![]() |
pedra de rio - by Google |
Mas, como definir se algo
é belo ou não, se tal condição é influenciada por padrões e opiniões extremamente
pessoais?
Já escutei tanto por
aí que “o feio não existe”, ou que “quem ama o feio é porque bonito lhe parece”,
que parei o que fazia e fui confrontar com os versos de Vinicius de Moraes (19/10/1913
– 09/07/1980), em RECEITA DE MULHER, onde ele cita que “...as muito feias que me
perdoem, mas beleza é fundamental”, para tentar traçar alguns parâmetros
próprios.
Veja que interessante
o caso do provérbio “quem ama o feio é porque bonito lhe parece”. Barão de
Itararé (Apparício Fernando Brinkerhoft Torelly – 29/01/1895 – 27/11/1971), um
dos fundadores da imprensa alternativa no Brasil, pegou o tal dito popular e
cravou: QUEM AMA O FEIO É PORQUE O BONITO NÃO APARECE.
Nos dois casos, tanto
no provérbio quanto na máxima do Barão de Itararé, nota-se a clara evidência de
que existe uma condição (ou padrão) para definir o que é feio ou não, e a
presença do pronome indefinido “quem” (em ambos os casos subentendido como alguém que) denota particularidade de
alguém. Em resumo, cada ser humano define seus padrões de beleza de modo
particular, segundo seus critérios.
Tal fato, acima
descrito, me leva a entender Vinicius quando ele cita que “...as muito feias que
me perdoem, mas beleza é fundamental”. E não me crucifique, assim como
crucificaram o poeta quando ele pariu tais versos. Primeiro, leia minha defesa
e justificativas.
Beleza e feiura
realmente existem. Mas que se tenha em mente a particularidade que já citei
acima e que leva cada um a definir o que é belo ou não. E é óbvio e correto
admitir que aquilo que é belo para uns, pode não ser belo para outros. Quando
se admite a condição de “beleza” para algo, é porque se buscou parâmetros para
estabelecer tal condição. Nada é belo unicamente por ser belo. Para ditar tal
afirmação, buscou-se elementos que agradem tanto ao nível de consciência quanto
de inconsciência da pessoa, como cor, textura, consistência, complexidade ou
não da composição, espaço onde tal coisa está disposta, ..., ..., ..., etc. São
incontáveis as variáveis, que combinadas ou não, podem definir a condição de
beleza para alguém que observe algo ou outro alguém.
Quando algo agrada aos
olhos, é porque alguma outra coisa desagrada e, assim, traça-se um parâmetro. E
ao admitir que a beleza existe, então admite-se, também, o oposto ou
antagônico a isso, ou seja, a existência do feio. Alguns dizem por aí que “é
mais politicamente correto dizer que
algo tem menor beleza”, em detrimento a dizer que algo é feio. Por que? Será que
a onda do politicamente correto vai me tolher até isso, definir o que acho belo
ou feio? Era só isso que faltava.
Já quanto a defesa
sobre eu entender o Vinícius, é simples. É um ponto de vista que ele tem (ou
tinha, claro). Ele se sentia bem diante daquilo que achava belo. É claro que
discordo da palavra “fundamental”, com a qual ele fecha o verso. Ops... fecha o
verso? Pois é, fecha o verso e não a poesia, e tem muitos outros versos até chegar no fim. Mas as pessoas, ao fazerem referência sobre essa obra, lembram apenas desses versos iniciais, ignorando (propositalmente ou não) o restante da obra. Não serei eu a dizer para alguém gostar ou desgostar, ou achar bela ou feia a composição do Vinícius, mas que muitos criticam tal obra, tachando-a de "machista" sem ao menos conhecê-la, isso criticam. Eis, então, os versos finais da poesia (existe o meio também, então, trate de conhecer primeiro a íntegra e criticar apenas depois de ler o todo):
“...e em sua
incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.”
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.”
Não advogarei em favor
de Vinicius, pois muito do que ele cita durante o meio da poesia vai em direção oposta aquilo que penso,
mas entendo quando ele classifica e descreve seus padrões de beleza para a mulher.
Já nesses versos finais, nesses sim eu me encontro, concordando que é diante da
imperfeição de cada um que construímos a beleza encontrada em outro alguém. Ninguém
é perfeito, mas pode ser belo ou feio para outro alguém. E isso, meu amigo, é uma reação absolutamente natural do ser humano. Gostar ou não de algo. Achar que alguma coisa ou alguém tem beleza ou não.
Não é feio definir a
existência ou não de beleza, taxando isso ou aquilo de feio ou belo. A feiura
está na hipocrisia, ao se omitir uma opinião verdadeira para ganhar algo com
isso. A feiura está, também, no fato de se espezinhar algo por não achar beleza
em tal coisa. Isso é muito feio.
Faltou falar sobre
algo? Ah! O título da crônica, claro. Eu explico.
![]() |
pedra de quartzo não lapidado - by Google |
Jamais negarei que
jades, esmeraldas, rubis ou diamantes são belos. É claro que são. E além de
belos, trazem status e são caros. Mas, para meus olhos, a beleza verdadeira
repousa em pedras deitadas no leito de um rio de águas claras. Mas, repare que
escrevi “deitadas no leito de um rio”. São de uma beleza sem igual, ainda mais
quando completadas pela beleza tranquila das águas claras passando sobre elas e
pelo ambiente calmo, salutar e contagiante da natureza em todo o entorno. No
entanto, se essas pedras forem retiradas de seu ambiente e expostas em qualquer
outro canto sem água ou sem natureza, honestamente, perdem a graça para mim.
É claro que tudo o que
está no parágrafo acima foi definido mediante meus conceitos de beleza. Cada um
tem os seus conceitos, e muitos preferem observar um diamante numa redoma,
cercado de segurança por todos os lados, pessoas empoladas, muitos recheados de
inveja, e o pior, sem sequer saber se aquela pedra na redoma é ou não
verdadeira. Minhas pedras de rio, essas eu sei que, se estão lá sob a água, são
reais.
Para finalizar, digo
que as pedras puras de quartzo também me atraem muito os olhos.
Como dizem por aí, "a beleza está nos olhos de quem a vê", ou ainda melhor, "cada um com seu cada um", não é?
Marcio Rutes
saiba mais:
Para ler a poesia RECEITA DE MULHER, de Vinicius de Moraes, clique aqui
Para ler e, também, ouvir a poesia RECEITA DE MULHER, de Vinicius de Moraes, clique aqui.
Nossa!!! Deixe-me tomar fôlego para me referir a esta beleza que meus olhos leram, conheceram, desvendaram e por ela foram desvendados.
ResponderExcluirFoi com muita propriedade (como sempre acontece) que você abordou esse "o bonito é de cada um" de uma maneira completamente fantástica, juntando retalhos, peças, alinhavando e construindo uma rede bonita demais pros olhos meus de informação, poesia, simpatia, ponto de vista entre outros tantos atributos que você sabe lançar mão como ninguém.
Sempre digo que não importa o que seja, podemos não aceitar algo, mas no mínimo respeitar. E a beleza está sim nos olhos de quem vê, nas experiências de quem vive, na pele de quem sente. Assim como a dita "feiura", também está nos mesmos olhos de quem não vê ou não quer ver.
Aliás, o feio é bonito quando lhe convém.
Talvez por civilidade ou por "discriminação", fomos padronizando comportamentos e rotulando-os como tidos "normais" e qualquer desvio era simplesmente descartado, ignorado, ridicularizado.
(Não esquecendo que no meu ponto de vista, a discriminação pode ser negativa ou positiva, pois nada mais é que um "diferenciamento"... mas isso é outra história, embora caiba muito bem aqui rs)
Quem ama o feio é porque bonito lhe parece, ou vice versa. Ou até, quem ama o feio é porque a feiura da boniteza não lhe cause coisa alguma. Enquanto que a feiura do bonito seja algo que todo mundo note.
Acontece que o feio e o bonito nada mais é do que um divisor de águas mesclando a sociedade quase que numa boiada demarcada e rotulada qual será que irá pra desfiles e leilões e qual irá pro abate.
Preciosidades são relativas e a relatividade não detém manual de instruções. O feio é bonito e o bonito é feio, também. Carregamos esse "leitor de código de barras" ótico quase que inserido no nosso cotidiano e nos rendemos às pressões impostas e acredito não demorar muito, andaremos com um código de barras tatuado na nuca, chipado!
Aprecio muito mais pedras de rio, quartzos enterrados em ruas em terra, que uma esmeralda engavetada que não se pode tocá-la, senti-la. Que valor ela terá, se não pode ser compartilhada a textura, a experiência, o tato? Chego a acreditar que, diante de tanta restrição, nos atribuem à ela um valor falso.
E não, para mim, esmeraldas não me têm valor maior que quartzos ou pedras de rio. E também não me causam encantamento maior que por essas pedras que citei.
Pedras de rio e diamantes, embora possuem sua composição diferenciada, vieram da mesma natureza.
À que olhos bonitos ou feios diamantes e grafitos se tornaram "a bela e a fera"?
Ambos possuem a mesma constituição química e diferenciam-se somente pela disposição de suas moléculas.
Diante disso já se propõe que o que importa aos olhos do mundo é mesmo a embalagem, o arranjo, o polimento das condições, das expressões e não a essência que constitui tanto o micro quanto o macro. O macro é feito de que mesmo? não é do micro?!
Fantasticamente você ainda Marcitcho, fez referência ao poema de Vinícius de Moraes que, com certeza ganhou e ainda ganha rótulos de machista, de agressivo e vulgar à olhos alienados somente pro bonito falso, e não natural.
Mas isso, depende do olhar, não é mesmo?
Ameiiiiiiiiiii meu querido.
Showww como sempre.
Te amoooo, tesouro meu.
Sam.