quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

TIMIDEZ – Remexendo no baú da memória




Nada melhor, ou pior para alguns, do que remexer no baú da memória. Ouvindo uma música do Biquíni Cavadão (Timidez), fiz uma viagem no tempo e voltei aos meus 17 anos de idade, isso lá no ano de 1985. Era final de ano, e o colégio onde eu estudava estava se preparando para a formatura do antigo 2º grau.

Na época, eu era fascinado por uma garota que estudava comigo, cativante, inteligente e de rara beleza, pelo menos aos meus olhos. Nunca fui namorador, isso em face de uma timidez enorme que me acometia e, o que é pior, me persegue até hoje. Até o simples fato de cumprimentá-la era um suplício. Para mim, aquilo já era um amor platônico, e estava até conformado com isso, mas a festa se aproximava. Seria a última de um grupo muito unido, e que dificilmente se veria novamente. O trabalho era intenso, e mal se podia conversar, pois, como isto aqui ainda é Brasil, ficou tudo para a última hora.

Certificado de conclusão do curso na mão, todos alforriados, e lá fomos para a dita festa. Foi um divertimento só, para todos, menos para mim. Ela estava lá, linda, com um vestido curto, azul. Os cabelos soltos e pelo ombro, castanhos, marcavam bem o rosto de traços suaves, e os grandes olhos, sempre que me miravam, me fazia estremecer. Eu a olhava, via sua boca mexer, e me imaginava mergulhando num beijo profundo. E entre um devaneio e outro, tudo se quebrava quando alguém a tirava para dançar.

image by Google
Chateado, beirando a tristeza, saí da festa e estava indo para o portão de saída, quando ela veio atrás. Alcançou-me próximo a uma janela, e conversamos um pouco. E do nada, essa música do Biquíni Cavadão, Timidez, começou a tocar. Lembro da sensação estranha que me acometeu. Diante dos meus olhos, tudo desapareceu, e a única coisa que eu via era a imagem dela. Quando me dei conta, estávamos dançando, e no minuto seguinte, nos beijávamos. A música acabou e ficamos ali, namorando, e mesmo tendo convivido por quase um ano, nos conhecíamos ali e descobríamos que, também pela timidez dela, perdemos um ano inteirinho de namoro.

Na semana seguinte, ela saiu de Curitiba e foi para o Rio de Janeiro, e nunca mais nos vimos. É engraçado como algumas coisas ficam adormecidas na memória, mas são facilmente relembradas com pouquíssimo estímulo. Ela, pelo que sei, está casada e com filhos. E eu, continuo tímido e vivendo de recordações de uma vida com poucos, mas intensos, amores.

21 comentários:

  1. Timidez, ah... como te entendo pois sou assim até hoje.

    Um bom dia Marcio.

    beijooo.

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  2. Timidez, palavrinha chata, que so de pensar que um dia algo aconteceu ou deixou de acontecer por causa da timidez nos assusta e muito... as vezes a timidez até ajuda, mas muitas vezes atrapalha, as pernas ficam tremulas, sua voz não sai, fica vermelha... quem não sentiu isso um dia, acho que todos nós temos um segredinho escondido por causa da timidez...e olha só onde vc foi buscar o que estava registrado na sua memória, por conta da timidez, mas creio que valeu a pena... hj ficam as lembranças...
    Arigatou pela visita no meu blog. Abraços, Giovanna

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  3. Comigo já aconteceu várias vezes quando eu era adolescente, nossa!
    Cada vacilo que eu dava, cada mico, PQP!
    Mas que era legal, ah isso era, hahahaah!

    Abraços.

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  4. Mas eu acho que esses amores são os mais gostosos? Ou pelo menos tê-los vivido em algum momento da vida é super legal. Chato quando a vida segue um cronograma certo, tudo certo, tudo do "jeito como deve ser".
    Não foi um ano de namoro, foi uma noite. Mas uma noite que marcou. Talvez se o ano fosse aproveitado, vocês teriam se machucado e na memória só ficasse a dor.

    As linhas são certas, a gente que se nega a entender.

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  5. Oi Márcio
    Lembranças boas as vividas por nós que vez ou outra surge deixando saudades.
    e os amores vão e vem , precisamos fazer deles momentos assim inesquecíveis e quando possível que sejam duradouros.
    Volto pra ler os posts anteriores,que perdi por absoluta falta de tempo.
    deixo meus abraços

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  6. Olá, Márcio!

    Quem já não teve um amor platônico, destes que envolvem muito sofrimento, tudo por conta da timidez...

    Adorei o teu post! Me fez recordar um amor assim, da época da minha adolescência!

    Uma beijoca, e manda esta timidez para o espaço, meu amigo!
    :):):)

    neli

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  7. Querido,
    Remexer no baú e trazer a tona recordações gostosas é um excelente exercício de esperança de dias melhores.
    Em alguns momentos a timidez se torna um charme em outros um entrave para a comunicação.
    Sempre gratificante passar por aqui.
    Meu carinho.

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  8. Oi Marcio, conhecia seus textos do Recanto e hoje passei aqui e adorei. Lindo texto sobre timidez e amor, encontrei muito de mim mesma nele. O amor escondido, a satisfação da correspondência,a vida e as pessoas que passam por nós. Super abraço pra você.

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  9. Oiê!

    Grande amigo Marcio, só agora descobri que somos vizinhos! Seu texto conta a história de muitos, mas faz parte da vida... Os tímidos são os mais sencíveis, daí a facilidade para escrever!
    Abração :)

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  10. Que bonito! Eu poderia dizer que parece cena de filme mas na verdade, por ser real, supera qualquer produção.

    Uma pena que não tenham se aproximado antes, né, Marcio? Imagina quantos beijos caberiam em um ano inteiro?

    Recordações nos alimentam e contribuem para que sejamos quem somos.

    Beijo, beijo.

    ℓυηα

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  11. Timidez tem suas vantagens. Vc sempre fica por último e pega sempre selecionado. Mto bom!
    Fique com Deus, Jr!

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  12. Me fez lembra de belos momentos, adorei.Encanto a nossa alma seu blog.
    com carinho
    Hana

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  13. O medo (e a timidez nada mais é do que medo) é nosso pior inimigo, péssimo conselheiro e um tremendo empata. Poxa, quantas coisas a gente deixa passar por "medo" de ser rejeitado, de passar vergonha, de ser ridículo, de errar, de acertar(rs)... Mas fiquei muito feliz porque, ao menos, vcs tiveram alguns momentos inesquecíveis. Mas a vida tem seus caminhos e, apesar de nem sempre concordarmos com ela, ela sempre tem razão.
    Uma linda história, um texto muito bem escrito e
    que relata sentimentos que todos nós conhecemos.
    Adorei seu blog, seus textos e te convido a conhecer o meu. Vá lá, tá? Te espero.
    Beijokas.
    Seguindo...

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  14. Marcio,
    Depois da minha última (e recente) desilusão amorosa, passei a ter quase certeza de que os amores não realizados, aqueles idealizados e platônicos, são os mais intensos. De qualquer forma, ficam as lembranças e uma pontinha de melancolia por terem sido o que talvez nunca pudessem ser.
    Beijin!

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  15. Oi Marcio...

    Timidez...é uma coisa estranha...qd se é timido(a),isso nos acompanha pela vida toda....sou timida demais!!!!

    E como vc tenho algumas lembranças que não preciso fazer nenhum esforço pra que elas voltem a memória...

    Adorei seu texto!

    Bjos!!

    Zil

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  16. Coisas que não voltam mais:
    A pedra jogada, a oportunidade perdida, a ofensa falada ou escrita.
    Há uma velha lenda, talvez grega, a oportunidade é uma mulher de longos cabelos que passa correndo. Se não a seguramos, descobrimos que é careca na nuca.
    Abraços Mano Velho

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  17. Oi!
    Você escreve muito bem,dá-nos exatamente
    o clima do acontecido,é bem articulado o texto é ótimo!!!
    Abraços.

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  18. Olá Márcio!

    É sempre bom recordar...e aquilo que com facilidade nos vem a memória é sinal que nos fez bem ou mal, acho que a ti fez bem...

    Bjinhos

    Mila

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  19. Querido amigo Márcio! Eu adoro relembrar alguns momentos... mas, confesso que esses eu prefiro esquecer... eu era uma verdadeira "topeira"!!! Timida até o último fio de cabelo, quando um cara me olhava eu saía toda torta... kkkk, eu acho que o pessoal da época achava até que eu era homosexual... sei lá! hahaha, que coisa chata esse lance de timidez, só sei que atrapalhou a minha vida, tive só um romance, e no segundo casei-me! Não fui do tipo namoradeira, embora tivesse muitos pretendentes... hahaha, corria deles!!! Mas, era essa tal timidez. Adorei a forma como relatou seus momentos, muito bacana saber expressar tudo isso que de certa forma guardamos pra vida toda.


    Bjs amigo, e obrigada pela visita e comentário deixado!!!

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  20. Bom dia, meu caro Márcio!
    não me surpreende que um excelente cronista como você tenha um lado tímido, sobretudo, nos verdes anos da vida. Penso que é uma característica daqueles que, temendo as reações do "de fora", sentem-se mais à vontade exprimindo aquilo que lhes vem "de dentro". Esta frase que escreveu "também pela timidez dela, perdemos um ano inteirinho de namoro é reveladora. A timidez sempre nos dá a impressão de perder ou de ter perdido algo. Mas,na verdade, não é bem assim. A gente ganha por dentro o que não teve ou o que não viveu "de fora". Saborosa crônica, como sempre. Meus aplausos, amigo, um grande abraço e bom fim de semana. André

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  21. Que história linda! É incrível como a música nos traz claras recordações. Eu também viajo no tempo ouvindo algumas que foram marcantes. Seu texto ficou excelente, Márcio. Bjo.

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