domingo, 17 de abril de 2011

HAJA PACIÊNCIA.

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Telepatia, adivinhações, telecinesia, enfim, os poderes da mente. O ser humano carrega uma ânsia premente em querer acreditar naquilo que não é comprovado. Isso tudo existe? É possível mover algo sem o contato físico e utilizando apenas esse poder mental? Não sei. O que cabe dizer aqui, é que carrego certo ceticismo com relação a tudo isso, e sou pragmático, portanto, não perco muito tempo me dedicando a algo que não é comprovado cientificamente, fato que já me livrou de vários engodos.

Pois bem. Sábado ensolarado e convidativo, tempo relativamente curto para as tarefas cotidianas, mas como ninguém é de ferro, nada como uma pescaria. E lá fomos nós, eu e aqueles outros dois do episódio das lontras e dos mosquitos que sequestraram meu celular. Por via das dúvidas, fomos a outro rio, para evitar contratempos e constrangimentos.

A pescaria foi farta, e na boca da noite já estávamos retornando para casa. No meio do caminho, no entanto, meus companheiros de pescaria repararam numa placa na beira da rodovia que indicava a tenda de um vidente. Não sei por que cargas d’água resolveram enveredar para aquele lugar, mas o fato é que aquilo acabou tirando minha paciência. Dois marmanjos já bem crescidos e educados nas melhores escolas, correndo atrás desse tipo de coisa? Era o cúmulo.

Como se não bastasse o fato de eu sentir “cheiro” de pilantragem na história, ao chegarmos lá, ainda descobri que a pessoa, um senhor já meio idoso, mas com aspecto um tanto jovial e conservado, era analfabeto. Nada contra o fato, mas aquilo deixou tudo ainda mais esquisito. E enquanto os outros dois foram para o “consultório” do adivinho, fiquei por ali, na ante-sala, olhando fotos e algumas revistas velhas. Engraçado é que naquelas fotos, todas enquadradas e dispostas pela parede, vi algumas pessoas bem conhecidas aqui pela minha cidade. Como esse povo pede para ser enganado, não é?

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Algum tempo depois, com a minha paciência já beirando o limite, meus amigos vieram até a ante-sala e praticamente me arrastaram para o consultório. Lá, descobri que, além das previsões que aquele senhor fazia, ele ainda convidava seus clientes para um jogo de adivinhações com um baralho. Era tudo muito simples, e a pessoa ainda poderia levar o próprio baralho, para que ninguém alegasse que existia marcação nas cartas. Ato seguinte, alguém desfolhava o baralho e ficava com algumas cartas na mão, sem mostrá-las ao tal vidente. Depois, ia dizendo o valor de alguma das cartas que estava em sua mão, e ele simplesmente indicava qual delas era a carta solicitada. Tudo muito simples, mas com o passar do tempo e com o acerto constante de cada carta, a coisa acaba ganhando ares maiores. Meus amigos ficavam embasbacados com aquilo, e eu, irritado. Como era possível acreditarem naquilo? Era tudo um truque, é claro que era.

Digo mais. Aquele homem só não arrancou o dinheiro daqueles dois otários porque não quis, pois os dois estavam literalmente a sua mercê. A hora passou rápida, e resolvi por um ponto final naquilo tudo. Nem preciso dizer o quanto fui criticado. No entanto, algo teria que ser feito para que meus dois amigos voltassem à realidade, aquela que afirmava que ambos estavam sendo enganados.

Para minha surpresa, aquele senhor pareceu ler minha mente. Olhou-me e citou, calmamente:

--Pelo visto, o moço já reparou que é tudo um truque, não é? Pois vou contar como tudo é feito.

Para mim, aquilo foi estranho mas, ao mesmo tempo, foi a glória. Eu estava certo. E fiquei só observando, de forma zombeteira, meus dois amigos, que àquela altura já nem sabiam mais em que (ou quem) acreditar. Até que, do nada, aquele homem levantou de onde estava e ficou apontando para trás de nós, exatamente para uma mesa, onde um cachorro vira-latas repousava. Ninguém entendeu patavinas, até que o homem explicou, com aquele jeito bem calmo e brejeiro.

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--Eu não adivinho nada. Não sei ler e sequer conheço os números. Mas o cachorro olha por cima dos ombros de vocês e me indica com o rabo qual é a carta que está sendo pedida. Só tenho o trabalho de ficar olhando para ele.

Todos se olharam e caíram na gargalhada. A credulidade veio por terra naquele momento, e ares de vergonha tomou o semblante daqueles dois. Quanta burrice. E, ao fim de tudo, eu fui o único inteligente da história. Ofereci cinco mil reais para aquele homem e comprei o cachorro. Vou ficar rico.


Marcio JR

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Pessoas são enganadas todos os dias, e das formas mais absurdas possíveis. Golpes como o do "bilhete premiado", por exemplo, faz com que alguns percam salários inteiros ou economias duramente juntadas em cadernetas de poupança, unicamente motivados pela ganância de obter ganho fácil em alguma coisa.

Diz um ditado antigo que “quando a esmola é muita, o santo desconfia”. E se existem pessoas desonestas aplicando golpes por aí com tanta facilidade, é porque existem muitas outras pessoas que se deixam enganar, seja pela credulidade, seja pela ganância que carregam.

Para aquele que quiser saber um pouco mais sobre o golpe do "bilhete premiado" e outros golpes aplicados até com certa frequência em terras tupiniquins, é só acessar o link abaixo:

16 comentários:

  1. rsssssssssssss...Excelente conto esse.Que cachorrinho sabido e danado...Com cara de quem não quer nada,heim??/

    Piorr é que todos os dias esses enganos ocorrem,não é? abração e gostei de ver a chamadinha ao lado..Deu frio na barriga,srrs Lindo domingo!chica

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  2. E como o cachorro sabe ler números? Também quero um cachorro assim!
    Beijo
    Adri

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  3. É Márcio, fiquei aqui em dúvidas sobre os marmanjos, sobre este relato , sobre a compra do cachorro....
    Sei lá! Isto está parecendo história de pescadores...
    Afinal de contas não foi com estes mesmos "amigos pescadores", a tal aventura por ti relatada em "FÉRIAS (E ALGUMAS MENTIRAS DE PESCADOR) "
    Lembro que ficaste de postar um vídeo comprovando tal relato....

    É isto aí prezado amigo! Como percebes, aqui eu estou literalmente lhe seguindo!
    Prezadíssimo amigo, estas" pescarias" são uma divina fonte para tuas belas inspirações e narrativas!
    Deixo-te aqui meus desejos de um lindo domingo!
    Abraços...

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  4. Oi Marcio...

    Adorei...kkkkkk

    mas de verdade o que gostei mesmo foi a carinha do cachorro...coisa mais linda...

    Bom domingo amigo querido!

    Zil

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  5. Bom dia, meu amigo Márcio!

    Ótima abordagem dos dois lados, a credulidade e o ceticismo, sobre coisas que o homem busca como embuste para alimentar a sua imaginação. O crédulo investe na esperança de antecipar a sua "sorte" e se apega de tal sorte, que se esquece de ser racional e se ilude tanto que deixa de perceber o quanto ele próprio é capaz de fazer a sua sorte. O cético, assim como você se coloca e como eu também, percebe estas crendices sem fundamentação ou comprovação como engôdos. Para os crédulos talvez sejamos intransigentes e para os intransigentes talvez sejamos apenas gente sem sorte *rs.

    Márcio, além de sempre extrair coisas muito positivas nas reflexões que faço lendo seus textos, sempre me divirto e dou boas gargalhadas com esta pitada de humor que você coloca de forma brilhante.

    Um grande abraço, meu amigo e um maravilhoso domingo para você.
    Celêdian

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  6. E já que você falou de pescaria, meu caro Marcio, posso dizer que a credulidade de uns sempre foi a melhor isca para a esperteza de outros. Seu relato é um espelho da realidade e, como bem o formulou a nossa querida amiga Celêdian, para os crédulos talvez sejamos intransigentes e para os intransigentes talvez sejamos apenas gente sem sorte!

    Saboroso texto, meu amigo, conquanto tenha me deixado com a pulga atrás da orelha: amigos que saem para uma pescaria e voltam com um cachorro comprado a um vidente analfabeto?... isso não está lhe parecendo um pouco com história de pescador, hein, amigo?...

    Forte abraço, Marcio, boa semana.

    André

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  7. Márrapaissssssssssssss....

    O hómi fazeu um mau gonócio vendendo o cachorro procê... Tu vai enrricar e deixar o pobre purguênto ao relento ( Ainda bem que temos Tilinha M. pra cuidar do bixin ) ...
    Sabe que cumigo aconteceu algo parecido! Minha cadelinha Jully fazia bem parecido mas com o tempo a idade foi pesando e ela começou a enxergar muito pouco e não se adaptou a óculos... Aí o gonócio veio abaixo... perdi tudo que ganhei no tratamento das cataratas dela .. coitadinha.... EU JURO!... rss

    DeussssssssssssssssZulivre TÉRTA !!!!!!
    Abraços
    Tatto

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  8. rsrs Posso só rir, e dispensar as palavras???
    rsrsrsrs...
    Vc até já me conhece. rs
    beijocaaaaaaaaaaaaaaa querido meu!

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  9. Pois é, meu caro, a ganância faz com que as pessoas desviem de seus objetivos. É aquela velha e boa história: tudo que vem fácil, vai embora com a mesma facilidade também. O texto ficou ótimo. E a propósito, vai um sovaco de sapo aí, pescador? Risos... Beijo no coração.

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  10. Maninho, fico maravilhada com teu jeito de descrever os fatos.
    Realmente a coisa fica complicada quando nos deparamos com esses atos viu?
    Mas olha o cachorro é de circo? Rsrsrs.

    Um beijo querido.
    Fernanda

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  11. Passando para uma visita de final de domingo de chuva.
    Belo texto em conteúdo e forma.
    Saudações!
    Carla Fernanda

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  12. Olá, Marcio
    No início da leitura estava caindo no "conto do vigário", mas no decorrer descobri que era uma das muitas histórias de pescadores.
    Você sempre nos surpreendendo com seu talento para as crônicas e os "causos".
    Boa semana que se inicia.
    Abraços.

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  13. KKK...Eu queria ter um cachorrinho desses tb!...rsss...muito legal sua história!Divertida e inteligente!Bjs e boa semana!

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  14. rsrsrsrs Gostei muito, Márcio! Senso de humor e informação (junto junto e incluido como costumam dizer no interior...rsrsrs).

    P.S.: Enviei e-mail qto ao Arena.
    Bjo e uma semana digna de ti, querido.

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  15. Ter um cão tão esperto é que é o X da questão, então...rs

    Eu tenho que me controlar, Marcio, porque adooooro um mistério!

    :P

    Um beijo.

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  16. Fala sério Marcio.

    Isso foi história de pescador que não conseguiu pescar nada e quando chegou na cidade até a peixaria tava fechada, neh?
    rssss.

    beijos um montão.

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