LÁGRIMA

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Se corre, encharca o rosto,

Chega até a boca,

E deixa seu gosto salgado,

No lugar onde deveria estar

O gosto do beijo.

Mas, se estanca,

Corre para dentro,

E chega até o coração,

Apagando um sentimento puro,

Que por lá existia até então.

Lágrima, quando não é de felicidade,

É o pó da angústia,

É a faca que corta a carne,

É o veneno que mata a alma.

Lágrima, quando é de tristeza,

Deve ser jogada para fora,

Ser chorada até secar,

E só deixar marcas por onde cair.

Cada lágrima de dor,

É um grito calado do coração.

É uma súplica contida,

Implorando para fugir da solidão.

A lágrima pode ser tinta para o poeta,

Mas é martírio para um apaixonado.

Se de dor ou de saudade,

Só mostra um sentimento rasgado.

A vidraça molhada escondia sua face. Ela olhava o movimento da rua, mas seus pensamentos estavam longe dali. Aqueles que passavam também a olhavam, e viam sua face cálida, inerte.

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Os pingos na vidraça escorriam, assim como suas lágrimas, e tudo se confundia, como numa ilusão de ótica. A dor passaria, por certo, e a indiferença pelo mundo lá fora também. A crença na vida voltaria, é claro, e a esperança de dias melhores também. Mas algo faltaria, sempre faltaria. E por mais que todos falassem, os cacos jamais seriam colados. E se fossem, as cicatrizes continuariam ali, para lembrar eternamente a dor de perder um amor.

Suspirou profundamente, e continuou ali, aguardando que mais um capítulo de sua história tivesse início.