série EMPÍRICA MENTE
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imagem coletada no Google |
Talvez você queira, um
dia, mudar o mundo. Quem sabe você pretenda ser um líder religioso que
orientará muitos para a paz. Você pode vir a ser um guru, um conselheiro, alguém
admirado e procurado por muitos que buscam as verdades e mentiras que existem por aí.
Mas, como entender e
mudar o mundo, se você não é capaz de se entender? Como saber o que é
necessário para a paz, se você próprio vive em conflito? Como aconselhar alguém, se o que mais brota de tua mente é a dúvida?
A catarse, a
exteriorização dos sentimentos… sim, são necessários, mas há que se saber até
onde podemos “exteriorizar” e, sempre, o que devemos exteriorizar. Algumas
miudezas devemos levar conosco, para uma jornada longa e que castigará os pés.
Um caminho árduo, sinuoso e sombrio nasce conosco, embutido num lugar único e
que leva a um destino que apenas uma única pessoa pode chegar, se chegar: seu
próprio “eu”.
Fazemos nossas
próprias verdades, e como muitos dizem por aí, uma mentira dita muitas vezes
vira uma verdade. Você tem dito verdades para si mesmo, ou se enche de mentiras
para tentar, assim, satisfazer o espírito com algo que lá adiante servirá como
desculpa para sua covardia em encarar as realidades que tanto te assustam?
Nem toda verdade é uma
verdade por inteiro, assim como nem toda mentira tem seu cunho irreal. Então,
no que acreditar? O que contar para seu íntimo? Como mensurar toda essa
informação que te chega sem se contaminar com toda essa imensa aura de fumaça
pegajosa que recobre o que você deveria estar rejeitando?
Não existe uma verdade
única. Não existe. Existem as verdades que você quer ouvir. Existem as verdades
que saciam teu ego submisso ou submetedor. Existem as verdades que corrompem e
assustam. Existem as verdades que denigrem ou que fabricam heróis e vilões.
Existem as verdades do corpo. Existem as verdades da alma.
Existem, no entanto,
algumas verdades que estão atrás de barreiras quase intransponíveis. São
verdades que não dizem respeito apenas a você, mero pedaço de carne que um dia
apodrecerá para sustentar aquilo que você hoje destrói. São verdades não
corrompidas, guardadas numa ampulheta celeste própria para marcar o tempo que
te resta antes mesmo dele começar a correr. São verdades que uma mente
capciosa e um espírito fraco jamais entenderão. São verdades que não falam
nada e que sequer podem ser descritas por palavras, pois elas não são tangíveis
a olho nu ou visíveis para mãos feitas de carne. Distantes demais para a
ciência descrevê-las, mas próximas em demasia para que o ser humano se perca
dentro delas.
Do que elas falam?
Como vou saber, companheiro, se sou um mero andarilho ainda, preso na corrente
do tempo e do vento? Ainda estou capengando com minhas próprias conjurações, e das
minhas pernas, sequer os joelhos desatolei.
Mude o mundo, mas
primeiro, preocupe-se em arrumar tua casa. Nada pode ser começado do meio. Ou
tua casa pouco importa para você? Uma maratona se começa no primeiro passo.
Maldita é a mania que o tal humano carrega em tentar apressar tudo. Apresse o
vento, e ele vira tempestade. E sabe o que é engraçado? Na tempestade, casas
saem voando, mas o junco verga e volta. A natureza levou milhares de anos para
aperfeiçoar o junco.
Somos inteligentes?
Sim, é claro que somos. Mas, o que é a inteligência senão a capacidade de
raciocínio somada à quantidade de conhecimento adquirido e a velocidade com que
se processa tudo isso?
Conhecimento? De que? Verdadeiro, ou contado pelo homem?
Conhecimento? De que? Verdadeiro, ou contado pelo homem?
Sim, somos
inteligentes. Raciocinamos sobre aquilo que nos dão, e quem somos nós para
contestar os livros que mandam ler? Somos inteligentes sobre aquilo que
conhecemos, mas somos alienados diante da quantidade absurda de falsa
informação alardeada todos os dias por todos os meios que fazem tudo isso
chegar aos nossos ouvidos.
Beba Coca-Cola, compre
Batom, eu quero minha Calói, gordura demais faz mal, café faz bem, seja vegetariano
e viva uma vida saudável, o corpo precisa de carne, o homem descende do macaco,
os continentes eram formados por um único bloco, meu deus é melhor que o teu, use
camisinha, cuidado com o câncer de pele, aspirina é um bom analgésico mas faz
mal pro estômago, alopatia irá te curar, a religião salvará o mundo, a religião
acabará com o mundo, homem deve constituir família com uma mulher, dê a outra
face, cure chulé com vinagre, somente a fé liberta, a ciência explicará, deus
voltará, deus não existe, deus existe, você é aquilo que você come, você come
aquilo que você é, o inferno te espera, a terra é o inferno... etc... etc... etc.............. etc.
O inferno está dentro
de sua mente, não dentro de seu espírito. Se você pensa que aqui é o inferno,
então viverá uma vida atribulada, onde quase nada dará certo. Seu espírito
busca sempre o equilíbrio, onde o bem e o mal te darão a sabedoria suficiente
para caminhar em paz. Equilíbrio entre um e outro, o negativo e o positivo. E você não precisa ser um
doutor em nada para buscar esse equilíbrio, como também ninguém poderá fazer isso por
você. No entanto, você precisa estar disposto a buscar isso dentro do lugar
mais complexo que existe: você mesmo. Então o inferno começará a fazer sentindo, e você verá que ele é construído por você mesmo e para você mesmo. Céu e inferno, equilibrados, te fazem caminhar entre um e outro, mas quando você não se permite tal equilíbrio, poderá cair dentro da fogueira que você tanto insiste em apurar.
Ao tentar buscar o equilíbrio dentro de seu "eu", você não irá se
perder, pelo menos não mais do que já está perdido. Você é um labirinto, mas
não se preocupe com isso. Labirintos existem unicamente para te dar o tempo
necessário para se preparar para aquilo que irá encontrar no fim do caminho. E
se você não encontrar a porta derradeira do labirinto, é porque não se preparou
o suficiente. A paciência não é um dom, mas um requisito necessário para não se
perder ainda mais dentro de você mesmo. E ela, a paciência, deve ser aprendida
e desenvolvida, exercitada a cada instante e com muito empenho. Muitos jamais
conseguirão desenvolvê-la e, por consequência, nunca encontrarão o rumo certo
dentro de seu labirinto íntimo.
E se a pessoa
conseguir achar a saída, o que ela irá encontrar do lado de fora?
Nada, pois esta não é
uma saída para fora. Jamais falei isso. Falei em “fim do caminho”, que na realidade é,
somente, uma pequena parte de uma jornada sem fim. Você está entrando, e não saindo. Ao encontrar esse “fim do
caminho”, você começará a entender que as verdades são desnecessárias, pois não
existem mentiras, pelo menos não aquelas que se pensa existir quando falamos
dos mistérios do universo. Somos energia, e a carne é apenas um mero frasco que
acomoda nossa essência. Alimento para o corpo se acha em qualquer quintal, mas
para o espírito, esse precisamos cultivar internamente, em nós mesmos.
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imagem coletada no blog Mundo Bonsai |
Então, se você entendeu o que escrevi acima, no fim do
labirinto você poderá encontrar a si próprio, preso e perdido pelas verdades e
mentiras humanas. Você se vê vítima de sua própria tirania. Uma coisa eu te
garanto, companheiro. Quebrar as correntes que te prendem não será tarefa
fácil. Ninguém gosta de desacreditar naquilo que levou uma vida inteira achando
ser verdade. E nesse momento, ao olhar para trás, você verá que seu labirinto
se modificou e ficou milhares de vezes mais complexo. Então, te cabe uma
decisão: voltar e desistir, fingindo que aquilo tudo não passa de um
sonho muito louco ou uma alucinação causada por algum cogumelo muito do besta,
ou enfrentar as verdades e mentiras terrenas para, assim, começar a buscar
aquilo que talvez você jamais alcance, que são justamente os mistérios que passarão
a te guiar.
Difícil, não é?
Um dia você entenderá
que pode voar. Não com asas, mas com aquilo que te foi dado, teu pensamento. Só
lembre que até a mais robusta águia enfrenta problemas com o vento forte.
Nessas horas, ela pousa e repousa, esperando pacientemente a ventania passar.
Mesmo desprovida da capacidade de raciocinar, ela usa seus instintos. Estes,
por sua vez, são suas verdades, as únicas que ela conhece. Para a águia, não
existem mentiras.
Entendeu agora?
Marcio Rutes
não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.
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