quarta-feira, 14 de agosto de 2013

DORINHA E UMA CHAPEUZINHO VERMELHO BEM DIFERENTE (série RECONTANDO UM CONTO)

Chapeuzinho Vermelho - by Google
―Papis, ninguém matou o lobo!

―Filha, olha bem. Isso é o que diz aqui no conto que li. A vovó da Chapeuzinho Vermelho precisava ser resgatada, então, os lenhadores...

―Eu vi o lobo ontem ainda, papis. E ele tava vivinho da Silva. Até brincou com o Jú! Só acho que ele tinha que parar de ser assim, tão teimoso. Tadinha da vovó. Mas ele não é tão mau assim, viu! É só no conto.

­―Essa tua imaginação é muito fértil, Dorinha. Agora, vai dormir, vai! Amanhã vamos cuidar do nosso jardim, e quero você bem disposta pra me ajudar com as lavandas.

Como acontecia em todas as noites, o pai mal virava as costas, e lá ia a menina chamar por seu cachorro, o Jujubão.  Ele entrava e já ia tratando de deitar no tapete, pois sabia que a viagem para o mundo dos sonhos não demoraria.

―Jú, hoje vamos ter trabalho duro. Temos que dar um jeito desse Lobo Mau parar de azucrinar a vovó e a coitada da Chapeuzinho. Mas acho que não vamos conseguir sozinhos. Vou precisar da ajuda de mais alguém.

E assim, Dorinha adormeceu, iniciando o encantamento que levava a cada noite tanto ela quanto seu mascote para o mundo mágico dos sonhos. A chegada no mundo mágico era sempre uma festa, mas a pressa em procurar por Chapeuzinho Vermelho era grande, e Dorinha pouco parou para brincar. Precisava conversar com Chapeuzinho Vermelho e, assim, bolar um jeito de dar uma lição no Lobo Mau.

Procuraram por todos os cantos, mas não encontraram ninguém. Sequer a casa da vovó tinha alguém para dar informações. Mas, em compensação, o lobo andava espreitando, zanzanando por todos os cantos.

―E agora, Jú? O que eu faço?

O cachorro latiu repentinamente, e apontou o focinho para o alto. Lá, a estrela cadente que dava magia para a menina corria de um lado para o outro. E num estalo, Dorinha teve uma idéia.

―Você é muito esperto, Jú! Bem pensando. Eu posso trazer quem eu quiser aqui, pro nosso mundo. Vou procurar uma criança que esteja dormindo agora, que adore animais e, principalmente, doces. Pois assim, se o lobo tentar passar a perna na gente, ela me ajuda a defender os doces.

Pensando dessa maneira, Dorinha sentou e fechou os olhos. Concentrou-se o máximo que pode e, como num passe de mágica, alguém apareceu diante dela, mas não era uma criança, e sim uma moça já bem grandinha, e que tomou o maior susto.

―Onde eu estou? ―a moça perguntou, olhando tudo ao redor e achando lindo cada coisa em que seus olhos repousavam. ―É um sonho? Se for, é meu sonho de uma vida inteira.

Repentinamente, a moça começou a encolher, encolher, até se transformar em criança. Dorinha, que estranhara o fato de ter trazido alguém adulto para seu mundo mágico, logo entendeu o porquê disso ter acontecido. A moça, possivelmente, tinha uma alma de criança muito ativa, e agora, o mundo mágico estava cuidando para que ela assumisse essa forma.

―Olá! Eu sou Dorinha, e você está no meu mundo mágico. Ah! Sim. Este aqui é o Jujubão, meu cachorro. E você, quem é?

―Eu? ―a moça, agora uma meninota de uns 10 anos de idade, olhava assustada para suas mãos e pernas, que terminavam de encolher. ­―Samara... Samara Bassi. Mas, o que é que está acontecendo aqui, afinal?

Em menos de 15 minutos, Dorinha e seu jeito bem convincente colocaram a nova visitante do mundo mágico a par de toda a situação. Estranhamente, e sem duvidar de nada, a pequena Samara estava eufórica e afoita para encontrar o Lobo. Mas Dorinha sabia que não seria fácil convencer aquele cabeça-dura a parar de atormentar a vida dos habitantes daquele lugar. Então, sentaram e bolaram um plano. Substituiriam Chapeuzinho Vermelho e a vovózinha.

―Pois é! ―Dorinha deu de ombros, desanimada. ―Mas, nem a vovó está em casa. Quem poderíamos usar para substituir a vovó?

―Já sei! ―a pequena Samara comentou, cochichando no ouvido de Dorinha. ­―Será perfeito. Mas não podemos fazer agora, senão pode dar errado. Depois você chama nossa nova vovózinha. Vamos pra casa do bosque preparar tudo?

E assim, as duas meninas e o cachorro foram para o bosque. Correram e brincaram com os animais, comeram frutas pelo caminho e, por pouco, não esquecem do que pretendiam. Até que, do nada, apareceu algo que prendeu a atenção da pequena Samara.

―Dorinhaaaaaa... aqui. Vamos usar essa casa.

­―Não dá, Samara. Essa é a casa da bruxa que tenta pegar João e Maria. A casa da vovó é outra.

Chapeuzinho Vermelho - by Google
Samara parou diante da casa e arregalou os olhos. As paredes eram de chocolate ao leite com flocos e amendoim torrado, o telhado era de doce quebra-queixo, as portas de waffer, as janelas de gelatina, e ainda tinha sorvetes, balas e pirulitos enfeitando tudo.

―Mas... mas... mas... ela parece vazia. Não vai fazer diferença. Vamos, Dorinha. E olha. Lá dentro tem uma cama pra vovózinha. Tem tudo o que precisamos.

Dorinha não entendia muito bem as intenções da nova amiguinha, mas enfim, concordou. Afinal, não poderiam esperar muito, e logo o lobo apareceria. Então, entraram e se aprontaram para chamar mais alguém para substituir a vovó. Mas quando Dorinha se virou para chamar Samara, viu a amiguinha subida numa cadeira, tentando arrancar alguns caramelos que estavam na parede. Até na porta já faltava um pedaço de chocolate, e que era justamente a maçaneta.

―Samara, o que você está fazendo? Não pode comer a casa da bruxa. Isso é de outra história!

―Ah! Ela nem vai sentir falta de um pedacinho. E depois, to pegando um pouco pra encher a cestinha que vou levar pra enganar o lobo.

As duas sentaram e Dorinha tratou logo de chamar a nova vovó.

―Tem certeza, Samara? Isso me parece meio estranho!

―Vai por mim! É a pessoa certinha pra substituir a vovó. É meio cri-cri, mas vai ajudar bastante.

Jujubão, que pressentia algo estranho, cobriu os olhos. Em instantes, outra pessoa adulta aparecia no mundo mágico, e logo em seguida, se transformava em criança. E exatamente como da outra vez, o susto veio junto.

―O que eu estou fazendo aqui? E por que eu encolhi? To criança... eeeeeeeiiii. Eu conheço você! Samara, você encolheu? Voltou a ser criança?

­―Oi, ratinho branco! ―Samara cumprimentou o menino que acabara de aparecer.

―Olá. Eu sou Dorinha! E você é o Cri-crílo, quer dizer, o Marcio, amigo da Samara, não é?

O menino não estava entendendo patavinas, mas logo foi colocado a par de tudo. E mais uma vez, Dorinha utilizou sua magia para fazer com que tudo fosse compreendido.

―Mas, por que eu tenho que ser a vovó? Eu não quero ser a vovó. Eu quero ser o caçador...

―Cri-crilo, você vai ser a vovó sim. E não reclama. ­―taxativa, Samara olhou para o menino, e entregou-lhe algumas roupas.

―Isso é uma calçola. E isso uma camisola. Eu não quero usar isso.

―Shhhhhhhhhhh... senão não vai mais comer leite em pó. E nada de ficar comendo as paredes da casa enquanto estivermos lá fora. ―Samara arrebitava o pequeno nariz e levantava o dedinho enquanto falava com o menino, que só a olhava e atendia.

Enquanto tudo se resolvia com relação a vovó, Dorinha tratou de preparar a roupa da nova Chapeuzinho.

―Dorinha, eu posso ser a Chapeuzinho Roxo? Posso, posso, posso? Diz que sim, diiiiiiiizzzz!!!!! E posso comer uns algodões-doces que estão nascendo ali no quintal da bruxa?

Depois de algum tempo, e com o Cri-crilo... digo, com o menino a postos dentro da casa, Dorinha e Samara foram para a floresta. Não tiveram nenhum problema para localizar o lobo, mas estranharam ao vê-lo com um par de fones de ouvido nas orelhas.

―O que ele está fazendo? Ouvindo música? ―Dorinha perguntou, estranhando a situação. ―Acho que não. Parece que está no telefone. Vai lá, Samara. E não esquece de cantar a musiquinha.

Samara saiu de onde estava escondida e começou a andar, fingindo que estava indo para a casa da vovó. Mas cantar, isso era outra história, principalmente porque ela sequer lembrava da música que fazia parte daquele conto. O jeito foi improvisar.

Jingle Bells, Jingle Bells,
acabou o papel.
Não faz mal, não faz mal,
embrulha com jornal”.

―Essa não. ­―Dorinha chamou, pedindo que Samara cantasse a música certa.

­―Mas, e qual é a música certa? Eu não lembro!

­―Canta qualquer uma, menos uma de Natal, senão o Papai Noel vai achar que é com ele.

Quando Dorinha falou que poderia ser qualquer uma, Samara ficou pensando. Música de lobo. Lobo Mau. Lobo que devora a vovó. Devora.

Chapeuzinho Vermelho - by Google
Teus sinais
me confundem da cabeça aos pés
mas por dentro eu te devoro.
Teu olhar não me diz exato quem tu és
mesmo assim eu te devoro...
Te devoraria a qualquer preço,
porque te ignoro, te conheço,
quando chove ou quando faz frio...
”.

E nada do lobo prestar atenção.

―Ei, seu lobo bobo. O que você tá fazendo que não me deu trela?

O lobo olhou para Samara e estranhou. Aquela não era a Chapeuzinho Vermelho, então, foi até ela e começou a fazer perguntas.

―Escuta. Cadê a Chapeuzinho Vermelho? To esperando ela faz um tempão e nada. Tava vendo aqui o meu Facebook, e ela nem avisou nada que não viria.

―Ah! Bom... quer dizer! ―aquilo não estava nos planos, mas Samara improvisou como pode. ―É que ela foi tratar os bixinhos dela que estão dodóis. Parece que o porquinho tá com gripe do frango, e ela não pode vir hoje. Eu sou a prima dela, a Chapeuzinho Roxo.

―Bom, então, acho que vou tirar o dia de folga. ­―o lobo comentou calmamente, colocando os fones no ouvido. ―Escute, menina, você gosta de “Ah Lelek Lek Lek Lek”? Adoro essa música.

―Tá besta, é? Isso não é música pra criança. E você, pare de ser folgado e vai jáááááá pra casa da vovó, que to indo levar esses doces pra ela. Tá pensando que isso aqui é casa da mãe Joana, é?

―Eita, que menina estressada. Eu devia ter aceitado aquele bico lá na história dos Três Porquinhos. O cachê tava melhor, e não tinha tanta gente dando pití!

―E por que não foi, então?

―Minha asma. E tenho rinite também. Esse negócio de soprar, soprar, soprar... isso acaba comigo. Mas, vou indo. Até mais.

―Ei, seu lobo! ―Samara chamou, fazendo o lobo suspirar. ―A vovó está na casa da bruxa. Parece que o pessoal do controle da dengue passou lá na casa dela pra pulverizar. Hehe.

―Escuta, baixinha. ―o lobo comentou, nitidamente irritado. ―Você não está complicando demais essa história?

―Baixinha é a mãe da mãe da sua mãe! E tem mais. Aqui é o mundo mágico, e eu posso tudo. Xispa daqui já! Vai logo, porque senão o Cri-crílo... digo, a vovó vai cansar de esperar.

O lobo baixou os ombros e começou a andar, balançando negativamente a cabeça.

―Bem que meu mapa astral avisou que hoje não seria um bom dia! Eu devia ter ficado na cama! Mas, esperar o que de um lobo que é do signo de leão com ascendente em peixes? Só podia dar nessa bagunça!

Enquanto o lobo se afastava, Dorinha saiu de onde estava e correu para encontrar a pequena Samara. As duas ficaram observando o lobo, e quando Dorinha se virou para conversar com a amiga, se espantou. Ela não estava mais ali.

―Samaraaaaa. ―Dorinha chamava, tentando falar baixo para não chamar a atenção do lobo. ―Cadê você?

―Aqui em cima. ―a voz de Samara soou próxima, mas Dorinha não conseguia localizá-la. ­―Aqui em cima dessa árvore esquisita, Dorinha. Olha só! É um pé que dá umas frutas esquisitas. Parece goiaba, mas quando eu abro, tem macarrão com molho. Eu não quero mais sair daqui.

―Aiai... ―Dorinha suspirou. ―Esqueci que é a primeira vez dela por aqui, e qualquer desejo se torna realidade. Isso vai ser mais difícil do que eu pensava.

Algum tempo depois, Dorinha, Samara e Jujubão chegavam na casa feita de doces e que pertencia a bruxa das histórias de João e Maria. Os três correram para alguns arbustos, que pareciam feitos de folhas de gelatina, e ficaram escutando e observando. Nada. Nem um pio que fosse.

―Ai, ai, ai. Será que o lobo pegou o Cri-crílo, Samara?

―Sossega, Dorinha. Conheço bem o Cri-crílo. Se aquele lá começou a falar, o lobo deve ter desanimado de vez e dormiu. Vamos lá ver.

―Tá. Então, coloca teu capuz vermelho... quero dizer, capuz roxo, prepara a surpresa que tá no cesto de doces, e vai lá. Eu e o Jujubão vamos ficar aqui fora esperando ele sair.

Samara se ajeitou toda e parou bem perto da porta da casa. Silêncio. Ela abriou lentamente a porta e entrou, indo diretamente para o quarto. Lá, mais silêncio. Mas ela reparou que alguém estava na cama, com as cobertas puxadas até a cabeça. E pelo tamanho, não era o Cri-crílo.

Quando Samara chegou mais perto, reparou os pés do lobo para fora do cobertor, e foi logo falando.

―Eita, vovó. Que pé peludo que você tem! Uma depilação ia bem, né?

―São minhas... ―o lobo começou a falar naturalmente, mas parou e afinou a voz, tentando imitar a vovó. ―São minhas meias de lã, minha netinha. A vovó morre de frio nos pés, e isso faz um mal danado pro reumatismo.

―Hum! Sei. Ihhh! Vovó, que mão grande você tem. E que coisa mais feia! Pode parar tudo. Vamos cortar já essas unhas, principalmente essa unha comprida no mindinho. Ecaaaa.

A menina abriu uma das gavetas da cômoda e achou o que queria. Um cortador de unhas. O lobo, assustado, se agitou todo, mas não teve escapatória. Samara agarrou sua pata e tascou-lhe o cortador, fazendo voar pedaços de unha para todos os lados.

―Pronto. Agora tá mais bonitinha. Só falta pintar. Que cor você quer, vovó?

E novamente, o lobo se agitou inteiro, mas de pouco adiantou.

―Vovó... que orelhão enoooooooorme.

―É pra te escutar melhor minha... ―o lobo parou de falar e viu Samara se aproximar com um objeto estranho, parecendo um pequeno aspirador de pó. ―Ei, o que você pensa que vai fazer? Pare... não... socorrooooooo.

―Pode ficar quietinha, vovó. Tá cheio de sujeira nesse orelhão. Volta aqui, vovó.

O lobo pulou da cama e desistiu da encenação que fazia. Correu para a parede e ficou ali, tremendo como vara verde. De repente, a porta do quarto abriu e o lobo se assustou mais ainda.

―Cri-crílo! Tá tudo bem com você?

―Tá sim. Mas esse lobo bobo é muito folgado.

O lobo, repentinamente, começou a chorar. Quando abriu a boca, Samara reparou que ele estava com alguns dentes quebrados.

―O que foi, lobinho? O que o Cri-crílo fez com você? ―Samara amansou a voz, começando a se preocupar com o lobo.

―Eu falei que ia devorar ele, como tá no script da história, e ele saiu dando risada. Daí, vi que ele tava comendo alguma coisa, e fiquei com vontade. Mas ele não quis me dar.

―Oras, ele quis pegar meu leite em pó. Disse que ia pegar de qualquer jeito, e saiu correndo atrás de mim.  Daí, sai de lado e ele caiu em cima do penico que tava ali do lado.

―Buááááá. ―o lobo começou a chorar, descontrolado. ―Essa vovó é maluca. Depois, ficou me falando um monte na orelha, dizendo que eu era muito mal, isso e aquilo. Por último, me fez sentar na cadeira e disse que se eu queria imitar a vovó, eu tinha que me maquiar. E me passou pó-de-mico no nariz. Buáááá.

―Vovó, uma vírgula. Só porque to com essa calçola, essa touca e essa camisola, é? Vou te mostrar quem é a vovó aqui!

O corre-corre foi geral. Dorinha e Jujubão, que estavam do lado de fora, escutaram a barulheira e correram para dentro. Jujubão, ao ver o lobo correndo, pulou e tentou morder seu rabo, mas o que conseguiu pegar foi justamente a barra da camisola que o Cri-crílo estava usando, que acabou tropeçando e caindo perto de Samara.

Dorinha, assustada, não sabia o que fazer. Jujubão latia e corria atrás do lobo, que para se esconder das coisas que o Cri-crílo jogava nele, tentava subir na mesa. Fora da confusão, Samara descascava alguns caramelos e aproveitava para descansar um pouco numa rede ao canto da sala. E a bagunça só aumentava, até que um grito se fez ouvir.

―Paaaaarem. O que é isso? Tão pensando que isso aqui é a casa da mãe Joana, é?

Todos pararam e olharam para a porta. O lobo foi o primeiro a respirar e falar algo.

―Vovó! Que bom que você chegou. Esse povo é louco.

Dorinha estranhou, pois conhecia aquela senhora de outros sonhos, e sabia que ela não era a vovó da Chapeuzinho.

―Não é a vovó! É a bruxa do Joãozinho e Maria.

―Podem parar. ―a velha senhora tornou a tentar colocar ordem em tudo. ―Eu sou as duas. Tanto a vovó quanto a bruxa. A vida dos contos de fada anda um tanto difícil, e só com uma aposentadoria, não tem como viver. Trabalho lá e faço um bico aqui. E hoje, eu precisei substituir o coelho da Alice, que tá com conjuntivite. Esse mundo mágico já não anda mais o mesmo.

Aos poucos, tudo foi se esclarecendo, e as crianças entenderam que tudo o que acontecia ali era apenas fruto da imaginação de cada um. Entenderam, também, que alguns animais utilizados como vilões nas histórinhas infantis não são maus, justamente como o lobo de Chapeuzinho Vermelho. Precisavam de um vilão, e sobrou para ele.

―Desculpa, seu lobo! ―Dorinha chegou bem perto dele e fez um carinho. ―Eu achei que você era mal porque vivia perseguindo a Chapeuzinho. Mas, também, ninguém me explica essas coisas. E desculpa também, vovó, por nós comermos sua casa. Daqui a pouco o Joãozinho e Maria chegam, e tudo tá bagunçado.

A vovó, vendo a preocupação da menina, levantou a mão e estalou os dedos. Tudo começou a girar e, para surpresa de todos, tudo voltou ao normal.

―Aqui é o mundo mágico, Dorinha. Aqui, se o coração for puro, tudo pode. Mas quanto a você, menino. Tira jáááááááá minha camisola. E pára de comer meu leite em pó.

O lobo, mais calmo, olhou para o lado e viu a cesta de doces que Samara esquecera largada. Quando retirou o guardanapo que recobria os doces, lambeu-se todo e lembrou que na confusão, acabou sem comer nada. Em poucas bocadas, comeu todo o conteúdo do cesto.

―Seu lobo, não faz isso!

Quando Samara gritou, já era tarde demais. O lobo estranhou e colocou as mãos na barriga, sentindo que ela começava a fazer um barulho estranho. Torceu daqui, remexeu dali, e pálido, perguntou.

―O que tinha nesses doces? Seus pestinhas, o que vocês fizeram?

―Bom... foi ideia da Samara, seu lobo.

―Ideia minha nada, Dorinha. Foi coisa do Cri-crílo.

Todos silenciaram e olharam para o menino, que se esbaldava novamente com a lata de leite em pó da vovó.

­―Esquenta não, seu lobo. Foi só um pouco de purgante pra elefante que eu coloquei nos doces. Só um vidrinho.

―Cri-críloooooooooo. Eram só duas gotas, seu maluco.

E assim, a noite acabou. Dorinha, quando acordou, correu para olhar o livro de histórias de seu pai. Lá, um desenho mostrava a bagunça que eles armaram no mundo mágico. Mais para o fim do conto, em outra imagem, o lobo aparecia correndo para o supermercado, para comprar papel higiênico. E Dorinha sorriu novamente, sabendo agora que os contos são para divertir e ensinar algo.

O que ela aprendeu? Que não se deve prejulgar nada, e nem se prender em preconceitos. Antes de condenar, é preciso entender e saber exatamente o que está acontecendo. Ou alguém pode acabar pagando injustamente, exatamente como aconteceu com o lobo.

Chapeuzinho Vermelho - by Google
Em outra parte do mundo, a pequena Samara e o Cri-crílo também acordavam. Algumas frutas estranhas, na cômoda do quarto de Samara, deram a certeza de que tudo o que viveram fora pura realidade. Ela pegou uma das frutas e retirou uma tampinha no topo. Dentro da fruta, uma bela e suculenta porção de macarronada.

―Mas, se foi tudo verdade, então...

Samara, ficou imaginando o que Dorinha deixara de presente para o Cri-crílo.

―Se para mim ela deixou essas frutas de macarronada, então para ele, só pode ter dado uma enorme lata de leite em pó.

Assim ela imaginou, mas teria caído na gargalhada se pudesse vê-lo agora, completamente irritado e sem entender o que estava acontecendo.

―Que trem é esse? Samaraaaaaa! Dorinhaaaaa! Por que eu estou vestido com essa camisola e essa calçolaaaaaaaaaa?


Marcio Rutes



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Não raro, algumas pessoas se tornam especiais na vida de outras pessoas. São seres cativantes e especiais, que chegam para somar, para ajudar a abraçar a vida de um jeito ainda mais gostoso.

Esta série de contos infanto-juvenis está ainda em seu início, e este em especial fugirá um pouco da estrutura imaginada por mim. Mas o motivo é por demais especial.

Este conto da Dorinha foi especialmente escrito para homenagear SAMARA BASSI, tanto que a própria Samara (junto a mim, o Cri-crílo Marcio) virou personagem.

Samara, sei que o que estou te dando é quase nada, mas é aquilo que sei fazer, que é te tocar o coração com minhas palavras. 

FELIZ ANIVERSÁRIO meu amor.



3 comentários:

  1. E foi diante dessa habilidade com que você teceu uma história completada por partículas de tantas outras, que me perdi num riso com sabor de doce, de fruta, com sabor de vida, com cheiro de alegria brotando e frutificando nesse mundo mágico, onde sonhos são realidades e a realidade é sonhada sempre sem amarras.

    A felicidade se esbarra o tempo todo na diversão, no riso fácil, ora surpreso mas sempre verdadeiro.

    A puerilidade acrescentada de magia torna essa brincadeira um tesouro imenso pra se carregar nos olhos e semear por todos os cantos, com o mesmo encanto que você criou.
    Você é assim, né? encantado! Apaixonante!

    Sempre me impressiono com a capacidade, a habilidade que você tem, Má, de fluir, de intensificar, de acontecer histórias mágicas suas, tramando, confabulando, tecendo a partir de outras histórias como essa, assim como outras que tive a alegria de conhecer, um mundo a parte, mas com a sua marca, com a sua energia - tão especial, tão maravilhosa e inconfundível.

    Todos os elementos, colocados todos sob medida, como eles interagiram, como se entranharam de maneira mágica na história. Tudo perfeito. Até o meu "CriCrilo" entrou na festa hehe.

    Sinto a alegria verter de teus olhos e também a senti brotar de teu sorriso ao ler para mim sua majestosa criação. E não há nada que me faça mais feliz como simplicidades assim, como as suas, como essas - entregues verdadeiramente com mãos do coração.

    Esse mundo que parece tão distante, mas não, e está sempre ao alcance daqueles que se empenham em buscá-lo, em experimentá-lo.

    Você cativa e tudo que você cria meu amor, cativa. Pois é você ali. É você junto com elementos que você ama e que fazem parte da sua vida de alguma maneira.

    Admiro sua dedicação e empenho temperados com amor, esse jeito fabuloso de ser, de acreditar nas nossas próprias histórias, nos nossos contos, na nossa capacidade de sonhar e com isso, tudo poder fazer.

    Te confesso que eu não esperava, sequer imaginava me encontrar no meio dessa maravilhosa arquitetura sua, e até minha mãe entrou no meio, vamos dizer assim! rsrs

    Detalhes que você usou pelo seu simples poder de observação, de contemplação que deram e sempre dão o toque especial que você sempre saber dar, na medida certa.

    E digo mais, você só escreve para os corações que se permitem ser tocados, acariciados. Você só escreve para a alma das pessoas. E sempre foi assim, não é?

    E felizes são aqueles que te "escutam nas linhas e entrelinhas". Mais felizes são! Eu Sou!

    Sinto-me mais que presentada, amor meu, sinto-me imersa numa "piscina de bolinhas" tamanha é a sensação de alegria, satisfação e expansividade de alma por estar nessa sua brincadeira gostosa.

    Eu ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiii tudo, tudo meu amor.
    Receba o meu beijo mais intenso e o meu abraço mais demorado, mais apertado, mais perfumado.

    Amei ainda a sua arte com laço de fita como presente pro meu coração. E saiba que temos sim e recebemos sempre os presentes da vida.

    Mas VOCÊ é que tem sido o meu presente todos os dias.

    Coração agradece, vida minha!
    EU TE AMO!
    Sam.

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  2. Eu fiquei lendo enquanto pensava: de onde saiu tanta imaginação, meu Deus?!
    Um coração apaixonado é capaz de tudo, o coração puro é passaporte para a magia, onde nem as mensagens de aprendizado foram esquecidas!

    Puro deleite, adorei "ver" os adultos encolhendo e povoando o mundoi infantil. Essa ousadia de juntar personagens deu à história um colorido inesquecível... parabéns ao seu criador e um abraço apertado e cheio de carinho na criatura, feliz aniversário, Sam!!!!

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  3. Risos...
    Meu Deus do céu! Você é d+ maninho rsrsrs
    Amei!Até copiei aqui para ler depois com mais calma para Felipe e os meninos.
    Vim matar saudades.

    Fica com um beijo.
    Fernanda

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