quinta-feira, 7 de junho de 2012

METADE



METADE
Marcio JR

Sou meio lua,
Sou meio sol,
Quem sabe, meia vida,
Quem sabe, meio eu.
Sou metade de tudo o que busquei,
Sou metade de tudo aquilo a que me guardei.
Sou raiva, paixão, emoção.
Sou um todo pelo meio,
Sou meio tolo.
Sou todo SONHADOR.






METADE
Sam

de tantas, sou um inverso de todas.
das muitas, o pouco que resta das tempestades que me fazem casa,
que me faço asa.
nas diversas arestas do meu próprio olhar,
sou a metade que nao me completa, 
mas a plenitude que me compartilha.
sou o espaço que não me cura
e a saudade que me aluga as horas
por entre os dedos de qualquer inteiro que não me reparta,
mas que me conclua na minha
incapacidade de ser definida,
de ser concluída,
e mesmo assim,
na minha inteira vontade
de ser plural
e singular,
vez ou outra.


Quem sabe o Oswaldo Montenegro esteja certo! Acredito que eu seja metade de mim mesmo. Acredito que eu conheça metade da maldade do mundo. Acredito que eu só tenha sido amado pela metade.

Penso que andei a metade do que eu poderia ter andado. Ou que eu tenha galgado a metade do que me foi reservado. Penso também que minha outra metade está por aí, procurando a metade dela, ou se entregando nos braços de outra metade, indecisa.

Não sei se o que está comigo é a metade boa ou má, mas sei que é a metade mais frágil. Por certo, a outra metade que me fugiu é a que aguentava os trancos, os solavancos, os “não” que a vida reserva a cada um.

Minha metade que conheço é apaixonada, vive de devaneios e deslumbrada. Se entrega num ínfimo de tempo e, depois, conhece o mais puro êxtase de saudade. Ela é assim, e o que eu posso fazer? Brigar com a essência?

A metade daquilo tudo que conheci me fez bem, e a outra metade nem tanto. Porém, essa metade que não me fez bem, me mostrou muito. Me derrubou várias vezes, mas me ensinou tanto! Me ensinou a não ser tão egoísta, e também a ser pleno. Aprendi a ser intenso. Já me condenaram por isso, pela minha intensidade, mas aprendi, também, a mandar às favas quem tanto me condena.

música: METADE (Oswaldo Montenegro) - by YouTube

Aprendi que uma voz suave ao coração é necessária para amainar as dores da saudade. Aprendi a amar pimenta. Ou nem aprendi. Já nasci gostando. E hoje, o gosto de pimenta arde em minha boca.

Nem tudo está distante. Nem tudo é metade. Por tanto, se quero algo mais, preciso me fazer como um todo.

Metades são parte de nós. E assim nos conhecemos. Quando descobrimos qual metade está em nós, é mais fácil achar a outra parte, a outra metade. Alguns, porém, viverão assim, em meia vida. Fazer o que, não é?

Eu, por enquanto, vou por aí, ouvindo o Oswaldo cantar por inteiro, mesmo que a música fale em metades. Cedo ou tarde, me completo.

Marcio JR

17 comentários:

  1. de tantas, sou um inverso de todas.
    das muitas, o pouco que resta das tempestades que me fazem casa,
    que me faço asa.
    nas diversas arestas do meu próprio olhar,
    sou a metade que nao me completa,
    mas a plenitude que me compartilha.
    sou o espaço que não me cura
    e a saudade que me aluga as horas
    por entre os dedos de qualquer inteiro que não me reparta,
    mas que me conclua na minha
    incapacidade de ser definida,
    de ser concluída,
    e mesmo assim,
    na minha inteira vontade
    de ser plural
    e singular,
    vez ou outra.

    Comentar? Dizer o que? Já disse T.U.D.O.

    Merece aplausos, apenas.
    Deixou meu olhar completo, meus versos encaixados nessa boniteza toda e aqui cabe uma frase que digo e semprerepito por aí:

    Aqui sim eu senti a boniteza de ser um "ímpar de dois".

    Marcitchoooo, lindo meu querido!
    E quanto ao Oswaldo, não poderia ter feito escolha melhor ;)

    Beijo em tua alma ,linda,
    Sam.

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  2. Eba!!Peguei saindo do foirno! E vou te dizer: essas metades todas fizerm um lindo texto, bem inteiro!

    Gostei muito e há realmente os que prefiram viver só pela metade. Eu também sou intensa. Ou gosto tudo, ou desgosto.

    Ou quero , ou Não quero..Nada de mornices,rsrs

    E com as metades que não nos fizeram bem, sempre aprendemos a ficar mais INTEIROS, podes crer.


    abração,adorei te ler! Tudo de bom,chica

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  3. rsrs seu traquina!

    Adorei a surpresa.
    Seus presentes eu sempre levarei pro futuro! :)

    Beijoca: Muahhhhhh!!!

    Sam.

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  4. Meu querido amigo Márcio, que postagem brilhante, neste casamento da poesia em dueto com Sam, amiga querida e a prosa. Um texto que trouxe-me um prazer raro, de leitura agradabilíssima.

    As nossas metades espelham a dualidade tão peculiar ao ser humano, pois metade de nós é razão, metade é emoção, enquanto passamos o tempo tentando conciliá-las, somá-las, para enfim nos sentirmos inteiros. Creio que nessa busca incessante da nossa completude, é que está a verdadeira motivação da vida, é o que nos torna sonhadores e os sonhos são os "motores" que nos impulsionam a seguir em frente, a vislumbrar possibilidades de nos tornamos mais felizes e realizados. As metades de nós duelam entre si e por vezes a supremacia de uma, deixa a impressão de falibilidade e a insustentável sensação de vazio. Néscios que somos! Nenhuma delas abdica de nós, pois somos inteiros abrigando as nossas metades. Fecho com o que você Márcio, disse com muita propriedade e que resume tudo o que eu quis dizer "Nem tudo está distante. Nem tudo é metade. Mas se quero algo mais, preciso me fazer como um todo."

    Parabéns Márcio pelo belíssimo texto, a você e Sam pelos maravilhosos poemas, pelo convite à reflexão, pelo momento prazeroso.
    Um beijo grande em ambos.
    Celêdian

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  5. Parabéns amigo Márcio pela beleza e intensidade do texto e,como todos já falaram tudo te trago a melodia que tua leitura me fez relembrar;

    Pedaço de Mim
    Chico Buarque

    Oh, pedaço de mim
    Oh, metade afastada de mim
    Leva o teu olhar
    Que a saudade é o pior tormento
    É pior do que o esquecimento
    É pior do que se entrevar

    Oh, pedaço de mim
    Oh, metade exilada de mim
    Leva os teus sinais
    Que a saudade dói como um barco
    Que aos poucos descreve um arco
    E evita atracar no cais

    Oh, pedaço de mim
    Oh, metade arrancada de mim
    Leva o vulto teu
    Que a saudade é o revés de um parto
    A saudade é arrumar o quarto
    Do filho que já morreu

    Oh, pedaço de mim
    Oh, metade amputada de mim
    Leva o que há de ti
    Que a saudade dói latejada
    É assim como uma fisgada
    No membro que já perdi

    Oh, pedaço de mim
    Oh, metade adorada de mim
    Lava os olhos meus
    Que a saudade é o pior castigo
    E eu não quero levar comigo
    A mortalha do amor
    Adeus

    O meu abraço e o agradecimento pela tua inspiração e partilha.

    Bjssssssss,
    Leninha

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  6. O seu texto deixou-me a pensar: ansiava essas metades... que metade de mim fosse amor, e a outra metade também.
    Bela reflexão.

    Bj

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  7. Que lindas metades vejo aqui! E se não bastasse talentosas..
    Metades que se completam na rima, na escrita e na amizade! Adorei ler esse texto poético!
    Um beijo carinhoso para os dois poetas!

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  8. Marcio e Sam. Sam e Marcio. Samarcio. Mezzo a mezzo. Mezza luna. Um brilho só.

    Complementaridade de metades literárias, humanas e, quiçá, existenciais. Dois textos que se fundem em cores diferentes, entre a raiva e a emoção, entre a reflexão e o lirismo, porém se completam. Que belo instante de poesia acabo de ver!

    Meu irmão, sua questão é perene, existencial, quase inconcebível. Saber e somos apenas nossa metade e, ainda mais, se a metade boa ou a má. Pergunta que dista de uma mirada maquiavélica, dicotomizada entre os antípodas da alma humana, da razão imanente a cada ser humano, à sua percepção, por mais pressagiosa que esta seja. Mas é uma questão justa, acima de tudo. Pertinente.

    Ela especula no espelho da razão a miríade de reflexos do seu coração, de sua alma. Ela aponta o dedo à metade capoeirista, aquela que derruba, que dá rasteira na outra que se doa de olhos fechados. A que manda às favas quando soa a hora e o cuco canta. Mas que também escuta a voz suave da outra metade, a que amaina dores e saudades. E, na impossibilidade momentânea de fundi-las de vez, ou dicotomizá-las para sempre, essa alma de artista e poeta cede à voz do coração e faz do deleite de uma canção o acalanto que a faça dormir, sonhar…. e entrelaçar versos com os de uma excepcional poetisa-cronista-minimalista como a que você, tão belamente, entrelaçou.

    Como disse, um belo laço literário, do qual só tenho a lhe agradecer e à querida amiga Sam, pelo instante de sublimação de todas as metades que possam existir, quem sabe, dentro de mim também. Ou não?

    Meu forte abraço e meu carinho a esses dois tão talentosos amigos meus.

    André

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  9. Márcio, tudo bem?Lendo o teu texto me veio a mente que queremos conhecer tantas pessoas, tantas pessoas, analisamos a tudo e a todos para descobrirmos mais e mais e esquecemos de nos descobrirmos, de nos analisarmos, de nos conhecermos e é um conhecimento que não tem diploma, fim de curso porque se realmente nos analisarmos a cada dia com certeza teremos sempr e uma surpresa :)
    Somos tantas coisas e no fim não somos nada.Somos controvérsias, mas podemos ser melhores do que hoje.
    Tenha um lindo domingo! Bjs

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  10. Lindo seu texto, me encontrei um pouquinho nas tuas metades!

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  11. Marcio,sempre me encanto com suas reflexões!Simplesmente um texto completo,inspirado na musica do Oswaldo Montenegro!Metade de mim fica aqui em teu blog!Bjs e bom domingo!

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Belíssimo texto!
    Não sei nem se devo comentar, visto que entre tantas metades, perdi-me em algumas com minhas reflexões ao longo do texto, da música, das poesias, tudo tão encantador... De uma coisa eu tenho certeza, embora façamos uma busca incessante para sermos completos e perfeitos, não somos nada além de simples metades! Quem dera se essas metades se encaixassem perfeitamente, ou melhor, quem dera pudéssemos passar toda a vida inteiros e felizes! Estamos sempre abandonando algumas metades - aquelas desnecessárias -, unindo outras, encontrando mais algumas, e por aí vai.
    Simplesmente amei essa postagem! Como você bem sabe, poderia ficar horas comentando aqui, pena - ou para sorte de todos - ser inviável! Admiro-te demais!
    Beijos.

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  14. Nesta rica e bela postagem onde Titãs se encontram para falar da metade que somos todos nós e ainda embalado pela linda canção do Montenegro,senti a a força da afirmativa de Ferreira Gullar em Traduzir-se, que bem ilustra a inteligente inspiração de voces:

    "Uma parte de mim
    é só vertigem:
    outra parte,
    linguagem.

    Traduzir uma parte
    na outra parte
    _ que é uma questão
    de vida ou morte _
    será arte?"

    Parabens a voce amigo e a Sam na perfeita sintonia interação.
    Meu abraço de admiração pleno de paz e luz em cada manhã oonde nossa metade mantem o sonho de perfeição.

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  15. Não estou brava nada Maninho rsrsrsr.Só estou muito cansada.
    È verdade a imagem lá é só água, mas é a imagem da volta menino!
    Cheguei ainda pouco e já vou pela manhã rsrsr. Amei estas metades, sua e da Sam.
    Vocês são lindos e eu os adoro.
    Estou com saudades.
    Beijão
    Amo vocês.

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  16. Bela blogagem!
    Parabéns às duas "feras"!

    Adoro esta música do Oswaldo Montenegro.

    Abraço.

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  17. Querido, sempre te achei uma pessoa tão inteira que transborda... transborda poesia, carinho, atenção, amizade, delicadeza... mas concordo que temos nossas insatisfações e talvez, por isso, a sensação de estarmos incompletos ou pela metade.Eu prefiro pensar que chegamos como pedra bruta e o tempo vai nos lapidando, aprimorando e para isso precisamos do outro... Dois textos belamente escritos e que nos levam a reflexão.Postagem perfeita.Parabéns aos dois.

    Beijinhos.

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