São Paulo/Capital - imagem coletada no Google |
―Mas, pai! Eles
precisam ficar, necessariamente, aqui em casa?
―E que mal há nisso,
Helô? ―o pai retrucou, armando uma expressão de espanto. ―Nosso apartamento é
enorme, com quartos sobrando, e eles ficarão apenas uma semana.
―Afinal, por que essa
visita assim, tão repentina?
―O primo está
procurando propriedades por aqui para investir o dinheiro dele, que não é
pouco. É claro que eu quero faturar alguma coisa com isso, pois sou corretor, e
um dinheiro a mais é sempre bom. Não custa nada mimá-los um pouco. Sem contar
que eles são do interior e raramente viajam para grandes centros. Ficariam
perdidos numa metrópole como São Paulo, e poderiam até cair nas tramoias dos
pilantras que existem por aqui e que estão apenas esperando por vítimas fáceis.
―Eles cheiram a bosta
de vaca, papai! E tem mais. Como fica nossa privacidade?
―Pode parar com essas
atitudes e com esse pensamento preconceituoso, filha! Eles são do interior sim,
mas não são Neandertais. A educação deles é outra, claro, com valores
diferentes dos nossos. O que você julga importante, para eles pode não ter serventia alguma. A cultura deles é outra também, mas isso é bom. Vejo pelo lado
positivo. Você poderá levar seus primos para passear num shopping. Tenho
certeza de que eles nunca entraram em nenhum. Você poderá apresentá-los para
seus amigos...
―O queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeê? Never,
dad! Never! Como vou apresentar
eles para meus amigos? Vai ser um mico só! Imagine eu falando “esses são meus
primos Cajuíno, Perestróica e Solstício”. Tem dó, papai! Isso lá é nome de
gente?
―Equinócio, filha! O
nome do seu primo é Equinócio, e não solstício! ―o pai desanimou, baixando os
ombros. ―Sei que são nomes, digamos, diferentes, mas isso não é problema nosso,
não é? Cabe a nós tratá-los com respeito e educação, independente de como são
seus nomes.
―Mas, pai...
Perestróica? De onde seus primos acharam esses nomes? Equinócio? Cajuíno? Se
esses são os nomes dos filhos, imagina o nome que eles dão para os animais de
estimação!
―Isso vai ser mais
difícil do que eu imaginei. Deus meu, dai-me paciência.
Repentinamente, pai e
filha notaram a presença de mais alguém na sala, que passou por eles e se jogou
no sofá para poder esticar as pernas. Os dois cruzaram o olhar e permaneceram
algum tempo calados, até que aquele novo personagem tomou a palavra.
―O que foi, sogrão?
Fiz algo errado? E você, meu amor? Por que levantou tão cedo hoje? Não quis
ficar mais um tempinho nos braços da tua “momôzinha”? Aliás, Helô, quero que
você vá comigo lá naquele tatuador da Praça da República. Ele recebeu uns
piercings da hora, meu amor. To pensando num de seio pra você e num vaginal pra
mim. Vai ser dá hora! Que tú acha, sogrão? Fala aí, véi.
Pai e filha se olharam
novamente e suspiraram. A filha arregalou os olhos e mirou o pai, como se
questionasse algo, e sem ter o que fazer, o pai desanimou de vez.
―É! Acho que você tem
razão, Helô! Não será uma semana fácil.
Léo, o pai de Helô,
reconsiderou o convite que havia feito ao primo, e tratou de tentar remediar
aquela situação desconfortável em que se metera. Telefonou para o primo no
mesmo dia, mas foi em vão. Inventou uma história qualquer, porém, notou que o primo
não estava compreendendo o motivo, e optou por deixar que o destino seguisse
seu curso. Além do que, as perspectivas de uma boa comissão com a indicação de
imóveis para o parente serviriam para consertar tudo após o vendaval que se
moldava para a semana. Então, que viessem o primo e sua família.
E o dia chegou. Chegou
até antes do que o previsto.
Léo abriu a porta do
apartamento e viu sua filha ao celular, com aspecto de preocupação. Esperou que
ela desligasse o aparelho e foi até ela, questionando-a.
―O que foi, minha
filha?
―O que foi? Eu digo o
que foi! Aconteceu que seus primos, por um erro de data ou sabe-se lá por que,
resolveram chegar um dia antes. Ligaram pra cá, e você não estava. Os
empregados tentaram te localizar, mas teu celular da Vivo tava tão morto que
não deu pra dar sequer um Oi, é Claro! Eu tava na faculdade, sem poder dar
atenção. Então, a momô resolveu ir buscá-los! Foi isso que aconteceu!
―O quê? ―o pai
esmoreceu, deixando o corpo cair no sofá. ―A Necona foi buscar os primos?
Danou-se!
―Paieeeeeeeeeeê! Quer
parar de chamar minha namorada de Necona! Neca. Chama ela de Neca. Mas o pior é
que o senhor tá certo! Danou-se!
Tanto Léo quanto sua
filha ficaram apreensivos. Neca sequer conhecia os parentes da família que
estavam chegando, e diante da criação interiorana a que eles foram submetidos
por uma vida inteira, era quase óbvio que um choque cultural catastrófico
estava para acontecer, principalmente pelo modo muito extrovertido com o qual
Neca tratava as pessoas.
As tentativas de
contato por telefone entre Helô e Neca foram muitas, mas não surtiram efeito.
As horas passavam e, assim, aumentava ainda mais a tensão sentida por pai e
filha. Até que, sem aguentar mais a espera, Léo tomou uma decisão.
―Não aguento mais essa
demora. Vou atrás deles.
―Mas, pai! E aonde
você vai procurá-los?
Helô interrompeu
bruscamente o que falava e olhou para a porta. Um barulho de chaves, seguido de
algumas gargalhadas do lado de fora do apartamento, fez com que pai e filha se
entreolhassem. E não demorou para que Neca e os primos de Léo entrassem, com
todos na maior alegria.
Sem entender o que
estava acontecendo, Helô questionou ao pai apenas com um olhar, o qual foi retribuído
com um questionamento de olhos ainda mais arregalados.
―Primo Oscar... que
bom vê-lo! ―Léo levantou a mão para um cumprimento, meio sem saber o que dizer.
―Que bom que vocês chegaram bem... e inteiros!
―Ara, sô! ―Oscar olhou
com certo espanto para Léo. ―E prú quê havéra di nóis num chegá intêro? A tar
da Canecona aí é boa de boléia. Sem contá que cos desvio que ela feiz, já
conhecêmo metade da cidade.
―Canecona? ―agora era
a vez de Helô arregalar os olhos, assustada. ―Que Canecona?
―Ué! Essa... esse...
essa... ―Oscar começou a responder, mas ficou em dúvida sobre como definir ou
se dirigir a Neca. ―Cumé que te chamo, Canecona? De sinhô ou de sinhá?
―Véi, na boa? ―Neca
respondeu, se jogando no sofá. ―Lá no interior vocês chamam como? Se eu não me
sentir desrespeitada, pode me chamar como você quiser.
―Intão tá bão! ―Oscar
retomou a palavra. ―Foi essa moça que oceis mandáro pra modo de buscar nóis no
aeroporto que falô ansim. Ela se apresentô como Manuela, mas disse pra chamar
de Caneca ou Canecona. Modéstia parte, gosto de coisa grande, intão, chamo de
Canecona.
―Ai, Deus! Me dá uma
canecona de paciência. ―Helô olhou para o alto, suplicando.
Ao olhar novamente
para a namorada, Helô viu que ela se divertia com a situação, e a reprovou
imediatamente, mordendo os lábios inferiores. Neca sabia que a namorada, ao
fazer tal coisa, tentava demonstrar irritação, mas pouco ligou e continuou
rindo com tudo aquilo que ouvia.
Alguns minutos foram
necessários para que os cumprimentos e apresentações fossem feitos e, em
seguida, cada um foi levado para um quarto. O apartamento era enorme, e depois
de todos acomodados, Léo chamou o primo para um canto, ainda mostrando
preocupação.
―Está tudo bem, Oscar?
A Neca não assustou vocês?
fogão a lenha - imagem coletada no Google |
―Óia, primo! Nóis é do
interior, mais ao contrário do que oceis aqui da capitar pensa, nóis não é
burro não. Diz pra mim! Ocê acha que lá donde nóis veio num tem gay? E tem
mais. Nóis tem tevelisão. Nóis tem computador. Nóis tem tabléte. Nóis tem
Iphone e aipim. Nóis já viajô pra muita cidade maior du que São Paulo. E essa
tar de homossechualidade não é segredo pra nóis não. Intão, sê ocê pensa que
nóis ia tratar mal só porque ela é ansim, julgou tudo errado. É mior ocê rever
esses conceito teu sobre nóis lá da roça.
―É... bom... quer
dizer... nem sei o que pensar!
Léo empalideceu.
Jamais pensou escutar tudo aquilo do primo. Naquele instante, percebeu que,
mesmo sendo alguém com excelente formação e com mente aberta para muita coisa,
ainda empregava certo preconceito com relação a alguns assuntos até triviais.
Desculpou-se e tentou retomar a conversa.
―Que bom que vocês se
deram bem. Mas, me diga! E o que você achou do que viu nesse passeio que a Neca
proporcionou?
―Ah! Mais é muito
carro e ônibus pra tudo lado. Num vi um pé de gaviróva nos quintar. Num vi um
passarinho que não fosse urubú avoando. É muita gente apressada. Inté tá
parecendo quando eu e a Aleluia tivêmo em Nova Iorque, lá nos estêites.
―Vocês foram para Nova
Iorque? Tá brincando comigo!
―Ara! Mais e não? Nóis,
na verdade, só dêmo uma passadinha por lá, pois a gente tava indo pra Canecaticute.
Nóis queria ver um leilão numa feira de maquinário que ia ter lá. E como tinha tempo de sobra, dêmo uma paradinha na tar Nova Iorque.
―Caneca... o quê? ―Léo
esboçou um sorriso. ―Não seria Connecticut?
―E não foi o que
falei? Canecaticute. Mais lá é frio por dimais da conta. Meus pé gelaram na
butina. E falano nisso, primo. Num tem um móia-guela pra me oferecer?
―Móia-guela? Que
diabos seria um “móia-guela”, primo?
―Uma purinha. Oceis
num tóma nada pra arrefestelá antes das refeição?
―Ahhh! Uma cachacinha?
É claro. Venha. Vamos lá para a sala de refeições. O jantar já deve estar quase
pronto. Assim, podemos conversar melhor à mesa.
E assim, aquela
primeira noite passou, sem maiores alardes. Após o jantar, todos se recolheram,
e no dia seguinte, já cedo, Léo tratou de mostrar alguns imóveis para o primo.
Tudo parecia correr
bem, com Oscar se mostrando muito interessado pelo potencial empresarial da cidade. Não gostava muito do
movimento intenso que via pelas ruas do centro, mas seu tino comercial indicava
boas possibilidades de lucro nos imóveis que Léo havia selecionado.
O dia passou rápido,
até que no fim da tarde, os dois retornaram para o apartamento de Léo. Lá, uma
surpresa. Aleluia, esposa de Oscar, assumira o comando da cozinha, e estava
preparando o jantar.
―Ora, pai. E eu ia
fazer o que? Ela insistiu, dizendo que queria ser útil. O pior é que a Neca
ficou colocando pilha. Até levou a dona Aleluia ao mercado. Agora, deu nisso.
―Tenta ficar
tranquila, filha. O primo ficou muito interessado em quatro imóveis. Vou tentar
apressar o máximo que eu puder toda essa transação. Por isso eu te rogo. Não
vai querer surtar!
―Não? E se eu te
contar que a Neca tá arrastando a asa pra cima da Perestróica?
―Não entendi. Me
explica isso, Helô!
―É bem isso que você
escutou, papai! Eu conheço bem o olhar safado da Neca. Foi com esse mesmo olhar
que ela me conquistou. Tenho certeza de que a Neca tá interessada na
perestróica da Perestróica.
―O queeeeeeee? Do que
você tá falando, filha? Perestróica da Perestróica? Dá pra falar a minha
língua?
―Ah! Deixa pra lá. O senhor
só tá interessado é no dinheiro do seu primo. No mais, quer é ver o circo pegar
fogo, que eu sei!
Helô cerrou os olhos e
deu as costas para o pai, saindo em seguida para o corredor. Léo, ainda sem
entender, foi atrás dela, mas parou assim que passou pela sala. Lá, numa
conversa muito animada, estavam Oscar, Neca, Cajuíno, Equinócio e, claro,
Perestróica.
―Se acomode cum a
gente, primo. A Canecona tá fazeno nóis quase se mijar de rir.
―Claro, primo. Claro.
Mas, do que vocês estão falando, afinal?
―Óia, primo! Fiquei
surpreso! Num é que a Canecona também é chegada num butiá!
―Me dá água na boca só
de pensar num butiá bem rechonchudo, sogrão!
―O queeeeeeeeeeee?
―Léo estava sentando quando foi surpreendido pelos comentários de Oscar e Neca.
―Como assim? Butiá de quem? E como você pode gostar do butiá de alguém, Neca, se você não tem... é... não tem pint... ―ele calou por instantes, tentando medir as palavras que estavam a beira de pular de sua boca. ―Ah! Você sabe o que eu estou tentando dizer! E essas intimidades não são assunto pra se discutir assim, diante dos filhos do primo, não é?
―Uai? Vai me dizer que ocê num é chegado em comer um butiá, primo? Eu sempre digo e arrepito. Foi o
butiá da minha mulher que deu a riqueza que nóis tem. Se não fosse pelo butiá
de Aleluia, nóis tava capinando roça seca inté os primórdio do dia de hoje!
Aleluia!
―Aleluia! Aleluia!
―Neca e os filhos de Oscar gritaram em coro, seguindo o agradecimento de Oscar.
―Chamaram ieu?
―Aleluia veio até a porta da sala, mas logo viu que o grito de “aleluia” fora
em outro sentindo. ―Oxe. Ocêis inda vão gastá meu nome. Vô vortá lá pras
panela, isso sim!
―Primo, mas que falta
de educação é essa? Falar desse modo grosseiro de Aleluia?
Léo parecia aturdido.
Não sabia como se comportar diante daquilo que Oscar falava.
―Ara, primo. Que é
isso? Num to sendo grossero coisa nenhuma. Aleluia tá lá na cozinha. Falo dela
sempre com respeito e admiração. Ocê é que parece num gostar muito de butiá.
Se é que já comeu arguma veiz um bão dum butiá bem do maduro e vertendo
caldinho. Intão, se é ansim, dâmo um jeito rapidinho. Quer comer o butiá da
Aleluia?
A face de Léo
enrubesceu, e ele, mesmo com a boca aberta, pouco conseguia falar. Balbuciava
algo, mas seus pensamentos estavam completamente perdidos.
―Não acredito no que estou
ouvindo! ―Léo finalmente comentou, tentando ordenar seu raciocínio. ― Que pouca
vergonha é essa? Você sai por aí, oferecendo o butiá de sua mulher assim, sem
um pingo de compostura? Que descaramento é esse?
―Não, primo! Não é
“compostura” que fala. Nóis faiz em compota. Compotaaaa. E eu ofereço mesmo.
Mais ela não dá pra quarquer um não. Prá maioria nóis vende. Sinão, como nóis
ia ganhar dinheiro? Minha mulher vende o butiá dela, e junto, vai o leite da
Perestróica.
Numa poltrona ao lado,
Neca ria desmedidamente. Ela sabia que Oscar estava falando do fruto do
butiazeiro, que é uma palmeira muito conhecida, e não daquele “butiá” que Léo
estava imaginando.
―Cajuíno, moleque da
moléstia! Vá lá com sua mãe e traga o butiá dela pro primo dar uma provada.
―Pode parar! Isso já
está passando dos limites! ―Léo tentou argumentar, quase desesperado.
Cacho de Butiá - imagem coletada no Google |
Cajuíno saiu da sala,
mas voltou rapidamente. Trazia nas mãos alguns frutos pequenos e arredondados,
completamente alaranjados. Léo, quando viu aquilo, corou de vergonha.
―Então... esse é o
butiá de Aleluia?
―Ara! E qual butiá o
primo tava pensando que era? ―Oscar arregalou os olhos e deu uma gargalhada.
―Nóis vive da prantação das parmera de butiá. É lógico que agora nóis tem
fazenda de gado, fazenda de prantação de soja, e umas par de otras fazenda, que
nem me alembro dereito quantas são. Mais nóis comecêmo ganhá dinheiro com o
butiá das terra seca da herança da Aleluia, e mais adespois cás vaquinha de
leite que comprêmo pra Perestróica. Pensei que o primo já era sabedor dessas
coisas!
Neca continuava rindo
sem parar. Léo olhava incrédulo para o primo, e com muita vergonha, colocou um
daqueles frutos na boca, mordendo e chupando em seguida. Sua tensão era tanta,
que sequer reparou no caroço que o fruto possuía, como se fosse um coco em
miniatura, e engoliu tudo, quase se engasgando.
―Eita, sogrão! ―Neca foi
até ele, em socorro, e deu alguns tapas em suas costas, até que ele pareceu
engolir aquilo. ―Entrar, o caroço entrou. Agora, quero ver sair.
Pouco depois, com os
ânimos e risadas mais calmos, Aleluia chamou para o jantar. E foi nessa hora,
com todos à mesa, que o assunto anterior ganhou proporções maiores. Mais
precisamente no que dizia respeito ao caroço do butiá que Léo engolira.
―Parece piada, papai! ―Helô
comentou, soltando um sorriso. ―Até eu sei que o tal butiá tem caroço. E agora?
―Já falei isso pra
ele, momô! ―Neca esticou um olhar irônico para o lado de Léo e, sem dó, soltou
um comentário sarcástico. ―Entrar, entrou. Sair é outra história. Pior é que
pato não peida. Senão, até saia fácil.
―Como é? ―Léo quase se
engasgou novamente com um pedaço de carne que levara à boca.
―Eu adiscordo. ―Oscar
arrematou taxativo, olhando para Neca. ―Pato peida sim! Purque num havéra de
peidar? Num é, Aleluia?
―Acho que não, meu
véio. Num alembro de ter escuitado ninhum pato peidá inté hoje.
―Mais como é que não,
Aleluia? E o Qüenca? Vivia peidando pra tudo lado. Era o Equinócio chegar
perto, o Qüenca saia correno e se encostava na parede, peidando feito um louco.
―Ara, paiê! Num fica
falano minhas intimidade. Mi deu inté vregonha agora! ―Equinócio, que sentara
ao lado de Neca, baixou a cabeça, completamente corado.
―Gente, que é isso?
―Léo tentou retomar a palavra. ―Vocês estão malucos? Isso aqui é uma refeição!
Merece respeito.
―Oxe, primo! Mais quem
é que tá desrespeitano? Só constestei a Canecona. Ela é quem falô que pato não
peida. Eu afirmo que o pato lá do Equinócio, o Qüenca, peida sim! Peida e depois
se borra todo!
―Mas isso não é
conversa que se tenha numa refeição! E além do que, não se fala que alguém
“peida”! Se for necessário fazer menção a isso, então diga que alguém
“flatula”.
―Óie, ocê tá doidinho,
primo! Pato não flutua. No máximo, ele pode avoar, mas não flutuar. Só se for na água, daí sim. Acho que
essa tar de tevelisão tá te fazendo mar pros noronho.
―É isso mesmo, sogrão!
―Neca, rindo novamente, continuou provocando. ―Tudo começou com você engolindo
alguma coisa maior do que o buraco de saída que você tem. Agora, aguenta, véi!
imagem coletada no Google |
―Isso tudo já tá
passando dos limites do razoável! Vamos mudar de assunto? Vocês se importam?
―Arre! Intão tá! Vamos
comer em silêncio. ―Oscar determinou, meio sem entender as atitudes de Léo.
―Mas intão me diga, primo! Tá boa a bóia da Aleluia?
―Ah! Sim. Quanto a
isso, não há duvida! Uma delícia. Gostinho de comida do interior, com um sabor
sem igual. Diferente de tudo o que temos por aqui. E por falar nisso, Aleluia,
o que é essa carne ensopada que você preparou? Está sensacional!
―Óie, primo. Num achei
os grediente que to acostumada, mais a Canecona me deu uma ajuda lá no açougue.
Léo abriu um sorriso
mas, ao olhar para Neca, cerrou os lábios. No prato da moça não havia nada além
de algumas folhas de alface e um pouco de arroz. E isso fez com que uma ponta
de desconfiança brotasse instantaneamente, tanto em Léo quanto em Helô.
―É...! Do que,
necessariamente, é feito esse seu ensopado, dona Aleluia? ―Helô perguntou,
temendo pela resposta.
―Nada de muito
especiar. Nóis dêmo foi é muita sorte de encontrar uns bago de boi da miór qualidade. Nunca vi lá no sítio argum touro com bola tão
grande ansim. E pra completar e dar sabor, um bucho de porco e bastante banha
que eu merma derreti dos toicinho que troxêmo lá do sítio.
―Ai!
Esse “ai”, dito em
conjunto por pai e filha, foi a única coisa ouvida por todos antes que ambos
saíssem correndo para o banheiro. Oscar e Aleluia, sem entender, olharam para
Neca e viram a moça balançar a cabeça e sorrir fartamente.
―Hehe! Bom, agora eu
imagino que ele vai descobrir se pato peida ou não. ―Neca comentou e, em
seguida, elevou o tom de voz, para ser ouvida por todos que estavam naquele
apartamento. ― Força no butiááááááá, sogrão!
Marcio Rutes
Nota:
Para conhecer melhor a família de Oscar e Aleluia, leia o causo "O BUTIÁ DE ALELUIA".
Se encontrar dificuldades para navegar até o causo citado acima, clique aqui.
não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.
SEJA EDUCADO (A). SOLICITE AUTORIZAÇÃO.
ResponderExcluirOlá Márcio, boa noite! Em primeiro lugar te ofereço meus parabéns pelo seu desempenho em criar textos tão belos e tão longos. Realmente um grande desempenho!
Em segundo lugar, ofereço minhas desculpas se sou inconveniente com esta mensagem fora de contexto.
Há muito tempo (anos) não entro em nenhum blog. Hoje por acaso visitei alguns prezados amigos. Vejo que o nosso prezadíssimo amigo André Bessa também há muito tempo não faz portagem. Vendo que li no blog de André uma pequena perturbadora mensagem dirigidas aos leitores... Sei que você sempre foi um fiel seguidor de André. Por razão disto lhe pergunto se por gentileza poderia me falar se você tem noticias sobre André.. referente a sua saúde. Grata. Uma linda noite para você.
Ange.