fica lotado. O Lobo Mau ainda tá por lá.

―Pois é! ―Dorinha concordou, baixando o olhar. ―Foi sem querer.

Quando Dorinha levantou o olhar, espantou-se novamente. Viu o gato abrindo um sorriso imenso, e de repente todos estavam se movimentando novamente. Pareciam arrumar tudo, ajeitando as coisas como se aquele lugar não passasse de um cenário de filme.

―Vamos lá, vamos lá. Não temos tempo a perder. ―o gato de Cheshire ordenava, como se realmente dirigisse um filme. ―Logo o Hans³ aparece por aqui, e se ver a gente parado, sobra pro gostosão aqui.

―Por que arrumar tudo de novo, seu diretor? Vamos começar a história novamente? ―alguém perguntou, irritando o gato.

―Por que? Por queeeeeeeee? Eu digo o porquê! ―o gato ficou exaltado, e sem querer, desceu até o chão, ficando ao alcance do cachorro, que avançou rapidamente. ―É porque na história do Hans não tem duas meninas. Também não tem cachorro. E falando nisso, dá pra alguém passar maquiagem nesse devorador de gatos e trazer um osso pra ele? Antes que ele me engula!

―Jú! Comporte-se!

―Jú? ―o gato riu descaradamente. ―Que nome horrível para um cachorro horrível. Aliás, já que falamos em nomes, qual é o nome da menina dos fósforos, afinal? Dirijo essa história desde 1900, e nunca soube o nome dela.

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A menina, que estava um pouco mais atrás, corou. Aquilo, do nada, passou a ter uma importância imensa para ela. E era estranho o fato, também, de que somente alguém de fora, vinda de muito longe, é que importou-se com tal coisa.

―Eu não sei! Não tenho nome. Me desculpem.

―Ah! Pára, vai! Assim, estraga a maquiagem. ― o gato brincou, mas logo soltou um berro. ―Maquiaaaaaaaaaaaaaaaagem. Rápido. E tragam uma escova de dentes pra esse cachorro. O bafo dele tá no meu cangote.

―Não se preocupe. Vamos achar um nome pra você. ―Dorinha olhou ternamente para a menina. ―Você tem luz própria, reluz. E na história, quando meu pai conta, ele sempre termina dizendo que você era uma luz que sempre ia para o céu. Uma luz que ia. Luzia.

A menina, ao escutar aquilo, sorriu e chorou ao mesmo tempo. Seus olhos brilharam, mas logo em seguida, fixaram-se em alguém que apareceu na entrada do beco. Todos silenciaram e também olharam. Era um homem franzino, de chapéu preto e capa, que em nada combinava com o calor que fazia entre aquela lama de água seca e neve quente.

―God eftermiddag! ―o homem falou, deixando Dorinha sem entender.

―Hans! ―o gato pareceu ser aquele que mais ficou assustado com a presença daquele novo personagem, mas tentou manter a pose. ―Não esperava você por aqui!

―Perdoem-me! ―o homem desculpou-se, polidamente― Acabei por cumprimentá-los em dinamarquês. Sou Hans, e acho que a justiça deve ser feita aqui, minha cara Dorinha. Por uma falha minha, esta menina jamais teve um nome. E sabe? Gostei de Luzia.

Hans? Quem seria Hans? Dorinha e a menina dos fósforos, agora chamada de Luzia, maravilharam-se com a educação daquele homem. Ele parecia tão normal, mas havia algo nele que encantava. No entanto, enquanto olhavam para o homem, descuidaram-se de Jujubão, que se aproximou furtivamente do gato e, na primeira oportunidade, tascou-lhe uma enorme mordida no rabo.

―Miaaaaaaaaaaaauuuuuu!

O gato soltou um berro esganiçado e descambou numa corrida sem rumo. Atrás dele, o cachorro derrubava o que aparecia pela frente, e por pouco não crava novamente os dentes no lombo do gato. Dorinha, apavorada, chamava pelo cachorro, mas de nada adiantava. E em poucos minutos, o que fora construído a mais de 160 anos acabou sendo levado ao chão. Não satisfeitos, cão e gato correram para onde os figurantes do conto estavam escondidos. Foi um pandemônio. Gritos e correria para todos os lados.

Algum tempo depois, o gato apareceu atrás daquele homem misterioso. A cena que se via era a de um campo de batalhas, com tudo destruído ou ruindo. O tal Hans parecia calmo, mas o gato tremia e desesperava.

―E agora? ―dizia ele, forçando o choro, como um verdadeiro ator canastrão. ―Este é um dos contos mais importantes do Natal! Estou arruinado! Atrasaremos tudo, e muitos figurantes daqui trabalham com o Papai Noel. Eles não poderão ir. O Natal atrasará! As filhas das renas não terão peru para comer na ceia, pois as renas ficarão desempregadas. E outras histórias sofrerão por falta de figurantes também. Que será de mim? Um gato desempregado, falido e estropiado, largado pelas sarjetas imundas dessa cidade poluída? Eca, tem uma pulga no meu rabo.

 ―Seja menos dramático, gato! ―o homem pediu, sem alterar a calma.

―Menos dramático? Isso tudo foi culpa desse cão-sauro das cavernas. E dessa... dessa... dessa invasora de mundos mágicos! Vou comunicar a diretoria, os investidores e os patrocinadores de que o Natal vai ser cancelado e pronto!


continua...

Marcio Rutes

não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.

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Notas:

¹ Lewis – referente a Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson (27/01/1832 – 14/01/1898), autor de Alice no País das Maravilhas (publicado pela primeira vez em 04/07/1865);

² Cheshire – referente ao Gato de Cheshire, nome do Gato que aparece no conto Alice no País das Maravilhas; Cheshire é um condado da Inglaterra. Cheshire é uma expressão inglesa para uma pessoa que vive sorrindo ou ri muito;

³Hans – referente a Hans Christian Andersen.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

DORINHA E UM CONTO DE NATAL - parte 1

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Frio. Andar por aquelas ruas era um verdadeiro martírio, e Dorinha já se arrependera de não ter trazido luvas e cachecol. Jujubão, seu cachorro, também sentia os reflexos da neve. Mal conseguia manter as patas no chão.

Dorinha andava e olhava assustada para tudo. Jamais vira neve, pois onde nascera, o inverno mal baixava dos 10° C. Mas estava ali, e isso era o que importava para ela. Então, mãos a obra. Precisava procurar pela menina que vendia fósforos.

Um menino passou correndo por Dorinha, e para desviar-se dela, se chocou contra um amontoado de tábuas e deixou cair algo que carregava nas mãos. Apressou-se para levantar e tirar satisfações com a menina, mas desistiu assim que viu os dentes do cachorro que se mantinha vigilante ao lado dela. Jujubão rosnou bravamente, fazendo o menino intimidar-se e desaparecer pela rua lamacenta. E assim que viu o menino desaparecer pela penumbra da noite, o cachorro saiu farejando algo, até que parou e ficou olhando para Dorinha.

―O que você encontrou, Jú? ―a menina se aproximou, abaixando-se para juntar algo. ―É um pé de chinelo adulto. Lembro que o papai falou que a mocinha que vende fósforos usava os chinelos da mãe dela, e que um menino malvado roubou um deles. Será que é este? Vamos tentar a sorte. Vai lá, Jú. Cheira, fareja e vai no rastro.

O cachorro fez o que Dorinha ordenou, mas como o chão estava coberto pela neve e lama, pouco conseguiu. E assim eles andaram, andaram, até que cansaram. O frio aumentava, deixando a mostra alguns flocos de neve bailando pelo ar. Andaram mais um pouco e pensaram em parar, e foi o que fizeram assim que viram um estabelecimento comercial, parecido com um restaurante.

―Fique aqui, Jú! Não vão deixar você entrar! Vou lá dentro tentar comprar alguma coisa pra gente comer e já volto.

Dorinha entrou no estabelecimento, e deixou o cachorro para fora, porém logo retornou. Esquecera ela que aquele não era o mundo real, mas sim o mundo mágico, e ali o dinheiro dela de nada valia. Mas quando chegou novamente onde deixara o cachorro, constatou que ele havia desaparecido.

Tudo parecia mais escuro. Nas fachadas das casas, algumas luzes de lampião clareavam a decoração de Natal, e através das janelas embaçadas, podia-se ver as famílias comemorando e fartando-se com alimentos da época. Parecia tão quente dentro das casas.

Dorinha olhou pela rua, e reparou vários indigentes largados pelos cantos. Alguns dormiam, enquanto outros esmolavam ou reviravam lixeiras. Triste aquela realidade, mesmo vindo do mundo mágico dos contos de fadas.

―Que dó! ―ela murmurou, enquanto procurava pelo cachorro. ―Nunca imaginei que pudesse existir tanta coisa ruim nos contos de fadas.

Repentinamente, o badalar do relógio da igreja marcou meia-noite. Dorinha, que lembrava claramente da história contada pelo pai, desesperou. A vendedora de fósforos deveria estar prestes a morrer, e de nada teria adiantado essa visita ao mundo mágico.

―Jú, cadê você? ­―Dorinha gritava, mas o ar frio castigava a tal ponto, que ela quase não conseguia falar direito.

Andou até onde conseguiu, e encostou-se na parede de um beco. Deixou o corpo escorregar, e quando estava quase sentando na lama, escutou um latido. Era Jujubão, e o latido vinha do fundo do beco. Dorinha levantou rapidamente e correu o quanto pode, mas ao chegar onde estavam seu cachorro e a menina, desanimou.

A vendedora de fósforos estava deitada, abraçada ao cachorro. Jujubão mal se mexia, mas não pelo frio, e sim para manter a menina colada ao seu pelo, tentando mantê-la aquecida. E quando viu Dorinha se aproximando, latiu novamente e lambeu freneticamente o rosto da vendedora de fósforos.

―O que foi, Jú? Por que você está lambendo ela? Ela está...

Dorinha parou de falar e observou. Algumas estrelas, muito pequenas, brotaram do rosto da menina. Era como se fosse um pó dourado, e começaram a flutuar. Um tom amarelado brilhante verteu por todo o corpo da vendedora de fósforos, e do nada, tudo pareceu aquecer.

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―O que está acontecendo, afinal? ―Dorinha perguntou, olhando para o cachorro, que latia de maneira persistente, quase em agonia.

Dorinha, instintivamente, deitou-se sobre a menina e tentou aquecê-la. Era a única coisa que poderia fazer naquele instante. E rezou, rezou muito. Quando abriu os olhos, viu ao chão alguns palitos de fósforo queimados, e ao lado, a caixa vazia. Talvez fosse tarde demais.

Jujubão parou de latir, mas continuou ao lado das meninas, aquecendo-as. Dorinha, sentindo a ação do frio, adormeceu, e também começou a brilhar, deixando brotar de sua face o mesmo pó dourado que nascia da vendedora de fósforos. E assim, a noite passou.

No dia seguinte, um alvoroço se fez naquele beco. Um amontoado de pessoas falava sem parar, e sequer a presença da polícia fez com que eles parassem.

―Duas indigentes e um cachorro. ―um policial comentava com outro, que pelo fardamento, parecia ser seu superior. ―Não suportaram o frio, senhor. Uma pena. Bem na noite de Natal. Vou mandar o rabecão recolhe-las.



continua...


Marcio Rutes

não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.

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Este conto é uma alusão ao original "A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFOROS" de Hans Christian Andersen. O conto original de Andersen foi publicado pela primeira vez em 1845, em dinamarquês, com o título Den Lille Pige med Svovlstikkerne, que significa "A menina com os palitos de fósforo".

Saiba mais: 



quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

UM DIA, DOIS PRESENTES

05 de dezembro. Como não dizer que este dia é muito especial para mim? Como não comemorar este dia de um jeito todo meu?

E, também, um motivo para perguntar: será que tudo, realmente, acontece por acaso?

Explico. Uma data e dois motivos para comemorar. No dia 05 de dezembro de 1992 nascia Felipe, meu filho. Amanhã ele fará 21 anos de idade. E garanto que cresceu e se tornou um homem forte, bonito, inteligente e que me enche de orgulho.

O tempo passou, e exatos 18 anos após o nascimento de meu filho, eu tomei contato pela primeira vez com aquela que viria a ser algum tempo depois a mulher que mudaria meus dias, me bagunçaria todo e me apaixonaria. Samara Bassi.

Sim, conheci Samara exatamente no dia do aniversário de meu filho.

Quanto ao meu moleque, a comemoração será pessoal e fora da web, mas com relação a SAMARA BASSI, faço questão de deixar aqui o registro de fragmentos dessa jornada que passamos perto, conhecendo um ao outro, aprendendo mutuamente, se enamorando e, finalmente, declarando a união de nossos sentimentos.

Comemorar o nascimento de um filho e o encontro com a futura mulher de sua vida no mesmo dia? Não pode ser apenas uma simples coincidência, não é?


O encontro
Foi aqui que descobri a existência de alguém que viria a ser especial demais para mim. A mulher que completa meus dias e me bagunça inteiro nos dias atuais e futuros:

05/12/2010 - “Cada vírgula me vem como um arrebol e me alcança, e me lança... me remete ao passado, canta minhas lembranças e minhas saudades nesse tempo sem memória, talvez!
Só sei que estar aqui me cativou.
VOCÊ me cativou e então, descalço os meus pés, me aconchego no chão, me sinto em casa... quero me embalar nessas suas linhas que mais dizem que qualquer imagem, por horas afins.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi na prosa POÇO DOS MARTÍRIOS (Blog Crônicas de Areia – 05/12/10). 


O Encantamento
Meu primeiro contato direto com Samara: 

06/12/2010 – “Que a amizade possa crescer e se entrelaçar entre eu e você, entre nós...”;
“Que você sinta, vibre e cante tudo o que te fizer feliz.”;
“Desejo ainda, que você ache graça nos novos sentimentos, aqueles que fazem cócegas...na alma,...”;
“Que você seja feliz sem motivos.”.
―Trechos do primeiro e-mail enviado por Samara Bassi a mim, em 06/12/10.



A certeza do futuro
Daqui para diante, cito trechos de comentários e interações de Samara Bassi a meus textos publicados em meus blogs (hoje, todos eles reunidos num único, o Blog Crônicas de Areia). Cada um desses comentários tem um valor inestimável para mim:

“...lágrimas são chuvas minhas que caem de mansinho, mas que abrem um caminho imenso por dentro do peito, por fora da íris, por entre os sorrisos, os risos guardados, os pés descalçados e que caminham nessa mistura de lama, que ama à sós. Nessa estrada de pedra, lágrimas e pó.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi na prosa LÁGRIMA (Blog Crônicas de Areia – 07/12/2010).


“De alguma forma, é o nosso livre-arbítrio em ação, determinando essas escolhas alienadas que têm pressionado a resiliência do planeta e o conforto ambiental dessa espécie que se considera no "topo da cadeia evolutiva". Ilusão mais falsa.”;
“O planeta está dentro de nós. Somos feitos rigorosamente dos mesmos elementos que o constituem...”;
“Procuro fazer do lugar onde estou meu paraíso, começando pela minha casa...”.
―Trechos do comentário de Samara Bassi para a crônica TUDO TEM UM FIM (Blog Crônicas de Areia – 09/12/10).


“ ‘Alice no País das Maravilhas’?
Não. Não tem nada de infantil. Alice no País das Maravilhas é um grande e temeroso clássico de Lewis Caroll.
Ele é tão avançado que é até difícil de comentar.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica TROPA DE ELITE É CONTO INFANTIL? (Blog Crônicas de Areia – 14/12/2010).


“É mais que carmim, meu bem.
É ardido
o açucarado dos beijos.
E o meu,
por tantas vezes, indecente
é mais que doce... ”.
―Trecho do comentário e posterior interação de Samara Bassi no poema livre ARDE NA ALMA (blog Crônicas de Areia – 18/12/10).


“O seu lume negrusco,
te busco,
e se te acho
te tasco um beijo
no queixo,
no eixo do teu centro...”.
―Trecho do comentário e posterior interação de Samara Bassi no poema livre CAFÉ, MANHÃ PREGUIÇOSA,CHUVA FINA (blog Crônicas de Areia – 19/12/10).


“Sabe, gosto de algumas coisas ‘esquisitas’ em mim, e uma delas é pensar enquanto tomo banho. Mas não um pensar qualquer. Cotidiano. É um pensar de reflexão. Um divagar pelo mundo das idéias…”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica NÃO É PRECISO UMA VERDADE NOVA (Blog Crônicas de Areia – 03/01/11).


“...eu que nunca pesquei nada, só vento...”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica FÉRIAS E ALGUMAS MENTIRAS DE PESCADOR (Blog Crônicas de Areia – 06/01/11).


“...brincadeira faceira
daquele que saber ver
e viver
vai seguindo os dias
um um colorido carrossel...”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi na poesia livre VER E VIVER (Blog Crônicas de Areia – 12/01/11).


“Voltei, preciso desabafar: MULHERR BARRAQUEIRAAA É ‘Phoda’.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi na crônica LOUCAS, PERIGOSAS E ARMADAS COM O CARTÃO DE CRÉDITO (Blog Crônicas de Areia – 30/03/11).


“Ai, mas essa menina é o capeta!
E o dito cujo é sim um santo!...
...E eu aqui, quanto mais eu leio, mais eu rio, mais minhas risadas me fazem cócegas no pensamento.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para o conto TRAVESSURAS DA LOIRINHA – O CACHORRINHO (Blog Crônicas de Areia – 04/04/11).


“...me rachei de rir e só imaginando vc respondendo qualquer perguntar com um  ‘coachar’.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica O PAGADOR DE PROMESSAS? NÃO, O PAGADOR DE MICOS! (Blog Crônicas de Areia – 06/04/11).


“...eu que me caguei de rir, diacho!”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para o causo CHICO CONTENTE – NÃO ERA O DIA DA ONÇA (Blog Crônicas de Areia – 22/04/11).


“...recolhi-me. Hibernei nos meus lençóis da pele pra dentro.
Revivi, reavaliei, cai, me levantei.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica PENSANDO NA VIDA (Blog Crônicas de Areia – 29/04/11).


“Prá mim, as pedras mais preciosas do mundo são quartzos, embora as pérolas sejam bonitas. Nem diamantes ou rubis, ou esmeraldas, me cativam mais.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a fábula FÁBULA DAS PÉROLAS (Blog Crônicas de Areia – 02/05/11).


“Das simplicidades que nos acompanham pelas ruas, enquanto nossos olhos cobiçam aquilo que tantas vezes não podemos tocar...”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica RETALHOS (Blog Crônicas de Areia – 08/05/11).


“...e das lembranças, como roupas penduradas nos varais, secando em dias de sol e chorando suas chuvas, suas luvas diárias de vestir os vãos de algo ou alguém que seja belo, tornam-se bonitezas, mesmo que solitárias penduradas nos cílios, no vão dos dedos, perdurando na memória da vida, amores que tempo nenhum definhará.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica MORREU LÁ, SENTADO E CHORANDO (Blog Crônicas de Areia – 04/02/12).


“Somos nós, animais na nossa pretensão, ilusão falsa de nos acharmos superiores, de dominarmos nossa face de terra, seja na casa, no nosso quintal, no subordinar aqueles que nos rodeiam de alguma forma...”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para o conto CÃO PANTANEIRO (Blog Crônicas de Areia – 26/02/12).


“O sonho é um meio guardado de se fazer real, por aquele vão de dedos onde o perfume dos cabelos ficaram dormidos e foram registros enternecidos, envelhecidos e amarelados dos tempos que a menina nunca há de se esquecer...”;
“A menina sabe e mais, sente: A ESPERAnça vem mesmo do verbo esperar.”.
―Trechos do comentário de Samara Bassi para o conto RE-ENCONTRANDO AS ORIGENS (Blog Crônicas de Areia – 10/03/12).


“kkkkkkkkkkkkkk... deu nó foi NA MINHA cachola!...”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para o causo CHICO CONTENTE – NÓ NA CACHOLA (Blog Crônicas de Areia – 19/04/12).


“Eu também já me perdi tantas e tantas vezes e sentia-me num beco escuro e sem saída, num dos piores esconderijos: o de dentro. Por mais que sejamos e estejamos nós em nós, quer lugar mais perigoso e desconhecido que o por dentro?”;
“Sobre as buscas, eu me busco ainda, em todos os meus dias e quando me encontro, é quando me busco mais ainda.”.
―Trechos do comentário de Samara Bassi para a crônica O RIO DOS SONHOS (Blog Crônicas de Areia – 05/05/12).


“A menina sabe. Sabe desses tesouros. Ela me contou.
E eu como sempre, ouvi.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica A MENINA QUE AMAVA ARCO-ÍRIS (Blog Crônicas de Areia – 12/05/12).


“Não sei dizer nem explicar ao certo, mas quando se é criança, todos os dias são felizes e com o domingo, não era diferente.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica/homenagem para André Bessa SENSAÇÕES QUE O TEMPO JAMAIS LEVARÁ (Blog Crônicas de Areia – 19/05/12).


“A menina sabia das forças que muitas vezes a faziam voltar, que a impediam de seguir adiante, mas nunca se esqueceu da maior das forças - a do sonho no peito...”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica A IMPORTÂNCIA DO AGORA E DO DEPOIS (Blog Crônicas de Areia – 31/05/12).


“...que me conclua na minha
incapacidade de ser definida,
de ser concluída,
e mesmo assim,
na minha inteira vontade
de ser plural
e singular,
vez ou outra.”.
―Trecho do comentário e posterior interação de Samara Bassi para a crônica/poesia livre METADE (Blog Crônicas de Areia – 07/06/12).


“Eu, menina que se dispersa pelas beiradas de um dengo quentinho, mais tem que sorrir, como criança que ganha aquela pelúcia pra aquecer os vãos dos abraços e que hoje, já não dormem tão sós.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica UM DENGO E UM SORRISO (Blog Crônicas de Areia – 12/06/12).


“kkkkkkkkkk PQP! Me perdoe a palavra, mas esse bilhetinho aí foi Foda!”;
“Mas, coitado desse Jacob. Oh homem cagado hein.
Dá-lhe comadres!”.
―Trechos do comentário de Samara Bassi para o conto/crônica TEMPOS MODERNOS – O ARREPENDIMENTO DE JACOB (Blog Crônicas de Areia – 29/06/12).


“Se sonhamos, ou temos pesadelos, será por consequência dos tipos de pensamentos que alimentamos um dia inteiro? e quiçá, uma vida inteira?”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica FARDO (Blog Crônicas de Areia – 22/07/12).


“É preciso nunca dizer que daquele copo não beberá água, pois esse copo pode ser o único existente em meio ao deserto.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a parábola ALGODÃO DOCE (Blog Crônicas de Areia – 26/07/12).


“Cada estrela era brincadeira de criança, era uma amarelinha, um risco riscando os olhos, mesmo que aflitos de uma esperança sem adormecer, de ser feliz sem desaparecer por entre nuvens e raios de sol…”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a fábula PÓ DE ESTRELAS (Blog Crônicas de Areia – 27/09/12).


“Uma luz intensa vem nos mostrar e nos confirmar de que mundos mágicos podemos sempre construir, em qualquer lugar, à qualquer hora…”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a fábula NASCE DORINHA, A MENINA QUE ADORA SONHAR (Blog Crônicas de Areia – 12/10/12).


“…a vaca, literalemente, ‘pagou o pato’.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para o conto/crônica MATILDE (Blog Crônicas de Areia – 03/11/12).


“…em mim, destilou o perfume das laranjeiras.”.
Trecho do comentário de Samara Bassi para a fábula ANGÉLICA E ANGELINA – QUANDO OS ANJOS DIZEM AMÉM. (Blog Crônicas de Areia – 25/11/12).


“A felicidade está em todas as coisas da natureza, inclusive na nossa própria – a natureza do ser.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a fábula ESTRELA PEREGRINA (Blog Crônicas de Areia – 14/01/13).


“A voz é a música mais forte e a que mais diz - quando canta e quando silencia.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a prosa SEM DÓ E SEM SOL EM SÍ (Blog Crônicas de Areia – 04/02/13).


“...o tempo é ainda o senhor do meu templo.
Ele que me sabe dizer não o caminho a seguir, mas quanto tempo (sem des)esperar.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica UMA VIAGEM DO TEMPO EM MIM (Blog Crônicas de Areia – 07/04/2013).


“Toda ida é uma vinda desesperada de se sentir, de voltar pro lar. Partidas ainda que sejam voltas sem idas, são cárceres privados, no fundo dos olhos e coração.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica UM CHEIRO DE SAUDADE (Blog Crônicas de Areia – 14/04/13).


“Som de passarinho (en)cantando em falsetes, um dueto sol e lua, uma orquestra de rua faz a alma levitar.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a prosa/poesia DOS TONS DE TUAS NOTAS (Blog Crônicas de Areia – 01/05/13).


“Há um colorido lilaseando a íris de um bem querer já instalado que se motiva num abraço, num sorriso, num bem estar de alma, de carinho... Num caminho florido.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica NAS MÃOS, ALGUMAS FOLHAS E FLORES DE LAVANDA (Blog Crônicas de Areia – 17/05/13)


“A mão é para mim, a parte que guarda o todo de um corpo, de outro corpo, de um universo inteiro. Elas nos denunciam quando olhos despencam para os pés e a boca pronuncia palavras ensaiadas. Elas suam, abusam, ajudam. Acalentam sem lamentarem.”.
―Trecho de um dos comentários de Samara Bassi para a crônica UM AFAGO E UM SORRISO, NUM SÁBADO QUALQUER (Blog Crônicas de Areia – 25/05/13).


“Imersa numa fantasia, numa aura de tanta possibilidade, como se qualquer detalhe pudesse se tornar qualquer sonho que desejássemos viver. E é.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica BRISA FRIA DE OUTONO (Blog Crônicas de Areia – 13/06/13).


“E sabe, tudo isso que te compõe, me compõe. Tudo isso sempre existiu em cada um de nós.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica DOS ELEMENTOS QUE ME COMPÕEM (Blog Crônicas de Areia – 19/06/13).


“...ainda que haja solidão, é a partir dela e diria mais, a partir dos momentos dessa solitude acontecida que parimos as nossas mais íntimas criações.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica SOMENTE PARA SEUS OLHOS (Blog Crônicas de Areia – 24/06/13).


“...(e eu sabia que ia ter vaca nessa história! hehehe). Me rachei!”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para o causo/crônica COM QUE ROUPA EU VOU? (Blog Crônicas de Areia – 29/06/13).


“Andamos num ocaso desmedido na palma das mãos e nos olhos, essa ânsia de se chegar e fazer aconchego sempre, num outro andar, num caminhar tão semelhante ao nosso que ambos se confundem.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica ANDANÇAS - PORTA-RETRATO (Blog Crônicas de Areia – 05/07/13).


“...Por fora,
essa boca desnuda de todo o pudor,
de cor e suor,
desse verbo delirante,
aconchegante por entre os meios,
por entre os seios
esse ser teu centro,
ser teu dentro
e me (derr)amar a pele,
invertendo a direção de todo o meu suor.”.
―Trecho do comentário e posterior interação de Samara Bassi para a poesia livre SEREMOS SEMENTES ENTRE LENÇÓIS (Blog Crônicas de Areia – 13/07/13).


“Sonhos meu amor, são estiletes que talham o dia a dia na pretensão de realizá-los. São as escadas praquele sol brilhar mais forte, praquele verso florir e dar perfume, praquele acaso acontecer.
Criamos nossos sonhos.
Criamos literalmente e damos comida pra eles!”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a fábula/crônica CASA NA ÁRVORE  (Blog Crônicas de Areia – 28/07/13).


“E quando a gente qualquer "coisa absurda", o riso criança sai tão natural como nos tempos de aprender a ler e a escrever com histórias contadas pelos nossos pais e avós. Nada nos impede, nada nos esbarra. Tudo pode acontecer. E acontece.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a fábula DORINHA E O GATO DE BOTAS (Blog Crônicas de Areia – 11/08/13).


“Que gostoso, meu amor, fazermos essa farra juntos, e você bem viu e ouviu eu me perdendo de tanto rir.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica TUDO CULPA DO SALAME (Blog Crônicas de Areia – 18/08/13).


“O inventar, pra mim, é a melhor das brincadeiras e a das que mais levo a sério também, seja ela em qualquer assunto, desde que não me limite e me cresça feliz no coração. E isso vem desde lá da minha já senhora e teimosa infância.”.
―Trecho da entrevista que realizei com Samara Bassi para BATE-PAPO COM SAMARA BASSI (Blog Crônicas de Areia – 28/08/13).


“Sofremos alterações durante todo o ciclo de vida, fomos perdendo a "exatidão" de nosso DNA, fomos sendo "arranhados", transmutados. Perdemos células para crescermos, multiplicarmos, dividirmos, para nos transformarmos.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica PORQUE NO MEU TEMPO... (Blog Crônicas de Areia – 07/09/13).


“Aprecio muito mais pedras de rio, quartzos enterrados em ruas em terra, que uma esmeralda engavetada que não se pode tocá-la, senti-la. Que valor ela terá, se não pode ser compartilhada a textura, a experiência, o tato? Chego a acreditar que, diante de tanta restrição, nos atribuem à ela um valor falso.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica PEDRA DE RIO, CIO DA BELEZA (Blog Crônicas de Areia – 15/09/13).


“...esqueci de dizer que comecei a (lacri)mijar de rir quando li: ‘―Ele dá ré no quibe, Padre! É isso mesmo!’.
Ré no quibeeeee??? e pensei:
Que porra é essa???”.
­―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica POIS É, SEU PADRE... (Blog Crônicas de Areia – 26/09/13).


“Papéis são só meios de um sentimento permanecer visível a olhos nus por um tempo maior. O que ninguém sabe, ou poucos sabem, é que o tempo dos sentimentos não acompanha o tempo do resto do mundo.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica UMA HISTÓRIA ESCRITA A QUATRO MÃOS (Blog Crônicas de Areia – 20/10/13).


“Sem carregar verdades absolutas, somos esse grão de areia estelar, esse pó de estrelas cintilantes e nem sempre nos acostumamos a aceitar tal fato. E quando sim, aceitamos no egocentrismo de tal brilho nos cegar.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a crônica/ensaio INCERTEZAS DO UNIVERSO NOSSO DE CADA MANHÃ (Blog Crônicas de Areia – 29/10/13).


“A vida é um eterno saber e desaprender. É essa malícia açucarada no canto da boca, é esse leve de beijo com sabor amargo com doce, com paladar agridoce, com todo o poder de enfeitiçar.”.
―Trecho do comentário de Samara Bassi para a poesia livre PRA FLUTUAR QUALQUER DOCE NO CÉU DA BOCA (Blog Crônicas de Areia – 04/11/13).


“Coração agradece, vida minha!
EU TE AMO!
Sam.”
―Parte final do comentário de Samara Bassi para a postagem especial, em comemoração ao aniversário dela, DORINHA E UMA CHAPEUZINHO VERMELHO BEM DIFERENTE (Blog Crônicas de Areia – 14 e 15/08/13).


Minha vida é assim. Algumas coisas até parecem coincidência. Mas, se realmente forem, tanto faz. O que importa é que realmente aconteceram. E que fizeram uma diferença enorme em minha vida.

Meu Felipe? Parte intensa da minha existência. Minha semente para o futuro.


Minha Samara? É aquela que me mostrou o quanto é gostoso viver intensamente, e principalmente ao lado dela. É a luz natural que me guia, e aquela que apimenta minha vida, que tempera meus sabores e que me faz sentir felicidade como eu jamais soube que pudesse existir.




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Marcio Rutes