sexta-feira, 17 de outubro de 2014

ONTEM, HOJE, DEPOIS DESSA VIDA


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“Não é sóbria o tempo todo e de sanidade acometida, se faz louca por si mesma. Carrega dessas peculiaridades que desconfio bem e não me fazem parar, ainda que cegas sejam as minhas procuras.”.
Samara R. Bassi







Foi num desses fins de madrugada, em que eu esperava pacientemente a primeira ponta de sol aparecer pela janela, que me vi preso em argumentos meus sobre tempo e vida, mas que eu mesmo contestava.

Aliás, uma dessas contestações era, justamente, por que eu insistia tanto em refletir sobre essas coisas. Afinal, era tão simples viver. Bastava nascer, ver os dias passarem um após o outro, e depois tentar dormir calmamente, num sono sem fim.

Mas era inevitável. A cada fim de noite eu estava lá no meu canto, remoendo meus neurôniors. E se o sol demorasse mais do que o costumeiro para brotar do horizonte, o meu próprio norte perdia um tanto do magnetismo. Quer entender o por quê disso? Bom, vamos pegar algo bem simples e trivial para começar. O amor. Por que amamos? 

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Depois de algum tempo perambulando por esse mundo, é natural que tentemos encontrar uma companheira ou companheiro. Afinal, isso é intrínseco da natureza humana, seja pela perpetuação da espécie, ou mesmo pela necessidade de companhia. E lá vamos nós numa busca que em seu começo chega a ser até desesperadora, isso dado ao nível de timidez que a pessoa carregue. O engraçado é que os valores mudam conforme o tempo biológico da pessoa evolui. Quanto mais novo, mais fútil é a qualidade de “amor” buscado. Sim. No começo, procuramos mais pelos atributos físicos. Para os garotos, uma garota para um relacionamento tem que ter uma bela bunda, seios que agradem, rosto bonito, coxas grossas, um celular com crédito suficiente para que ele possa ligar a cobrar quando estiver sem dinheiro e, claro, ter a libido em alta. Já para as meninas, e mesmo elas sendo um tanto adiantadas nessa parte de relacionamento, os valores mesclam um pouco. Além de um belo corpo, com a famosa “barriga tanquinho” e o peitoral mais definido, um rapaz bem empregado pontua melhor. Cartões de crédito e inteligência contam muito nessa fase.

Passado algum tempo, tanto os rapazes quanto as moças repensam um pouco sobre tudo isso. Obviamente, o tesão aumenta com o passar dos anos, e corpo continua sendo importante, mas o sentimento começa a falar mais alto, e o que era “dispensável” anteriormente, já passa a ter um valor mais elevado, principalmente quando o assunto é responsabilidade. Inteligência também fala muito alto por aqui. Ah! Sim. Aqui, o feio já deixa de ser tão feio. Interessante isso, não?

E chegamos, enfim, ao momento da união estável. Estamos amando. Casamos ou juntamos os trapos e vamos viver uma vida compartilhada, dividindo contas e lucros, responsabilidades e irresponsabilidades, sorrisos e tristezas, com a pessoa amada. Então, lá vem a ciência afirmando que tudo é hormonal e que, pasmem, o amor dura apenas 7 (sete) anos. E no fim desse prazo, as brigas intensificam, as discussões tornam-se mais acaloradas e, naturalmente, o que era amor passa a ser apenas uma situação de acomodo (diante das necessidades), onde o casal permanecerá na mesma casa apenas se suportando (na maioria das vezes com a desculpa de que estão juntos unicamente "pelo bem-estar dos filhos"), ou cada um partirá para seu canto.

Daí eu pergunto. Se diante das facilidades de manter-se informado ou de buscar conhecimento desde a infância, e sabendo desse detalhe dos sete anos, por que sempre insistimos em buscar o tal do amor? E o pior. Não contentes em sofrer com um único relacionamento, quando terminamos o primeiro, partimos para o segundo, terceiro, quarto... Será que somos masoquistas por natureza?

Outra coisa que me leva o restante dos cabelos. Por que tentamos tanto adivinhar “de onde viemos e para onde vamos”? É claro que a ciência vem se esforçando muito para responder essas questões, mas muito do que se tem na crendice popular é pura especulação, mas mesmo assim alguns traçam uma vida inteira baseando-se em sinais divinos que simplesmente não existem. Tá, eu sei. Dizer que esses tais sinais são falsos ou inexistentes, descabidos e próprios para exploração da fé, é pura especulação minha.

Mas não seria mais fácil viver intensamente enquanto estamos por aqui, com os pés no chão para, depois de morrer, descobrir para onde vamos? Isso, obviamente, fazendo menção a vida após a morte. Ainda existe a questão de “para onde caminha o universo”, mas isso eu posso garantir que ninguém que está aqui, neste instante, viverá o tempo suficiente para ser testemunha de mudanças significativas no destino do espaço.

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E a busca desenfreada pelo corpo perfeito? Falar em saúde eu até entendo, afinal, envelhecer de forma saudável é necessário, mas a vaidade vai além daquilo que os padrões de qualidade de vida suplicam. Cremes, intervenções cirúrgicas, dietas e regimes extremistas, adição de corpos estranhos e muitas vezes desnecessários no corpo (próteses de silicone nos seios, na bunda e em outros cantos), mutilação do corpo, consumo de substâncias nada recomendadas para melhoramento da genética... e mais um sem número de atitudes que poderiam figurar por aqui e que, lá na frente, não terão valido de nada, pois a pele vai enrugar, os peitos, a bunda e o saco (do homem, claro) vai sofrer os efeitos da gravidade, e todos os que sobreviverem até a época da velhice... envelhecerão. E todo esse esforço para manter o corpo durinho e pra cima terá valido a pena?

E a mania que temos de julgar tudo e a todos? Rotulamos, definimos quem é belo e quem é feio, tentamos determinar o que se deve consumir por isso fazer bem e aquilo não, ditamos regras sobre gostos e preferências, negligenciamos a etiqueta natural do bom senso e da educação que devemos ter para com o próximo... e quando exigimos um tratamento respeitoso para nós (dentro daquilo que se diz correto com relação a ética humana mediante o preconceito e a discriminação), “inocentemente” chamamos alguém de negão, polaco, gordo, loira, careca, idiota, burro, aleijado, retardado, vagabunda, piranha, puta, gay, bicha, viado, magrão, ralé, pobre, etc... etc... etc... Em resumo, esquecemos de olhar para nosso próprio rabo, mas questionamos, rotulamos e julgamos o rabo dos outros. Nessa hora, a ética e a educação que se dane, não é?

Puxa vida, ainda tem a questão das reclamações. Somos reclamões em demasia. Reclamamos daqueles que poluem em alta escala, do trânsito engarrafado, do político corrupto e safado, do vizinho que fala demais, da companhia telefônica que não presta corretamente seus serviços, do padre e do pastor que vivem tentando amealhar mais seguidores para suas igrejas, das crianças bagunceiras do apartamento ao lado, do cachorro de uma casa próxima que latiu demais na noite passada e te acordou de madrugada, das ervas daninhas que cresceram no quintal, e de uma infinidade de outras coisas.

Uma das reclamações que mais ouço (vinda de motoristas habilitados) é contra os radares para flagrar os apressadinhos no trânsito. Faça um teste. Pergunte para esse reclamão se ele, habilitado e conhecedor da legislação vigente do trânsito, respeita as leis. Se ele disser que sim, faça outra pergunta a ele. “SE VOCÊ RESPEITA AS LEIS DE TRÂNSITO, ENTÃO POR QUE TEME OS RADARES?”. Bingo.

Ainda no trânsito, tem aqueles que vivem falando mal de outros motoristas. Mas algo perto de 90% (noventa por cento) desses motoristas que tanto reparam nos outros, vivem falando ao celular enquanto dirigem, ou teimam em andar lentamente pela faixa da esquerda (enquanto falam ao celular), ou não estão usando o cinto de segurança (enquanto falam ao celular). Novamente esquecendo de olhar para o próprio rabo?

As reclamações quanto à poluição. Realmente, isso é algo sério. Mas, me diz! Você é daqueles que têm o hábito de reciclar? Você guarda o papel de bala no bolso, para jogar no lixo quando chegar em casa, ou joga o dito papel na rua? Ah! Tá! Mil perdões. É somente um papelzinho de bala, e isso nem faz diferença, não é? Então, quando for reclamar da fumaça produzida por alguma fábrica próxima de sua residência, lembre que a “fumacinha” que ela produz é insignificante perto da poluição gerada por um país como a China, por exemplo. Então, por que essa fábrica perto da sua casa precisaria parar de poluir, se a “fumacinha” dela nem faz diferença? Presta atenção, mané.

E assim, depois de algum tempo olhando minha janela, os raios do sol me mostraram que era hora de trabalhar. Como nas noites anteriores, não cheguei a conclusões muito apuradas, mas de algumas coisas eu posso garantir que tenho certeza. É algo mais ou menos assim:

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amo porque nasci para amar, e vou tentar até acertar, mesmo com a ciência dizendo que o amor dura apenas 7 anos;

não faço a mínima idéia de onde veio esse universo sem fim, e muito menos como ele terminará ou para onde ele vai, mas sei que quero aproveitar minha estada por aqui da forma mais intensa possível;

vida após a morte? Sei lá! O que sei é que tenho um plano B, e se existir alguma coisa para o “depois”, seja céu ou inferno, já tenho até uma sócia para abrir um open-bar, seja lá onde for;

vaidade? Já fui mais. Hoje, meu corpo tem outras necessidades, e venho aprendendo a escutar seus anseios. Tenho melhorado com o tempo;

quanto a maldita mania de julgar e rotular, isso é um caso sério. Ainda levaremos algumas vidas para melhorar essa condição. Ops... e se não tivermos outra chance para voltar e melhorar? Melhor fazer algo agora, não é?

reclamar, reclamar e reclamar. Chego a pensar que isso é inato ao ser humano. Mas um dia, com o passar do tempo, ele melhora.

Enfim, como diz a citação que utilizei lá no começo, a vida se faz louca por si mesma. É. As procuras podem ser cegas, mas mesmo quando perdemos um dos sentidos, a natureza faz lá suas adaptações, e assim continuamos caminhando.

Até penso que esta não é minha primeira passagem por esse mundo. Quem sabe não tenha dado tempo suficiente para aprender tudo, ou até eu tenha aprendido de um jeito errado. Só sei que se voltei, é por gostar de ter amado uma vez, pois não há nada melhor do que ser um apaixonado pela vida e por tudo aquilo que ela proporciona. Principalmente quando se trata de assuntos do coração.

E por aí eu vou, já vendo a lua clarear minha janela. Amanhã tem mais divagações. 



Marcio Rutes



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