sábado, 5 de maio de 2012

O RIO DOS SONHOS


Billy Joel

UMA EXPLICAÇÃO:

O texto a seguir não é uma tradução. Longe disso, pois em qualquer tradução, muitas vezes existe a perda da essência daquilo que se traduz. O que fiz foi apenas escrever o que sinto e visualizo quando ouço a música THE RIVER OF DREAMS. Sempre fui fã de BILLY JOEL, e no dia em que assisti ao vídeo desta música pela primeira vez, descobri algo em mim mesmo que ainda não conhecia.

A música contagia, e ao fim do texto, colocarei o vídeo para que você possa constatar por conta própria o que estou tentando escrever nesta introdução.

Boa leitura.

*************************************

O RIO DOS SONHOS


crônicas de uma música


image by Google
É noite, e meu corpo cansado repousa. O sono, no entanto, não é suficiente para deter minha alma, que se aviva e sai numa busca que já dura décadas. São caminhadas longas e espinhosas, e ela sempre retorna de mãos vazias, porém, sem jamais desistir.

No caminho, minha alma encontra montanhas altas. Muitas noites foram necessárias para que ela pudesse prosseguir, pois escalar aquelas montanhas era algo quase impossível. Uma noite, no meio da escalada, minha alma despencou, e neste instante ela reparou que flutuava. Pediu com tanta força para que não descesse novamente ao chão, que voou lindamente.

Depois das montanhas, meu espírito chegou ao rio. Mas ali, não adiantaria voar, pois os pés deveriam tocar a água. Minha alma sabia disso. Era preciso andar, cruzar aquele profundo poço em corrente forte, e se fosse o caso, pagar por isso com o fim da própria existência. Foi quando o medo tomou novamente meu espírito. Minha alma andou muito, até chegar na praia. Ia e voltava, mas não atravessava.

Seria lá, na outra margem, que estava o que minha alma tanto buscava? E o que seria? Um tesouro que me foi tirado? Ou então seria algo sagrado que me foi confiado e perdi por meu descuido?

O vale do medo era atravessado a cada noite que minha alma voltava ao rio, e o vale e suas criaturas já não assustavam mais. Nem as montanhas me seguravam. Sentia que aquilo que buscava era como se fosse um pedaço de mim mesmo, um pedaço de minha própria alma, e eu iria buscar. Estou cansado. Não quero mais andar, mas preciso. Vou adiante, nem que arrastado, mas vou. Termino aqui minha vida, e me entrego ao desconhecido, mas não desistirei. Sequer a selva das dúvidas me parou, e não será um rio que fará isso agora.

Outra noite chega, e lá vai ela. Agora, ela sabe que enfrentará a escuridão, o desfiladeiro das nuvens negras. Mas pouco importa, pois durante todo esse tempo, ela aprendeu a enxergar o escuro com os olhos do cego, e jamais se perderá. Somente o rio. Ele sim pode me parar.

Sequer sei se existe uma vida após esta vida, pois a pouco tempo atrás nem em alma eu acreditava. Deus me batizou pelo fogo quando ensinou minha alma a voar, mas não ensinou como nadar. Lá, do outro lado do rio, está a terra prometida e o que eu tanto procuro. Não esperarei mais.

Todos nascemos em pequenos olhos d’água e desaguamos em oceanos, então, por que o medo? No meio da noite, as águas refletem o luar e chamam minha alma, que não se contém e pisa o passo mais difícil, o primeiro. Estranhamente, a água não é fria, e sequer molha meus pés. Outro passo, e mais outro, outro... outro.

Minha alma não mergulhou, mas também não flutuou. Minha alma andou sobre as águas. Nesse instante, achei o que tanto minha alma procurava. Enfrentei todos os medos, todas as dúvidas e as criaturas mais estranhas e perversas. Reencontrei minha FÉ.





Nota:
Infelizmente, o conteúdo do vídeo oficial é propriedade da VEVO, e não é liberado para execução fora do YouTube. Para aqueles que desejarem assistir ao vídeo original, acompanhar a letra da música ou sua tradução, basta acessar um dos links abaixo.




Marcio JR

19 comentários:

  1. Os nossos sonhos e emoções.
    Quantas vezes parece que caminham desencontrados.
    Quantas vezes queremos falar e não temos forma de o fazer nem querendo correr não conseguimos mover-nos.

    ResponderExcluir
  2. Guri do céu, a essa hora da manhã de domingo, já fiquei arrepiada. Lindo e a emoção foi tomando conta à medida que andavas, até chegar ao rio,quando andaste sobre ele...E, finalmente, reencontraste a tua FÉ!

    Sensacional,Marcio!!


    Um lindo domingo e nova semana! abração, obrigado sempre!chica

    ResponderExcluir
  3. Há tantas buscas ainda tão desconhecidas dos nossos próprios eus e nem conhecemos nossos alguéns direito.

    Podem ser apenas resquícios de dias que passam inúmeras vezes pela fresta da nossa janela, Márcio, mas que estamos tão concentrados naquilo de maior e mais poderoso lá na frente, que esquecemos de enxergar o agora. Queremos o lá e ignoramos o aqui.

    Há dias que o meu sono é mais que companheiro nessas andanças todas e inebriam meus sonhos por uns instante desacordado na outra margem do rio. Na outra ponta da estrada, num outro barco à deriva de um cais seguro.

    Das minhas buscas, eu não sei da ordem, pois todas são piroridades e meus olhos apenas se fecham para senti-las melhor, para resgatar aquela maresia preenchendo o peito e todo o som ao redor dos meus ouvidos, mesmo que numa espreitada, numa curva, numa tsunami interna e desconhecida.

    Eu, também já me perdi tantas e tantas vezes e senti-a me num beco escuro e sem saída num dos piores esconderijos: o de dentro. Por mais que sejamos e estejamos nós em nós, quer lugar mais perigoso e desconhecido que o por dentro?

    Quando a confusão é um lobo mau vestido de cordeiro e não ensina o caminho mais certo, a gente vai perambulando, mesmo que na sombra da árvore no asfalto, naquele sol de meio dia, como quem nos aquece e nos leva pela mão. E sem perceber, a gente vai. Vai chutando as pedras e tapando buracos como quem resolve o passado com um punhado de areia branca na palma das mãos.

    Sobre as buscas, eu me busco ainda, em todos os meus dias e quando me encontro, é quando me busco mais ainda. Como rio que desce corredeira abaixo e despenca do morro nesse desaguar sem fim. Somos nesse imenso de um espelho d'ádua, uma imensidão à parte de nós, do mundo. Uma infinidade de possibilidades e frase mais linda em todo o teu texto é essa: "Todos nascemos em pequenos olhos d’água" e digo, permanecemos na órbita dos olhares que passam por nós, em arcos de íris, em dias de chuva, com cheiro de mar. Que a alma seja um guia, um professor que mesmo nas perdas dos rumos, saiba sempre voltar para a casa.

    Me emocionei muito com teu texto, meu querido.
    Escreves como quem coloca a mão em nosso coração e num gesto sem esforço algum, acaricia nosso alma inteira.

    Te adoro cada dia mais.
    Beijo em tua alma,
    Sam.

    ResponderExcluir
  4. Márcio, meu querido amigo, impossível ler e não deixar-se envolver, emocionar com o conteúdo profundo de seu texto, nessa busca incessante da alma, uma viagem por caminhos incertos e para cujo conhecimento, nem sempre se dispõe dos meios (montanhas difíceis de escalar; não aprendeu a nadar), mas que não são obstáculos suficientemente fortes para deixá-la parar. E a alma prossegue, porque ela pode voar, flutuar, pois sustenta-se ainda nas asas da esperança, num desfecho maravilhoso, onde revela-se que para atravessar o Rio dos sonhos, ela pode andar sobre as águas, pois reencontrou a fé.

    Meu amigo, tudo isto é belíssimo, esse exercício de refletir sobre suas buscas. Amei o texto. Obrigada por esta leitura tão especial.
    Um beijo carinhoso.
    Celêdian

    ResponderExcluir
  5. Lindo e sensivel seu texto poético!Já salvei para minha lista do Recanto dos autores,se me permitir!Bjs,

    ResponderExcluir
  6. Oi, Márcio. Quando reencontramos a fé tudo muda: o abismo se transforma em um caminho que podemos continuar, uma muralha se transforma em um lugar que podemos escalar e o medo se transforma em um possibilidade de vitória.
    Tenha uma abençoada semana. Abraços!

    ResponderExcluir
  7. O maior tesouro que podemos encontrar é a fé em nós mesmos.Sentir que somos capazes, apesar do medo do desconhecido, é fundamental para termos uma vida plena e feliz.

    Suas palavras me cativam.Belíssimo conto, querido.

    Beijinhos.

    ResponderExcluir
  8. A existência antecede a essência ou vice-versa? Esse foi o questionamento que me veio à mente lendo este confábulo de alma tão especialmente belo, meu amigo! Impossível não ser tocado profundamente. Acho que se eu tivesse assistido ao vídeo antes de ler o seu texto, a minha reação seria diferente, pois que influenciada por uma outra visão. E o mais bacana foi fazer o caminho oposto e viajar com você nestas emocionantes divagações do espírito. Resta-me agradecer pela "viagem" nesta fria manhã de uma semana que já começa muito bem. Grande abraço. Paz e bem.

    ResponderExcluir
  9. Oi meu amigo querido!
    Saudades de ti e teus escritos.
    Que belíssima busca de alma e comparação á agua (elemento gerador da vida).
    Profundos sentimentos em cada linha.
    E o que somos nós sem a fé?
    Ainda bem que reencontrastes a tua e que ela nunca se apague.
    Uma ótima semana para ti.
    abração com carinho

    ResponderExcluir
  10. Adoro Billy Joe, lembra período de minha vida que sempre foi maravilhosa.
    Meu caro... quanta inspiração! Agora todas as vezes que ouvir
    Billy vou lembrar de vc.. e principalmente desse texto maravilhoso..
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  11. Maninho amei a narrativa.
    Você é emocionante com tudo que toca.
    Eternizou esse texto em mim.
    Já ouvi falar de Bily Joe, mas não conhecia nem a foto e nem a voz.
    Amei, como sempre você levou para um lado tão mais bonito.

    Beijão.

    PS: Você quer conhecer meu maninho Geliel, vou postar como texto final do dia das mães tá? Agora o Lipe? Risos... Esse moço diz, que só você so o verá vestido de noivo, e eu de noiva.Mas no dia do nosso casamento rsrsr.
    Está dado o recado.Risos...

    ResponderExcluir
  12. Meu querido Marcio,
    a precariedade do meu conhecimento de música pop me constrange de não poder tecer aqui um comentário mais apropriado a esta sua tão bela crônica. Mergulharei, pois, nas suas palavras.

    Sonhos que partem de montanhas e chegam a rios, às margens dos medos. O arquétipo ancestral da água, associada à anima, à emoção, à matriz, transparece aqui de forma clara embora sob véus oníricos. O do medo, subseqüente, associado à noite, ao negror da escuridão, ao desconhecido. Dualismo ilusório apenas. Algo mais em nós transcende esse bipolarismo e se anula numa só totalidade. Todos chegaremos lá, um dia, isso é mais que certo.

    Quando você, meu irmão, escreve "Todos nascemos em pequenos olhos d’água e desaguamos em oceanos" nada mais me resta que calar. Nada mais existe a ser acrescentado. Você, como todo ser especial, tudo compreendeu. Um texto comovente.

    Um grande dia para você, velho amigo, um forte abraço.
    André

    ResponderExcluir
  13. Olá maninho, boa noite.
    Como vai a facul moço?Eu ando super cansada sabia? Então. Mas é isso aí, precisamos dessa trabalheira para valorizar melhor né?

    Risos...
    Maninho, Felipe gargalhou com tua “cobrança”.
    Deixa eu te contar um “segredo,” já tem foto dele no blog se não me engano. Mas deve estar muito lá atrás. Rsrsr.Pronto entreguei rsrsr.

    Te deixo um beijo, se cuida moço!

    ResponderExcluir
  14. Marcio grato pelas visitas.Bela leitura da musica para uma reflexão profunda e elegante num texto fantastico.
    Meu abraço e belo fim de semana com paz e alegria neste desaguar no mar.

    ResponderExcluir
  15. Marcio.
    A algum tempo não visitava seu blog.
    Foi com alegria que coloquei em ordem minha visita aqui hoje
    seu texto é belíssimo.
    Enfrentei todos os medos, todas as dúvidas e as criaturas mais estranhas e perversas. Reencontrei minha FÉ.
    Li e nesse verso parei e fiquei um longo tempo
    pensando e refletindo.
    Feliz final de semana.
    Beijos,Evanir.

    ResponderExcluir
  16. Oi Marcio,hoje passei para agradecer seu comentario na entrevista da Nanda e desejar um feliz dia das mães a sua esposa e mãe!bjs,

    ResponderExcluir
  17. voei aqui agora ...

    minha alma que ama voar ..embalada por BILLY adorou ..

    sabe que procuramos demais por essas essencias, nossas batemos na tecla da felicidade plena dos reencontros das coisas perdidas e só esquecemos de uma coisa
    ENCONTRAR A NÓS MESMO SEM PENSAR EM NINGUEM A NÃO SER NÓS

    DEVEMOS POR MAIS VEZES TENTAR ENCONTRAR NÓS SOMENTE NÓS E COLOCAR NOSSOS VOOS NOSSOS SONHOS SOMENTE NAS NOSSAS ASAS E NAS NOSSAS MÃOS..

    lindo o que voce sente quando ouve Essa musica por que é muito bom poder voar, enfrentar medos ,e o melhor reencontrar a fé ...onde muitos perdem ..reecontrar é bom por demais ...

    cada dia mais linda sua escrita Márcio


    beijos

    OTILIA

    ResponderExcluir
  18. Não como não voar e voar ao debruçarmos nos olhos sobre o teu texto. Dificilemente alguém consegue se reencontrar se não tiver sonhos.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  19. Existe quem toque profundamente nossa alma com as palavras que carregam as emoções tão conhecidas, escritas desta forma comovedora...traduzindo o que nem sempre damos conta de expressar.
    Belíssimo.

    Vc inaugurou a série de uma forma linda.
    Um abraço!

    ResponderExcluir