terça-feira, 15 de julho de 2014

ANTÍDOTO


imagem - Marcio Rutes


O futuro talvez seja um veneno que age no presente, mas plantado no passado. Ele corrói as entranhas dos sonhos, fazendo com que se queira mudar, evoluir, prosperar.

E esse veneno chamado futuro calibra cada faísca dos sonhos na busca da prosperidade física e mental. Aptidões financeiras mais favoráveis sobrepujam, muitas vezes, as questões de corpo e espírito. Mas, é para o lado sentimental que mais buscamos esse veneno chamado futuro.

Antídoto? Tem sim. Viver uma vida calcada na realidade, sem almejar o amanhã, porém realizando o hoje. Troca-se o risco pelo “algo seguro”. Troca-se o sonho pelo “palpável”. Troca-se, muitas vezes, o amor de uma vida pelo medo de sucumbir ao pesadelo da solidão. Ninguém a quer, a solidão. E por isso, muitos deixam de sonhar. Acabam por não existir em seu próprio futuro. E ele, eu sei, só existe por uma fração de segundo, para tornar-se presente e passado rapidamente.

Sempre achei que a música fosse alguma espécie de antídoto. Mas não uma música qualquer. Teria que ser aquela que tem o poder de devastar e, ao mesmo tempo, trazer sementes e replantar toda uma cadeia existencial.

É! Eu precisava viver esta música.

Nem estava tão frio. O mundo era rápido em sua passagem, e mesmo sem poder enxergar muito, ainda resgatava alguns faróis vindos em sentido contrário. Nada de estrelas ou planetas naquele breu em que estava o céu, e como de costume, o sono desaparecia no transcorrer da viagem. A solidão naquele banco apertado só não era maior do que a própria vontade de estar ali, a caminho de um novo destino. A solidão era tão parecida com a escuridão lá de fora, que eu sequer me permitia olhar por dentro.

Uma ponta de ansiedade já me tomava, me forçando a um jogo frenético de adivinhações. Como seria o brilho dos olhos dela? Suas mãos teriam a mesma maciez de sua voz encabulada? A pele, os braços, pernas, cabelo e, claro, seus dedos rápidos e prontos para dar “petelecos”, seriam como eu imaginava? Em poucas horas eu saberia. O engraçado é que talvez um ano se passasse num instante, mas aqueles malditos minutos do meu relógio se arrastavam numa eternidade sem fim.

Mais faróis, e num deles eu imaginei um beijo. Como eu queria esse beijo. Como eu precisava de um simples afago brotado daquela boca que tanto beijei em sonhos. Pois é. Eu queria o antídoto, mas eu sonhava. Quem sabe eu quisesse, verdadeiramente, o veneno.

Que ironia. Diante de mim, abrindo-se num clarão em meio à madrugada, estava a cidade que não dorme. Eu, que tanto detesto multidões se apertando e gente apressada, estava a ponto de voltar para o maior centro de agitação que conhecia. E a cidade me recebeu assim, me deixando tonto com seu vai-e-vem de pessoas e veículos já na boca da manhã.

Para não desapegar do hábito, me perdi dentro de mim mesmo ao me reparar com os pés num chão não tão desconhecido. E foi olhando rosto por rosto que desabei o corpo numa poltrona qualquer, pronto para esperar mais algumas horas sem fim.

O castigo da espera é sempre o cartão de visitas que é dado a minha pouca paciência. E assim que aqueles poucos raios de sol surgiram, mais parecendo com fios de ovos do que com algo luminescente, parti para explorar o que eu já conhecia de outras tantas vezes que estive ali. Não queria parecer alguém estranho, mas havia esquecido que para isso, eu mesmo deveria me reconhecer. No entanto, isso não estava acontecendo. Ao olhar numa vitrine qualquer, o que vi era um menino perdido, ansioso e temeroso. O pior de tudo é que não existia uma música para se escutar ali por aquelas paragens. Vozes se misturavam e maculavam minha pouca sanidade. Um desvairado num inferno de loucos apressados. Assim eu me sentia.

Tudo passava tão lentamente, até que um mar de gente apressada por muito pouco não me engole. Teria engolido sim, mas um aperto em meu peito fez com que todos desaparecessem. Todos, com a exceção de uma única pessoa e seu dedo curioso e delator.

―É você?

Foi estranho, pois não a ouvi perguntar tal coisa. Eu li seus lábios, os mesmos que mais tarde estariam ensinando aos meus a forma mais rápida de se aplacar uma sede sem fim.

O que sei é que ela era mágica, ou então minha vontade e ansiedade eram tão grandes, que ela parecia passar pelo meio dos transeuntes. Acho que eu a fazia transfigurar a cada vez que alguém se aproximava dela. É! Acho que foi isso, pois quando me dei conta, eu estava enlaçado por aqueles braços que nem eram grandes, mas que me apertavam de um jeito único, transformando-se em algo só nosso.

Cereja - image by Google
Não, nós não nos abraçamos. Fazemos questão é de nos enroscar.

Fomos abaixo do chão e voltamos ao térreo de nossa realidade numa velocidade sem igual. Percorremos e corremos entre odores e aromas, acepipes e arte tanto abstrata quanto (in)concreta. E eu, numa atitude nada cavalheira, mas totalmente necessária para meus devaneios futuros, passei meus dedos em sua calça, na altura da coxa. Mas calma. A causa até que me absolve, pois estava limpando algumas casquinhas de um tal “pastel de palmito” (famoso e delicioso) que ela comia. Bendito pastel. Passou a ser um elemento de adoração para mim. E quanto mais casquinhas ele tiver, melhor.

E assim, me vi dentro de um furacão. Era como se um rastelo passasse em minha essência, arrancando fundo cada raiz. A ansiedade? Não, ela não havia cessado. Pelo contrário, estava pior e esperando por um mínimo sinal.

Ele veio. O sinal que eu tanto queria veio em forma de um olhar de aprovação.

Tudo silenciou. Aquietou-se em meio ao barulho urbano que vinha da rua. E assim, do nada, uma música verteu dos lábios dela, cantada diretamente em meus lábios.

Percebi que o passado, aquele dos castigos e dos devaneios, estava desaparecendo. Restava dele apenas o frasco do veneno que faz com que evoquemos os sonhos futuros. E nos lábios dela,  a suave mordida que me libertou de um cárcere íntimo.

Se eu quisesse, teria ali o antídoto para uma vida desregrada e vazia, um tanto solitária, mas joguei-o ao chão. O frasco partiu, e o líquido perdeu-se. Não haveria remédio para tudo o que eu pensei em curar no meu passado. Porém, ela me mostrou que nada precisaria ser curado. Afinal, era passado. O que era preciso, sim, era de um novo encantamento, ou um doce veneno, que me contagiasse e fizesse com que meu corpo e alma entrassem em uma nova febre. Uma febre que me tomasse e me queimasse, ardendo em suaves convulsões vindas de melodias desconhecidas.

A pele suada trazia parte do encantamento. Aromas e gostos, que só ela tem, temperaram uma poção para me conjurar ainda mais sede, enquanto suas pernas me prenderam num abraço que os próprios braços não puderam dar, pois eles estavam ocupados me aprisionando num peito macio e de onde eu tanto sonhei em beijar.

Veneno? Não sei. O que sei é que nem sempre um antídoto é o que queremos ou precisamos para curar a solidão. Por vezes, é melhor esvaziar aquilo que se tem, por completo, e deixar o vento carregar nosso destino meio a esmo, sem direção. E se damos a sorte de encontrar quem cante aquela música, essa mesma tão silenciosa em notas, mas rica em gotas do veneno dos sonhos, então devemos compor juntos a canção.

Saí dali completamente zonzo pela dose de veneno que me contaminou. Sonhos rápidos e compulsivos me deram uma quantidade monstruosa de futuro. Não. Algo além. Um sobrepasso num lapso do tempo, num lápis que risca tão rápido que sequer a luz consegue acompanhar, vertiginoso que é. E a morada dos dias se abriu, mostrando um universo radiante, como um deus que te diz bom dia e te beija a face. É dormir para esperar o dia raiar, e assim, viver o futuro do ontem, mas sem descuidar do amanhã.

Um mês. Por um longo mês, ela me fez voltar ao passado. Como? Falei tanto em futuro, mas agora afirmo que ela me fez voltar ao passado? Sim, ela fez isso. Fez com que eu me comportasse tal qual criança afoita e desesperada, como nos natais com seus presentes empacotados e guardados debaixo da árvore. Até que veio o SiM que eu tanto esperava. Exatamente no dia 15 de julho de 2013.

Ela esteve em meu passado. Não apenas neste atual, se é que existe isso, mas acredito até que em outras vidas interdimensionais (quem sabe, não é?).
Porém, é aqui que a conheci. E levei um bom tempo para conquistá-la, trazendo-a para meu presente, e fazendo dela o meu mais saboroso veneno. Aquele mesmo que contamina cada sonhador. Ela é meu sonho futuro. É minha vida.

Samara Bassi é meu motivo para amar viver, para amar meus sonhos, e para me fazer ir SeMpre em frente. SeMpre. Unicamente porque eu amo desmedidamente essa mulher. E se existe um antídoto para esse amor que sinto, seja por ela ou por meus sonhos, eu dispenso, porque ela é meu sonho de futuro, presente e passado.

Quer saber o que é engraçado nisso tudo? Depois de tanto tempo, aprendi que somos senhores de nossa vontade. E minha vontade agora é dizer...


"FELIZ NOSSO DIA DOS NAMORADOS, MINHA SAM". 


Marcio Rutes


imagem - Marcio Rutes

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2 comentários:

  1. "Sonho que se sonha só / É só um sonho que se sonha só / Mas sonho que se sonha junto é realidade" - Raul Seixas.

    Taí uma frase curta, mas de grande verdade. Quantas vezes um sonho solitário não se fez veneno pela dor de não poder realizá-lo ou de sentir a impressão angustiante de tê-lo longe demais?

    E quando o outro chega na nossa vida, a gente percebe que o sonho não morreu, mas fortaleceu. Ou até transformou-se para também fazer com que o outro caiba nele. A realidade pode ser sim um sonho diário, uma costura de muitos sonhos, detalhes. Um antídoto do impossível.

    Tua chegada fez meu mundo parar e rodar diferente. Da melhor forma, com as mais bonitas cores, com uma música nova... e só nossa! Música que fomos compondo um dia após o outro e que carrega em si, todos os cheiros, impressões, cores, texturas, paladares. É essa, a nossa 'poção', a nossa alquimia particular, sem senhas, mas totalmente ditada e explícita aos olhos de quem amamos. Sutil?, sim. É também, um enigma que somente nossos corações entendem.

    Você, que fez e faz meu pensamento perder o rumo do mundo real e acelerar o peito sem terremotos. Faz o mar dentro da boca secar e o friozinho na barriga ser constante.

    Sim, você sempre faz!

    E lá, naquele lugar, naquele momento só nosso, das nossas descobertas, sob nossas cobertas, o teu olhar se fez meu céu inteiro e até hoje é assim. Sina minha essa de ter você em cada detalhe vivo, no agora e na lembrança.

    Minhas mãos suadas e o beijo, ahhh o beijo... nem o pastel superaria.

    Foi muito mais que um encontro, foi um reencontro, um reconhecimento de almas, um já ter estado lá, um já ter tocado a pele, um já ter vivido em meio a saudade como se já a conhecêssemos tão bem.

    Confirmamos ali o que vivenciamos dia a dia: "o Estar perto não é físico"... e a gente sempre foi além, não é?

    Confesso que meu coração aflorou na presença do seu, quando soube me trazer em gestos simples, um mundaréu de sonhos nossos, ainda sementes, para serem plantados, regados, germinados. Muitos já floriram, deram frutos, dando lugar para outras mudas, mudanças, outros sonhos. Existem ainda aqueles sonhos que merecem uma vida maior, e ainda estão pequeninos, dentro da sua já tão notável grandiosidade. Esses, renderão frutos também lindíssimos e fartos. Cada um nos acompanharão pela vida inteira.

    (continua)

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  2. ... Mais que meu namorado, você é uma pessoa que admiro, respeito, da qual me orgulho e me espelho em muitas ocasiões. Você, é o homem que soube e sabe fazer a mulher mais tantan do mundo... a mais feliz!

    Com você eu sou eu mesma e não tenho que ter medo de chorar, de pedir colo e também de brigar.
    Com você, eu em sinto em casa... não poderia ser diferente porque é VOCÊ o meu lugar. Te moro já faz tempo e já faz tempo que meu coração e meu corpo inteiro se fizeram morada bonita e ventilada pro teu amor me preencher manso e ainda assim, com toda a urgência do mundo em ser feliz.

    Não é só por hoje que sou uma mulher feliz ao lado de um homem fantástico como você, Marcio Rutes, mas por todos os dias. Pelos piores dias, também. Pois neles é que a nossa força criou raízes mais fundas e se sustentou tantas vezes no incerto. É por todos os dias, por todas as vezes de risos e lágrimas que enfrentamos o mundo e se caímos, nos levantamos mais fortes e mais juntos. Enroscados, na verdade.

    Cada palavra sua escrita aqui, me remete àquele dia mais que especial. o primeiro de tantos outros dias especiais, meu amor. Aos dias do antes também, nos petelecos e rodopiadas com os pés descalços, lembra? E me trazem, cada um, lágrimas aos olhos. Você me conquista todos os dias, até sem nem se dar conta disso.

    É verdade que aqui, não caberia nem um pedacinho do imenso amor que sinto por você, meu futuro marido . Meu enamorado, pois você é por quem eu me enamoro em cada instante.

    Então, feliz nosso dia dos namorados, dos enamorados... feliz nosso dia do SeMpre.

    Eu amo você, meu forninho elétrico!!! rsrs Meu amor, meu amigo, meu cúmplice! Voc6e ainda vai ter que me aguentar muitoooooooooooooo!!! hehe

    Sua Sam. SeMpre.

    "Aprendi com você que no dia a dia o grande amor abrange sonho e vida real." - Nando Reis.

    <3 <3 <3

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