"Gosto muito de escrever, mas ninguém me nota. As editoras não querem lançar autores novos ou sem expressão. O leitor não quer ler autor novato... etc... etc... etc..."
Pois é. Enquanto alguns reclamam, outros agem. Trombam daqui, se apertam dali, escrevem nas redes sociais e blogs e, quando vemos, estão lançando seus livros. Você pode até torcer o nariz e dizer que "são livros lançados pelo sistema de auto-edição", mas são livros e, o mais importante, foram escritos e lançados. Estão disponíveis para serem lidos, e não engavetados nas reclamações de alguns autores que passam a vida reclamando do mercado editorial.
E esses livros? São bons? Têm qualidade?
Gostar ou não é algo muito pessoal. E só se pode afirmar se algo é bom ou não depois de conhecer aquilo que se quer avaliar.
"Teoria das inspirações para deixar o ar entrar" (2013, editado pela autora), de SAMARA BASSI, é um livro lançado pelo sistema de auto-edição. E com muito orgulho, fui escolhido para escrever o prefácio.
É um bom livro? Sim, gostei muito. Mas, cabe a cada um julgar, não é? No entanto, e pensando nisso, bati um papo descontraído com a autora, Samara Bassi. Mergulhe nas perguntas abaixo e, por sua conta, comece a conhecer um pouco mais da autora e de sua obra.
Marcio Rutes
Apresento SAMARA BASSI.
Crônicas
de Areia - Segundo suas
próprias palavras, é “uma delícia a sensação de sair de
uma livraria com o seu mais novo brinquedinho. Um livro novinho nas mãos,
sempre tem cheirinho de felicidade.”
E qual é a sensação
de ter em mãos um livro “novinho” e escrito por você?
Samara
Bassi - Continua sendo de felicidade, com certeza. E quer saber? Não tem muita
diferença não quando se está segurando nas mãos o que tanto nos enamora o
coração.
Livro pra mim é
igual doce com uma certa confusão: não sei ao certo se é a gente que devora a
ele, ou se é ele que devora a gente. Só sei que se sai lambuzado, de qualquer
maneira.
C.A.
- Você é blogueira e
participa (ou já participou) de redes sociais como o Facebook, Twitter e Orkut.
Nesses lugares o que mais se faz é “compartilhar” textos ou trechos de textos
de outros autores, famosos ou não. Mas existem muitos autores bons e produzindo
textos de qualidade.
Existe espaço para
esses autores do mundo virtual, ou a tendência é que a obra produzida por eles
acabe soterrada com a demanda diária de informação criada na grande rede?
S.B. - Sim, há espaço
para todos no mundo virtual e sabendo que há, vamos dizer assim, uma democracia
na rede, cada um pode escolher e criar como desejar, a sua forma de expressão,
seja ela escrita ou não. Mas é justamente por essa demanda diária de
informações que nos atinge de forma exponencial, que milhares de fantásticos
escritores se “perdem” a esse universo de tantos outros, tão bons quanto!
No meu entendimento,
torna-se necessário criar mecanismos de pesquisa que filtrem com mais precisão
tais informações por interesse, por demanda, por público alvo, diminuindo um
pouco esse soterramento. Claro que a concorrência vai existir... mas é bem melhor
quando é “cada um no seu quadrado” (risos).
C.A.
- Quando você se deu conta de que
gostava de escrever?
S.B. - Acredito que não
há e mesmo que eu procure, não encontre esse “tempo marcado” em lugar nenhum.
Esse “dar conta” na verdade, quase sempre não nos conta muito, ou não nos conta
nada. São “pequenezas” que fluem com o cotidiano e se misturam. E garanto:
confundem até a gente mesmo.
Não sou escritora,
nem gosto de ser considerada assim. Sou é “dedo-duro” do que meus olhos gravam
e do que meu coração insiste em sentir. E só.
C.A.
- Citei, recentemente, que você
“amanuelou”, e não foi por acaso. Qual é a influência que Manuel Bandeira e
Manoel de Barros têm no seu jeito de escrever?
S.B. – (risos) Gostei
desse “trocadilho” maroto. O Manuel Bandeira eu comecei a ter contato ainda
quando estudava, nas aulas de literatura da escola e nas dos cursinhos
livres. Talvez essa “obrigação” tenha
despertado algo que me agradasse dali em diante.
Agora o Manoel (de
Barros), ahhh esse foi um acaso muito bom de ter conhecido! (risos).
Bem mais recente,
foi quem realmente ganhou meu coração e mesmo que ele não saiba, também ganha
de vez em quando uma “neta”. Fui tendo contato com os escritos dele, trechos,
poemas e me encantando, me encontrando nessa forma como ele cativava o riso, a
lembrança, a infância, os elementos que utilizava. Senti como se o conhecesse
há anos e hoje ainda é assim. Quando me dei conta, toda essa escrita que me
fascinava, pertencia ao mesmo autor. Conheci a criatura muito antes do criador.
C.A.
- Quem mais influencia no seu
estilo de escrever?
S.B. - Não sou dada a
estilos bem estruturados, nem entendo de métricas ou linguagens literárias. Mas
confesso que o que me influencia mesmo é o mundo, o meu mundo e as pequenezas
que nele acrescento com um pouco do que outros mundos me trazem.
A espontaneidade
tão característica de Manoel (de Barros), também me ganhou com a semelhança que
encontrei em Guimarães Rosa. Carrego os dois – um em cada lado do sorriso.
C.A.
- Muitos escritores adotam
“rituais” para escrever ou compor. Alguns se retiram para locais isolados, outros
escrevem durante a madrugada, uns preferem a balburdia de uma praça
movimentada. Eu mesmo passo um tempo enorme observando pessoas e lugares para
compor personagens e cenários, mas não suporto quebra de períodos para
escrever. Prefiro sentar e imaginar a história (já com personagens e cenários pré-concebidos
ou não – isso depende do momento e daquilo que quero escrever) e parir tudo num
único rompante.
E você? Como concebe seus enredos e histórias?
E você? Como concebe seus enredos e histórias?
S.B. - Depende muito
daquilo que se pretende escrever, dos elementos que influenciaram, do lugar, do
tempo, de quem, com quem. O contexto sempre vai existir. Eu por exemplo, tenho
escritos que fiquei rascunhando dias na minha mente, uma ideia que ficou
martelando a ponto de eu não conseguir me livrar dela, outros que nasceram de
conversas com amigos, comentários. Outros ainda, de espontâneos, “flashes”.
Eu tenho uma enorme
dificuldade de escrever que não seja numa tela com fundo branco, pois quando as
palavras chegam, tenho que escrever direto e ter sempre a mão o querido “delete”
funcionando na mesma velocidade do pensamento, tudo pra não perder o fio da
meada, nem largar o rabo da palavra (risos). A borracha não teria o mesmo
efeito, nem o papel.
Ah sim, tenho
outros segredinhos também (risos).
C.A.
– Categoria ou gênero de texto.
Existe o conto, a crônica, a poesia, o ensaio, etc... A Samara Bassi é uma
autora de uma categoria única, ou é eclética? Ou, talvez, autora com um estilo
próprio? O que mais te agrada?
S.B. - O estilo ou
categoria livre, que pode caber em qualquer um desses que você citou, em
muitos, ou nenhum. Não me importam os “trajes”.
C.A.
- Você é observadora? Carrega
para seus textos aquilo que observa em suas caminhadas pela vida palpável ou
virtual, ou gosta de inventar?
S.B. – Sou, sim, muito
introspectiva, e isso me torna uma pessoa observadora e muito, até demais, a
ponto de eu me calar o tempo todo.
O inventar, pra mim,
é a melhor das brincadeiras e a das que mais levo a sério também, seja ela em
qualquer assunto, desde que não me limite e me cresça feliz no coração. E isso
vem desde lá da minha já senhora e teimosa infância (risos).
C.A.
- A espiritualidade é muito
presente em suas palavras. Gosto de separar meu lado autor do meu lado
“pessoa”. Como autor, viajo entre religiões e crenças, modismos, ideais
políticos variados e outros aspectos que variam de acordo com meus personagens.
Visto-os e vivo por um período aquilo que eles acreditam. Mas separo meu “eu”
não autor. Cada um é cada um.
E você, Samara? A espiritualidade está presente
somente em suas palavras, ou sua vida também é voltada para essa busca de
conhecimento?
S.B. - Em relação ao meu
“eu autor”, infelizmente (ou felizmente) não sei fazer isso. Eu dificilmente
conseguiria ter a capacidade e mais, a habilidade de criar uma personagem de
forma alheia à minha pessoa e admiro quem consegue isso.
De maneira direta
ou indiretamente, meus textos sempre são baseados em cima dos princípios que
carrego, das verdades que cultivo. Deixo bem claro que são MINHAS verdades e
que não as imponho a ninguém. E se por acaso eu vier a criar alguma personagem,
naturalmente eu a estamparia com elementos que me são valiosos e/ou que me
enriquecem, me amadurecem de alguma forma.
Em relação a
espiritualidade, ela sempre esteve presente na minha vida. Não me considero uma
pessoa religiosa, pois não tenho religião, mas respeito quem possui, embora não
concorde com certos dogmas, regras e não aceite imposições que nos são
apresentadas, tidas como verdades sem questionar, que são julgadas unânimes sem fundamento e “prometem” punir
sem justificativas ou ainda, quando se pretende justamente buscá-las.
Dizem que religião
não se discute. Concordo em partes. Na minha concepção, religião se discute, fé
não.
Mas o que sempre
procurei, e busco cultivar, é a temática
espiritual de forma universalista, somando os ensinamentos do oriente antigo
com as informações do moderno ocidente e fazendo assim uma síntese inteligente
do que eu venha a considerar ser bom pra mim.
Me
considero eclética, bem cosmopolita e brinco sempre, dizendo que sou todas e
nenhuma, sem “fechar pacote com ninguém” (risos),
sem me prender na informação de uma área ou outra, porém, somando as melhores
informações e absorvendo o que é viável e que acrescente algo, de cada linha
filosófica/religiosa (seja lá qual o nome que isso tenha), sempre com muito
estudo e observação e mais, vivência.
Mas
só conhecimento não resolve, pois conhecimento não é sabedoria. Então, alinhado
ao conhecimento, sempre acreditei e busquei algo que me dissesse mais, porque
acredito que todos nós precisamos de amor, de bom senso e ÉTICA pra dar
sustentação ao próprio conhecimento para que um dia o conjunto dessas
qualidades transforme a nossa ação em sabedoria. Sempre comento, quando me
abordam esse assunto, de que há pessoas que podem ser técnicos numa determinada
área, gênios em outras, mas que não passam de bebês no plano da consciência.
Por exemplo: o gênio tal da área humana tal, critica sem conhecimento e sem
fundamento seja religiões, filosofias, paradigmas e que ao mesmo tempo é
medíocre nas relações humanas enquanto uma pessoa simples, que não
"possui" conhecimentos técnicos de coisa alguma e de alguma forma,
ela é sábia nas suas ações, nos seus relacionamentos, na sua maneira de estar
no mundo.
Portanto
sabemos então que ter apenas o conhecimento, pode levar o ser humano à
exacerbação do seu ego. Por outro lado, se o conhecimento tiver alegria, amor, humildade,
bom humor principalmente para lidar com as adversidades, aí sim ele se torna
uma ferramenta fantástica pra eliminar a ignorância da gente e tocar mesmo a
bola pra frente, afinal, somos humanos, que aprendem, erram, amadurecem, erram
novamente. Somos imperfeitos, graças a Deus. Seria muito chato se já viéssemos
prontos e todos iguais.
Sermos
rotulados pela sociedade, já nos basta por enquanto, acredito eu.
C.A.
- As pessoas sempre buscaram, de
alguma forma, os livros de auto-ajuda.
Não gosto deste termo, pois acredito que a auto-ajuda
vale mesmo para quem vende o livro, e na maioria das vezes o que se lê sequer é
entendido pelo leitor.
Mas existem alguns livros, que sequer almejam ser de
auto-ajuda, que agem diretamente no estado de humor da pessoa, melhorando-o.
Quando você pensou e preparou “Teoria
das inspirações para deixar o ar entrar”, em algum momento
você teve a intenção de que ele fosse um livro de auto-ajuda, ou isso passou
longe de sua cabeça?
S.B. - Pra começar,
também não gosto desse rótulo e jamais me passou pela cabeça escrever para tal.
Acontece que os
meus textos sempre foram algo meio “catarse”, com um punhado de psicodelismo e
no caso do Teoria..., foi um apanhado de
“passagens” nas quais foram criadas no decorrer dos meus dias, mais na
tentativa de “clarear minhas verdades” do que qualquer outra coisa. Foram
também a partir de conversas, de ideias, de espontâneos. Longe de ser um
estabilizador de humor, ou antidepressivo, ou ainda de ser uma sessão de
terapia (desculpe a brincadeira - risos) o livro é mais uma coletânea de
reflexões, pensamentos com a temática da poesia que sempre esteve presente na
minha vida, assim como a espiritualidade, não a religião.
Achei a ideia
interessante de que se algo que escrevo me melhora, me faz bem e me ajuda em
algum aspecto, seja interno ou externo, em situações importantes e sem
importância também, por que não poderia fazer pra outras pessoas também?
Palavra é igual
remédio: cada um sabe aquela que te dá sono ou que te ataca o estômago.
C.A.
- Não é a sua primeira
experiência com auto-edição. Vejo também que não há o interesse em “ganhar dinheiro”
com seus lançamentos.
É muito difícil lançar um livro pelo sistema de
auto-edição? Este lançamento é para satisfação pessoal, ou tem alguma outra
pretensão neste lançamento?
S.B. - É claro que ao
lançar um livro, tem-se algum interesse financeiro nele, pois se está lá é porque
alguém quer vender e espera encontrar alguém que se interesse por ele e
compre-o. O que diferencia, é a prioridade.
Neste caso, a
prioridade foi e continua sendo uma realização pessoal, de princípios e, quando
te oferecem a oportunidade de construir o seu próprio livro, junto com um
espaço para sua publicação, praticamente sem gastos e tudo isso, contribuindo
para que o seu trabalho possa se difundir, por que não?
Vale com certeza a brincadeira,
digo, a experiência (risos).
C.A.
- Qual seria sua reação se não
for vendido nenhum livro? Frustração?
S.B. - Seria também,
afinal, seria estranho se não me sentisse frustrada. É bem como filho, que a
gente cria e quer espalhar pelo mundo. Quer apresentar, quer que o mundo
conheça, seja segurando-o nas mãos, seja pelo porta-retrato.
C.A.
- Quanto ao mercado editorial,
como você vê o interesse das editoras pelos novos autores e, especialmente,
autores que se aventuram em blogs e que não têm dinheiro para bancar um
lançamento? As editoras dão espaço para esses autores?
S.B. - Resumidamente,
por um lado é uma grande oportunidade que oferecem às pessoas, sabendo que os
blogs (entre outros) são um universo riquíssimo de nuances, diversidades, de
interação - o que resulta quase sempre de um árduo garimpo.
Por outro lado,
não. Diante da descoberta de bons escritores, de certa forma a editora, já visando
lucro, vai tentar moldar esse escritor de forma a suprir a necessidade desse
mercado também, podando, muitas vezes, a naturalidade, a espontaneidade que o
autor tinha quando interagia somente em blogs e afins.
C.A.
- Você tem seguidores fiéis, que
amealhou nesse tempo em que escreve nos seus blogs.
Qual é a sensação em saber que existem pessoas que,
mesmo silenciosamente, te seguem e admiram mesmo você não sendo uma autora
reconhecida ou conhecida pela crítica?
S.B. - Sinceramente,
esse “anonimato” tece verdadeiramente uma rede daqueles que te querem bem e é
dele que gosto.
Não quero escrever
para robôs, mas para pessoas. Melhor, quero escrever apenas, a começar para eu
mesma. Se palavra minha tiver que tocar alguém, alcançar alguém, que seja o
coração. Que a vinda seja do outro lado da ponte para o lado que eu estiver.
Quem vier e ficar, é porque cativou-se, de alguma forma. E quando houver
críticas, que também seja por aqueles que me querem bem, para que eu possa me
reconstruir, remontar, me atentar pras falhas, também.
E não somente
apontar o erro, acusar, destruir.
C.A.
- Neste último lançamento, você
fez praticamente tudo sozinha. Escreveu, compilou os textos, diagramou,
revisou, trabalhou a capa e montou o livro.
Sente-se realizada, ou fica aquela sensação de que as
coisas poderiam ser mais facilitadas, frente a tudo o que se vê no Brasil, como
o alto índice de impostos que pagamos?
S.B. - Sim, sempre
existe a realização por ter um livro do nosso jeitinho. Mas por outro lado, há
tanta dedicação mas a recompensa, assim como a valorização são mínimas. E isso
também desanima às vezes. E digo também em relação à literatura, em geral,
mesmo estando cada vez mais difundida.
C.A.
- Falamos, até agora, dos novos
autores e do meio virtual. Mas, e os novos leitores? Como você vê esse grupo
enorme que consome informações diariamente na web?
Eles estão interessados em literatura como essa que
conhecemos (disposta em livros físicos ou e-books), ou são mais voltados para
conteúdo enlatado ou resumido, tipicamente encontrado nas redes sociais e
blogs?
S.B. - Isso dá muito
pano pra manga.
Há leitores de
todos os jeitos. Claro que há aqueles que lêem, discutem, interagem, questionam
o que estão lendo. Mas a meu ver, assim como a tecnologia e as praticidades
facilitam o acesso a informação de forma instantânea, também de certa forma,
estão “empreguiçando” nossos leitores a compreenderem o que estão lendo. Leem,
mas não assimilam.
A dificuldade já
não está na “digestão”, mas no mecanismo da “mastigação” e isso já nem fazem
mais. O próprio corpo já se satisfaz com as “papinhas”. A mente, com a “sopa de
letrinhas”. Infelizmente.
C.A.
- E o plágio? Ele existe? Como se
ver livre de ser plagiada?
S.B. - Existe. Livre
completamente, muito difícil. Claro que há mecanismos que dificultam seja a
cópia de textos, fazer uso de avisos, comunicados, ajuda de mecanismos de
pesquisa e motores de busca entre outros. Mas qualquer um que se aventure a se
expressar na rede, e até fora dela estará suscetível a ele.
C.A.
- Você teve uma experiência não
muito agradável quando iniciou nos blogs e redes sociais. Diante da
inexperiência e, talvez, pela pouca idade, plagiou alguém. Quando se deu conta,
se retratou e tomou consciência da gravidade de seu ato, retirando do ar aquilo
que havia copiado sem dar os créditos.
É claro que a sensação que ficou é amarga. Como agir
ao notar que cometemos um erro assim? Deve-se retirar o conteúdo do ar de forma
imediata? E como conversar com aquele que foi plagiado?
S.B. - Infelizmente, foi
uma experiência mais que desagradável. Diria que também foi doída. Felizmente,
porque me sinto ter aprendido com minhas falhas daquela época, com meus
desconhecimentos e sei que dei a volta por isso (e isso não é do dia pra noite,
pode levar anos). Mas sempre ficará essa sensação amarga, e sim, a consciência
sempre remói.
A forma de agir,
acredito, terá que vir de ambos os envolvidos. Depende de como tudo aconteceu,
onde e envolvendo quem. Quando a pessoa se dá conta e também quando é alertada
por outras pessoas, ou pela própria que está tendo o seu trabalho prejudicado,
que foi o meu caso, tem sim que procurar reparar a atitude (tenha sido ela
feita com consciência, ou por desconhecimento, feita sem a intenção de ferir,
prejudicar).
Gente, plágio não é
somente copiar e não dar os créditos. É copiar sem autorização, mesmo atribuindo
a autoria correta, é alterar conteúdo, é acrescentar, distorcer. E não é
somente para textos, mas músicas, imagens, tudo aquilo que carregue uma
atribuição intelectual.
Quando acontece, é
claro que quem foi plagiado vai se revoltar, vai xingar, agredir e vai mover
uma multidão contra a pessoa e eles estão certos, eles têm toda a razão por
agirem assim. Mas é nesse momento que apesar da vergonha e até mesmo da
humilhação, quem cometeu o plágio tem que esquecer todas as outras pessoas que
se envolveram e tomaram conhecimento e se voltar apenas para quem se sentiu e
foi, sem dúvida, prejudicado pelo nosso ato. A retirada do conteúdo do ar, a
atribuição dos créditos vai depender de cada caso. E tanto o plagiado quanto
quem plagiou devem sim se comunicar e mais, por mais que seja dificultoso para
ambos, devem tentar estabelecer uma conversa, um diálogo, a humildade em
admitir o erro e tentar corrigir, mesmo diante de todas as acusações e
xingamentos que COM CERTEZA vai ouvir e que irão machucar, também.
O plagiado deve
tentar também um “acordo”, seja exigir o que é de direito, que seria a
exclusão, a atribuição correta do conteúdo, que seja, mas também, procurar
instruir, alertar a pessoa que o plagiou para que não cometa, não reincida no
erro, nem com a mesma pessoa, nem com outros.
Há muitos sites
abordando esse assunto, orientando, educando.
Gente, direito
autoral é coisa séria. Não pense que a internet é mundo sem ninguém ou um mundo
sem lei, onde tudo é livre e de todos. Não tenha raiva de quem te acusou, pois
a pessoa estava no direito dela sim e eu no lugar dela teria com certeza feito
o mesmo, hoje eu dou toda a razão e compreendo. Mas quando tiver dúvidas,
pergunte, procure saber, informe-se. E dê a volta por cima. A marca sempre vai
ficar, mas o aprendizado, também ninguém
te tira.
C.A.
- Plágio. Errar é humano.
Na questão anterior, perguntei como reagir quando você
se dá conta que plagiou alguém. Mas, e como você reage quando descobre que está
sendo plagiada? Ou quando alguém se utiliza de algo seu, como sua foto, e se
nega em retirar do ar?
S.B. - Como já havia
comentando anteriormente, orientar e mostrar o quanto esse gesto é feio,
prejudica muita gente e justamente por isso é criminoso. Mostre sim que você
está indignado, tem todo o direito de fazer exigências, mas além disso,
oriente, demonstre que não gostou. E, se houver reincidências, ou não for
atendido, o caminho que resta será um processo judicial. Deixe isso claro.
C.A.
- E após ser plagiado? É claro
que aquele que foi plagiado sempre ficará com a pulga atrás da orelha com
relação aquele que cometeu o plágio, e vez ou outra fará visitas para ver se a
pessoa não está cometendo novamente o mesmo ato.
No entanto, algumas pessoas tornam-se quase neuróticos
com relação a isso. Começam verdadeiras perseguições até mesmo contra aquele
que cometeu o erro e se redimiu, consertando a situação. Essas pessoas, dentro
dessa neurose, se reparam que a pessoa usou algo meramente semelhante aquilo
que eles escreveram em algum lugar, já acusam de plágio, mesmo sem ter razão.
Como reagir numa situação assim?
S.B. - A pulga atrás da
orelha sempre vai existir e quanto às visitas, eu faria o mesmo. Mas quando as
perseguições e as acusações se tornam “compulsivas” a ponto de uma vírgula ser
considerada plágio, mesmo que não tenha mais sido cometido, comece por não baixar
a cabeça. Cabeça erguida e consciência tranquila agradecem. O resto, as pedras
difíceis, essas serão contornadas ao longo do caminho.
Respeito acima de
tudo, de ambos os lados. É sempre tempo de aprender. E ensinar, também.
C.A.
- Acompanhei o nascimento do “Teoria...”. E foi tudo muito rápido. Você teve a ideia, fez a
coleta, editou, pensou a capa, montou o livro e publicou num prazo curtíssimo.
Mas a obra em si não foi composta assim, tão rapidamente. Ela é uma coleta de
seus momentos, de seus dias de escrita.
Quanto tempo existe, aproximadamente, entre o que é
mais antigo e o que é mais recente nessa coletânea?
S.B. - Um tempo médio de
três anos (para o que é mais antigo), e aproximadamente poucos dias para o que
é mais recente (risos).
C.A.
– Como existiu essa diferença de
tempo entre o que foi escrito lá atrás e o que é mais recente, mudou alguma
coisa no seu modo de agir ou pensar entre ter escrito a primeira e a última
sentença dessa coletânea?
S.B. - Mudar a essência,
essa eu acredito que nunca mude, mas ela pode ser lapidada em certos aspectos
que favoreçam o crescimento de cada um.
Aprendi a ter mais
paciência (na verdade, venho aprendendo), a confiar mais em mim, a ser mais
tolerante e também mais crítica quando necessário. E algo que me valeu muito e
sempre me ajuda, é que ao ler e reler o quê eu mesma escrevi, sempre tenho
vários pontos em vista, como por exemplo de uma determinada situação e dessa
forma, me permito mais facilmente a me perdoar mais em relação à passagens
minhas e que na época, eu não compreendia e nem se mostravam tão claras para
mim.
C.A.
- Existem autores que gostam da
fama. Vivem dela e para ela. No entanto, há uma gama enorme de ótimos autores
que são introspectivos, tímidos e que não são dados a ficar sob as lentes dos
holofotes. Escrevem pelo simples prazer de escrever.
Você é assim, escreve para saciar a sua vontade, e não
para figurar em listas de autores ou coisas do gênero. E isso é notório pelo
seu jeito de agir.
Como foi, para você, quebrar essa barreira entre a
introspecção e a publicação de seu primeiro livro?
S.B. - Aí é que tá! “Como
explodir sem deixar rastros? Como implodir sem sentir dor?” (citação de autor desconhecido).
É muito difícil
para as pessoas (e até pra gente mesmo) compreenderem, muitas vezes que, quem
escreve para fazer sorriso, nem sempre deseja mostrar o próprio sorriso.
Egoísmo? Não. Um direito.
C.A.
- Tem medo de críticas
desfavoráveis?
S.B. - Sim. Todo mundo
tem. Mas mesmo que exista qualquer crítica, sempre esperamos por aquela que
seja construtiva.
A questão da
crítica, no meu parecer, não é ela em si, mas mais importante é a forma como
ela é enviada. Uma crítica que, mesmo que tenha tido a intenção de melhorar,
dependendo da forma como ela é elaborada e diria sim “bombardeada”, não vai
adiantar nada, vai destruir, inferiorizar da mesma forma.
É aquela história:
Mais importante do que dizer, é como ser dito.
C.A.
- Já que falamos em “críticas”,
existe um número enorme de pessoas que sequer sabe o significado dessa palavra.
Pensam que criticar é o mesmo que falar mal.
A crítica, no entanto, é algo muito pessoal e ao
contrário dessa crença errada de alguns, pode ser favorável ou não. Porém, deve
ser fundamentada.
Sabemos que algumas pessoas criticam algo sem sequer
se dar ao trabalho de ler o que estão criticando.
Você já recebeu críticas desfavoráveis e, o que é
pior, que considerou infundadas, vindas de pessoas que sequer se dispuseram a
ler o texto?
S.B. - Ah sim. Não
somente críticas, como também “elogios” que não coincidiam com o que estava
exposto. Não pelo conteúdo em si do comentário, mas pelo vazio tão explícito
contido no vão de uma palavra e outra, de quem disse e não quis dizer, de quem passou
e comentou sem mesmo ter lido. Que não tivesse comentado, então. Nem cometido.
Parece chatice, mas
gente, leia o que for comentar. E isso não tem nada a ver com “a interpretação
é de cada um”.
C.A.
- Cada um tem uma história
diferente quando se pergunta como começaram a gostar de ler ou escrever.
Pode-se dizer que Samara Bassi começou esse “namoro”
com as letras nos gibis?
S.B. – (risos). Ahhh,
sim! E confesso que hoje sinto umaaaa faaaaalta! Esse “brinquedinho” virou hoje
uma raridade. E a Magali* já foi tanto a minha amiga (risos).
*(Turma da Mônica – Maurício de Sousa)
C.A.
- Você gosta de fazer as coisas
por conta própria. Se não sabe fazer, batalha até aprender. É, também, uma
pessoa detalhista.
Na hora de editar o livro, você “brigou” muito com
você mesma?
S.B. - Muitas e muitas
vezes. Não só comigo, é claro, mas com as várias que existem em mim (risos).
C.A.
- Futuros lançamentos?
S.B. - Ainda são
sementes em “construção”.
C.A.
- Pra encerrar, em algum momento
de sua vida você deixou de escrever algo que gostaria por medo de que não fosse
compreendida, ou sempre escreveu o que queria?
S.B. - Sempre há algo
que a gente gostaria de ter escrito e/ou de não ter escrito, também, mas que
foram concebidas numa época em que tiveram que ser ditas.
Benditas ou
malditas, vai depender da história guardada em cada uma e de quem as lê.
Sempre há algo que
a gente não conta, mais pelo medo da gente mesmo descobrir do que pelo receio
de que outras pessoas venham a realizar tal fato. Talvez eu tenha também, sei
lá.
Hoje é um dia de muita alegria e por mais simples que seja, ou que pareça, é a simplicidade que tece abraços de quem realmente nos quer bem.
ResponderExcluirPrimeiramente quero agradecer a quem por aqui passar. Um beijo na alma de cada um de vocês.
Quero deixar um agradecimento muito especial ao querido Marcio Rutes por todo o carinho, empenho e dedicação com que teceu cada pedacinho de cada dia que passou para que hoje, estivéssemos, todo nós, aqui, juntos, com o coração e a mente emitindo boas energias.
Obrigada ainda, Marcio, pela honra em tê-lo ao meu lado neste livro, quando aceitou escrever o Prefácio. Agradeço também pela oportunidade da conversa, desse bate-papo e encontro descontraído e que fluiu de forma super agradável, assim como agradecer também, pela satisfação a mim proporcionada em estar aqui, em sua casa, Crônicas de Areia, com o coração feliz.
Coração agradece.
Sam.
Olá, Marcio! Olá, Sam! Sam, bom vir aqui hoje e conhecer mais detalhes sobre o seu pensamento (acompanho seus escritos há algum tempo e suas declarações só confirmaram o que eles atestam, pois a as letras imprimem a alma de quem as escreve, ainda que seja fingido, ou tentado mascarar). Já visitei o Clube dos Autores e achei que ficou muito bonito (é livro impresso e não EBook, é isso?). Pois desejo muito sucesso e peço que não se decepcione se os resultados demorarem a chegar. Em Literatura é tudo lento, literatura boa, aquela que se firma e precisa do seu próprio tempo para conquistar o leitor. E quando isso acontece, ela fica, marca o seu lugar no espaço, no tempo e no coração do leitor. Peço que não se deixe intimidar também por eventuais críticas, ainda que sejam meros juízos de valor, aos quais não se deve dar tanta importância. Crítica para ser levada a sério requer fundamento e nesses casos há sempre construção. Sim, feliz demais por você e grata ao Marcio ter nos dado a oportunidade de participar deste momento todo especial. Namastê! Grande abraço e muitas energias boas para você e o Teoria... Saudações letripulistas, até. P.S.: eu já sabia que você era da tribo dos letripulistas :-)
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ResponderExcluirPrimeiro, antes mesmo de parabenizá-la pelo lançamento de mais uma obra sua, minha querida Sam, é preciso dizer como preâmbulo, o quanto eu admiro a autora e o seu jeito especial de ser e que deixa transparecer tão claramente em tudo que escreve: maturidade explícita, mesmo que seja ainda uma menina; doçura declarada, mesmo quando a vida lhe parece hostil; sensibilidade apuradíssima e uma capacidade ímpar de encantar, como escritora e principalmente como amiga, a quem tenho a felicidade de contar em meu rol de queridos. Agora sim, hora de parabenizar-lhe pelo novo "filhote" que sai do ninho com asas próprias para voar. Parabéns, pela vontade, pela perseverança, pela coragem e principalmente pela qualidade que você vem nos oferecendo com seus escritos. Desejo, e você sabe que é do fundo do coração, todo o sucesso que você merece e que almeja, que seja lida por muitos e tantos que possam acolher você.
Sobre a entrevista, é a constatação do que acabo de escrever sobre o que penso de seu jeito de ser e li cada resposta com muito prazer, além de apreciar muito a forma como Márcio Rutes conduziu a entrevista, com a excelência de um entrevistador mestre em desnudar a alma do entrevistado. Parabéns também ao Márcio pelo belo trabalho e a você Sam, pela naturalidade com que respondeu a tudo.
Muito orgulho de você, menina passarinho.
Beijo grande aos dois.
Celêdian
Parabenizo ao Marcio pela inteligente e consistente entrevista, num verdadeiro processo de extirpar os sentimentos da entrevistada aqui a Samara, com todas suas aspirações e sentimentos.Interessante Marcio este entrevistar, onde você coloca sua opinião e ou visão e transfere a palavra à Samara, sem estar guiando as repostas. A Samara eu sigo a algum tempo e sempre que posso, estou pela pagina dela onde sinto uma clareza de sentir e expor sentimentos, com uma forte relação com a natureza e o lado bom do ser humano.Às vezes digo que são poetisas da elegância como penso da nossa querida Celêdian, a Parole,a Dalva Molino, enfim são escritoras, que têm um jeito ímpar de transformar as palavras e encanta-las em suas inspirações/construções. Admiro a Samara na raça e dedicação neste projeto, aqui bem descrito com sua entrevista Marcio.Nesta pode-se conhecer um pouco mais da autora, que leio.É certo que o sucesso a espera, nesta jornada de gerar filhos plenos de palavras, que se aglutinam para as mais profundas e precisas emoções, que embalam a pessoa humana com sua sensibilidade.
ResponderExcluirSamara eu lhe parabenizo menina com esta admiração que sempre dedico aos seus escritos poéticos com reflexões.
Marcio meu amigo não me surpreendeu sua arte como entrevistador,depois de algum tempo de interações e maravilhando com seus comentários precisos e inteligentes pela blogosfera em várias paginas e diferente estruturas da literatura.
Um abração duplo a voces que moram em minha admiração.
Hoje consegui vir, porque queria tempo pra ficar. Queria tempo pra conhecer um pouco mais da Samara... Sam, enquanto você falava, se revelava. E eu gostava! Muito!!
ResponderExcluirSeriam tantas as coisas que eu queria comentar, mas me obrigo a uma síntese, dizendo que a espiritualidade que tuas palavras transbordam, fazem daquilo que nos presenteia com palavras um alimento indispensável, sem a conotação de auto-ajuda, mas que fica lá, semeado em algum lugar a ganhar corpo, a bulir as ideias e encontrar espaço pra crescer. Admiro o criador a criatura em uníssono – o conjunto de sentimentos, ideias, ideais, pensamentos tão secretos... como desvencilhar um do outro, se são árvore e fruto? Mais de três anos de gestação, claro que trouxe junto as modificações que a fonte criadora “sofreu”... a lapidação torna a pedra, uma jóia!
A trabalheira prazerosa na confecção quase artesanal deste livro deverá render a você mais do que a satisfação de ter concluído este sonho - e outros virão – imagino que as páginas nos tragam razão suficiente para ficar feliz de ter nas mãos o teu livro (eu tb saio das livrarias portanto tesouros – e no plural, pq nunca é um só!). O pouco que li escrito por você foi agradável demais, singelo, forte, profundo, provocando trovoadas aqui dentro, ribombando ecos e sussurros... só posso imaginar que o “Teoria das inspirações para deixar o ar entrar” venha marcar tua presença definitiva em meus sentires e pensares... rs
Sucesso Sam, você acreditou que era possível, foi lá e fez!
Pra que eu me desse por muito feliz, meu exemplar teria de vir autografado... rs... mas isso pode acontecer durante um jantar futuro, não pode?
Meu abraço afetuoso, querida!
Olá Sam...
ResponderExcluirVim porque li, gostei e me apaixonei por seus escritos.
A vida é feita disso... pedacinhos de sonhos que tecemos com linha de esperanças.
Amei, sonhei!!
bjs
Luandrade
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