algodão doce - by Google |
re-edição
Corria ligeirinho, apressado, e parecia que aquela rua não tinha fim. Ah! Mas lá estava ele, o vendedor daquele pedaço de nuvem rosada, deliciosa e que colava nos lábios. Algodão doce.
A fila estava grande, será que iria sobrar algum? Um só que fosse? Ele, pequenino, saltitava tal qual cabritinho. Os meninos maiores empurravam, pisavam. Mas ele era persistente, iria ficar ali o tempo que fosse, e até sentou para esperar a fila diminuir de tamanho. Aquilo era bom demais. Algodão doce.
Até que ouviu algo que não gostou muito:
--Tá faltando dinheiro, garoto! --o vendedor falava para algum menino. –- Volta prá casa e pede mais prá mãe. Fala prá ela que custam cinqüenta centavos.
Ali sentado, o menininho abriu as mãos e só viu vinte e cinco centavos. A mãe, tadinha, não tinha mais dinheiro. E o pai, se por sorte achasse um emprego, daria, mas também não tinha. Ficou ali, macambúzio, por um bom tempo. Olhava para os demais e notava que se deliciavam, mastigando, chupando aquele pedaço sublime do céu. Levantou e sentiu a barriguinha murcha mexendo e roncando, chamando por aquele doce. Mas ninguém olhava para ele, e nem dariam um teco que fosse. Quando havia somente mais um doce no tabuleiro, meio quebrado, meio amassado e pela metade, foi até o vendedor e fez uma proposta. Seus vinte e cinco centavos por aquele meio algodão.
--Tá sonhando? Vai trabalhar. Ainda ganho uns quarenta centavos neste aqui.
image by Google |
O menininho baixou o rosto, já cheio de lágrimas, e sumiu estrada afora.
Vinte anos depois, aquele mesmo menininho, já homem feito, caminhava com sua enxada apoiada no ombro, a caminho do roçado. Ao passar por uma árvore, notou um amontoado de terra com uma cruz de madeira plantada ao centro, e uma placa fixada na árvore, que dizia o seguinte:
“Aqui jaz o doceiro. Mais um esganiçado e egoísta que a fome matou”.
Pense nos seus atos agora. O que você negar hoje para alguém, amanhã pode faltar para você mesmo. Sempre tem Alguém olhando seus atos. Alguém que tudo vê e tudo anota.
Marcio JR
que perfeito
ResponderExcluirsaudades!
beijo
Meu querido,
ResponderExcluirEsta sua parábola, que mais parece um tesouro ( e na verdade, é) é muito emocionante e por demais triste também. Porém, guarda reflexões e ensinamentos que não se precisa procurar muito para descobrir, nem compreender.
É preciso nunca dizer que daquele copo não bebebrá água, pois esse copo pode ser o único existente em meio o deserto.
Nunca despreze os sentimentos de alguém, nem ignore o mundo quando estiver "por cima"pois esse mundo é pequeno e dá voltas infinitas e, sem esperar, um dia você precisará daqueles que tanto fez desiludir da vida.
Ficou show, meu anjo!
Um beijocaaa bem estalada pra você e algodão doce da cor do céu rs
Te adoro!
Sam.
Meu querido Márcio,
ResponderExcluirSua história é tão perfeita,tão real,que me fez ficar com vontade de voltar no tempo e ir até lá entregar um lindo algodão doce para o menininho...e ver o seu sorriso substituir o pranto,vê-lo correndo feliz pela estrada saboreando o doce sabor do sonho.
Bjsssssss,
Leninha
Verdade... Sempre tem algum "encravo" pra apontar suas falhas, falta até dedo... Mais o cara lá de cima... Deus, sabe de todas as coisas... Sempre! Por mais que eu lhe passe um rádio e lhe mando um sms, um e-mail, ele me responde me abençoando na minha vida.
ResponderExcluirótimo texto. Parabéns!
Seguindo o seu blog, ficarei grata se puder retribuir. Seu comentário é fundamental.
www.medicinepractises.blogspot.com
By
Nathacha Phatcholly
Verdadeiro teu texto,o ser egoista, o não ver a importância que é um gesto, ato não nos faz crescer e nos leva para situações tristes.
ResponderExcluirAmei! Tenha lindos dias!
Tadinho do menininho, Márcio... e o pior é que essas "pequenas" maldades podem ficar mal resolvidas para sempre dentro da pessoa, como é o caso desse vendedor que não sabe nada e perdeu a oportunidade de desfrutar da alegria que é ver uma criança feliz.
ResponderExcluirÉ sempre uma satisfação enorme te ler, querido.Obrigada pela partilha.
Beijos e um lindo final de semana.
Esqueci de dizer que amo algodão doce...rs
ResponderExcluirPoxa Marcio, esta me maltratou.Criança que fui desprovida de recursos muitas vezes vivi cenas semelhantes.Coisas que marcam e criam feridas para toda a vida.
ResponderExcluirAdorava algodão doce, mas no meu tempo não tinham cor,kkkk.
A reflexão está perfeita amigo,na bela lição.
Um terno abraço de paz e luz.
Bela semana amigo.
Algumas de tuas crônicas, meu querido amigo, tem essa particularidade de me fazerem voltar à minha infância, àquelas histórias que lia e ouvia dizer nos meus verdes anos. Havia sempre uma lição de moral a ser tirada, no fim. E contrapunham, sempre e de forma didática, a boa ação à atitude errada, egoísta e pretensiosa de alguns.
ResponderExcluirÉ uma pequena história real, mesmo que se afigure aqui como ficção. Quantas vêzes já não nos deparamos na vida com circunstâncias semelhantes a que viveu este garoto? é muito provável que exista, realmente, uma lei de retorno das ações que cada um executa, e disto os exemplos abundam. E não são meras coincidências, posso dizer. O que se semeia, se colhe.
Tua crônica reveste-se aqui das feições de uma parábola, meu irmão, eu poderia dizer. E como sempre, escrita nesse teu estilo direto, sem afetações, quase espontâneo, e que muito me agrada. Tu estás mais uma vez de parabéns, meu querido Marcio, pela beleza e profundidade de tua crônica.
Passando aqui de forma esporádica, apenas, para deleitar-me com as letras dos amigos. Continuo ainda vindo pouco ao nosso amical mundo de letras virtuais, o meu coração (e pernas) desanda a bater desvairado, quando entra o verão... *rs
Um forte abraço, meu grande amigo, muita saúde e continua sempre inspirado. Até mais.
André
Olá, Márcio!
ResponderExcluirÉ um prazer conhecer os seus escritos. Vim por causa do poema que a Sam publicou no blogue dela. E como não me tornar sua leitora?
A história desse post é muito comovente. O avarento faz sofrer os que estão a sua volta, mas sofre muito mais...Tem uma cegueira na alma, jamais conseguirá ser feliz.
Um grande abraço!