domingo, 10 de fevereiro de 2013

QUANDO O FRIO CHEGAR



Quando o frio e a neve congelaram as águas,
me senti só, desolado.
A cascata virou pedra,
tornando tudo um deserto gelado.
Teu rosto alvo e lindo veio a mim, 
e com um cinzel te deixei ali,
esculpida na rigidez daquela água endurecida.
Por alguns dias, lá estava você,
não com a delicadeza e beleza que possui, 
mas perto, mesmo que imóvel, 
naquele alpendre. 

A varanda te protegia da chuva, 
e eu te olhava, também imóvel. 
O tempo,
contraditório ao que queremos, 
trouxe o sol, e com ele, você derreteu. 
As gotas escorriam cada vez mais rápidas, 
até que restou pouco de você. 
As mãos, braços, o rosto liso e sereno, 
tudo virava água novamente. 
Pareciam lágrimas de quem não quer ir. 
E não se foi. 
Quando as últimas gotas,
justamente as dos lábios e olhos, 
terminaram de pingar, 
notei o chão umedecido e vertendo brotos. 

Você não estava indo, 
mas sim se plantando de vez. 
Hoje, onde um dia existiu uma escultura gelada, 
brota um belo jardim,
tanto regado por tua essência cristalina, 
quanto semeado pela pureza de tua alma.




Marcio JR


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