domingo, 15 de setembro de 2013

PEDRA DE RIO, CIO DA BELEZA

sub-títuloSIM, A BELEZA ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM A VÊ

pedra de rio - by Google
A quantidade de beleza existente no mundo está diretamente relacionada a forma de se apreciar cada beleza existente, e também na forma como cada um define seus padrões de beleza.

Mas, como definir se algo é belo ou não, se tal condição é influenciada por padrões e opiniões extremamente pessoais?

Já escutei tanto por aí que “o feio não existe”, ou que “quem ama o feio é porque bonito lhe parece”, que parei o que fazia e fui confrontar com os versos de Vinicius de Moraes (19/10/1913 – 09/07/1980), em RECEITA DE MULHER, onde ele cita que “...as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, para tentar traçar alguns parâmetros próprios.

Veja que interessante o caso do provérbio “quem ama o feio é porque bonito lhe parece”. Barão de Itararé (Apparício Fernando Brinkerhoft Torelly – 29/01/1895 – 27/11/1971), um dos fundadores da imprensa alternativa no Brasil, pegou o tal dito popular e cravou: QUEM AMA O FEIO É PORQUE O BONITO NÃO APARECE.

Nos dois casos, tanto no provérbio quanto na máxima do Barão de Itararé, nota-se a clara evidência de que existe uma condição (ou padrão) para definir o que é feio ou não, e a presença do pronome indefinido “quem” (em ambos os casos subentendido como alguém que) denota particularidade de alguém. Em resumo, cada ser humano define seus padrões de beleza de modo particular, segundo seus critérios.

Tal fato, acima descrito, me leva a entender Vinicius quando ele cita que “...as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. E não me crucifique, assim como crucificaram o poeta quando ele pariu tais versos. Primeiro, leia minha defesa e justificativas.

Beleza e feiura realmente existem. Mas que se tenha em mente a particularidade que já citei acima e que leva cada um a definir o que é belo ou não. E é óbvio e correto admitir que aquilo que é belo para uns, pode não ser belo para outros. Quando se admite a condição de “beleza” para algo, é porque se buscou parâmetros para estabelecer tal condição. Nada é belo unicamente por ser belo. Para ditar tal afirmação, buscou-se elementos que agradem tanto ao nível de consciência quanto de inconsciência da pessoa, como cor, textura, consistência, complexidade ou não da composição, espaço onde tal coisa está disposta, ..., ..., ..., etc. São incontáveis as variáveis, que combinadas ou não, podem definir a condição de beleza para alguém que observe algo ou outro alguém.

Quando algo agrada aos olhos, é porque alguma outra coisa desagrada e, assim, traça-se um parâmetro. E ao admitir que a beleza existe, então admite-se, também, o oposto ou antagônico a isso, ou seja, a existência do feio. Alguns dizem por aí que “é mais politicamente correto dizer que algo tem menor beleza”, em detrimento a dizer que algo é feio. Por que? Será que a onda do politicamente correto vai me tolher até isso, definir o que acho belo ou feio? Era só isso que faltava.

Já quanto a defesa sobre eu entender o Vinícius, é simples. É um ponto de vista que ele tem (ou tinha, claro). Ele se sentia bem diante daquilo que achava belo. É claro que discordo da palavra “fundamental”, com a qual ele fecha o verso. Ops... fecha o verso? Pois é, fecha o verso e não a poesia, e tem muitos outros versos até chegar no fim. Mas as pessoas, ao fazerem referência sobre essa obra, lembram apenas desses versos iniciais, ignorando (propositalmente ou não) o restante da obra. Não serei eu a dizer para alguém gostar ou desgostar, ou achar bela ou feia a composição do Vinícius, mas que muitos criticam tal obra, tachando-a de "machista" sem ao menos conhecê-la, isso criticam. Eis, então, os versos finais da poesia (existe o meio também, então, trate de conhecer primeiro a íntegra e criticar apenas depois de ler o todo):

...e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

Não advogarei em favor de Vinicius, pois muito do que ele cita durante o meio da poesia vai em direção oposta aquilo que penso, mas entendo quando ele classifica e descreve seus padrões de beleza para a mulher. Já nesses versos finais, nesses sim eu me encontro, concordando que é diante da imperfeição de cada um que construímos a beleza encontrada em outro alguém. Ninguém é perfeito, mas pode ser belo ou feio para outro alguém. E isso, meu amigo, é uma reação absolutamente natural do ser humano. Gostar ou não de algo. Achar que alguma coisa ou alguém tem beleza ou não.

Não é feio definir a existência ou não de beleza, taxando isso ou aquilo de feio ou belo. A feiura está na hipocrisia, ao se omitir uma opinião verdadeira para ganhar algo com isso. A feiura está, também, no fato de se espezinhar algo por não achar beleza em tal coisa. Isso é muito feio.

Faltou falar sobre algo? Ah! O título da crônica, claro. Eu explico.

pedra de quartzo não lapidado - by Google 
Jamais negarei que jades, esmeraldas, rubis ou diamantes são belos. É claro que são. E além de belos, trazem status e são caros. Mas, para meus olhos, a beleza verdadeira repousa em pedras deitadas no leito de um rio de águas claras. Mas, repare que escrevi “deitadas no leito de um rio”. São de uma beleza sem igual, ainda mais quando completadas pela beleza tranquila das águas claras passando sobre elas e pelo ambiente calmo, salutar e contagiante da natureza em todo o entorno. No entanto, se essas pedras forem retiradas de seu ambiente e expostas em qualquer outro canto sem água ou sem natureza, honestamente, perdem a graça para mim.

É claro que tudo o que está no parágrafo acima foi definido mediante meus conceitos de beleza. Cada um tem os seus conceitos, e muitos preferem observar um diamante numa redoma, cercado de segurança por todos os lados, pessoas empoladas, muitos recheados de inveja, e o pior, sem sequer saber se aquela pedra na redoma é ou não verdadeira. Minhas pedras de rio, essas eu sei que, se estão lá sob a água, são reais.

Para finalizar, digo que as pedras puras de quartzo também me atraem muito os olhos.

Como dizem por aí, "a beleza está nos olhos de quem a vê", ou ainda melhor, "cada um com seu cada um", não é?


Marcio Rutes


saiba mais:

Para ler a poesia RECEITA DE MULHER, de Vinicius de Moraes, clique aqui

Para ler e, também, ouvir a poesia RECEITA DE MULHER, de Vinicius de Moraes, clique aqui.

Um comentário:

  1. Nossa!!! Deixe-me tomar fôlego para me referir a esta beleza que meus olhos leram, conheceram, desvendaram e por ela foram desvendados.

    Foi com muita propriedade (como sempre acontece) que você abordou esse "o bonito é de cada um" de uma maneira completamente fantástica, juntando retalhos, peças, alinhavando e construindo uma rede bonita demais pros olhos meus de informação, poesia, simpatia, ponto de vista entre outros tantos atributos que você sabe lançar mão como ninguém.

    Sempre digo que não importa o que seja, podemos não aceitar algo, mas no mínimo respeitar. E a beleza está sim nos olhos de quem vê, nas experiências de quem vive, na pele de quem sente. Assim como a dita "feiura", também está nos mesmos olhos de quem não vê ou não quer ver.
    Aliás, o feio é bonito quando lhe convém.

    Talvez por civilidade ou por "discriminação", fomos padronizando comportamentos e rotulando-os como tidos "normais" e qualquer desvio era simplesmente descartado, ignorado, ridicularizado.

    (Não esquecendo que no meu ponto de vista, a discriminação pode ser negativa ou positiva, pois nada mais é que um "diferenciamento"... mas isso é outra história, embora caiba muito bem aqui rs)

    Quem ama o feio é porque bonito lhe parece, ou vice versa. Ou até, quem ama o feio é porque a feiura da boniteza não lhe cause coisa alguma. Enquanto que a feiura do bonito seja algo que todo mundo note.

    Acontece que o feio e o bonito nada mais é do que um divisor de águas mesclando a sociedade quase que numa boiada demarcada e rotulada qual será que irá pra desfiles e leilões e qual irá pro abate.

    Preciosidades são relativas e a relatividade não detém manual de instruções. O feio é bonito e o bonito é feio, também. Carregamos esse "leitor de código de barras" ótico quase que inserido no nosso cotidiano e nos rendemos às pressões impostas e acredito não demorar muito, andaremos com um código de barras tatuado na nuca, chipado!

    Aprecio muito mais pedras de rio, quartzos enterrados em ruas em terra, que uma esmeralda engavetada que não se pode tocá-la, senti-la. Que valor ela terá, se não pode ser compartilhada a textura, a experiência, o tato? Chego a acreditar que, diante de tanta restrição, nos atribuem à ela um valor falso.
    E não, para mim, esmeraldas não me têm valor maior que quartzos ou pedras de rio. E também não me causam encantamento maior que por essas pedras que citei.

    Pedras de rio e diamantes, embora possuem sua composição diferenciada, vieram da mesma natureza.

    À que olhos bonitos ou feios diamantes e grafitos se tornaram "a bela e a fera"?

    Ambos possuem a mesma constituição química e diferenciam-se somente pela disposição de suas moléculas.

    Diante disso já se propõe que o que importa aos olhos do mundo é mesmo a embalagem, o arranjo, o polimento das condições, das expressões e não a essência que constitui tanto o micro quanto o macro. O macro é feito de que mesmo? não é do micro?!

    Fantasticamente você ainda Marcitcho, fez referência ao poema de Vinícius de Moraes que, com certeza ganhou e ainda ganha rótulos de machista, de agressivo e vulgar à olhos alienados somente pro bonito falso, e não natural.

    Mas isso, depende do olhar, não é mesmo?

    Ameiiiiiiiiiii meu querido.
    Showww como sempre.
    Te amoooo, tesouro meu.
    Sam.

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