domingo, 10 de fevereiro de 2013

QUANDO O FRIO CHEGAR



Quando o frio e a neve congelaram as águas,
me senti só, desolado.
A cascata virou pedra,
tornando tudo um deserto gelado.
Teu rosto alvo e lindo veio a mim, 
e com um cinzel te deixei ali,
esculpida na rigidez daquela água endurecida.
Por alguns dias, lá estava você,
não com a delicadeza e beleza que possui, 
mas perto, mesmo que imóvel, 
naquele alpendre. 

A varanda te protegia da chuva, 
e eu te olhava, também imóvel. 
O tempo,
contraditório ao que queremos, 
trouxe o sol, e com ele, você derreteu. 
As gotas escorriam cada vez mais rápidas, 
até que restou pouco de você. 
As mãos, braços, o rosto liso e sereno, 
tudo virava água novamente. 
Pareciam lágrimas de quem não quer ir. 
E não se foi. 
Quando as últimas gotas,
justamente as dos lábios e olhos, 
terminaram de pingar, 
notei o chão umedecido e vertendo brotos. 

Você não estava indo, 
mas sim se plantando de vez. 
Hoje, onde um dia existiu uma escultura gelada, 
brota um belo jardim,
tanto regado por tua essência cristalina, 
quanto semeado pela pureza de tua alma.




Marcio JR


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sem DÓ e sem SOL em SI




Sequer aquela música velha fez sentido.

As notas, de um dó só
arderam aos ouvidos.
As cordas do violão estavam podres,
impróprias para aguentar o peso de um adulto.
A melodia, num dia carinhosa,
no outro era pura distorção.

Assim, quebrou-se o violão,
a música perdeu o tom,
e o que foi composto para uma sinfonia,
esvaziou, secou,
entonando uma nota de agonia.

Marcio JR

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ANJO PROIBIDO: O FIM


A mulher/anjo, enfim, se recobrara.
Descobrira que era capaz de transpassar o espelho,
afinal, ela era um anjo.
A jornada de volta foi longa,
e as paradas pelo caminho atrasaram ainda mais o percurso.
E lá estava ele.
Ao vê-la, mesmo que embaçada com a sujeira do vidro,
ele sorriu.
Aquele sorriso foi uma redenção. Ela estava lá.
Uma das mãos dela tocou o espelho,
submergindo para o outro lado.
Ele, sem saber o que fazer, ficou estático.
Ela conseguira uma forma de levá-lo daquele lugar
para junto dela.
A mão, pequena e alva, aproximou-se do rosto dele.
A face do rosto daquele homem sossegou ao toque da mão dela.
Ele estava, finalmente, em paz.
Até que, numa ação rápida, ela levou a mão até o pescoço daquele homem.
Quebrou-o instantaneamente.
Ambos, agora, estão livres.
Ela, solta para caminhar.
Ele, com todo o espaço do inferno para perambular.