série "crônicas de uma música"
tema: Just When I Needed You Must
intérprete: Randy Vanwarmer
tema: Just When I Needed You Must
intérprete: Randy Vanwarmer
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O sorriso de cada manhã me veio à boca, e te procurou na cama, mas não encontrou nada além do travesseiro num lugar vazio. Guardei palavras para este momento, e ensaiei forças que deveriam me tomar, mas tudo em vão. Vi que diante da realidade, a dor é sempre maior do que aquela imaginada.
A chuva, antes tão companheira, ardia pela janela, e foi justamente por ela que você caminhou. Se correu, já não faz mais diferença, pois não serei eu a te recolher e acolher com toalha e sentimento. Não mais.
Do dia em que se foi, sobraram cinzas de uma lua diurna. Sim, ela veio após a chuva, como uma mandrágora amarga e amaldiçoadora. Mas ela estava lá, a lua, fazendo questão de me lembrar de cada instante em que estivemos sob ela, jurando eternidade para um sentimento que, hoje, sei que é mentiroso.
Você se foi, e levou com você a minha maior vontade. Carregou meu gosto pela vida. E você se foi num momento em que tanto te necessitava. Eu vivia em você, e você me negou uma simples palavra. Você me negou até um Adeus. Saiu ainda noite, e fez madrugada em meus dias.
Das palavras que guardei para aquele momento, fiz germinar poemas e cartas. E foram tantas. Tantas também foram as noites em que esperei resposta a cada anseio que te enviei, mas somente a mandrágora me ouvia. Ela voltava a cada noite, aterradora e gigantesca, habitando meus sonhos. Somente ela estava lá, e respondia a cada carta, a cada verso. Talvez tenha sido nela, nessa lua medonha, que busquei forças para te sobrepujar em meu peito.
E como o destino é imprevisível, não é? A mesma chuva que te carregou, hoje encharca um jardim seco. No oco dos olhos onde a mandrágora habita, já se enxergam luzes que, apesar de destoantes, refletem um mar sereno diante da tempestade.
Aquela lua fez mágica. Mesmo mandrágora, ela se apiedou e se atirou para fora de meus pesadelos. E na madrugada, enquanto eu olhava pela janela o caminho que te levou embora, a chuva voltou. Era fina, e em conluio com a lua, fez um arco-íris em plena noite.
Você foi embora, e aquela porta pela qual saiu nunca mais abrirá. Arranquei-a e nela fiz parede. Nenhuma porta a mais se abrirá, e no milagre da lua, já encontrei nova Cinderela, que mesmo na virada da madrugada para o dia, não vira gata borralheira. E se virar, pois que assim seja, pois é para ela que o sorriso de cada manhã esta guardado doravante.
Por onde ela entrou, se não existem mais portas em minha alma? Ora, Ora. Pela janela.
música JUST WHEN I NEEDED YOU MOST (Randy Vanwarmer) - by YouTube
Marcio JR
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A série CRÔNICAS DE UMA MÚSICA não reflete, necessariamente, momentos verídicos ou sentimentos em mim contidos. Muito menos o texto das crônicas espelha a tradução da música inspiradora. O texto é livre e independe do contexto pensado pelo autor da canção.
Nesta série, busco músicas que fizeram parte de minha vida em algum momento, e extraio delas uma imagem que se forme em minha mente ao ser tocado, seja pela letra, seja pela música.
Nesta série, busco músicas que fizeram parte de minha vida em algum momento, e extraio delas uma imagem que se forme em minha mente ao ser tocado, seja pela letra, seja pela música.
Felizmente que eu tive a boa idéia de ir até o final do teu post, antes mesmo de começar a lê-lo. A nota de rodapé do texto norteou totalmente a minha leitura e a interpretação do mesmo.
ResponderExcluirA gente não sabe lidar com as perdas, sobretudo aquelas que concerne nossos afetos e seres aos quais nos ligamos. Não existem fórmulas de sublimar uma perda. Ela deve ser vivida até ser esgotada, até que as malhas de chumbo da dor se transformem, pouco a pouco, em plumas, façam-se asas e nos levem a outros novos horizontes, a novas montanhas, a novos céus.
Existe muito de poético em tuas palavras, meu amigo Marcio, muitas imagens e construções que dirigem a atenção do leitor a elementos que se configuram dentro da, digamos, paisagem do sentimento descrito. Impossível não notar o teu gôsto pelos símbolos transcendentes, mágicos, plenos de fantasia e que, aliados ao leitmotif de algo que se foi, da saudade, das reminiscências, e busca de compreensão, fazem desta crônica um texto literário de alta qualidade. E, sem que eu esqueça, com um sutil toque de humor-ironia no final.
Independente de ser ou não ficcional, o teu texto, meu irmão, é muito verdadeiro. Noto que está imbuído desse sentimento real de quem fala de um assunto com muita propriedade, uma situação que conhece bem. Todavia, relevo aqui também o teu incalculável talento, um talento que emancipa tua idéia e teu sentimento, levando-os ao terreno do poético e do literário, mesmo que partindo de uma essência de realidade. Essa é a marca dos grandes escritores, dos grandes cronistas, dos grandes literatos, enfim. E, não é novidade, continuas neste Olimpo das letras para mim.
Um bom domingo, boa semana, querido amigo, estarei meio ausente das letras por esses dias, mas voltarei.
Um forte abraço, e muita saúde.
André
Nota para um semi-comentário temporariamente postergado(?!):
ResponderExcluir"É o que eu tô pensando?". rsssss
Smacks!!!!