sexta-feira, 5 de novembro de 2010

UM E-MAIL, ALGUNS PROBLEMAS

image by Google

“Querido Renato chegou gostoso fazer festa amanhã
Vcs podi comer a Fátima e eu q nao pq cabow xada noite.
Bjs.”

As linhas acima representaram o quase fim de casamento de um casal de amigos meus. O marido, que estava bem longe de se chamar Renato, além de não entender patavina do que estava escrito, ainda tirou algumas conclusões para lá de apressadas.

Muitas pessoas perguntam o porquê de se utilizar palavras abreviadas em mensagens de e-mail. A maioria pensa ser algum modismo da juventude que acabou ficando. Na realidade, isso vem do começo da internet, quando tudo era muito lento e a comunicação via internet era feita apenas entre algumas grandes universidades. Não se utilizavam imagens e, como quem fazia uso dessas mensagens eram estudantes e pesquisadores, tudo parecia ser cifrado e muito resumido, diminuindo, assim, o peso do arquivo para ganhar alguma velocidade de rede. Isso era uma necessidade e, mais tarde, acabou sendo misturado ao péssimo habito das pessoas de “enfeitarem” a língua.

Essa escassez de velocidade e espaço na internet ficou para trás, mas os hábitos de se escrever de forma abreviada e cifrada continuaram. E, para piorar, juntou-se a isso um número infindável de neologismos, gírias, erros e “burrices”. Algumas pessoas pensam que estão escrevendo telegramas. Entender um e-mail, por vezes, é um exercício de paciência, e nem sempre conseguimos. Abreviar palavras e ter como justificativa para isso o ganho de tempo e economia de espaço ao escrever, é desculpa de preguiçoso. Qual é o tempo ganho, por exemplo, ao se escrever “q” ao invés de “que”? Fica ainda pior na palavra “ateh”, onde o H faz a vez do acento agudo numa palavra oxítona. Neste caso ocorreu uma perda de tempo e espaço. No começo da internet no Brasil era até compreensível, pois não se acentuavam as palavras, e o H servia como uma alusão a esse acento, mas hoje isso é desnecessário.

Dia desses, recebi um e-mail retribuindo um comentário que fiz a um texto em um outro blog. A mensagem dizia o seguinte: “Pow!!!wls!!!XD.....” Até agora estou sem entender se a pessoa gostou do comentário que fiz ao texto, ou se me xingou. Algumas pessoas podem até dizer que o texto da mensagem é de fácil compreensão e que eu, como trabalho com web, tenho por obrigação conhecer e entender esse tipo de coisa. Discordo. Não tenho a mínima obrigação de entender ou aceitar essas afrontas e achaques feitos à língua portuguesa. As pessoas inventam termos (alguns nascem de erros e se tornam comuns) que só elas sabem do que se trata, e pensam que todos têm o dever de saber interpretar esses absurdos. Isso é ridículo. E, para deleite do magistério, não raro é o fato desses termos saírem da web e se firmarem, tanto na língua falada quanto na escrita.

Quando se escreve uma mensagem, seja ela pelo método que for, deve-se levar em conta o poder de compreensão de quem irá receber essa mensagem. Língua escrita não tem a inflexão da língua falada. Na falada, você expressa sentimentos apenas com o tom e o jeito de falar, como uma ironia ou algo carinhoso. Na escrita, isso pode se tornar dúbio e gerar contratempos, graves em alguns casos, pois haverá um erro de interpretação. Quando a mensagem é para alguém do seu grupo distinto, ou para quem está ciente do tipo de linguagem que você irá utilizar, ótimo, escreva como você está acostumado a fazer. Agora, se a mensagem for para uma pessoa estranha ao seu convívio, por favor, cuide mais da forma como você escreve, e procure utilizar termos mais formais. E, se o seu vocabulário estiver debilitado frente ao uso constante da web, existem bons dicionários on-line que poderão ajudar. Tenho certeza que você não terá a mínima dificuldade de achar algum, afinal, você fala a língua da web, não é?

E, traduzindo a mensagem do começo desta crônica, ela ficaria mais ou menos assim (corrigindo eventuais erros de grafia, logicamente):

“Querido.
(Seu primo) Renato chegou. (Seria muito) gostoso fazer (uma) festa (para ele) amanhã.
Vocês podem comer (à vontade na festa). A Fátima (esposa do Renato) e eu não (abusaremos na comida) porque acabou o chá da noite (espécie de chá emagrecedor).
Beijos.”

Um comentário:

  1. Marcio... kkkkk
    Realmente esse e-mail ficou muitoooooo estranho..
    Mas foi tudo esclarecido nénão... rsss

    Abraços e cuidado com os recados.... rsss
    Tatto

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