sexta-feira, 24 de março de 2023

TUDO CULPA DO SALAME

 

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―Cadê a mala, amor?

―Ali no canto. Mas, pra que essa pressa?

―Taylane, minha amadinha. É nossa filha que vem nascendo! Qualquer erro nosso, qualquer descuido, e pode ser fatal pra ela! ―o marido se agitava, enquanto corria de um lado para o outro, completamente desesperado. ―E fica sentada aí na cama, senão vai molhar tudo. E a bolsa?

―No guarda-roupas, amore!

―Não essa! A bolsa da tua barriga. Gravidez. Lembra?

―Ah! Essa? É! Ela tá aqui ainda.

―Bom! Já liguei pro seu pai, e ele já deve ter saído de casa. Tá vindo pra cá. Já liguei para a sua médica, e também para o hospital. Tudo certo. Vamos embora?

E lá foram os dois, porta afora. Quando entraram no elevador, o marido tirou uma lista do bolso e começou uma checagem de cada item.

―Pelo visto, não esquecemos nada. A Taylândia vem ao mundo cercada de todos os cuidados.

―Washington Wesley Wanderson da Silva! Dá pro senhor se acalmar?

―Mas, meu amor! É o dia mais importante de nossas vidas.

―Eu sei. Mas você precisava me depilar também? ―ela questionou, fazendo cara de tristeza.

―Não reclame. Sei lá quem iria fazer isso lá no hospital. E nem pensar em saber que qualquer homem olhou as coisas da minha mulherzinha.

―Deus do céu! Você é um poço de ignorância, Washington Wesley Wanderson da Silva!

O pai de Taylane, quando viu os dois aparecerem na porta do elevador, já correu para encontrá-los. Todo afoito, mal cumprimentou e já saiu carregando a filha para o carro.

―Pai, por que essa pressa?

―O WWW (o marido) está com a razão, minha filha. É a Taylândia que precisa desse cuidado todo. Você é minha única filha, e ela é minha primeira neta. Então, sossega aí que vou colocar a sirene no carro pra abrir caminho.

­―Por favor, papai! Sirene não, eu imploro! Vou morrer de vergonha. Tudo bem que o senhor é delegado, mas pra quê isso?

A pobre coitada mal foi escutada. E assim, os três chegaram ao hospital. O marido e o sogro literalmente pularam do carro e correram para a rampa, mas pararam assim que notaram a falta de Taylane. Quando olharam para trás, repararam a moça já saindo do veículo, toda torta e segurando as costas. Voltaram e cada um pegou em um braço, carregando-a sem deixá-la encostar os pés no chão.

Dentro do hospital, tudo encaminhado. Era só esperar pela médica, que não demorou para chegar.

―Demorou, doutora! ―o marido, batendo o pé, reclamou.

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―São 4 horas da madrugada. Até os médicos dormem, vez ou outra. E um nascimento não é assim, como quem tira uma rolha de uma garrafa, sr. Washington. Bom, vamos lá! Cadê minha paciente?

O marido olhou para o relógio e apertou um botão qualquer. A médica, ao vê-lo fazer isso, baixou os ombros e desanimou, mirando-o diretamente nos olhos.

―Você não fez isso de novo, não é? Era só mais um treinamento?

―Duas horas e três minutos. Precisamos melhorar esse tempo! Não acha, meu sogro?

―Concordo, WWW! Acho que mais uns três treinamentos e baixamos uns 45 minutos.

―Eu não acredito! ―a médica bufou, saindo para o lado. ―Isso é uma gravidez que está no oitavo mês, e não um jogo de futebol. Vocês são loucos?

A médica sentou ao lado de Taylane e colocou a mão na barriga da moça.

―Coitada dessa criança! O pai é um doido, e o avô apóia e colabora. O que eu fiz pra merecer um cliente assim?

―Você, doutora? E eu? Convivo com esses dois malucos o tempo inteiro!

Um mês depois, uma mensagem fez o telefone de Washington vibrar. Era Taylane, dizendo que estava com vontade de comer salaminho. O marido, exagerado em seus atos, passou no açougue e comprou logo dez unidades.

“Vai saber qual é o que ela tá com vontade de comer!”. ―ele pensou, indo para o carro.

Ajeitou tudo no banco da frente do veículo e se preparou para sair, mas um dos salames insistia em não ficar na sacola. Ele, tranquilamente, pegou o salame e enfiou no bolso da jaqueta. O que importava, naquele instante, era voltar para casa. Já era tarde e ele estava cansado, e possivelmente a esposa só esperava por aqueles ditos salames para poder se saciar e repousar.

―Vou correr, senão é capaz da minha neném nascer parecida com um salame.

Já em casa, ele colocou a jaqueta nas costas da cadeira e chamou a esposa. Ela não se fez de rogada. Comeu até se refestelar. Mas o desejo foi além. Ainda fez o marido preparar pudim, brigadeiro de panela e macarrão com molho. Para encerrar, tomou quase meio litro de Coca-Cola sem gelo. O marido só olhava, sem entender como aquilo tudo poderia se ajeitar dentro da franzina esposa.

Durante a noite, na cama, ela parecia inquieta. Virava-se constantemente, até que dormiu. Repentinamente, o marido colocou uma das mãos nas pernas da esposa e reparou algo estranho. Então, tratou de chamá-la.

―Amorzinhoooo. Acho que você tomou refrigerante demais. A cama tá toda molhada.

Ela acordou e tateou a cama, constatando que era verdade aquilo que o marido falara. Ficou parada alguns instantes e, quando o marido acendeu as luzes, os dois se olharam, assustados.

“A bolsa estourou”! ―os dois gritaram, juntos.

―WWW, calma. ―a esposa, que jamais chamara o marido pelo apelido, gritou, tentando impor alguma ordem.

Ele sequer prestou atenção no que ela falava. A primeira coisa que fez foi ligar para o sogro que, obviamente, dormia profundamente.

―Alô, meu sogro. A bolsa estourou!

―O quê? Como? Bolsa estourou? ―o sogro balbuciou, até que acordou em um estalo, assustado. ―Que inferno! Como? Então perdi todo meu dinheiro que estava investido lá? Eu sabia que aquele corretor iria me passar a perna... ―um instante de silêncio. ―Mas de qual bolsa você está falando? Eu não investi nada na Bolsa de Tóquio! E nesse horário, só a bolsa japonesa deve estar aberta!

―A Taylândia, seu tonto! ―Washington irritou-se, tentando explicar que era a bolsa da barriga da esposa.

―Piorou! Se eu não investiria no Japão, vou investir na Tailândia? Tá burro, é?

―Burro tá você, seu tonto! Não é o país. É a Taylândia, a sua neta. A bolsa que rompeu é a da Taylane. Acordaaaaaaa. E vem logo pra cá, que eu to preparando tudo!

Ao desligar, o marido correu para a gaveta de sua escrivaninha, para procurar a lista de providências a serem tomadas naquele instante. Mas não achou nada. Desesperado, começou a contar nos dedos, até que parou e olhou para a esposa, que tranquila, só esperava por ele para poderem descer até a entrada do prédio.

―Como...?

―Bom, enquanto você se desespera, eu penso. E faço as coisas com calma. Vamos?

―Mas, e a...?

―Já peguei.

―E a...?

―Também!

―E... e... e...?

―Dá pra calar a boca e se vestir logo, que to começando a ter contrações? ­―Taylane não se aguentou e soltou um berro, fazendo com que o marido corresse para a cozinha e vestisse, unicamente, a jaqueta.

Ela, com contrações, mal reparou que o marido esquecera as calças. Naquele instante, ela notou que precisava pensar nela mesma, ou então, as coisas poderiam piorar um pouco. Chegara a hora de ver se aqueles treinamentos valeram para algo.

E tudo já se mostrou estranho no elevador. A demora foi tanta que o marido já pensava em descer pelas escadas mesmo. Até que, repentinamente, a porta do elevador abriu e eles puderam entrar. La dentro, um zelador já idoso descia com alguns apetrechos para limpeza. Ao ver aquele casal, arregalou os olhos, principalmente ao reparar que o marido estava apenas de cuecas. Mas calou-se. Vai que era alguma nova moda?

Lá embaixo, na entrada do prédio, o sogro já esperava, ansioso. E ao vê-los, tomou um susto.

―WWW. Pode me explicar esses trajes?

Washington sequer prestou atenção nas palavras que o sogro dissera. Passou por ele e foi até o porta-malas do veículo, jogando para dentro toda a bagagem que carregava. Deu novamente a volta e entrou, mandando o sogro acelerar.

Duas quadras mais adiante, o sogro parou o carro e ficou olhando para o genro, que estranhou o fato.

―Parou por que? Estamos com pressa, não estamos?

―Seu animal. Você me fez esquecer minha filha lá atrás.

Enquanto os dois discutiam, outro veículo dobrou a esquina e, sem esperar que o veículo daqueles dois estivesse parado bem no meio da avenida, chocou-se com o carro do sogro de Washington. O delegado desceu rapidamente e começou a xingar o outro motorista. Ou melhor, a “outra” motorista.

―Tinha que ser mulher! E, claro, só poderia dar nisso! Eu sou delegado, sabia?

―E eu sou juíza, sabia? E sabia, também, que o seu veículo estava parado de forma irregular, no meio de uma via pública?

―Calem a bocaaaaaaaaaaa!

Todos silenciaram e olharam para trás. Era Taylane, que arfante, acabara de chegar até onde eles estavam.

―As contrações estão aumentando. Vai nascer logo!

O desespero foi geral. Até a juíza, que sequer sabia o que estava acontecendo, entrou na dança. Precisavam ir rapidamente para o hospital, mas o veículo do pai de Taylane, naquele estado, sequer sairia do lugar. O carro da juíza também ficara muito avariado, e naquele horário não havia viva alma na rua. O marido tentou usar o telefone celular, mas estava sem bateria. O sogro, na pressa, esquecera o telefone em casa, e a juíza, ao procurar pelo telefone dela, descobriu que quebrara no acidente.

―E agora? O que fazemos? ―o marido suplicou, olhando para a juíza.

―Ei... eu poderia prendê-lo por atentado ao pudor, moço.

O pai de Taylane andou um pouco e reparou algo que poderia ajudar. Pediu aos outros que esperassem e, um pouco depois, voltava até eles com uma carona.

―Pai, isso é um caminhão da coleta de lixo!

―É um veículo, não é? Entra logo. Vai!

O marido ajeitou a moça na cabine do caminhão, e como não havia lugar para todos por lá, o pai e a juíza, que resolveu acompanhar para não perder o delegado de vista, precisaram ir na parte de trás do caminhão, literalmente pendurados.

Como o motorista havia recebido ordens tanto de uma juíza quanto de um delegado para “andar depressa”, abusou o quanto pode. Parecia se divertir com a situação. Mas não parava de olhar para as pernas de Washington. Não entendia por que alguém andava apenas de cuecas naquela hora da madrugada.

Na parte de trás do caminhão, cada um se agarrava como conseguia. E a pior parte ficou para o delegado. Em uma esquina, um saco de lixo se desprendeu e caiu sobre ele. No interior, algum tipo de líquido com cheiro putrefato derramou todo nas calças do pobre coitado. As blasfêmias eram ouvidas a metros de distância, mas logo foram substituídas por sonoras gargalhadas, pois ele reparou que não havia sido o único atingido por aquele líquido. A juíza também estava toda molhada, e completamente irritada. Com as calças encharcadas por aquele líquido mal cheiroso, ela não sabia se xingava ou chorava.

Quando o caminhão parou diante do hospital, o delegado pulou e tratou de tirar as calças, para se ver livre do mal cheiro. A juíza, estranhando aquilo, baixou o olhar e reparou que a situação dela também estava complicada, e piorava ainda mais com aquele cheiro insuportável. Sem escolha, e tomada pelo instinto de não perder o delegado de seu ângulo de visão, não pensou duas vezes. Também arrancou as calças e foi atrás daquele homem.

Na recepção do hospital, um alarde estava montado. Na pressa, ninguém lembrou de ligar para a médica. E quando conseguiram localizá-la, descobriram que ela não chegaria a tempo para fazer o parto. Um enfermeiro, vendo que ninguém se entendia e já conhecendo tanto Washington quanto o pai de Taylane, tratou de puxar a moça para o lado, e levou-a para outra sala, para tranquilizá-la e iniciar os procedimentos necessários. Enquanto isso, na recepção, a bagunça só criava mais tamanho, até que a atendente não aguentou e ameaçou chamar a polícia.

―Pode chamar. Eu sou delegado.

―E eu, juíza!

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―Então, vocês vão calar a boca, porque isto aqui é um hospital. Vocês estão pensando o quê, afinal? E posso saber por que os três estão quase pelados? Vocês estavam onde? Numa suruba?

―Olha o respeito, menina! ―o delegado levantou o dedo, irritado.

―Baixe o dedo, senhor! ―a enfermeira retrucou. ―É desse jeito que um delegado resolve as coisas? E mais um detalhe! Que cheiro dos infernos é esse? Ecaaaaaaa.

Os três se olharam, e só então Washington reparou que estava sem calças. O pobre coitado parecia desnorteado. Toda a sua atenção e zelo viraram naquilo. Sentia-se um fracassado. Mas balançou a cabeça, sabendo que não poderia ficar ali parado. O sogro e a juíza, engalfinhados em uma briga de impropérios e palavrões, não ajudariam em nada, e a esposa sumira.

Washington aproveitou que a atendente estava distraída com a briga dos outros dois e saiu de fininho. Foi se enfiando pelos corredores, até que por uma janela de vidro ele notou a esposa deitada em uma maca. Bateu no vidro e, quando estava por abrir a porta, um enfermeiro segurou-o pelo ombro.

―Posso saber o que o senhor está fazendo aqui?

―Sou o marido daquela moça ali!

―Vai assistir ao parto? Então, venha comigo! Mas antes, o senhor pode me explicar onde estão suas calças?

Washington não teve muita escolha e seguiu o enfermeiro. Aquilo não estava nos planos dele. Assistir ao parto da esposa? Ele não suportava ver sangue. Entrava em desespero a cada vez que isso acontecia.

Quando chegaram na outra sala, onde o enfermeiro iria preparar Washington para assistir ao parto, o rapaz se desesperou. Precisava fazer algo. Então, quando o enfermeiro se distraiu, ele pegou um gorro e um avental médico e saiu silenciosamente. Vestiu-se no corredor mesmo, e se esgueirou, olhando para todos os lados como se estivesse em uma cena de guerra. Inesperadamente, escutou algumas vozes e entrou na primeira sala que viu. Era uma sala com uma porta enorme, dividida em duas partes, mas ao que parecia, era apenas uma ante-sala. E para o azar do rapaz, aquelas vozes estavam cada vez mais próximas. O que restou para ele foi seguir em frente, até abrir outra porta igual a primeira. Assustou-se, pois acabou dando de cara com várias pessoas rodeando uma mulher, que estava deitada em uma mesa.

―Taylane? ―Washington murmurou, reconhecendo a esposa.

―Quem é o senhor? ―a pergunta veio de um homem enorme, que estava parado do outro lado da mesa onde a esposa se encontrava deitada.

Washington foi ladeando a mesa lentamente, até parar ao lado daquele homem.

―Eu sou o marido. E o senhor, quem é?

―Eu sou o médico que irá fazer o parto, pois a doutora Luiza não chegará a tempo.

Nesse momento, Washington olhou para a mesa onde a esposa estava deitada. O que ele viu, acabou fazendo com que um nó descesse por sua garganta. Taylane estava com os joelhos dobrados e abertos, e completamente desprovida de qualquer vestimenta.

Sem saber o que fazer, o rapaz enrubesceu e olhou para o médico. Gaguejou algumas palavras, e começou a arrancar o avental que utilizava, até ficar apenas de jaqueta e cuecas. Estava irritado e com ciúmes, e só pensava em afastar o médico dali. Suas mãos, afoitas, acabaram parando dentro dos bolsos, e ele notou que havia algo em um deles. Algo redondo e comprido, o salame. Então, pegou-o e começou a ameaçar o médico.

―Nem pense, seu doutorzinho. Nem pense que você vai ficar ai, olhando as coisas da minha mulher. ―o rapaz bufava e balançava aquele salame bem perto do nariz do médico.

Uma das enfermeiras, vendo a cena, tentou interceder, e o médico aproveitou a situação para “desarmar” o rapaz. Mas como ele não parava quieto, o médico largou o salame no primeiro lugar que viu, e que foi justamente na mesa onde Taylane estava, e bem entre as pernas da moça.

Outro enfermeiro entrou com uma câmera nas mãos. Taylane havia encomendado o registro em vídeo do nascimento da filha, e ele começou a filmar. Ao lado, ninguém se entendia. Duas enfermeiras tentavam conter Washington, enquanto o médico, desesperado, fazia de tudo para voltar para seu posto. Taylane, entre soluços e gemidos, tentava chamar a atenção de alguém, até que, com um resto de forças, soltou um berro.

―Socorroooooooooooooo.

Todos pararam imediatamente. O médico arregalou os olhos, mas não descuidou do rapaz, que estava, àquela altura, bem preso nas mãos das enfermeiras. Mas Washington foi o primeiro a perguntar algo.

―Nasceu?

Novo silêncio. Até que o enfermeiro, que filmava tudo, se voltou para as pernas de Taylane e caiu na gargalhada. Em seguida, desligou a câmera e olhou irônicamente para o rapaz, dizendo:

―Olha! Tem algo aqui, mas se for uma criança, acho que sua mulher deve ter ficado com muita vontade de comer alguma coisa, porque tá com uma cara danada de parecida com um salame.

Aquelas palavras, por mais que fossem apenas por brincadeira, surtiram um efeito não esperado em Washington. Ele, ainda mais irritado, livrou-se das enfermeiras, mas foi contido pelo médico. Taylane, vendo que não aguentaria mais, relaxou o corpo, e sem esperar, sentiu que Taylândia começava a dar as caras ao mundo. E como ninguém se entendia novamente, o enfermeiro que filmava largou a câmera e fez o que sabia. Amparou a criança e ajudou no parto. Minutos depois, um choro tomava o ambiente.

―Ah! Agora nasceu. E é uma menina! ―o enfermeiro comemorou, segurando a criança nas mãos. ―Mas ainda não entendi por que esse salame estava aqui! É alguma simpatia?

Um silêncio aterrador tomou conta daquela sala, quebrado unicamente pelo barulho do marido se estatelando ao chão.

Algumas horas mais tarde, com um número enorme de policiais e jornalistas na recepção do hospital, uma repórter gravava a matéria que iria ao ar naquele dia.

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―...ainda não sabemos se tudo isso foi algum ritual de um desses grupos de malucos que aparecem a todos os instantes, ou se foi um ato isolado de um pai desesperado, que ao se ver sem atendimento neste hospital de luxo, entrou em pânico. O que se sabe é que uma juíza e um delegado, que possivelmente fazem parte desse grupo de malucos que tentou dominar o hospital, foram flagrados a poucos instantes, trajando apenas roupas íntimas, numa das salas do hospital. Segundo testemunhas, os dois estavam lambuzados de sabão líquido da cintura para baixo, e exalavam um cheiro estranho, possivelmente "provindo" de alguma substância estranha, ou de algum ritual maluco que eles faziam. Muito estranho. Será parte do ritual de acasalamento desse grupo esquisito? Por sua vez, o pai da criança que nasceu foi autuado por invasão de área restrita do hospital, por desacato e por agressão. Ele ameaçou ao médico e a outros atendentes com um salame enorme e de origem desconhecida. Ainda será investigada a procedência do salame, mas ao que tudo indica, ele fazia parte da artimanha desse grupo para incrementar o ritual que eles iriam realizar aqui nesse hospital. E eu lhes pergunto. Será falta de fé? Será falta de segurança? De onde viemos? Para onde vamos? Isso é o cúmulo... corta e edita.



Marcio Rutes



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14 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkk, Márcio, a melhor comédia que li nos últimos anos.....kkkkkkkkk
    Ainda estou com os olhos marejados de tanto rir, um riso muito gostoso, depois desta semana estafante e calorenta...kkkkkkkkk
    Que imaginação amigo!! Não sei como conseguiu reunir, em um único ato, um salame, uma juíza, um delegado, um caminhão de lixo e tudo a caminho do hospital....kkkkkkkk
    Ainda bem que a bebê nasceu, com um nome exótico como o do pai. A única lúcida nesta história toda era a mãe da criança, que teve o triste destino de suportar as loucuras do marido e do pai, tudo junto e ao mesmo tempo....rsrs E sobrou até para o médico substituto que não tinha nada a ver com a história ...rsrs
    Obrigada amigo, adorei, me fez rir à beça, me deixou mais tranquila e feliz...
    Agradeço e desejo um lindo final de semana para si e o pequeno Farofa!! :)))))

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    1. Oi, Dri.
      Tenho um amigo que me fala que quando quer desopilar o fígado, vem no meu blog. Bom, eu levo isso como um elogio... rsrs.
      Que bom que você gostou, minha querida amiga. Não dá pra viver só das agruras que o mundo nos dá. Vez ou outra a gente tem que se entregar pra gargalhada. E deu trabalho pra escrever esse trem. É mais fácil fazer chorar. Bem mais fácil.
      E acredita que tem gente que não lê por ser muito grande? Fazer o que, não é?
      Grato por ter se entregado ao conto e pelos elogios. Lindo fim de semana pra ti, menina. Ah! Antes que me esqueça... achei mais umas fotos do Farofa e da Lolla, uma gata de rua que ficou aqui uns tempos. Depois acrescento lá na página, isso depois de pedir licença pro Farofa, que tá te mandando um miauzão de fim de semana. Abraços, Dri.

      Marcio

      Marcio

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  2. Que "loucura", Márcio. Entrei no primeiro vagão e fiz a viagem inteira "nesse trem". A cada parada, respirava, me levantava para estirar as pernas e quando "esse trem" voltava a se locomover observava a paisagem pela janela. Tudo muito rápido, mas o maquinista é dos bons, segurou no braço a máquina para chegar ao fim da jornada. Parecia um percurso longo, mas, "ao fim ao cabo", os personagens desempenharam o seu papel com um talento fora do comum. Mantê-los sóbrios no papel que desempenharam era a loucura do desafio. Não fosse a loucura da mãe, os coadjuvantes teriam sucumbido. O desafio é cuidar dessa criança em meio a tanta lucidez que imperou nessa viagem. Aí, é outra história. Parabéns, Marcio! Como diria o outro, muito bem bolado o vai-e-vem desse trem,,,
    Um abraço,
    Há sempre um lúcido

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    1. kkk... muito grato pelo comentário, Sant'Anna. Foi cansativo escrever esse "trem" desse texto. Tenho por hábito escrever em um só rompante, e enquanto não vejo o fim, não paro.
      E, realmente, coitada dessa criança. Ao menos a mãe carrega lucidez com ela, mas o pai e o avô, danou-se. E como citei na resposta ao seu outro comentário, do texto anterior, é tão fácil escrever sobre o tal humano, pois matéria prima não falta. E por mais que possam parecer loucos esses personagens do conto acima, tem gente pra tudo nesse mundo. É só saber olhar, e a gente acha enredo fácil, fácil.
      Grande abraço, meu bom professor, e ótimo fim de semana pra ti e fámilia.

      Marcio

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  3. Desejo que num futuro próximo, Taylândia possa estar aqui lendo este texto. Garanto que irá poupá-la de anos de terapia!
    Olha que já vi confusão, nos meus anos dourados de juventude, em hospitais que trabalhei, mas nada se compara a essa balbúrdia que você conseguiu parir!
    Lembro-me que o máximo de confusão que enfrentei era com os chineses e sua sopa de placenta que causava náuseas, repúdio e um cheiro pra lá de estranho no andar da maternidade!
    Vou uma delícia acompanhar todo esse desenrolar que se emaranhava cada vez mais.
    Parabéns por mais esse belo e risonho conto!
    Um abraço
    ana paula

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    1. Olá, Ana.
      Olha, acho que nem com terapia essa criança vai ter solução. Nunca escrevi uma continuação para um conto, mas esse dá até vontade. Mas bate uma preguiçaaaa...rsrs.
      Eca!!! Sopa de placenta? Misericórdia.
      Sempre grato pela presença e pelos elogios aos meus textos, Ana. É muito bom quando sei que fiz alguém sorrir ou dar risada. Abraços, e ótima semana pra ti.

      Marcio

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  4. rsrsrsssss, nessa altura da festa eu também pirei, Marcio, não sei quem sou e nem pra onde vou! Mas que história, que parto acabo de ler, amigo! Fiquei muito confusa com os temperamentos do maluco do pai, do sogro, do fotografo que foi fazer o vídeo, todos! E a mulher, mãe da criança, tranquila, e dê-lhe salame! Sei dessas histórias, se não comer jaca, a pobre criança nascerá com cara de jaca! Pô, sofri milhões com esse parto! rsss. Mas olha, eu não me surpreendo muito, com certas coisas que de fato acontecem. Claro que está belamente narrado e com pimenta calabreza! Se assim não fosse, não teria a graça que teve essa minha leitura. Tive de me acalmar da ansiedade e fui até a cozinha tomar água, amigo! Mas fiquei com uma dúvida que não me abandona: com tudo isso pergunto também, quem sou, de onde vim e para onde vou?? Sei mais nada! Um ótimo domingo, Marcio, você deve estar exausto! rss
    Grande abraço!

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    1. Kkkk... imagina eu então, como fiquei! Terminei o conto quase meio sem rumo.
      Bom dia, Taís.
      Tem vezes que as frases ganham vida própria, e acabam nascendo sozinhas, e quando vejo, a maluquice já está formada. E até a reporter da televisão era meio maluca... rsrs.
      Grato pelos elogios e pela presença, Taís. Abração e ótima semana pra ti.

      Marcio

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  5. Olá, amigo Marcio, confesso que além da poesia e da crônica sou um admirador,
    há muito tempo, do conto. Aliás, no Brasil, temos excelente contistas com os seus livros á venda nas livrarias de nossas cidades e também de nossas bibliotecas. Então, amigo, um conto diante de mim é sempre um presente, por isso, aproveito para agradecer a você pela oportunidade de ler mais um conto, este, um conto singular. No meio da balburdia toda, nasce uma linda criança, que talvez seja como sua mãe, equilibrada e não como os malucos que a acompanharam, pai, marido , médico assistente, fotógrafo. Dei boas gargalhadas, por um lado e por outro lado
    fiquei pensando na angústia que deve ter tido o escritor. Sendo assim, fiquei a imaginar o contista enlouquecido, comendo todos os salames.
    Meus aplausos, belo divertido conto.
    Uma boa semana!
    Grande abraço.

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    1. Bom dia, Pedro.
      Por vezes, chego a me considerar um desvairado, por algumas circunstâncias fora do comum que acrescento aos meus texto, e até penso em não publicar. Mas, no fim, esse é um estilo que gosto muito, e se não tiver toda essa maluquice, não fica parecendo algo meu. Daí, me arrisco.
      O Brasil é, realmente, muito bem servido de contistas. O pecado é que ainda existem muitos outros, que não aparecem, ou que sequer sabem que tem talento. Nossas escolas partem no sentido contrário da coisa, desincentivando a prática da escrita e da narração. E o mercado editorial, piorou. Só sobrevive de literatura quem já nasceu não precisando se preocupar com dinheiro. Publicar é muito caro. Uma pena.
      Grato sempre pelas críticas positivas ao meu trabalho e a mim, Pedro. Já citei em outra oportunidade, mas preciso repetir. Você e alguns outros colegas são um incentivo para mim. Obrigado.
      Abraços e ótima semana pra ti, Pedro.

      Marcio

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  6. :) Surreal!
    Bom contista que é! Parabéns! Começa-se a ler e o enredo estranah-se e entranha-se.

    Abraços e Boa Páscoa!

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    1. Oi, Fá...
      rsrs... entranha-se mesmo. Até em mim.
      Fiquei dois dias com esse conto na cabeça, depois que terminei de escrever.
      Mas que bom que você gostou, Fá. Deu um trabalhão pra escrever.
      Minha amiga, desculpa a ausência lá pelos teus lados, mas o tempo anda curto por aqui.
      Grande abraço, minha amiga. E linda semana pra ti.

      Marcio

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  7. Olá Marcio, quanto tempo a gente não se encontra pela blogosfera? Hoje deparei com um comentário e a sua foto, aproveitei o link e vi que era você mesmo. Antes de ler lembrei da família coruja (rsrs), bons tempos amigo.
    Que belo conto aqui com esta família atrapalhada aliada à sua já conhecida arte, prende o leitor a querer ver o final desta epopeia. Você cada vez mais perspicaz.
    Já ri muito pelos caminhos do conto e cada vez mais revendo suas marcas na arte de escrever.
    Que bom lhe reencontrar amigo e agora adicionar aos favoritos.
    Um abração e tudo de bom.

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    1. Olá, Toninho.
      Que bom poder revê-lo por aqui, meu amigo. Sua presença é sempre muito bom-vinda.
      Realmente, são bons tempos aqueles, Família Maruja, outros afazeres, outra vida. Mas, enfim, tudo passa e tudo muda. Dá muita saudade daquela época. E eu acabei me afastando por mais de cinco anos da blogosfera. Quando me padrinho de letras, o André Bessa, resolveu partir para o andar de cima, fiquei bem sem chão, e tudo meio que perdeu a graça. Mas nós estamos vivos e temos que continuar.
      Não estou naquele ritmo antigo, meu amigo, mas sempre tem uma cadeira e um café pra um bom mineiro (que, se não estou enganado, está morando na Bahia), e para quem mais querer compartilhar minhas letras. Volte sempre, Toninho. Já andei lá pelo seu blog, mas o tempo anda bem curto, ainda mais que me tornei comerciante, daí, só nos fins de semana. Mas logo logo estou por lá. Grande abraço e uma ótima semana pra ti.

      Marcio

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