quinta-feira, 18 de julho de 2013

LANTERNA CHINESA

lanternas chinesas - by Google
Àquela hora tudo estava calmo. Até o vermelho das lanternas chinesas pareciam descansar. E nenhum barulho se atrevia a ferir o silêncio da madrugada. Não existia viva alma em lugar algum.

Tudo tão diferente da confusão de pessoas de horas antes. Aquele disparate que mais parecia uma praça de guerra do que, propriamente, uma festa. Mas fora lá que ele a viu. E a notou bela, sorridente, um verdadeiro sol em um mar de estrelas menores. As mãos delicadas carregavam alguns adereços, que eram jogados para cima e recebidos novamente, com muita habilidade. Não, ela não era nenhuma esportista, muito menos bailarina. Era apenas alguém que se divertia, que aproveitava o desfile chinês para diminuir a ansiedade que carregava no peito. E como seu rosto era formoso e delicado.

Foi então que, por instantes, os olhos da moça cruzaram com os olhos do rapaz. Encantaram-se. Proibiram-se. Afastaram-se.

Ele era um mero alguém que passeava por aquele lugar, sem ao menos falar a língua local, e ela, uma donzela de família tradicional, possivelmente reservada para o filho de alguma outra família da região. Seria impossível uma aproximação.

E então, tudo passou. Ele ficou ali sentado, esperando o dia amanhecer. A festa perdera o brilho, e as lanternas sequer faziam a luz chegar até ele. Se existia luz naquelas lanternas, ele sequer percebia. Não fazia mais diferença. Também pouco adiantaria sonhar com algo impossível.

Mas a rua estava tão linda. Não poderia partir sem levar algo daquele lugar.

Aproximou-se de uma casa e reparou algumas flores esquisitas, muito semelhantes às lanternas que ornamentavam a rua. Colheu algumas e fez uma espécie de buquê, como se recobrisse a própria mão com aquelas flores. Ao se voltar para a rua, um susto acometeu seu peito. Era ela, e estava bem diante dele, olhando para seus olhos.

flor lanterna chinesa - by Google
―Me leva com você? ―ela perguntou, calmamente.

―É um sonho?

―Não sei! Mas se for, que tal sonhá-lo por inteiro?

―É impossível... ―ele retrucou, deixando algumas lágrimas aflorarem.

―Impossível é eu fingir que nada aconteceu quando te olhei nos olhos. E só será impossível algo existir entre nós se aceitarmos o que querem nos impor. Um sonho só é impossível de ser realizado se ele não for sonhado.

Pequenas flores, com formato de lanterna, hoje crescem abundantemente num certo jardim, bem longe de onde eles se conheceram. E o impossível é passar por lá, por aquela rua onde eles cruzaram os olhares, e não sentir a vibração de um olhar que, ao cruzar com outro, ultrapassou barreiras e limites.

Marcio Rutes

Um comentário:

  1. Que conto mais lindo Má.
    Uma história repleta de sonhos, de querência e possibilidades.

    As lanternas chinesas são mesmo de uma magnitude espetacular, se somente diante dos olhos, imagine do que elas não são capazes de influenciar os sonhos e a imaginação, trazendo esse aconchego, esse calor para nossos corações.

    Como sempre, sai daqui encantada e por aqui permaneço sempre um tanto mais.

    E a flor, lá em baixo, conhecida como "brinco de princesa", não poderia ser a mais perfeita para a princesa chinesinha do rapaz apaixonado. ;)

    Perfeito.

    beijo na alma,
    querido meu.
    Sam.

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