The Four Suns of HD 98800 - Crédito: NASA/JPL-Caltech/T. Pyle (SSC) |
O sol, num céu de
brigadeiro, brilhava intenso, até mais do que aquele normal do começo de
outono. A caixa de correio estava abarrotada, e ao
abrí-la, um envelope me chamou a atenção. Ele não era maior, nem tanto era
colorido ou apresentava algo que o diferenciasse dos demais. Mas ele era
perfumado, e notei isso de forma instantânea. O perfume? Era um odor beirando o
amadeirado, instigante e intrigante.
Abri o envelope e,
antes de retirar seu conteúdo, observei o horizonte. Uma nostalgia desmedida
tomou meu peito. Era como se eu estivesse prestes a renascer meus dias já
consumidos, antes das tantas despedidas que me foram impostas ou que, por um
descuido qualquer, proporcionei a mim mesmo. O sol brilhava ainda mais forte,
mas estava frio, ventando lufadas de um espectro até fantasmagórico.
E o papel brotou do
envelope, branco e cintilante ao mesmo tempo.
“Te declaro minha
sina, meu tesão, meus pés fora do chão.
Tua saliva me colando
o verso na ponta da língua, de mansidão... ou não.
Te recebo e te
comporto, (des)comportada que sou. Te atropelo com dedos e língua, e beijos e
sinas, menina que sou.
Sua.
Nosso enroscar é
nosso, nosso jeito ‘fora do lugar’ e certo, como deve ser.”¹
Enlacei aquelas
palavras por entre meus desejos e lembrei dela, de sua boca entreaberta
esperando beijo, e de seus olhos gulosos, querendo minha boca obscena buscando
sua língua. E se não fossem todas aquelas pessoas ali, naquele saguão lotado,
sabe-se lá se teríamos interrompido aquela sessão de contemplação profana de
nossas tão saudáveis loucuras. E ela embarcou, a contragosto, irritada pelos
poucos dias que demorariam para expirar a saudade que ficaria.
Assim, ela partiu, com
a promessa de jamais abdicar de seu lugar em meu peito. Eternidade seria apenas
uma manhã em nosso despertar guloso, afoito em selar com o gozo abundante aqueles
tão fartos desejos de reinventar a vida, e torná-la apta a entender nossa
urgência de felicidade.
Mas aquela nostalgia
me apertava o peito. Sim, eu sentia saudades dela, mas era algo diferente,
muito maior do que qualquer sentimento que eu conhecia. Era como um imã me
impelindo para trás ao invés de me puxar. Uma força que subtraia meu tão
precioso otimismo.
Foi quando aquela bela
manhã entardeceu, deixando as dúvidas para depois. Elas perderam a importância.
Os medos não tiveram tempo de aflorar, e os deuses e demônios foram para alguma
esquina qualquer, num dos muitos botecos de um céu esburacado, para
aproveitar de camarote as angustias daqueles que esqueceram de acreditar na
soma dos erros e acertos.
Cachaça servida, vinho entornado e comida fria. Conta fechada. Era a hora de encarar divindades mal trajadas e maldades inventadas. Era a verdade que caminhava como sóis imensos e cuspindo sais por todo o universo.
A fé falira a face, e
as crenças despencaram. Inútil resistir, e tentar fugir era o mesmo que pular
diretamente ao fogo. Tantos queriam saber das verdades escondidas, e outros
falavam por seus demagógicos cotovelos sobre a necessidade de equilíbrio.
Hipocrisias contadas para eles próprios. E a verdade doerá muito,
principalmente naqueles que acham que sabem mais e demais.
Que pena. Foi tão
rápido que mal pude aproveitar os fogos que alguns acharam ser apocalípticos. E
que decepção. Nenhum cavaleiro estava lá, segurando sua espada justiceira.
Sequer a barca e o barqueiro, ou um purgatório, um inferno, por menor que
fosse, nada... nada.
Até que as nuvens
dissiparam, e diante de meus sonhadores olhos, um infinito que tanto acreditei.
E ela. Sim. Ela.
Ela prometera. Ela
cumpriu. A eternidade estava brotando daqueles dois sóis. Nada mais era do que
o amanhecer de uma nova era. E ela seria eterna, num namoro temperado com os
sais desse imenso mar que esperava por nós para criar suas praias.
Marcio Rutes
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trecho em destaque:
¹ - autoria de Samara Bassi. Todos os direitos reservados para a autora.
Explosão desmedida como guerra estelar, como sóis beirando o abismo foram os sais de lágrimas na órbita dos olhos. Deslizou um vento por baixo das cortinas naquela despedida impressa num papel acetinado, pras tuas digitais guardarem. Cintilantemente inesquecível.
ResponderExcluirSei que lá ficaram palavras que os oráculos jamais saberiam desvendar e que paladar algum que não fosse o seu, seria capaz de distinguir. O meu sabor, o meu cheiro foram especiarias pras tuas sensações expressas na pele.
Enlaçou as palavras?
Enquanto ela se fez nó em seu pescoço como joia rara morando no mediastino onde o coração tocava o outro... e o peito arrepiava longuras dormidas nos poros.
Ahhh, mas tenho que confessar que uma dose de etilismo e um punhado de lirismo nos cairia bem numa mesma mesa de bar. De boteco, de um beco sem saída. Santidades não me governam e também não conto meu endereço pra demônios. Sou a metade, o meio do caminho, a curva, a encruzilhada e a escolha... apocalíptica emoção. Vendaval das bíblias desprenderam folhas não escritas. Não há de ter certezas, nem duvidas. Não há de ser.
Não é preciso dogmas pra explosões e implosões sem rastros, sem dores.
Só há de ter caminho e companhia... pra ser templo em cada esquina.
E pó!
Showwwwwwwwwwwwwwww amorrrrrrrr. Ameiiiiiiiiiiiiii.
E ameiiii participar dessa sua inspiraçãoooo!!!
Te amooooooo
Sam.